O que deve ser publicado Mário Erbolato O que deseja saber o leitor? Interessa-lhe a informação de que em pequena localidade da Índia dez pessoas morreram em um desastre de trem? Ou que um novo plano habitacional será anunciado pelo governo brasileiro? Que impacto produziria a notícia sobre a escolha da cidade-sede do jornal, para a construção de um aeroporto supersônico? As leitoras, as donas de casa, as senhoras de prendas domésticas, procuram apenas a receita culinária e os conselhos de beleza ou lêem também a reportagem sobre o seqüestro de uma criança? Quais os assuntos preferidos pelos universitários, homens de negócios, médicos, engenheiros, agrônomos ou advogados? Juan Beneyto insiste que "para considerar-se plenamente cidadão, o homem contemporâneo precisa dispor de fontes informativas que lhe permitam conhecer o que se passa, e, em seguida, formar juízos sobre os acontecimentos". Lembra Robert E. Park que os acontecimentos que fizeram notícia no passado, como no presente, são realmente as coisas esperadas, assuntos caracteristicamente simples e comuns, como nascimentos e mortes, casamentos e enterros, as condições das colheitas, a guerra, a política e o tempo. São estas as coisas esperadas, mas ao mesmo tempo também imprevisíveis porque se ignora onde ocorrerão. A primeira tarefa do jornalista é saber o que deve publicar. Cabe-lhe fazer a seleção entre milhares de notícias que chegam à Redação, colocadas pelas agências, repórteres, redatores, informantes, órgãos particulares e repartições governamentais, além dos correspondentes e enviados especiais. Cada uma delas, depois de selecionada, precisa ser medida, dentro do valor exato que possua para a classe de leitores do jornal. O já extinto Notícias Populares empregaria manchete e anunciaria que "o caminhão fez picadinho de três meninos", enquanto O Estado de S.Paulo nem chega a registrar ocorrências desse tipo. O texto deve ser tratado. Há pesquisas sobre a compreensibilidade. Pode-se escrever corretamente, do ponto de vista gramatical, mas, se forem empregados palavras difíceis, termos técnicos, neologismos ou excesso de adjetivação, o leitor que tenha apenas o curso primário não entenderá a notícia, ficará irritado e deixará de lêla até o fim. Não será impossível que ele até se torne um inimigo do jornal. Na sua filosofia, raciocinará que pagou pelo exemplar, comprando-o avulsamente ou por assinatura, e que, por isso, tem o direito de compreender o que está em todas as colunas, desde a primeira até a última página. Se a televisão dá a notícia e mostra as fotos do fato, a imprensa precisa ir além e publicar muito mais, em linguagem fácil e sem cansar. Com essa finalidade surgiu o jornalismo interpretativo, que mostra os antecedentes e as conseqüências de uma ocorrência. Alguns órgãos respeitáveis já criaram Departamentos de Pesquisa (o Jornal do Brasil foi o primeiro) e ampliaram os seus arquivos. Sem a consulta aos recortes e aos livros, não é possível suplantar os veículos audiovisuais. Mas até que ponto a notícia imprensa poderá aprofundar-se, se há limite do tempo para prepará-la e do espaço no qual será inserida? Qual a melhor página para um determinado despacho telegráfico? Que tipos são os indicados para o título? Se a impressão for em cores, quais as recomendáveis?