EXTRATO DE O INSTINTO DA LINGUAGEM DE: Steven Pinker – Ed. Martins Fontes – 2002/2004 2ª edição Pesquisar sobre Princípio das Categorias Vazias Afasia – perda linguagem em consequência de uma lesão cerebral. 9 A linguagem é claramente uma peça da constituição biológica de nosso cérebro. 10 A linguagem não é uma invenção cultural assim como tampouco a postura ereta o é. 11 “Educação é algo admirável, mas é bom lembrar de vez em quando que nada que vale a pena saber pode ser aprendido.” – Oscar Wilde Darwin teve que enfrentar a linguagem. Em 1871, em Descent of Man, tratou do fato da linguagem se restringir à espécie humana, o que parecia contradizer sua teoria da evolução. 12 Para William James, “nossa inteligência flexível provém da interrelação entre muitos instintos diferentes”. O funcionamento da linguagem está tão distante de nossa consciência quanto os fundamentos lógicos da postura de ovos para as moscas. 13 No século XX, a tese da linguagem como um instinto foi elaborada por Noam Chomsky. (...) ter braços não é fruto da experiência, do aprendizado. 15 Os sistemas cognitivos humanos, quando seriamente investigados, não se mostram menos maravilhosos e intricados que as estruturas físicas que se desenvolvem na vida do organismo. Então, por que não deveríamos estudar a aquisição de uma estrutura cognitiva como a linguagem mais ou menos da mesma maneira como estudamos um órgão físico complexo? 28 Como Lily Tomlin disse, talvez o homem tenha inventado a linguagem para satisfazer sua profunda necessidade de se queixar. [Antes da escrita não havia escola.] Circunlóquio - Maneira de falar na qual se exprime um pensamento de modo indireto e impreciso; perífrase, rodeio. Solilóquio - Discurso de uma pessoa que fala consigo mesma; monólogo. 39 Pais não ensinam língua aos filhos. (...) Na verdade nem mesmo falam com as crianças antes que elas tenham domínio lingüístico, a não ser para pedidos ocasionais e reprimendas. 47 O próprio conceito de imitação é suspeito (se as crianças são imitadores, por que não imitam o costume que seus pais têm de ficar sentados quietos nos aviões?)... 50 Transtorno Específico da Linguagem (SLI na sigla em inglês) Estudos estatísticos recentes mostram que o SLI é hereditário. Em gêmeos, se um sofre do distúrbio, é muito alta a probabilidade de que o outro também o apresente. 60 O pensamento depende das palavras? [Para mim, com certeza não.] 64 Não há evidências científicas de que uma língua molde de maneira decisiva o modo de pensar de seus falantes. 70 Contrariando a crença popular, os eskimós não têm mais palavras para “neve” do que as pessoas que falam inglês. 98 Muitos biólogos acreditam que se a hereditariedade não fosse discreta a evolução tal como a conhecemos não teria ocorrido. 186 Já que a palavra é puro símbolo, a relação entre seu som e seu significado é profundamente arbitrária. 192 [Para uma criança uma palavra não pode significar duas coisas.] 237 Todos os alfabetos fonéticos modernos parecem descender de um sistema inventado pelos canaanescos por volta de 1.700 a.C. 238 “Há duas tragédias na vida. Uma é não realizar seu desejo mais profundo. A outra é realizá-lo.” Bernard Shaw. 242 Com o aparecimento da nova geração de aparelhos inteligentes, quem correrá o risco de ser substituído por máquinas serão os analistas da bolsa, engenheiros petroquímicos e os membros do tribunal de revisão criminal. Os jardineiros, recepcionistas e cozinheiros ainda têm seus empregos garantidos por muitas décadas. 283 Conversas fora de contexto são praticamente incompreensíveis. Parte do problema decorre das circunstâncias da transcrição: sem a entonação e o timing que delineiam sintagmas, a transcrição de qualquer coisa q não seja uma fita de alta fidelidade deixa de ser confiável. 287 Para ter uma idéia da dimensão da tarefa [de tentar fazer um programa para entender uma conversa], considere quanto conhecimento sobre comportamento humano é preciso aplicar para compreender o que ele significa num diálogo simples como este: Mulher: Vou te deixar. Homem: Quem é ele? O processo completo da compreensão está mais bem caracterizado pela piada sobre os dois psicanalistas que se encontram na rua. Um deles diz: “Bom dia”; o outro pensa: “O que será que ele quis dizer com isso?” 300 A afirmação de Chomsky de que do ponto de vista de um marciano todos os humanos falam a mesma língua baseia-se na descoberta de que, sem exceção, a mesma maquinaria de manipulação de símbolos subjaz às línguas do mundo. 303 (...) o delicado martelo, bigorna e estribo do ouvido médio dos mamíferos são partes da mandíbula dos répteis. 306 Os humanos têm uma habilidade especial para detectar diferenças ínfimas que lhes permitam decidir quem deve ser desprezado. [A base do preconceito] 307 “Língua e dialetos dominantes se espalham, provocando a gradual extinção de outros idiomas. Depois de extinta, uma língua, assim como uma espécie, nunca... reaparece.” Darwin O inglês é semelhante embora não idêntico ao alemão pela mesma razão que raposas são semelhantes embora não idênticas a lobos: inglês e alemão são modificações de um a língua ancestral comum falada no passado, e raposas e lobos são modificações e uma espécie ancestral comum que viveu no passado. Diferenças entre línguas, como diferenças entre espécies, decorrem de três processos que agem durante longos períodos de tempo. Um desses processos é variação – mutação, no caso das espécies; inovação lingüística, no caso das línguas. O segundo é a hereditariedade, de acordo com a qual os descendentes se parecem com seus progenitores nessas variações – heranças genéticas, no caso das espécies; habilidade para aprender, no caso das línguas. O terceiro é o isolamento – pela geografia, época de acasalamento ou anatomia reprodutiva, no caso das espécies; por migração ou barreiras sociais, no caso das línguas. Em ambos os casos, populações isoladas acumulam conjuntos diferentes de variações, que tendem a se distanciar ao longo do tempo. Portanto, para compreender por que há mais de uma língua, temos de compreender os efeitos da inovação, aprendizagem e migração. 308 A capacidade para aprender encontra-se em mecanismos tão simples como uma bactéria, e, como James e Chomsky mostraram, a inteligência humana talvez dependa de termos mais instintos inatos, e não menos. Pássaros que põem ovos em pequenas saliências de penhascos não aprendem a reconhecer seus filhotes. (...) Por outro lado, pássaros que põem ovos em grandes colônias correm o perigo de alimentar o filhote de algum vizinho que se introduza sorrateiramente no ninho, e eles desenvolveram um mecanismo que lhes permite aprender as nuanças particulares de seus próprios bebês. A teoria evolutiva, (...) mostrou que quando um ambiente é estável há uma pressão seletiva para que habilidades aprendidas se tornem pouco a pouco inatas. 309 Uma gramática inata é inútil se só você a possui. 314 O terceiro ingrediente para a divisão das línguas é a separação entre grupos de falantes, de modo que as inovações que vingam não se efetivam em todo lugar mas se acumulam isoladamente nos diversos grupos. 331 As línguas são perpetuadas pelas crianças que as aprendem. Quando os lingüistas encontram uma língua falada apenas por adultos, sabem que Lea está condenada. (...) O lingüista Michael Krauss estima que 150 linguas dos índios norte-americanos, cerca de 80% das existentes, estão moribundas. (...) Somente cerca de 600 linguas estão razoavelmente seguras por obra de um grande numero de falantes, digamos, um mínimo de 100.000 (embora isso nem mesmo garanta sua sobrevivência a curto prazo), e essa suposição otimista ainda sugere que entre 3.600 e 5.400 linguas, ou seja, 90% do total mundial, estão ameaçadas de extinção no próximo século. 332 Diferenças lingüísticas podem ser uma fonte de discórdias mortais, e se uma geração escolhe trocar de língua e optar por aquela falada pela maioria, que lhe promete progresso econômico e social, será que algum grupo de fora tem o direito de obrigá-los a não faze-lo porque gostam da idéia de que eles mantenham a ligua antiga? Como Krauss escreve: “Qualquer língua é a realização suprema do talento coletivo exclusivamente humano, mistério tão divino e infindo quanto um organismo vivo. Uma língua é um meio que a poesia, a literatura e a musica de uma cultura jamais podem dispensar. Corremos o risco de perder tesouros que vão do iídiche, com muito mais palavras para “simplório” do que se dizia que os esquimós tinham para “neve” (...). Para o lingüista Ken Hale: “ A perda de uma língua é parte da perda mais geral de que o mundo padece, a perda da diversidade em todas as coisas.” 338 Por que o balbucio é tão importante? O bebê é como uma pessoa que ganhou um complicado equipamento de áudio cheio de botroes e comutadores, sem legenda e sem manual de instruções. (...) Ao escutar seu próprio balbucio, na verdade os bebês escrevem seu próprio manual de instrução; aprendem quanto devem mover que músculo em que sentido para obter que mudança no som. 353 James Thurber e E. B. White escreveram certa vez: “Há uma boa razão para que, nos últimos tempos, se discuta muito mais o lado erótico do Homem do que seu apetite por comida. A razão é a seguinte: enquanto a necessidade de comer é um assunto que concerne apenas à pessoa faminta (ou, como o alemão diz, der hungrie Mensch), a necessidade de sexo envolve, em sua verdadeira expressão, outro individuo. É esse “outro individiduo” o motivo de todo o problema. 356 Surpreendentemente, embora a prática seja importante no treinamento da ginástica da fala, para aprendizagem da gramática ela é supérflua. Por várias razões neurológicas, as vezes as crianças são incapazes de articular, mas os pais relatam que sua compreensão é excelente. 367 Por que os bebês não nascem falando? Máquinas complexas levam tempo para ser montadas, e os bebês humanos são expelidos da barriga antes de seus cérebros estarem completos. (...) Se os seres humanos permanecessem na barriga por um período de vida proporcional aquele de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses. Com efeito, é com essa idade que os bebês começam a juntar palavras. Portanto, poder-se-ia dizer que, em certo sentido, os bebês nascem falando! 368 Conexões a longa distância não se completam antes dos nove meses (...) Sinapses continuam a se desenvolver, crescendo vertiginosamente em numero entre nove meses e dois anos (dependendo da região do cerebro), a tal ponto que a criança tem 50% a mais de sinapses que o adulto! (...) As sinapses murcham a partir dos dois anos, durante a infância e até a adolescência, quando a atividade metabolica do cérebro retorna aos niveis adultos. Num livro sobre teoria da evolução muitas vezes considerado um dos mais importantes depois do de Darwin, o biólogo George Williams tece albumas especulações: “Até hoje a morte acidental é uma importante causa de mortalidade no começo da vida, e aquels pais que sempre evitam castigos físicos em outros assuntos podem se tornar violentos quando uma criança brinca dom fios elétricos ou corre atrás de uma bola no meio da rua. Muitas das mortes acidentais de vieancas pequenas provavelmente poderiam ter sido evitadas se as vitimas tivessem compreendido e lembra instruções verbais e fossem efetivamente capazes de substituir experienciais reais por símbolos verbais.” Talvez não seja coincidência que a arrancada do vocabulário e os começos da gramática andem, literalmente, nos calcanhares do bebê – a capacidade do andar autônomo aparece por volta dos quinze meses. 370 Já foram dadas muitas explicações para a superioridade das crianças: fazem uso do mamanhês, cometem erros sem acanhamento, têm mais motivação para se comunicar, gostam de se adequar, não são xenofobicas e não se aferram a modos particulares de ser, e não têm uma primeira língua que interfira. (...) Crianças aprender uma língua sem que haja um mamanhês padrão, cometem poucos erros e não recebem feedback dos erros que cometem. 374 Mas por que a aprendizagem deve declinar até findar? Por que jogar fora uma habilidade tão útil? 376 Os circuitos de aquisição da linguagem deixam de ser necessários depois de terem sido usados; deveriam ser desmontados se sua manutenção implicasse custos. Organismos são sistemas que se reabastecem por conta própria, que se auto-regeneram, e não existe razão física para não sermos biologicamente imortais, como é o caso de linhagens de células cancerosas em pesquisas de laboratório. 386 A simetria é uma organização da matéria inerentemente improvável. (...) As moléculas da vida são assimétricas, assim como a maioria das plantas e muitos animais. 387 Organismos não são simétricos em cima e embaixo porque a gravidade exerce força para baixo. 389 No caso de sistemas corporais que não interagem diretamente com o meio, o esquema simétrico pode ser ignorado. 390 Noventa por cento das pessoas em todas as sociedades e períodos da historia são destras, e considera-se que a maioria possui uma ou duas cópias de um gene dominante que impõe a tendência a usar a mão direita (o cérebro esquerdo). 391 Gazzaniga, ao testar separadamente os dois hemisférios de um paciente de quem fora secionado o corpo caloso, descobriu que o hemisferio esquerdo recém-isolado tinha o mesmo QI do cérebro inteiro conectado anterior à cirurgia! 413 Um estudo descobriu que uma medida de habilidade lingüística precoce no primeiro ano de vida (medida que combina vocabulário, imitação vocal, combinações de palavras, tagarelice e compreensão de palavras) apresentava correlação com a capacidade cognitiva geral e a memória da mãe biológica, mas não com as da mãe ou do pai adotivos. 416 Em biologia moderna,m é difícil discutir genes sem discutir variação genética. Afora os gêmeos idênticos, não existem duas pessoas – na verdade, não existem dois organismos que se reproduzam sexualmente – geneticamente idênticas entre si. Se não fosse assim, a evolução, tal como a conhecemos, não poderia ter ocorrido. Tobby e Cosmides afirmam que as diferenças entre pessoas devem decorrer de pequenas variações quantitativas, e não de designs qualitativamente diferentes. 418 Quando Oskar e Janck, gêmeos idênticos criados separadamente, chegaram, ambos exibiam camisas azuis com ombreiras e duas fileiras de botões, bigodes e óculos com armação de metal (...) demonstraram ter muitos gostos e traços de personalidade em comum – como temperamento impaciente e um senso de humor idiossincratico (ambos gostavam de surpeender pessoas espirrando em elevadores). 420 Um único modulo cerebral não produz um único traço comportamental. 427 Chomsky e alguns de seus mais ferrenhos oponentes concordam numa coisa: que um instinto da linguagem unicamente humano é incompatível com a moderna teoria darwiniana da evolução, segundo a qual sistemas biológicos complexos surgem pela gradual acumulação ao longo de muitas gerações de mutações genéticas aleatórias que conseguem se reproduzir. 431 Pessoas que passam muito tempo com animais tendem a desenvolver atitudes indulgentes em relação às suas capacidades de comunicação. 439 Um instinto da linguagem exclusivo dos humanos modernos não é um paradoxo maior do que uma tromba exclusiva dos elefantes modernos. Nenhuma contradição, nenhum Criador, nenhum Big Bang. 446 Para distinguir analogia [semelhante] de homologia [igual], os biólogos costumam olhar para a arquitetura geral dos órgãos e enfocar suas propriedades mais inúteis – as úteis poderiam ter surgido de modo independente em duas linhagens porque são úteis um problema para os taxonomistas, chamado de evolução convergente). Deduzimos que as asas do morcego são realmente mãos porque podemos ver o punho e contar as articulações nos dedos, e porque esta não é a única maneira que a natureza teria para construir uma asa. Homo habilis – de 2,5 a 2 milhoes de anos atrás. Homo erectus – 1,5 milhao a 500 mil anos atrás. Homo sapiens – 200 mil anos atrás até nossos dias. 455 Até a recente invenção da manobra de Heimlich, engasgar com comida era a sexta causa de mortes acidentais nos Estados Unidos, com seis mil vitimas por ano. 457 A seleção natural aplica-se a qualquer conjunto de entidades com propriedades de multiplicação, variação e hereditariedade. Multiplicação significa que as entidades copiam-se a si mesmas, que as copias também são capazes de se copiarem etc. Variação significa que o processo de cópia não é perfeito; de tempos em tempos erros aparecem inesperadamente, e esses erros podem fornecer a uma entidade traços que lhe permitem copiar-se numa velocidade maior ou menor em comparação com outras entidades. Hereditariedade significa que um traço variante produzido por um erro de cópia reaparece em cópias subseqüentes, de tal modo que o traço se perpetua na linhagem. 459 A teoria da seleção natural diz que (2) – as taxas de nascimento e morte dos ancestrais – é a explicação para (1), o projeto de engenharia do organismo – e, portanto, acaba não sendo circular. Um exemplo poderia ser a existência de um traço projetado apenas em prol da beleza da natureza, como linda mas pesadona cauda de um pavão evoluindo numa toupeira, cujos potenciais parceiros para acasalamento são cegos demais para ser atraídos por ela. 461 O biólogo J. B. Haldane disse certa vez que há duas razoes pelas quais os humanos não viram anjos: imperfeição moral e uma estrutura corporal que não pode acomodar ao mesmo tempo braços e asas. (...) numa determinada geração, todos os organismos sem listras podem ser atingidos por raios ou morrer sem deixar filhos; a partir daí a presença de listras reinará, independentemente de suas vantagens ou desvantagens. (...) paleontologos estudam organismos depois que eles se transformaram em pedra. 462 (...) alguém que examinasse os 0 e 1 de um programa de computador em linguagem de máquina, sem saber o que o programa faz, poderia concluir que os padrões carecem de design. A seleção natural não é apenas uma alternativa cientificamente respeitável à criação divina. É a única alternativa capaz de explicar a evolução de um órgão complexo como o olho. 464 A faculdade de ver um pouco melhor que muitos ancestrais tinham no passado é a causa de um único organismo ver extremamente bem agora. É por isso, segundo Dawkins, que a seleção natural não só é a explicação correta para a vida na Terra, mas tende a ser a explicação correta para tudo que pudermos chamar de “vida” em qualquer lugar do universo. 467 Qualquer seleção relacionada exclusivamente com o tamanho do cérebro teria decerto favorecido um tolo com cabeça de alfinete. A seleção para capacidades computacionais mais potentes (linguagem, percepção, raciocínio etc.) deve ter-nos dado um cérebro grande como subproduto, e não o contrário! 468 Um mito: Os hominídeos fêmeas seguravam seus bebês do lado esquerdo para que eles se acalmassem com as batidas do coração. Isso obrigou as mães a usarem o braço direito para atirar pedras em pequenas presas. Por isso, a raça se tornou destra e dominada pelo hemisfério esquerdo do cérebro. A verdade: a laterizacao do ladlo esquerdo não é extremamente improvável – a chance de isso acontecer é de exatamente cinqüenta por cento! 475 Por que tanta história em torno da linguagem? Ela possibilitou aos homens se espalhar pelo planeta e operar grandes mudanças, mas o que tem isso de mais extraordinário que o coral que constrói ilhas, minhocas que moldam a paisagem construindo o solo, ou a bactéria capaz de fotossíntese que pela primeira vez emitiu oxigênio corrosivo na atmosfera, uma catástrofe ecológica em seu momento? (...) evolução é descendência com modificação. 476 Para Darwin, tal é a “grandiosidade desta concepção da vida”: “que, enquanto este planeta continuou girando segundo a inamovível lei da gravidade, de um principio tão simples infinitas formas lindas e maravilhosas evoluíram e continuam evoluindo”. 477 Com o declinio dos padrões educacionais e a divulgaçao pela cultura pop de delírios inarticulados e girias ininteligíveis de surfistas, DJs e garotas do sul da Califórnia, estamos virando uma nação de iletrados funcionais: (...) 478 Por que o americano médio parece um tagarela tolo cada vez que abre a boca ou põe a caneta no papel? 480 Não existe Academia da Língua Inglesa, e não faz falta; o objetivo da academia francesa é divertir jornalistas de outros países com decisões resultantes de discussões acerbas que os franceses alegremente ignoram. 481 Todos os melhores escritores ingleses de todas as épocas (...) são zombadores notórios. As regras não se conformam nem à lógica nem à tradição, e se algum dia fossem seguidas imporiam aos escritores uma prosa imprecisa, pesada, prolixa, ambígua, incompreensível, em que certas idéias simplesmente não podem ser expressas. 483 Contudo, uma vez introduzida [uma regra], é muito difícil erradicar a regra prescritiva, pouco importando o quanto ela seja ridícula. (...) aquele que ousa subverter uma regra sempre terá de se preocupar com os leitores que acharão que ele o faz por ignorar a regra e não por desfiá-la. 485 O duplo negativo, longe de ser uma corrupção, era norma no inglês médio de Chaucer, e no Frances padrão, a negação – como em Je ne sais pás, em que ne e pás são ambos negativos é um exemplo contemporâneo familiar. Lendas urbanas – histórias que aconteceram com um amigo de um amigo. 518 Muitas regras prescritivas da gramática não passam de tolices e deveriam ser eliminadas dos manuais de uso. E boa parte do inglês padrão é apenas isto, padrão (...) Há quem ache que a gíria pode de alguma maneira “corromper” a língua. 519 O aspecto do uso da linguagem que mais vale a pena mudar é a clareza e o estilo da prosa escrita. 523 O que as pessoas sentem em relação à linguagem não é só curiosidade, é paixão. A razão disso é óbvia. A linguagem é a parte mais acessível da mente. As pessoas querem saber sobre linguagem porque esperam que esse conhecimento as ajude a compreender a natureza humana. 528 Se uma criança cresce inseparável de seu hamster, a criança acaba falando uma língua, mas o hamster, exposto ao mesmo ambiente, não. 538 A similaridade é, portanto, a principal mola de um hipotético dispositivo de aprendizagem geral e para múltiplor fins, e aí está a dificuldade. 539 Em psicologia behaviorista, quando um pombo é recompensado por bicar uma tecla na presença de um circulo vermelho, ele bica mais diante de uma elipse vermelha, ou de um circulo cor-de-rosa, do que de um quadrado azul. 547 Classificação antropológica de Linnaeus: espécie-gênero-família-ordem-classe-filoreino. 553 Alguns manuais de psicologia mencionam o “fato” de que as mães espartanas e de samurais sorriam ao escutar que seus filhos tinham morrido em batalha. Como a história é contada por generais e não por mães, podemos desconsiderar essa incrível afirmação, o que não nos impede de entender os propósitos a que serve. 555 Imagine uma sociedade em que todas as pessoas ruivas e apenas elas fossem ordenadas padres. O sacerdócio seria extremamente “hereditário”, embora, é claro, não fosse herdado em nenhum sentido biológico. Por essa razão, as pessoas tendem a ficar confusas diante de declarações como “A inteligência é 70% hereditária”, sobreturo quando as revistas as publicam junto com pesquisas em ciência cognitiva sobre o funcionamento básico da mente.