2.1 cidadania e responsabilidade social

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Especialização em Gestão Pública Municipal
Programa Nacional de Formação em Administração Pública
ODALICE LUCIZANO DA SILVA
CIDADANIA COM RESPONSABILIDADE SOCIAL:
Uma questão de inclusão social e redução
das desigualdades.
Maringá
2011
1
Especialização em Gestão Pública Municipal
Programa Nacional de Formação em Administração Pública
ODALICE LUCIZANO DA SILVA
CIDADANIA COM RESPONSABILIDADE SOCIAL:
Uma questão de inclusão social e redução
das desigualdades.
Trabalho de Conclusão de Curso do Programa
Nacional de Formação em Administração Pública,
apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública
Municipal, do Departamento de Administração da
Universidade Estadual de Maringá.
Orientador: Prof. Manoel Quaresma Xavier.
Maringá
2011
2
Especialização em Gestão Pública Municipal
Programa Nacional de Formação em Administração Pública
ODALICE LUCIZANO DA SILVA
CIDADANIA COM RESPONSABILIDADE SOCIAL:
Uma questão de inclusão social e redução
das desigualdades.
Trabalho de Conclusão de Curso do Programa
Nacional de Formação em Administração Pública,
apresentado como requisito parcial para obtenção do
título de especialista em Gestão Pública Municipal, do
Departamento de Administração da Universidade
Estadual de Maringá, sob apreciação da seguinte
banca examinadora:
Aprovado em ___/___/2011
___________________________________________________________
Professor ............................,. (orientador)
Assinatura
___________________________________________________________
Professor
,
Assinatura
___________________________________________________________
Professor
,
Assinatura
Maringá
2011
3
CIDADANIA COM RESPONSABILIDADE SOCIAL:
UMA QUESTÃO DE INCLUSÃO SOCIAL E REDUÇÃO
DAS DESIGUALDADES.
Odalice Lucizano da Silva
1
RESUMO
A situação de rua, a exclusão social e o abuso de drogas por indivíduos nesta
situação, têm chamado a atenção, cabendo discussão a respeito do assunto.
Estudos têm associado à situação de rua, à pobreza e a fragilidade ou rompimento
de laços familiares, sendo um problema para a maioria dos grandes centros. Assim,
é importante o trabalho visando recuperação da cidadania, inclusão social e pratica
de responsabilidade social visando redução de desigualdades. Este artigo, portanto,
contando com revisão de literatura e pesquisa de campo feita na SASC de MaringáPr., visou abordar tal tema. Seu objetivo foi verificar a possibilidade da inclusão
social e redução de desigualdade dos dependentes químicos em situação de rua.
Viu-se que, na cidade diferentes trabalhos têm sido desenvolvidos com moradores
de rua. Neste trabalho viu-se que a pobreza, a fragilidade de laços familiares se
relaciona com a situação de rua. Também notou-se, um alto índice de não adesão
ao trabalho feito, mas que alguns indivíduos conseguiram trabalho e não voltaram a
condição de rua. Existe a carência de auxilio da sociedade e aumento de vaga nos
abrigos, bem como trabalho de parceria para inclusão social destas pessoas por
parte das empresas.
Palavras-chave: situação de rua; exclusão social; fragilidade de laços familiares;
drogas.
1
Pós graduanda em Gestão Pública Municipal – Modalidade de Educação a Distância –UEM.
4
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5
2 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................... 8
2.1 CIDADANIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL ...................................................... 9
2.2 EXCLUSÃO E INCLUSÃO SOCIAL ...................................................................... 11
2.3 DEPENDÊNCIA QUÍMICA E SITUAÇÃO DE MORADIA NA RUA ....................... 12
3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 14
4 O ESTUDO DE CASO DESENVOLVIMENTO COM MORADORES DE RUA
USUÁRIOS DE DROGAS DE MARINGÁ-PR. ............................................................. 15
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 17
5
1 INTRODUÇÃO
No período que antecede aos anos 90 era possível perceber certa
integração entre os membros de uma família até mesmo de uma comunidade. Havia
certo cuidado entre seus membros como, por exemplo, o cuidado que um vizinho
tinha com o outro, auxiliando quando precisava, estando sempre pronto a ajudá-lo
em qualquer momento, ou seja, inconscientes praticavam a responsabilidade social.
Com a globalização e o aumento na busca pelo acúmulo de bens que o
capitalismo proporcionou, tem se percebido que os cidadãos tornaram-se
individualistas, talvez não pela própria vontade, mas em função de adaptação ao
meio. Isso pode ter sido o motivo da causa de violências, consumo de drogas,
desigualdade social e desagregação familiar dentre outras.
A palavra cidadania vem do latim civitas que significa cidade. Então
cidadania pode ser entendida como sendo o conjunto de direitos e deveres que um
indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive. Atualmente o conceito de
cidadania foi ampliado e constitui um dos princípios fundamentais do Estado
Democrático de Direito e pode ser traduzido por um conjunto de liberdades e
obrigações políticas, sociais e econômicas. Ser cidadão atualmente implica em
exercer seu direito à vida, à liberdade, ao trabalho, à moradia, à educação, à saúde,
à cobrança de ética por parte dos governantes.
Exercer plenamente a cidadania consiste também como o dever de participar
ativamente das decisões da comunidade, da cidade, do Estado e do país; propondo
soluções para os problemas em todos os âmbitos do convívio social, possibilitando a
pessoa de participar ativamente da vida, do governo e de seu povo. Quem não tem
cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões,
ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.
A cidadania é exercida pelos cidadãos, onde o cidadão é um indivíduo que
tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as
questões da sociedade. No entanto, dentro de uma democracia, a própria definição
de Direito, pressupõe a contrapartida de deveres, uma vez que em uma coletividade
os direitos de um indivíduo são garantidos a partir do cumprimento dos deveres dos
demais componentes da sociedade.
6
Diante dessa problemática em que se encontram alguns cidadãos o Estado
precisa colocar em práticas algumas políticas públicas a fim de proporcionar
oportunidades aos cidadãos que ainda não perceberam seu verdadeiro papel no
convívio social que possibilite reintegrarem no sentido de que possa haver redução
da desigualdade social que se encontram no momento.
A não consciência do exercício da cidadania com responsabilidade social
pode acarretar a exclusão social e, conseqüentemente, as desigualdades sociais em
função de atitudes que acarretam problemas de natureza social, principalmente pelo
alto custo financeiro que essas atitudes causam ao erário.
A desigualdade social acontece quando a distribuição de renda é feita de
forma diferente sendo que a maior parte fica nas mãos de poucos. Estudos têm
demonstrado que no Brasil a desigualdade social é uma das maiores do mundo. Por
esses acontecimentos, atualmente existem pessoas vulneráveis principalmente na
classe de baixa renda, pois a exclusão social os torna cada vez mais supérfluos e
incapazes de ter uma vida digna.
Muitos jovens de baixa renda crescem sem ter estrutura na família devido a
uma série de conseqüências causadas pela falta de dinheiro sendo: briga entre pais,
discussões diárias, falta de estudo, ambiente familiar precário, educação precária,
más instalações, má alimentação e dependência química. Essa situação é marcada
por ruptura de todo tipo, levando-o em situação de rua e isolamento social.
O afastamento do mercado de trabalho, a desestruturação familiar e o
rompimento com as antigas relações que compunham sua rede de sociabilidade,
fazem com que esses indivíduos passam a depender da rede pública de proteção
social. Já no meio social, os mecanismos instituídos pela Constituição Federal de
1988 no Brasil formam uma tentativa de fortalecer o debate e estimular a inserção
de atores sociais no espaço político. Acredita-se ainda que esse tipo de ação
privilegie as camadas menos favorecidas economicamente. Não se pode negar que
existe hegemonia no espaço sócio-político brasileiro. Não se pode lançar sobre uma
sociedade tão desigual um olhar apaziguador.
No capitalismo é a conseqüência econômica do sistema político dos direitos
individuais à vida, propriedade e liberdade. Estes direitos são assegurados quando é
vetado o uso da força nas relações humanas, exceto em reação à violação da vida,
propriedade ou liberdade de alguém.
7
Diante do exposto, este artigo baseou-se em pesquisa feita com moradores
de rua. Partiu do seguinte problema: As más condições econômicas podem afetar as
relações familiares, acesso a educação e moradia, levando a dependência química,
situação de rua e isolamento social?
Portanto, seu objetivo geral foi verificar a possibilidade da inclusão social e
redução de desigualdade dos dependentes químicos em situação de rua. Pretendeu
ainda, contextualizar a cidadania com responsabilidade, demonstrar à necessidade
de apoio a família em vulnerabilidade social, bem como destacar o fato de que a
inclusão social e a redução da desigualdade dependem do exercício da cidadania.
Delimita-se, por conseguinte, a apresentação dos resultados de estudo feita
na cidade de Maringá com dependentes químicos moradores de rua. Diante do
contexto de vivência social este trabalho discute aspectos voltados à inclusão social,
tendo em vista que um dos maiores problemas sociais constatados por órgãos
responsáveis pela vida social refere-se às estruturas sociais. Isto se dá, seja pela
ausência de conhecimento do seu verdadeiro papel na sociedade, pela educação
insuficiente, além da falta de recursos financeiros que proporcione atendimento das
necessidades básicas e, conseqüentemente o mundo das drogas.
Entre esses fatores podem-se destacar formas de promover a inclusão social
de usuários de drogas pela adoção de uma abordagem de atenção integral que
estimule a qualidade de vida e o exercício pleno da cidadania, disponibilizando
informação e orientação, acolhimento e apoio. Outro fator que deve ser levado em
consideração são as políticas públicas voltadas à inclusão social em que a
sociedade precisa participar desde o momento de planejamento dos orçamentos
públicos ao acompanhamento das ações praticadas pelos gestores públicos. Entre
essas ações nota-se uma falta de conhecimento dos trâmites dos recursos públicos,
embora estejam em sua maioria disponíveis nos meios eletrônicos.
Por essas razões este trabalho se justifica na medida em que possa efetuar
estudos voltados responsabilidade social em que cada cidadão possa perceber que
existem deveres e direitos que devem ser respeitado por todos, independentemente,
da posição social que ocupa, pois todo cidadão tem sua importância.
8
2 REVISÃO DE LITERATURA
A partir do advento do neoliberalismo implantado primeiramente em países
europeus como a Inglaterra, observa-se o empobrecimento de grande parte da
população, relacionando os altos índices de pobreza ao desmantelamento de grande
parte dos sistemas de proteção social construídos nos anos dourados do Welfare
State entre meados dos anos 40 e início da década de 70 (VAISTSMAN, 1994;
SOARES, 2000).
A privatização, a precarização do trabalho associadas à queda de sindicatos
tem sido a orientação neoliberal, que a partir da década de 80 se estende aos
países periféricos latinos americanos entre os quais se encontra o Brasil (SOARES,
2000). Tal contexto associado às mudanças atreladas a família contemporânea
contribuiu para uma configuração de um acirramento da pobreza, o que configura
em grandes desafios para as políticas públicas.
A situação da família no Brasil se modificaria pelas mudanças nos setores de
produção, bem como no tipo de agricultura. Durante os anos de 60 e 70, o Brasil
passaria por uma “revolução verde”, com a mecanização das lavouras, abolindo-se o
plantio de algodão, café e hortelã, que exigiam vasta mão-de-obra. Viria a soja e
com ela o plantio direto, levando ao desemprego de muitos trabalhadores rurais e
conseqüentemente o êxodo rural. Junto com este êxodo rural também acabaria por
se registrar uma precarização da vida destas pessoas, que na busca do sonho,
vindo para as metrópoles enfrentariam desemprego e péssimas condições de
moradia, visto que as cidades não haviam sido projetadas para tão grande
contingente de pessoas, assim aumentando o número de moradores das favelas
Veiga (1991).
A questão da precarização se acentuaria nas próximas décadas do século
XX, especificamente na década de 90, aumentou-se a pobreza, em países de maior
extensão territorial como o Brasil, na América Latina, visto que segundo Soares
(2003) seria registrado o nascimento dos “pobres urbanos”, mais numerosos que os
“pobres rurais”. Neste período além do êxodo rural mencionado por Veiga (1991),
houve também uma ampliação das diferenças de acesso aos bens e serviços,
colocados por Soares (2003) como vinculadas à habitação, serviços, educação e
saúde.
9
No Brasil a partir da década de 90, 44% das pessoas estavam na linha de
pobreza de acordo com Cohn (2000). A desqualificação e a evolução nas formas de
trabalho aumentariam o trabalho informal no fim do século XX e início do século XXI,
diminuindo salários, levando muitas famílias a residirem nas periferias das cidades.
Como explica Antunes (1999) à evolução leva a precarização do trabalho porque
cria uma massa de pessoas não adequadas ao mundo do trabalho, que são classeque-vive-do-trabalho.
Houve o empobrecimento da família e também mudanças no mercado de
trabalho. Cresceu o número de moradores de rua, sendo muitos afetados pelo vício
das drogas. A pobreza da família tem causa desestruturação de laços, entre outros
efeitos, que são apontados como fatos desencadeantes para a situação de exclusão
e isolamento social, bem como a negação ao direito de cidadania por parte destes
indivíduos. A seguir, portanto, traz-se apanhado teórico sobre o assunto.
2.1 CIDADANIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL
A pobreza das pessoas leva a discussão da questão da cidadania, pois o
direito a mesma é resguardado pela Constituição Federal de 1988, aonde se
estabelece o papel do Estado para com seus cidadãos. Então, ser cidadão é ter o
direito de acesso aquilo que é de papel do Estado, bem como a sua proteção, tendo
participação total na comunidade política, quanto direitos civil, direitos políticos e
direitos sociais, que lhe dêem o mínimo bem estar.
Apesar das mudanças trazidas pela Constituição Federal de 1988, ainda
existe dúvidas quanto o que é cidadania e se todos conseguem exercitar a mesma.
Vê-se que cidadania corresponde ao conjunto de direitos e deveres estabelecidos
por lei, podendo participar, exercer e reinvindicar direitos (SAES, 2011).
Trata-se de um conjunto de direitos e liberdades, tanto políticas, como
sociais e econômicas, definidos ou não por lei. O exercício da cidadania, por sua
vez, trata-se da forma de fazer valer os direitos garantidos, cobrando-se seus
direitos. Então, segundo Silva (2000), entende-se que a cidadania é um elemento
importante para os direitos políticos do homem, bem como seus direitos civil e social.
10
Ela garante ao cidadão o acesso aos direitos fundamentais, garantindo as
liberdades, a defesa da legalidade e mesmo a prática da justiça social.
A cidadania existe num sentido mais amplo do que o de titular direitos
políticos aos indivíduos, pois qualifica os participantes da vida do Estado,
compreendendo o indivíduo como parte da sociedade, sendo base essencial para a
garantia da dignidade humana. Logo, o poder público, segundo Meirelles (2006) tem
o papel de garantir o direito do cidadão.
É preciso cobrar do governo condições de cidadania, porque apesar das
definições constitucionais, este não tem conseguido oferecer condições sociais
dignas a todos os cidadãos. Portanto, existe o direito, mas sua colocação em prática
dentro de um mundo neoliberal tem sido complexa. O não acesso a condições
adequadas de cidadania traz um problema, pois de acordo com Dallari (1998, p. 14):
A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a
possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu
povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da
vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de
inferioridade dentro do grupo social.
Compreende-se, portanto, ser difícil a situação de muitas pessoas, pois o
Estado de pobreza, de falta de acesso a educação, alimentação e moradia, trazem
exclusão social, prejudicando-os no exercício de sua cidadania, até por que, a
exclusão, pode significar isolamento social. Como conhecer os direitos e
responsabilidades, quanto o Estado deixa de oferecer o básico. Isto é colocado, pois
Carvalho (2003) apud Kaloustian (2003) coloca que a má educação e moradia
deixam os indivíduos vulneráveis, bem como lhes retira a capacidade critica de
cobrar seus direitos.
É preciso, por conseguinte, o reconhecimento da importância do
desenvolvimento da consciência de responsabilidade social. Isto é importante,
porque conforme Lessa (1997) apud Lopes (2004) frente à pobreza a incapacidade
do Estado de atender a tudo, a responsabilidade social, veio a serem ações que
visam tornar o mundo melhor com a participação da sociedade. Portanto, praticá-la,
com aqueles que estão excluídos do acesso a cidadania é agir com atitudes simples,
mas que ajude na mudança das condições de vida daqueles em vulnerabilidade
social, exclusão social ou isolamento.
11
Faz-se necessário o reconhecimento e o respeito às diferenças, o
pensamento no coletivo, com programas sociais, ou iniciativas da sociedade, que
proporcionem uma sociedade mais equilibrada, daí o crescimento de organizações
do Terceiro Setor. Projetos sociais, políticas e atitudes governamentais são saídas,
mas a retirada do Estado de muitos aspectos tem complicado tal situação, ainda
mais em países subdesenvolvidos como o Brasil, na qual a população vive situação
social, cultural e educacional que tem déficit de séculos, daí a entrada do Terceiro
Setor praticando responsabilidade social (ANTUNES, 2005).
2.2 EXCLUSÃO E INCLUSÃO SOCIAL
O neoliberalismo influencia a situação da classe trabalhadora, pois suas
reformas têm propósitos e mecanismos em todo mundo, cujo objetivo é mudar a
estrutura do sistema de bem-estar social por meio da diminuição do papel do Estado
na garantia de direitos sociais. Este modelo econômico traz inserção dos
dispositivos de manutenção da força de trabalho nos mecanismos lucrativos do
mercado, porém dentro de uma ótica na qual o trabalhador tem sido prejudicado
(FALEIROS, 2000).
Quanto à globalização esta interfere no trabalho, pois a classe trabalhadora
tem vivido período na qual o processo de mundialização do capital é excludente. Isto
acontece, visto que o estado dentro do neoliberalismo globalizado recompôs as
bases de uma sociedade excluída, de desemprego estrutural, na qual muitos se
submetem a exploração para não ficarem excluídos do trabalho. O modo de
produção com isso acaba por se aproveitar de seu despreparo, ou excluídos por não
se encaixarem em seus padrões.
A incapacidade aparente do governo de interceder nos séculos XX e XXI
pela questão social, econômica e até mesmo ambiental, traz discussões dentro da
sociedade civil e do setor privado, quanto o que fazer. Deu-se o aumento do número
de pessoas em situação de exclusão social, ou seja, de falta de acesso as
condições dignas de vida.
Entende-se uma pessoa como em situação de exclusão social, que a
pobreza e a desigualdade, retiram dela condições mínimas de dignidade humana,
descumprindo o definido na Constituição Federal de 1988 e estabelecido naquilo
12
que é considerado ideal para um ser humano. Diz-se que um indivíduo vivencia
exclusão social, quando se encontra a parte daquilo que é usufruído pela sociedade,
devido sua pobreza (LESSA, 1997 apud LOPES, 2004).
No que diz respeito à inclusão social, tal surge em oposição a exclusão, pois
é uma iniciativa do governo ou da sociedade de melhorar ou mudar as condições
que expõe o excluído a desigualdade. Trata-se de políticas públicas ou iniciativas do
Terceiro Setor de inclusão social, por meio de projetos, leis e demais ferramentas,
tentando modificar a realidade da pessoa afetada pela desigualdade social.
Os moradores de rua são indivíduos que retratam a situação de exclusão
social, bem como o trabalho com os mesmos, demonstra exemplo de inclusão
social, já que sua situação pode ser modificada com atitudes que lhes traga de volta
a dignidade, bem como o orgulho de serem cidadãos.
2.3 DEPENDÊNCIA QUÍMICA E SITUAÇÃO DE MORADIA NA RUA
No Brasil, após a década de 80, de acordo com Zaluar (1994) apud Uraham
(2006) houve um aumento no consumo de maconha, inalantes, LSD, cocaína, crack,
álcool e tabaco, principalmente nos grandes centros, porém, nas décadas seguintes,
este fenômeno se espalhou para outras regiões do país. Isto foi resultado não
apenas da popularização do uso recreativo de drogas como as ilícitas, mas também,
pelo crescimento do mercado clandestino.
Com a proibição de sua livre comercialização, o crescimento do narcotráfico
foi estimulado pela supervalorização das drogas ilícitas, aumentando ainda, os
diferentes adulterantes aplicados para aumentar a quantia de droga a ser vendida.
Somadas a tais fatores, questões sociais, influencias de grupos, vontade de fuga,
idéia de liberdade, afirmação no grupo a que se pertence, entre outros motivos,
estimulariam o crescimento de seu uso. É importante destacar, no entanto, que seu
uso não se ligaria apenas a fatores emocionais, como também a aspectos sociais,
econômicos, culturais determinantes no comportamento do usuário (ZALUAR, 1994
apud URAHAMA, 2006).
A geração de dependentes de drogas do século XX e a nova geração que
tem se formado no século XXI, configuram-se em indivíduos com dependência
psicológica e física, seja enquanto consumidores eventuais, usuários dependentes,
13
ou usuários crônicos. Esta realidade, somada ao crescimento e maior alcance do
Narcotráfico, fez com que, as drogas não fossem apenas fatos das periferias,
realidade de todas as classes. Assim:
[...] o esquecimento que a droga propicia permitiria fugir de si
mesmo, do próprio passado, dos conflitos que marcam identidade e
relacionamento e alimenta a vã esperança de banir em definitivo o
espectro da divisão sofrida (BUCHER, 1992, P.29).
A busca pela fuga, proporcionada pela droga seria realidade de diferentes
classes, apesar de possuir diferentes motivos. É importante, porém, destacar como
explica Uruhama (2006) que os pobres sofrem os maiores efeitos primários (saúde,
prejuízos nas relações familiares, exclusão do trabalho, etc.,) e secundários (roubo,
assassinatos, etc.,). Mesmo a pobreza não explicando o consumo da droga,
somando-se as falhas do Estado de políticas públicas de combate à pobreza e ao
desemprego, contribui para o incentivo ao consumo de drogas ilícitas, em face da
falta de perspectivas de vida, ou oferecimento de dinheiro para venda pelo
Narcotráfico.
A influência da droga na sociedade tornou-se um problema de saúde
pública, mas ultrapassou o “particular”, ou seja, “a droga afeta somente um
individuo”, para atingir todo um complexo de indivíduos e o governo. Assim, seu uso
resulta não apenas em sofrimento pessoal, em função dos efeitos causados pelo
consumo e complicados por seus adulterantes (talco, cal, etc.,). Ainda, tem impacto
familiar, comunitário, institucional e legal, bem como do gasto do governo com
campanhas de tratamento do usuário, repressão do Narcotráfico e contenção de
usuários que mantém seu vício por meio de pequenos furtos, que muitas vezes leva
a morte de alguma pessoa (URUHAMA, 2006).
Na nova sociedade altamente mercadológica e capitalista, cresceram
também as campanhas de marketing de drogas licitas como o tabaco e o álcool, pois
segundo Pechansky, Szobot e Scivoletto (2004) a freqüência de comerciais
relacionados ao seu uso vem crescendo nas ultimas décadas. Conforme estes
comerciais de bebidas alcoólicas aparecem em maior quantidade, do que aqueles
ligados a bebidas não alcoólicas ou outros produtos.
A questão da vulnerabilidade social tem sido relacionada às drogas, daí
sendo a condição de mendicância um fator correlacionado com o uso de drogas e
alcoolismo. Isto é colocado, pois o Brasil é país, que vivencia diferentes mudanças
em sua organização, com êxodos do campo para os grandes centros, com a
14
pobreza, fragilização dos laços familiares, empobrecimento da família, falta de
acesso à educação de qualidade entre outros (BOURGUIGNON, 1997).
As pessoas em situação de pobreza, ao ponto de residirem nas ruas ficam
mais fragilizadas, daí utilizando na droga uma forma como a apontada por Bucher
(1992), que é o esquecimento da situação vivida. O esquecimento às vezes é
buscado, pois a pessoa vê-se sem condições básicas de vida com dignidade.
Também podem ser aliciados por traficantes, ou mesmo induzidos ao uso por estes.
3 METODOLOGIA
O presente estudo correspondeu à junção de pesquisa descritiva e
exploratória, contando com estudo bibliográfico e de caso. Descritiva, porque com
base em Lakatos e Marconi (2007) pretende expor as características de determinado
setor, ou fenômeno, estabelecendo correlações entre as variáveis percebidas. O
estudo também correspondeu à pesquisa exploratória, pois de acordo com Vergara
(2005) esta é útil para estudo em área na qual existe pouco conhecimento
acumulado e sistematizado, agindo dentro de uma natureza de sondagem.
A pesquisa exploratória permite melhor familiaridade com o tema proposto,
utilizando um planejamento que requer levantamento bibliográfico e demais
instrumentos úteis para exposição do que foi encontrado na pesquisa. Logo, esta
pesquisa contou com estudo bibliográfico e de caso.
No que se refere à pesquisa bibliográfica segundo Lakatos e Marconi (2007)
esta seria fundada em dados obtidos em livros, revistas, documentos eletrônicos e
em todos os materiais disponíveis para estudo sobre o tema. Quanto ao estudo de
caso, tal tipo de pesquisa se dá de maneira profunda, dirigida a um ou poucos
objetos.
O estudo aqui desenvolvido correspondeu à pesquisa que consiste de uma
investigação empírica que estuda um fenômeno contemporâneo dentro de seu
contexto da vida real especialmente quando os limites entre o fenômeno e o
contexto não estão claramente definidos.
A pesquisa de campo foi desenvolvida com moradores de rua da cidade de
Maringá-Pr., atendidos pela Secretaria de Assistência Social e Cidadania-SASC em
seu CREAS – Centro de Referência Especial de Assistência Social dirigido a
15
população em situação de rua. Contou-se com observação de seus cadastros e
coleta de informações verbais. A seguir, portanto, apresenta-se estudo feito em
Maringá-PR., para a apresentação das iniciativas que tem sido feitas junto aos
moradores de rua, em especial os usuários de drogas, no sentido de inclusão e
recuperação de sua cidadania e dignidade.
4 O ESTUDO DE CASO DESENVOLVIMENTO COM MORADORES DE RUA
USUÁRIOS DE DROGAS DE MARINGÁ-PR.
O estudo desenvolvido pretendeu observar o trabalho para promoção da
cidadania, inclusão social e redução de desigualdades desenvolvido na cidade de
Maringá-Pr., pelo Creas, demonstrando a responsabilidade social do município com
tal questão.
A pesquisa discutiu se as más condições econômicas afetam as relações
familiares, acesso a educação e moradia, além de levar a dependência química,
situação de rua e isolamento social. Objetivou verificar a possibilidade da inclusão
social e redução de desigualdade dos dependentes químicos em situação de rua.
Visou ainda, contextualizar a cidadania com responsabilidade, demonstrar à
necessidade de apoio a família em vulnerabilidade social, bem como destacar o fato
de que a inclusão social e a redução da desigualdade dependem do exercício da
cidadania.
Assim, por meio do trabalho desenvolvido pela pesquisadora como
assistente social do CREAS colheram-se dados nos cadastros de moradores de rua
atendidos. Mediante o que foi observado, foram discutidos os principais aspectos
relacionados à situação de rua, pobreza, exclusão, isolamento social.
Os
dados
constantes
nos
cadastros
vieram
da
seguinte
forma:
primeiramente teve um atendimento realizado com o morador de rua no CREAS –
Centro de Referência de Assistência Social, aonde foi feito pela assistente social um
levantamento da história de vida do pesquisa, investigando qual o seu objetivo de
mudança de perspectiva de vida, em seguida, encaminhando-o para atendimento
com psicóloga.
Após a primeira entrevista foi realizado estudo de caso com equipe técnica
do CREAS, formada por 02 psicólogos, 01 assistente social e uma pedagoga, a fim
16
de verificar o encaminhamento mais adequado segundo a realidade individual de
cada usuário. Para aqueles que disseram ter família, mas que o vínculos familiares
estavam fragilizados tenta-se a reaproximação, verificando a possibilidade de
retorno a família.
As avaliações feitas foram diferenciadas, porque traduzem sua compreensão
quanto à condição de vida na rua, havendo usuários que avaliam positivamente os
serviços ali prestados, enquanto outros criticam e reivindicam direitos. Estes cobram
o direito a serviços com maior qualidade que aqueles que têm lhes sido prestados.
Nota-se que, mesmo dentre aqueles que vivem nas ruas, existe uma falta de
hábito de utilizar com regularidade os serviços oferecidos a eles, buscando
alternativas para satisfazer suas necessidades de sobrevivência, entre as quais a
principal é a mendicância.
Como o objetivo do trabalho era observar a proposta de mudança de
realidade social oferecida ao usuário, viu-se que, quando este solicita auxilio para
mudar de vida, sair da condição de rua, o CREAS realiza triagem a fim de verificar
se o mesmo tem perfil que se enquadra no abrigamento do Abrigo Municipal Portal
Inclusão.
Nesta seleção colhem-se dados de identificação, referências familiares,
escolaridade, dados de imigração, situação de rua, estratégias de sobrevivência,
condições de saúde, para então classificá-lo quanto sua situação de rua (tempo de
moradia na rua, situação de risco com dependência química, pedinte, idoso,
flanelinha, doente mental), se este é sem teto, migrante, imigrante, ou outro tipo de
situação a ser registrada. Também se observa sua situação judicial, ainda
registrando-se os atendimentos e encaminhamentos feitos.
No Abrigo Municipal Portal da Inclusão são abrigados pessoas do sexo
masculino, tendo a capacidade de 10 vagas, com período de permanência de 09
meses. Nesse prazo são providenciados documentos pessoais para aqueles que
não possuem, além de buscar vagas para inserção do individuo no mercado de
trabalho da cidade. Após a contratação do abrigado, requer-se a este que
economize parte de sua renda mensal, para que este tenha uma renda mensal
futura, no sentido de pagar um aluguel de uma casa ou manter-se por conta própria.
No ano de 2010 conforme cadastros dos usuários do CREAS, foram
inseridas 10 pessoas no Portal Inclusão, sendo que 03 usuários concluíram com
sucesso. Estes se mantiveram no trabalho com registro em carteira, sendo inseridos
17
com eficácia no mercado de trabalho e na sociedade. Outros 07, no entanto, após
primeiro salário tiveram recaídas, não aderindo mais as normas da instituição e
voltando as ruas.
As mulheres são encaminhadas para a Casa de Nazaré, aonde são
trabalhadas com os mesmos requisitos e exigências identificados no Abrigo
Municipal Portal Inclusão. Em 2010, das 03 mulheres encaminhadas para a
instituição, nenhuma foi desligada com sucesso, pois sendo usuárias de drogas
abandonaram o tratamento e voltaram às ruas.
É importante expor, que este trabalho se fundamenta em atuação do Creas
que ainda não tem dados concretos, pois diante do número de pessoas em situação
de rua em Maringá-PR., um dos maiores problemas é que se negam a serem
abrigados. Também, muito em situação de rua se mantém com a mendicância e não
notam na inclusão social uma saída mais digna através do trabalho.
A questão das drogas também prejudica, bem como pela questão da
fragilidade dos laços familiares, ou mesmo inexistência deles. A pessoa não tem
apoio da família e passa por maiores dificuldades para ser inclusa na sociedade.
Nota-se pelo número de pessoas que voltam à situação de rua observada em 2010,
que a Prefeitura tem buscado um trabalho, mas que a sociedade também podia
auxiliar evitando a pratica de dar dinheiro aos pedintes.
Observa-se que, a situação de pobreza, os laços familiares frágeis foram
apontados como fatores associados à situação de rua e pelos cadastros verificados,
também a maioria das pessoas em situação de rua vem fazendo uso de drogas,
sejam elas licitas (álcool), como também ilícitas (cocaína, crack, maconha, etc), ou
mesmo poliuso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final compreende-se que existe uma associação entre pobreza,
fragilidade de laços familiares e exclusão social, envolvidos na situação de rua, bem
como a vivência nas ruas, leva ou se associa ao consumo de drogas lícitas e ilícitas.
Isto é colocado, pois nos cadastros observados e nas conversas verbais com
abrigados, no exercício de função de assistente social, tal é apontado por estes.
18
Viu-se
que
em
Maringá-PR.,
ainda
tem-se
um
programa
em
desenvolvimento de retirada das pessoas das ruas, mas que ainda o governo
municipal precisa do apoio da sociedade, pois os dois abrigos disponíveis para
pessoas em situação de rua, trabalham em função do tal de vagas, com número
reduzido de abrigados. Faz-se necessário um trabalho conjunto do governo
municipal, mas também da sociedade de apoiar estas pessoas e auxiliá-las no
processo de inclusão social e resgate de sua condição de cidadania.
19
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