Parceria da Família e da Escola no Convívio com os Superdotados Vitória, ES 2000 Parceria da Família e da Escola no Convívio com os Superdotados Trabalho Final de Estágio de Complementação Educacional Supervisão: Andréia da Silva Ferreira Dora Cortat Simonetti Estagiários: Alexandre Freire Montovani Jamily Felhberg Maria Cecília Saleme V. V. Girão Melissa Matos Amorim Colaboração: Elizabeth Fernandes - 2000 - ÍNDICE 1 - Apresentação...................................................................... 2 - Por que família e escola?................................................... 3 - Portadores de altas habilidades/superdotados: Quem são?.......................................................... 4 - Características dos portadores de altas habilidades........... 5 - As expectativas (irreais).................................................... 6 - Dissincronia: o intelecto em primeiro lugar...................... 7 - Alternativas de atendimento.............................................. 8 - O ambiente social e os portadores de altas habilidades...... 9 - Referências bibliográficas................................................... POR QUE FAMÍLIA E ESCOLA? O tema escolhido para ser desenvolvido nesta publicação refere-se a uma idéia de conjugar o ambiente familiar e escolar em um só vertente. Optamos por esta abordagem pelo fato de inúmeras vezes, encontrarmos em publicações sobre o assunto, os referidos temas de forma segregada, de modo que, alguns autores fazem menções à escola e à família como tendo lugares e papéis diferentes no processo educacional. No entanto, a partir da pressuposição teórica e da observação do processo educativo em nossa vivência na ABAHSD/ES percebemos as "práticas educacionais" como sendo um misto de todos ao setores da sociedade, e não como um fato isolado da história do indivíduo. Pois, esses setores devem formar um todo harmonioso, condição necessária para o desenvolvimento ideal de todas as crianças, inclusive aquelas portadoras de altas habilidades/superdotadas. Objetivamos, com este instrumento, reforçar o canal de comunicação entre a família e a escola, e todo o meio sócioeducacional no qual estão inseridos. PORTADORES DE ALTAS HABILIDADES/ SUPERDOTADOS: QUEM SÃO? Adotando o Modelo Triádico de Renzulli (1974), podemos definir portadores de altas habilidades/superdotação baseando-se na interação entre três grupos básicos de traços humanos, sendo estes: habilidades acima da média, grande envolvimento com a tarefa em execução e altos níveis de criatividade. Ou seja, talentoso são indivíduos que apresentam traços superiores de raciocínio frente a campos específicos de atividade; destacam-se da média prevista em relação à idade; são engajados na realização de atividades que lhe são relevantes; e, finalmente, são criativos em várias modalidades de atuação. A superdotação está relacionada com a predisposição genética; contudo, é necessário ressaltar a importância dos marcos sociais (família, escola e amigos), de modo a validar a influência que o ambiente social fornece ao desenvolvimento infantil, sendo a criança portadora de altas habilidades ou não. Um meio propício, de bastante estimulação e acompanhamento, só terá a contribuir positivamente ao desenvolvimento das crianças, principalmente daquelas tidas como superdotadas. Ao contrário do que muitos imaginam, os superdotados não apresentam altas habilidades em tudo que fazem, mas sim em áreas específicas de interesse ou do desenvolvimento. Geralmente, estas áreas envolvem as artes mas encontramos também destaque em áreas acadêmicas ( como a linguagem e a matemática). Em oposição ao que poderíamos supor, nem sempre são bons alunos, podendo evidenciar um comportamento rebelde, recusando-se a fazer aqueles exercícios que julgam ser simples demais ou repetitivos, o que os deixam desmotivados. Assim, é necessário que haja um trabalho de apoio diante destas situações, permitindo que seus talentos sejam desenvolvidos, de modo que se tornem adultos criativos e com êxito pessoal e profissional. CARACTERÍSTICAS HABILIDADES DOS PORTADORES DE ALTAS É relevante que tomemos conhecimento sobre alguns traços comuns em pessoas superdotadas, visto que, estes aspectos as diferenciam das demais. Assim, apresentamos as características marcantes que são observadas, chamando atenção para como percebê-las e lidar com elas. MULTIPLICIDADE DE INTERESSES A criança habilidosa têm muita energia, se interessa por vários assuntos e quer trabalhá-los todos de uma única só vez, se dedicando completamente e geralmente, não permitindo erros. Estas é uma característica que muito angustia pais e professores do superdotado. Apesar de ser importante que o aluno siga um programa educacional preestabelecido, essa forma rígida de aprendizagem é altamente frustrante para ele podendo gerar um comportamento extremo, apático ou agitado e, até mesmo individualista. Todos estes problemas, gerados pelo não entendimento dos interesses múltiplos do aluno, estão relacionados à impaciência do educando, frente á ausência de progresso em seus conhecimentos, uma vez que tem que esperar a turma alcançar um determinado nível de aprendizado para que haja o aprofundamento do assunto que lhe interessa. Lidar bem com esse problema vai depender da motivação do professor em estimular o potencial de seu aluno. A idéia é, ao perceber que a criança já alcançou o conteúdo didático proposto em uma determinada disciplina, o professor possa lhe oferecer materiais para o enriquecimento de seus conhecimentos como bibliografia, vídeos, etc. E para que não haja a segregação deste aluno de sua turma é interessante propor que ele divida com esta, suas descobertas, através de apresentação de pesquisas, debates, entre outros. Se o aluno, ao receber estimulação de acordo com seus interesses, apresentar um desenvolvimento acadêmico superior à sua série, pode-se indicar a aceleração de estudos, de forma planejada e atenta para que não haja o desinteresse escolar do aluno superdotado, bem como seu desajuste social e/ou emocional. CURIOSIDADE MARCANTE As crianças com altas habilidades/superdotadas apresentam como um dos traços comuns a curiosidade dirigida a um determinado assunto, caracterizada pela qualidade e dedicação para satisfazê-la. Envolve-se com atividades exploratórias numa área específica, questiona atos e idéias de seus pais, professores, amigos, geralmente com perguntas provocativas e complexas (tomando como parâmetro crianças de sua faixa etária). Estes questionamentos complexos podem ser recebidos com estranhamento pelo grupo, seja ele a escola, a família, os amigos. Isso pode gerar insatisfação, acarretamento rebeldia ou apatia e desinteresse pelo assunto. O que se pode propor como meio de lidar com essa característica seria recorre às atividades que proporcionem a integração da criança portadora de altas habilidades/superdotada com os outros ao seu redor. É aconselhável que o aluno superdotado tenha liberdade para auxiliar o professor ou colegas em salas de aula, e que esse auxílio não seja somente em sua área específica de interesse, mas que possa se inclinar sobre outros temas. Também é essencial que os pais não inibam essa maneira de ser de seu filho, mas procurem, na medida do possível, valorizarem não só sua curiosidade e seu interesse por determinado tema, tentando diversificar mais as áreas de conhecimento a serem estudadas a fim de que ocorra um desenvolvimento equilibrado. ENTENDE E RETÉM FACILIDADE E RAPIDEZ CONHECIMENTO COM Esta característica refere-se ao fato das crianças portadoras de altas habilidades/superdotadas apresentarem grande capacidade de memorização, visto que associam eventos já ocorridos ou estudados, com aqueles mais recentes, de maneira fácil e rápida, proporcionando maior assimilação do assunto em questão. Geralmente são crianças que lêem muito, mostrando-se dedicadas e interessadas nas atividades que lhes são relevantes, pesquisando e discutindo acerca dos mais diversos temas. Embora seja produtivo para elas terem tal características. É necessário que se destaque os conflitos que este fato pode gerar na vida dessas crianças. Como exemplos desta situação, temos uma possível rejeição pelos colegas, a impaciência de esperar o grupo, o domínio frente aos outros, o interesse pela rotina, e tantas outras situações que podem ser encaradas de uma forma incompreensível. Por manifestarem maior facilidade e rapidez na execução de determinadas tarefas, tornam-se impacientes, já que não conseguem entender a dificuldade e o ritmo do outro pois supõem que todos acompanham o mesmo padrão de raciocínio que o seu. Em meio a isto, é possível que a sua relação com os demais colegas fique prejudicada, podendo culminar num ambiente de rejeição, isolamento e hostilidade, chegando a rebeldia e ao rótulo de alunoproblema. Com o educador e/ou o responsável pode ocorrer o mesmo. Como são crianças questionadoras, é possível que tenham uma atitude desafiadora, fato que, pode ser inaceitável e reprovado por esse profissional. Desse modo, dentro de situações como as exemplificadas, sugere-se que o educador tenha uma atuação bem definida, ativa, sempre criativa, para que o aprender seja algo estimulante e agradável como aliás, sempre deve ser. Caso apresente destaque numa área acadêmica específica, colocá-lo como pequeno monitor da turma torna-se válido, pois estará dedicando-se aos assuntos de seu interesse, além de ser um forma de contato com os colegas, prestando-lhes assistência quando necessário. Ouvi-lo é outro meio de apoiá-lo; ao promover uma relação de confiança e amizade, certamente muitas situações podem ser evitadas, podendo inclusive discutir com a própria criança outras maneiras de conduzir as aulas. Fugir daquele tipo tradicional de lecionar também trate-se de uma atitude de grande importância: recorrer a aulas práticas, a exercícios de pesquisa, a vista a locais que envolvam o tema em debata, a reprodução do dia-a-dia por meio de apresentações teatrais... Enfim, estas são algumas sugestões que podem ser utilizadas em sala de aula, e que não se restringem somente às crianças portadoras de altas habilidades/superdotadas, mas a todas elas. CRIATIVO E INVENTIVO Esta características enfatiza o interesse em inovações. Na maioria das vezes, estas crianças apresentam-se dispostas assumirem riscos e desafios, tomando a liderança das diversas tarefas propostas. Originalidade e flexibilidade são outros apectos relevantes observados no seu comportamento. Apesar de serem traços tão positivos e significantes, estes também podem lhes trazer problemas. Por estarem tomando a liderança na realização das tarefas, com pensamento e ações inovadoras, podem acontecer situações de rejeição por parte dos colegas ocasionando o isolamento dessas crianças e até mesmo comportamentos rebeldes e agressivos. Preocupam-se em fazer um trabalho bem feito de modo que ficam frustados quando devem realizá-lo corriqueiramente, pois temem não atingir o ideal almejado de produção. Geralmente, não aceitam perder, buscando mérito sempre. Em meio a situação como as apresentadas, fica a pergunta: como trabalhar essas situações? Alternativas podem ser criadas para tentar dar conta desses casos. É interessante a priori, mostrar o quanto é importante o respeito entre as pessoas: acatar suas sugestões e críticas, permitir a participação de todos como uma verdadeira equipe. Nesse sentido, busca-se evitar conflitos entre as crianças de modo que o ambiente social seja o mais agradável possível e não o contrário. A elaboração de tarefas bem estruturadas, que exijam bastante concentração e raciocínio, é uma outra opção que pode ser oferecida em sala de aula, com o intuito de promover atividades conjuntas que possam ser discutidas por todos os alunos. A família e a escola devem atuar juntas ajudando as crianças a superarem suas frustrações quando não obtêm em um determinado trabalho. É importante que a família coloque limites aos filhos, sem cobranças e imposições exageradas para que não gerem insegurança. Assim, é imprescindível que ambos, família e escola, tenham ação conjunta em benefício destas crianças, para que estas possam ter oportunidade de utilizar seus talentos para si próprio e para a sociedade. Existem várias situações em que o indivíduo se depara com atividades rotineiras e cansativas. Contudo, é observado em portadores de altas habilidades/superdotados que estes procuram muitas vezes, desenvolver tarefas novas. TRABALHA BEM EM SITUAÇÃO INDEPENDENTE A criança talentosa geralmente tem um bom desempenho quando trabalha de forma independente, pois é capaz de planejar, executar e avaliar com sucesso, uma estratégia para a realização de uma tarefa. Outra característica que contribui para que o talentoso trabalhe bem sozinho é sua grande capacidade de atenção. Quando o assunto é de seu interesse, ela se dedica de tal forma à tarefa, que parece que é absorvida por ele. Não é raro que passe várias horas de seu dia envolvida com um tema que goste e se mostre muito resistente a interrupções. Nesse caso, lembramos que as crianças precisam de liberdade de escolha e de movimento e mesmo impondo certos limites, pais e professores devem estar cientes das suas demandas e deixá-las à vontade para que elas próprias busquem formas de supri-las. Essa configura-se uma das melhores atitudes para evitar conflitos, já que o portador de altas habilidade/superdotado na maioria das vezes, não se submete facilmente à pressão dos outros, permanecendo fiel a seu pensamento. Faz-se necessário que este grau de independência seja dosado pelos pais e professores, pois pode acabar prejudicando suas relações sociais. Deve-se estimular a independência da criança com trabalhos individuais, sem deixar de lado as atividades em grupo que estabeleçam aproximação com os colegas e desenvolvam habilidades e características para o trabalho em equipe (como o saber dividir e contar com o outro). É preciso que pais e professores ajudem a derrubar o sentimento de onipotência (eu posso tudo) e de onisciência (eu sei de tudo) que alguns superdotados possuem a respeito de si mesmos. Esses sentimentos podem tornar a criança extremamente egoísta, egocêntrica e individualista. Também podem gerar frustração, uma vez que vai chegar um ponto em que as expectativas que a criança possui em relação a si própria não serão realizadas. PREOCUPA-SE COM AS QUESTÕES SOCIAIS As crianças superdotadas são tipicamente descritas como agudamente sensíveis ao mundo que as cercam, mesmo quando bebês. Têm preocupações nos mais diversos contextos tais como: o científico, o social e o político. Sua atenção muitas vezes é voltada para questões como injustiça social, violência, aborto, guerra nuclear, fome, poluição e assim por diante. Elas também raciocinam sobre questões morais em um grau muito mais avançado do que a de seus pares, ou em nível que poucos atingem. Essa percepção e consciência acuradas dos problemas globais gera um necessidade na criança habilidosa em discutir criticamente, com argumentos convincentes sobre a problemática que suscitou o interesse. Algumas chegam a se mobilizar para interferir na causa social injusta. Essas preocupações sociais e morais juntas à habilidades de raciocinar sobre assuntos até chegar a conclusões lógicas, podem levar a criança superdotada à ansiedade a ao pessimismo, bem como gerar dúvidas nos educadores sobre como lidar com esta característica. A necessidade de discutir sobre seus próprios valores e os dos outros, baseada em experiências e idéias formadas pela criança, deve ser contra-argumentada com cautela e amizade. É importante que os pais e professores entendam e respeitem essas argumentações sociais trazidas pelo educando, para seu crescimento como cidadão idealizador, criativo e participativo. Não adianta fugir do assunto quando a criança apresenta suas novas idéias. È preciso discuti-las. Se o educador não possuir argumentos ou desconhecer o assunto, indique bibliografia e estimule-a a participar de projetos assistenciais e de solidariedade social, como aqueles desenvolvidos por Organização Não Governamentais. SENSÍVEL E INTUITIVO O superdotado, na maioria das vezes, demonstra empatia com os outros, compartilhando e vivenciando seus momentos alegres e sendo solidário em seus momentos tristes e difíceis. Dessa forma, ele compartilha do estado emocional daqueles com quem convive. Essa preocupação em nível pessoal estende-se ao âmbito social, como já foi mencionado anteriormente. Com esta sensibilidade, o superdotado tende a sustentar expectativas irreais em relação aos outros idealizando-os, o que muitas vezes, o impossibilita de enxergar seus defeitos, e assim corre maior risco de desapontar-se. Quando idealizamos alguém, exaltando suas qualidades e minimizando seus defeitos, estamos aproximando essa pessoa à perfeição. A criança que idealiza o outro está a mercê de sua opinião e pode ser desencorajada por suas críticas. Torna-se necessário a atenção de pais e professores para nesses momentos, apoiá-lo emocionalmente e trabalhar sua auto-estima. ACENTUADA ABSTRATO HABILIDADE DE PENSAMENTO Uma pessoa superdotada geralmente demostra ter prazer em exercer atividades intelectuais. Porém, é relevante falar que é eleito um tema central no direcionamento desses estudos, na maioria das vezes. Também pode ser observado seu raciocínio rápido, sua facilidade em interpretar fatos associando-os e sintetizando as informações colhidas com uma precisão ímpar para sua faixa etária, estabelecendo relações entre os diversos acontecimentos recentes e os já, há muito, por ele conhecidos. É bem óbvio nesses indivíduos a acentuado interesse em resolver problemas complexos, com grau cada vez mais elevado da dificuldades e maior número de situações limites, onde se faz necessário um raciocínio abstrato bastante acentuado. Há uma eventual resistência à tarefas impostas pelos professores e pais, existindo preferência por atividades que exigem maior elaboração de pensamento para solucioná-las e uma possível banalização de situações tidas como pouco atrativas, ou seja, pouco complexas. Um modo de lidar e de tentar ajudar no desenvolvimento do portador de altas habilidades/superdotado que apresenta tal característica, é a promoção de desafios para que ele esteja mais interessado nas atividades, tanto em casa quanto na escola. Um exemplo é a promoção de gincanas educativas e eventos, que podem instigar as crianças a cada vez mais se inclinarem aos estudos de forma lúdica e prazerosa. A EXPECTATIVAS (IRREAIS) É comprovado que a criança talentosa é mais influenciada pelas expectativas dos pais do que pelo próprio rendimento escolar e intelectual anterior. Portanto, como educadores, devemos pensar sobre o grau de intensidade de nossas cobranças para com nossos filhos ou alunos e se estas estão funcionando como estímulo ou como uma ameaça ao crescimento da criança. Muitas vezes, ao considerar a elevada habilidade da criança em uma área específica como por exemplo, a influência verbal precoce, pais ou professores supõem que a mesma possua também facilidade e maturidade emocional nas demais áreas e acabam por exigir além daquilo que a criança pode alcançar. A cobrança exagerada por um rendimento escolar muito superior é uma atitude negativa, quando a criança não deseja por si própria, os desafios propostos. As consequências desse ato podem ir da exaustão física até um baixo rendimento escolar. Um possível resultado dessas expectativas irreais é o anseio da criança em não decepcionar as pessoas ao seu redor, gerando estresse e angústia interior, que podem culminar em problemas de relacionamentos e desinteresse. O peso de ter que responder constantemente a altas cobranças, pode impedir que a criança aceite a si mesma, suas imperfeições, e desista nos primeiros obstáculos de sua caminhada para escapar das pressões que está submetida. DISSINCRONIA: O INTELECTO EM PRIMEIRO LUGAR Dissincronia é um termo instituído pelo psicólogo francês JeanCharles Terrasier que se refere à discrepância entre um funcionamento intelectual e dificuldades em outras habilidades que algumas crianças talentosas podem apresentar. Uma das principais características dos talentos é o seu rápido ritmo de desenvolvimento intelectual que muitas vezes não é acompanhado pelo desenvolvimento afetivo e psicomotor. O autor distingue vários tipos de dissincronias: Dissincronia Intelectual - psicomotora: é caracterizada pelo fato de que em geral, crianças talentosas têm mais facilidade em aprender a ler do que a escrever. Isso ocorre nos casos em que o intelecto da criança evolui mais rápido do que suas habilidades motoras. Dissincronia entre Linguagem e Pensamento: é quando o pensamento se processa em velocidade tal, que extrapola a capacidade de articulação da fala. Dissincronia Afetivo-intelectual: ocorre quando a maturação emocional e a intelectual da criança talentosa não seguem o mesmo ritmo. Isso pose ser observado em crianças que são encaminhadas para séries mais adiantadas e que algumas e que algumas vezes, apresentam dificuldades de relacionamento com seus colegas de turma, por não estarem tão emocionalmente maduros tanto quanto eles. Esse assunto vem derrubar o mito sustentado por alguns pais e professores de que a criança talentosa, por apresentar um desenvolvimento intelectual acima da média, também é precoce em outra capacidades humanas Pais e professores devem estar com a atenção voltada para essas possíveis diferenças de desenvolvimento do talentoso, a fim de que, em conjunto com pedagogos e psicólogos, possa ser realizado um esforço no sentido de suprir essas dissincronias. ALTERNATIVAS DE ATENDIMENTO As necessidades de uma pessoa portadora de altas habilidades/superdotada são sem dúvida, diferentes das necessidades das pessoas comuns. Nesse sentido temos que reconhecer e trabalhar pedagógica, psíquica e socialmente as diferenças individuais, visando uma melhoria na qualidade de vida dos sujeitos. Nosso imaginário se inclina a acreditar que essas pessoas talentosas não precisam de maiores cuidados que elas não teriam problemas e sim soluções. Isso não é de toda verdade, pois é percebido facilmente no convívio com superdotados, quantas dificuldades de relacionamento, de vivência no grupo, entre outras, elas apresentam. Indo ao encontro dessas idéias, existem estratégicas para atender a esse aluno no ambiente escolar comum. POR QUE ATENDÊ-LOS NA ESCOLA COMUM? As estratégias de atendimento diferenciado visam um melhor desenvolvimento bio-sócio-psicológico de alunos superdotados e seu melhor desenvolvimento como sujeitos a cidadãos inseridos numa sociedade tão diversificada quanto a brasileira. Para tanto, é indispensável que tenham total participação na sociedade vigente, e um dos primeiros passos é o período escolar, que tem meios de proporcionar este ambiente socializador, permitindo-lhes o convívio com outras crianças portadoras ou não de necessidades educativas especiais. É necessário frisarmos que toda essa prática de inserção está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, fundamentada na Constituição Brasileira de 1988. ESTRATÉGIA PARA ATENDIMENTO DIFERENCIADO Os programas de enriquecimento curricular, agrupamento por habilidades e aceleração têm se mostrado, na prática, as modalidades mais eficazes para atendimento aos portadores de altas habilidades/superdotados. 1 - ENRIQUECIMENTO CURRICULAR: Baseia-se na utilização de várias formas de estimulação aplicada pelo professor do ensino regular, em diversas áreas do currículo, dirigidas especialmente ao aluno portador de altas habilidades/superdotado que frequente a sala de aula. As atividades programadas podem ser desenvolvidas através estudos independentes, aprofundamento em determinado campo saber, pesquisas bibliográficas na biblioteca escolar, atividades ensino junto a pequenos grupos, assistente do professor, auxiliar laboratório, participação em seminários, etc. de de de de Os objetivos dessa proposta são dentre outros, aumentar os conhecimentos na área de interesse do aluno, proporcionar melhor integração psicossocial com crianças da mesma da mesma faixa etária e incentivar o potencial criador. 2 - AGRUPAMENTOS POR HABILIDADES: visa explorar atividades de grupos de trabalho, diversificados por área de talento, em cursos especiais ou pelo atendimento em salas de recursos, em horário alternativo ao da escola regular. Os objetivos dessa estratégia são a estimulação de interesses em áreas específicas, o aprimoramento dos talentos apresentados, o aumento da motivação para desenvolver suas características próprias, como também estimular a interação entre o portador de altas habilidades/superdotado e os seus pares. 3 - ACELERAÇÃO: este programa está relacionado com a entrada precoce do aluno na escola, a promoção de séries avançadas mesmo antes do término do ano letivo, ao exame para obtenção de créditos e aos planos curriculares acelerados. É relevante expor que todas essas atividades são amparadas por lei, porém, quando autorizadas pelos Conselhos de Educação e devidamente acompanhados pedagogicamente. Portanto, a aceleração é diferente dos processos regulares já apresentados e por isso, necessita de cuidados como avaliações freqüentes (com o intuito de evitar "déficits" no desenvolvimento no conteúdo programático) e a observação do equilíbrio interpessoal do aluno. Essa proposta tem como objetivo proporcionar maior tempo livre para aperfeiçoamento de suas habilidades, possibilitar o ingresso precoce no mercado de trabalho e o melhor aproveitamento de recursos educacionais (possibilitando acesso antecipado ao ensino médio e universitário). O AMBIENTE SOCIAL E OS PORTADORES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTADOS O desenvolvimento biopsicosocial do ser humano depende de sua interação com o meio social que possibilita seu crescimento como sujeito cultural: produto e produtor de cultura. É nesse sentido que Vigotsky afirma que "a inserção do indivíduo num determinado ambiente cultural, e parte essencial de sua própria constituição enquanto pessoa. É impossivel pensar o ser humano privado do contato com um grupo cultural, que lhe fornecerá os instrumentos e signos que possibilitarão o desenvolvimento das atividades psicológicas medidas, tipicamente humanas." (Oliveira, 1993, pp. 78-79). Partindo dessas colocações, como deve ser e como pode contribuir a comunidade em geral para ajudar as criançaas portadoras de altas habilidades/superdotados ? Há inúmeras formas para isso acontecer. Já dissemos o quanto é importante que as crianças estejam inseridas num ambiente que as estimulem cognitivamente, seja por meio de atividades intelectuais e lúdicas, seja por meio de muita atenção e carinho. Contudo, a comunidade como um todo também pode contribuir para o desenvolvimento destas crianças. Entretanto, é necessário descobrir aqueles assuntos que lhes são de maior interesse, aqueles que possam incentivar sua curiosodade senso de investigação. A partir daí, cabe aos pais e à escola a responsabilidade de viabilizar a ida das crianças aos locais de seu interesse, sempre que possível e/ou houver solicitação. Cabe aos pais também, incentivá-las à pesquisa, como apoio e de forma a não impor suas preferências. As visitas obviamente, irão depender da importância dada a determinados temas de investigação, à disponibilidade de acesso a as opções existentes. Temos por exemplo, parques municipais e estaduais, reservas ecológicas, para aqueles que se interessam por biologia; laboratorios especializados e parques de ciência para quem se interessa por química e física; museus, exposições, bibliotecas, teatro, escolas de música, para os amantes da arte. É relevante para o portador de altas habilidades/superdotado a criação de oportunidades educaionais fora do âmbito escolar. Assim, essas crianças tendo um maior acesso ao ambiente de sua comunidade, poderão melhor identifaicar sua área de interesse e certamente, utilizarão o seu talento especial em benefício desta mesma comunidade. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS 1 ABSD/ES - Anais do X Seminário Nacional de Educação e Superdotação, Vitória, 1997. ___________ Oportunidades Educacionais para os alunos Portadores de Altas Habilidades, Vitória, 1994. ___________ Crianças Superdotadas - Mitos, Vitória, 1998. 2 Alencar, E. & Virgolim, A. Criatividade Expressão e Desenvolvimento - Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 3 Brasil, MEC/SEESP - Subsídios para Organização e funcionamento de Serviços de Educação Especial; nºs 9 e 10. 4 Freemam, J. (Org.) Los Niños Superdotados - Aspectos Psicológicos y Pedagógicos. Madrid: Santilha, 1985. 5 Oliveira, M. K. Vigotsky: Aprendizado e Desenvolvimento. Um Processo Sócio - Histórico. São Paulo: Editora Scipione, 1993. 6 Santos, Oswaldo de B. (Org.) Superdotados. Quem são? Onde estão? São Paulo: Pioneira, 1988. 7 Winner, Ellen. Crianças Superdotadas, Mitos e Realidade. Ed. Artes Médicas, Porto Alegre: 1998.