Parceria da Família e da Escola no Convívio com

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Parceria da Família e da Escola no Convívio com os
Superdotados
Vitória, ES
2000
Parceria da Família e da Escola no Convívio com os Superdotados
Trabalho Final de Estágio de
Complementação Educacional
Supervisão:
Andréia da Silva Ferreira
Dora Cortat Simonetti
Estagiários:
Alexandre Freire Montovani
Jamily Felhberg
Maria Cecília Saleme V. V. Girão
Melissa Matos Amorim
Colaboração:
Elizabeth Fernandes
- 2000 -
ÍNDICE
1 - Apresentação......................................................................
2 - Por que família e escola?...................................................
3 - Portadores de altas habilidades/superdotados:
Quem são?..........................................................
4 - Características dos portadores de altas habilidades...........
5 - As expectativas (irreais)....................................................
6 - Dissincronia: o intelecto em primeiro lugar......................
7 - Alternativas de atendimento..............................................
8 - O ambiente social e os portadores de altas habilidades......
9 - Referências bibliográficas...................................................
POR QUE FAMÍLIA E ESCOLA?
O tema escolhido para ser desenvolvido nesta publicação refere-se a
uma idéia de conjugar o ambiente familiar e escolar em um só
vertente. Optamos por esta abordagem pelo fato de inúmeras vezes,
encontrarmos em publicações sobre o assunto, os referidos temas de
forma segregada, de modo que, alguns autores fazem menções à
escola e à família como tendo lugares e papéis diferentes no
processo educacional.
No entanto, a partir da pressuposição teórica e da observação do
processo educativo em nossa vivência na ABAHSD/ES percebemos
as "práticas educacionais" como sendo um misto de todos ao setores
da sociedade, e não como um fato isolado da história do indivíduo.
Pois, esses setores devem formar um todo harmonioso, condição
necessária para o desenvolvimento ideal de todas as crianças,
inclusive aquelas portadoras de altas habilidades/superdotadas.
Objetivamos, com este instrumento, reforçar o canal de
comunicação entre a família e a escola, e todo o meio
sócioeducacional no qual estão inseridos.
PORTADORES DE ALTAS HABILIDADES/
SUPERDOTADOS: QUEM SÃO?
Adotando o Modelo Triádico de Renzulli (1974), podemos definir
portadores de altas habilidades/superdotação baseando-se na
interação entre três grupos básicos de traços humanos, sendo estes:
habilidades acima da média, grande envolvimento com a tarefa em
execução e altos níveis de criatividade. Ou seja, talentoso são
indivíduos que apresentam traços superiores de raciocínio frente a
campos específicos de atividade; destacam-se da média prevista em
relação à idade; são engajados na realização de atividades que lhe
são relevantes; e, finalmente, são criativos em várias modalidades de
atuação.
A superdotação está relacionada com a predisposição genética;
contudo, é necessário ressaltar a importância dos marcos sociais
(família, escola e amigos), de modo a validar a influência que o
ambiente social fornece ao desenvolvimento infantil, sendo a criança
portadora de altas habilidades ou não. Um meio propício, de
bastante estimulação e acompanhamento, só terá a contribuir
positivamente ao desenvolvimento das crianças, principalmente
daquelas tidas como superdotadas.
Ao contrário do que muitos imaginam, os superdotados não
apresentam altas habilidades em tudo que fazem, mas sim em áreas
específicas de interesse ou do desenvolvimento. Geralmente, estas
áreas envolvem as artes mas encontramos também destaque em
áreas acadêmicas ( como a linguagem e a matemática). Em oposição
ao que poderíamos supor, nem sempre são bons alunos, podendo
evidenciar um comportamento rebelde, recusando-se a fazer aqueles
exercícios que julgam ser simples demais ou repetitivos, o que os
deixam desmotivados. Assim, é necessário que haja um trabalho de
apoio diante destas situações, permitindo que seus talentos sejam
desenvolvidos, de modo que se tornem adultos criativos e com êxito
pessoal e profissional.
CARACTERÍSTICAS
HABILIDADES
DOS
PORTADORES
DE
ALTAS
É relevante que tomemos conhecimento sobre alguns traços comuns
em pessoas superdotadas, visto que, estes aspectos as diferenciam
das demais. Assim, apresentamos as características marcantes que
são observadas, chamando atenção para como percebê-las e lidar
com elas.
MULTIPLICIDADE DE INTERESSES
A criança habilidosa têm muita energia, se interessa por vários
assuntos e quer trabalhá-los todos de uma única só vez, se dedicando
completamente e geralmente, não permitindo erros.
Estas é uma característica que muito angustia pais e professores do
superdotado. Apesar de ser importante que o aluno siga um
programa educacional preestabelecido, essa forma rígida de
aprendizagem é altamente frustrante para ele podendo gerar um
comportamento extremo, apático ou agitado e, até mesmo
individualista.
Todos estes problemas, gerados pelo não entendimento dos
interesses múltiplos do aluno, estão relacionados à impaciência do
educando, frente á ausência de progresso em seus conhecimentos,
uma vez que tem que esperar a turma alcançar um determinado nível
de aprendizado para que haja o aprofundamento do assunto que lhe
interessa.
Lidar bem com esse problema vai depender da motivação do
professor em estimular o potencial de seu aluno.
A idéia é, ao perceber que a criança já alcançou o conteúdo didático
proposto em uma determinada disciplina, o professor possa lhe
oferecer materiais para o enriquecimento de seus conhecimentos
como bibliografia, vídeos, etc. E para que não haja a segregação
deste aluno de sua turma é interessante propor que ele divida com
esta, suas descobertas, através de apresentação de pesquisas,
debates, entre outros.
Se o aluno, ao receber estimulação de acordo com seus interesses,
apresentar um desenvolvimento acadêmico superior à sua série,
pode-se indicar a aceleração de estudos, de forma planejada e atenta
para que não haja o desinteresse escolar do aluno superdotado, bem
como seu desajuste social e/ou emocional.
CURIOSIDADE MARCANTE
As crianças com altas habilidades/superdotadas apresentam como
um dos traços comuns a curiosidade dirigida a um determinado
assunto, caracterizada pela qualidade e dedicação para satisfazê-la.
Envolve-se com atividades exploratórias numa área específica,
questiona atos e idéias de seus pais, professores, amigos, geralmente
com perguntas provocativas e complexas (tomando como parâmetro
crianças de sua faixa etária).
Estes questionamentos complexos podem ser recebidos com
estranhamento pelo grupo, seja ele a escola, a família, os amigos.
Isso pode gerar insatisfação, acarretamento rebeldia ou apatia e
desinteresse pelo assunto.
O que se pode propor como meio de lidar com essa característica
seria recorre às atividades que proporcionem a integração da criança
portadora de altas habilidades/superdotada com os outros ao seu
redor. É aconselhável que o aluno superdotado tenha liberdade para
auxiliar o professor ou colegas em salas de aula, e que esse auxílio
não seja somente em sua área específica de interesse, mas que possa
se inclinar sobre outros temas. Também é essencial que os pais não
inibam essa maneira de ser de seu filho, mas procurem, na medida
do possível, valorizarem não só sua curiosidade e seu interesse por
determinado tema, tentando diversificar mais as áreas de
conhecimento a serem estudadas a fim de que ocorra um
desenvolvimento equilibrado.
ENTENDE
E
RETÉM
FACILIDADE E RAPIDEZ
CONHECIMENTO
COM
Esta característica refere-se ao fato das crianças portadoras de altas
habilidades/superdotadas apresentarem grande capacidade de
memorização, visto que associam eventos já ocorridos ou estudados,
com aqueles mais recentes, de maneira fácil e rápida,
proporcionando maior assimilação do assunto em questão.
Geralmente são crianças que lêem muito, mostrando-se dedicadas e
interessadas nas atividades que lhes são relevantes, pesquisando e
discutindo acerca dos mais diversos temas.
Embora seja produtivo para elas terem tal características. É
necessário que se destaque os conflitos que este fato pode gerar na
vida dessas crianças. Como exemplos desta situação, temos uma
possível rejeição pelos colegas, a impaciência de esperar o grupo, o
domínio frente aos outros, o interesse pela rotina, e tantas outras
situações que podem ser encaradas de uma forma incompreensível.
Por manifestarem maior facilidade e rapidez na execução de
determinadas tarefas, tornam-se impacientes, já que não conseguem
entender a dificuldade e o ritmo do outro pois supõem que todos
acompanham o mesmo padrão de raciocínio que o seu. Em meio a
isto, é possível que a sua relação com os demais colegas fique
prejudicada, podendo culminar num ambiente de rejeição,
isolamento e hostilidade, chegando a rebeldia e ao rótulo de alunoproblema. Com o educador e/ou o responsável pode ocorrer o
mesmo. Como são crianças questionadoras, é possível que tenham
uma atitude desafiadora, fato que, pode ser inaceitável e reprovado
por esse profissional. Desse modo, dentro de situações como as
exemplificadas, sugere-se que o educador tenha uma atuação bem
definida, ativa, sempre criativa, para que o aprender seja algo
estimulante e agradável como aliás, sempre deve ser.
Caso apresente destaque numa área acadêmica específica, colocá-lo
como pequeno monitor da turma torna-se válido, pois estará
dedicando-se aos assuntos de seu interesse, além de ser um forma de
contato com os colegas, prestando-lhes assistência quando
necessário. Ouvi-lo é outro meio de apoiá-lo; ao promover uma
relação de confiança e amizade, certamente muitas situações podem
ser evitadas, podendo inclusive discutir com a própria criança outras
maneiras de conduzir as aulas. Fugir daquele tipo tradicional de
lecionar também trate-se de uma atitude de grande importância:
recorrer a aulas práticas, a exercícios de pesquisa, a vista a locais
que envolvam o tema em debata, a reprodução do dia-a-dia por meio
de apresentações teatrais...
Enfim, estas são algumas sugestões que podem ser utilizadas em
sala de aula, e que não se restringem somente às crianças portadoras
de altas habilidades/superdotadas, mas a todas elas.
CRIATIVO E INVENTIVO
Esta características enfatiza o interesse em inovações. Na maioria
das vezes, estas crianças apresentam-se dispostas assumirem riscos e
desafios, tomando a liderança das diversas tarefas propostas.
Originalidade e flexibilidade são outros apectos relevantes
observados no seu comportamento.
Apesar de serem traços tão positivos e significantes, estes também
podem lhes trazer problemas. Por estarem tomando a liderança na
realização das tarefas, com pensamento e ações inovadoras, podem
acontecer situações de rejeição por parte dos colegas ocasionando o
isolamento dessas crianças e até mesmo comportamentos rebeldes e
agressivos.
Preocupam-se em fazer um trabalho bem feito de modo que ficam
frustados quando devem realizá-lo corriqueiramente, pois temem
não atingir o ideal almejado de produção. Geralmente, não aceitam
perder, buscando mérito sempre.
Em meio a situação como as apresentadas, fica a pergunta: como
trabalhar essas situações? Alternativas podem ser criadas para tentar
dar conta desses casos. É interessante a priori, mostrar o quanto é
importante o respeito entre as pessoas: acatar suas sugestões e
críticas, permitir a participação de todos como uma verdadeira
equipe. Nesse sentido, busca-se evitar conflitos entre as crianças de
modo que o ambiente social seja o mais agradável possível e não o
contrário. A elaboração de tarefas bem estruturadas, que exijam
bastante concentração e raciocínio, é uma outra opção que pode ser
oferecida em sala de aula, com o intuito de promover atividades
conjuntas que possam ser discutidas por todos os alunos. A família e
a escola devem atuar juntas ajudando as crianças a superarem suas
frustrações quando não obtêm em um determinado trabalho.
É importante que a família coloque limites aos filhos, sem cobranças
e imposições exageradas para que não gerem insegurança. Assim, é
imprescindível que ambos, família e escola, tenham ação conjunta
em benefício destas crianças, para que estas possam ter oportunidade
de utilizar seus talentos para si próprio e para a sociedade.
Existem várias situações em que o indivíduo se depara com
atividades rotineiras e cansativas. Contudo, é observado em
portadores de altas habilidades/superdotados que estes procuram
muitas vezes, desenvolver tarefas novas.
TRABALHA BEM EM SITUAÇÃO INDEPENDENTE
A criança talentosa geralmente tem um bom desempenho quando
trabalha de forma independente, pois é capaz de planejar, executar e
avaliar com sucesso, uma estratégia para a realização de uma tarefa.
Outra característica que contribui para que o talentoso trabalhe bem
sozinho é sua grande capacidade de atenção.
Quando o assunto é de seu interesse, ela se dedica de tal forma à
tarefa, que parece que é absorvida por ele. Não é raro que passe
várias horas de seu dia envolvida com um tema que goste e se
mostre muito resistente a interrupções.
Nesse caso, lembramos que as crianças precisam de liberdade de
escolha e de movimento e mesmo impondo certos limites, pais e
professores devem estar cientes das suas demandas e deixá-las à
vontade para que elas próprias busquem formas de supri-las. Essa
configura-se uma das melhores atitudes para evitar conflitos, já que
o portador de altas habilidade/superdotado na maioria das vezes, não
se submete facilmente à pressão dos outros, permanecendo fiel a seu
pensamento.
Faz-se necessário que este grau de independência seja dosado pelos
pais e professores, pois pode acabar prejudicando suas relações
sociais. Deve-se estimular a independência da criança com
trabalhos individuais, sem deixar de lado as atividades em grupo que
estabeleçam aproximação com os colegas e desenvolvam
habilidades e características para o trabalho em equipe (como o
saber dividir e contar com o outro). É preciso que pais e professores
ajudem a derrubar o sentimento de onipotência (eu posso tudo) e de
onisciência (eu sei de tudo) que alguns superdotados possuem a
respeito de si mesmos. Esses sentimentos podem tornar a criança
extremamente egoísta, egocêntrica e individualista. Também podem
gerar frustração, uma vez que vai chegar um ponto em que as
expectativas que a criança possui em relação a si própria não serão
realizadas.
PREOCUPA-SE COM AS QUESTÕES SOCIAIS
As crianças superdotadas são tipicamente descritas como
agudamente sensíveis ao mundo que as cercam, mesmo quando
bebês.
Têm preocupações nos mais diversos contextos tais como: o
científico, o social e o político. Sua atenção muitas vezes é voltada
para questões como injustiça social, violência, aborto, guerra
nuclear, fome, poluição e assim por diante. Elas também raciocinam
sobre questões morais em um grau muito mais avançado do que a de
seus pares, ou em nível que poucos atingem.
Essa percepção e consciência acuradas dos problemas globais gera
um necessidade na criança habilidosa em discutir criticamente, com
argumentos convincentes sobre a problemática que suscitou o
interesse. Algumas chegam a se mobilizar para interferir na causa
social injusta.
Essas preocupações sociais e morais juntas à habilidades de
raciocinar sobre assuntos até chegar a conclusões lógicas, podem
levar a criança superdotada à ansiedade a ao pessimismo, bem como
gerar dúvidas nos educadores sobre como lidar com esta
característica.
A necessidade de discutir sobre seus próprios valores e os dos
outros, baseada em experiências e idéias formadas pela criança, deve
ser contra-argumentada com cautela e amizade.
É importante que os pais e professores entendam e respeitem essas
argumentações sociais trazidas pelo educando, para seu crescimento
como cidadão idealizador, criativo e participativo.
Não adianta fugir do assunto quando a criança apresenta suas novas
idéias. È preciso discuti-las. Se o educador não possuir argumentos
ou desconhecer o assunto, indique bibliografia e estimule-a a
participar de projetos assistenciais e de solidariedade social, como
aqueles desenvolvidos por Organização Não Governamentais.
SENSÍVEL E INTUITIVO
O superdotado, na maioria das vezes, demonstra empatia com os
outros, compartilhando e vivenciando seus momentos alegres e
sendo solidário em seus momentos tristes e difíceis. Dessa forma,
ele compartilha do estado emocional daqueles com quem convive.
Essa preocupação em nível pessoal estende-se ao âmbito social,
como já foi mencionado anteriormente.
Com esta sensibilidade, o superdotado tende a sustentar expectativas
irreais em relação aos outros idealizando-os, o que muitas vezes, o
impossibilita de enxergar seus defeitos, e assim corre maior risco de
desapontar-se.
Quando idealizamos alguém, exaltando suas qualidades e
minimizando seus defeitos, estamos aproximando essa pessoa à
perfeição. A criança que idealiza o outro está a mercê de sua opinião
e pode ser desencorajada por suas críticas. Torna-se necessário a
atenção de pais e professores para nesses momentos, apoiá-lo
emocionalmente e trabalhar sua auto-estima.
ACENTUADA
ABSTRATO
HABILIDADE
DE
PENSAMENTO
Uma pessoa superdotada geralmente demostra ter prazer em exercer
atividades intelectuais. Porém, é relevante falar que é eleito um tema
central no direcionamento desses estudos, na maioria das vezes.
Também pode ser observado seu raciocínio rápido, sua facilidade
em interpretar fatos associando-os e sintetizando as informações
colhidas com uma precisão ímpar para sua faixa etária,
estabelecendo relações entre os diversos acontecimentos recentes e
os já, há muito, por ele conhecidos. É bem óbvio nesses indivíduos a
acentuado interesse em resolver problemas complexos, com grau
cada vez mais elevado da dificuldades e maior número de situações
limites, onde se faz necessário um raciocínio abstrato bastante
acentuado.
Há uma eventual resistência à tarefas impostas pelos professores e
pais, existindo preferência por atividades que exigem maior
elaboração de pensamento para solucioná-las e uma possível
banalização de situações tidas como pouco atrativas, ou seja, pouco
complexas.
Um modo de lidar e de tentar ajudar no desenvolvimento do
portador de altas habilidades/superdotado que apresenta tal
característica, é a promoção de desafios para que ele esteja mais
interessado nas atividades, tanto em casa quanto na escola. Um
exemplo é a promoção de gincanas educativas e eventos, que podem
instigar as crianças a cada vez mais se inclinarem aos estudos de
forma lúdica e prazerosa.
A EXPECTATIVAS (IRREAIS)
É comprovado que a criança talentosa é mais influenciada pelas
expectativas dos pais do que pelo próprio rendimento escolar e
intelectual anterior.
Portanto, como educadores, devemos pensar sobre o grau de
intensidade de nossas cobranças para com nossos filhos ou alunos e
se estas estão funcionando como estímulo ou como uma ameaça ao
crescimento da criança.
Muitas vezes, ao considerar a elevada habilidade da criança em uma
área específica como por exemplo, a influência verbal precoce, pais
ou professores supõem que a mesma possua também facilidade e
maturidade emocional nas demais áreas e acabam por exigir além
daquilo que a criança pode alcançar.
A cobrança exagerada por um rendimento escolar muito superior é
uma atitude negativa, quando a criança não deseja por si própria, os
desafios propostos. As consequências desse ato podem ir da
exaustão física até um baixo rendimento escolar.
Um possível resultado dessas expectativas irreais é o anseio da
criança em não decepcionar as pessoas ao seu redor, gerando
estresse e angústia interior, que podem culminar em problemas de
relacionamentos e desinteresse.
O peso de ter que responder constantemente a altas cobranças, pode
impedir que a criança aceite a si mesma, suas imperfeições, e desista
nos primeiros obstáculos de sua caminhada para escapar das
pressões que está submetida.
DISSINCRONIA: O INTELECTO EM PRIMEIRO LUGAR
Dissincronia é um termo instituído pelo psicólogo francês JeanCharles Terrasier que se refere à discrepância entre um
funcionamento intelectual e dificuldades em outras habilidades que
algumas crianças talentosas podem apresentar.
Uma das principais características dos talentos é o seu rápido ritmo
de desenvolvimento intelectual que muitas vezes não é
acompanhado pelo desenvolvimento afetivo e psicomotor. O autor
distingue vários tipos de dissincronias:
Dissincronia Intelectual - psicomotora: é caracterizada pelo fato
de que em geral, crianças talentosas têm mais facilidade em
aprender a ler do que a escrever. Isso ocorre nos casos em que o
intelecto da criança evolui mais rápido do que suas habilidades
motoras.
Dissincronia entre Linguagem e Pensamento: é quando o
pensamento se processa em velocidade tal, que extrapola a
capacidade de articulação da fala.
Dissincronia Afetivo-intelectual: ocorre quando a maturação
emocional e a intelectual da criança talentosa não seguem o mesmo
ritmo. Isso pose ser observado em crianças que são encaminhadas
para séries mais adiantadas e que algumas e que algumas vezes,
apresentam dificuldades de relacionamento com seus colegas de
turma, por não estarem tão emocionalmente maduros tanto quanto
eles.
Esse assunto vem derrubar o mito sustentado por alguns pais e
professores de que a criança talentosa, por apresentar um
desenvolvimento intelectual acima da média, também é precoce em
outra capacidades humanas
Pais e professores devem estar com a atenção voltada para essas
possíveis diferenças de desenvolvimento do talentoso, a fim de que,
em conjunto com pedagogos e psicólogos, possa ser realizado um
esforço no sentido de suprir essas dissincronias.
ALTERNATIVAS DE ATENDIMENTO
As necessidades de uma pessoa portadora de altas
habilidades/superdotada são sem dúvida, diferentes das necessidades
das pessoas comuns. Nesse sentido temos que reconhecer e trabalhar
pedagógica, psíquica e socialmente as diferenças individuais,
visando uma melhoria na qualidade de vida dos sujeitos. Nosso
imaginário se inclina a acreditar que essas pessoas talentosas não
precisam de maiores cuidados que elas não teriam problemas e sim
soluções. Isso não é de toda verdade, pois é percebido facilmente no
convívio com superdotados, quantas dificuldades de relacionamento,
de vivência no grupo, entre outras, elas apresentam. Indo ao
encontro dessas idéias, existem estratégicas para atender a esse
aluno no ambiente escolar comum.
POR QUE ATENDÊ-LOS NA ESCOLA COMUM?
As estratégias de atendimento diferenciado visam um melhor
desenvolvimento bio-sócio-psicológico de alunos superdotados e seu
melhor desenvolvimento como sujeitos a cidadãos inseridos numa
sociedade tão diversificada quanto a brasileira. Para tanto, é
indispensável que tenham total participação na sociedade vigente, e
um dos primeiros passos é o período escolar, que tem meios de
proporcionar este ambiente socializador, permitindo-lhes o convívio
com outras crianças portadoras ou não de necessidades educativas
especiais.
É necessário frisarmos que toda essa prática de inserção está prevista
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, fundamentada
na Constituição Brasileira de 1988.
ESTRATÉGIA PARA ATENDIMENTO DIFERENCIADO
Os programas de enriquecimento curricular, agrupamento por
habilidades e aceleração têm se mostrado, na prática, as modalidades
mais eficazes para atendimento aos portadores de altas
habilidades/superdotados.
1 - ENRIQUECIMENTO CURRICULAR: Baseia-se na
utilização de várias formas de estimulação aplicada pelo professor
do ensino regular, em diversas áreas do currículo, dirigidas
especialmente ao aluno portador de altas habilidades/superdotado
que frequente a sala de aula.
As atividades programadas podem ser desenvolvidas através
estudos independentes, aprofundamento em determinado campo
saber, pesquisas bibliográficas na biblioteca escolar, atividades
ensino junto a pequenos grupos, assistente do professor, auxiliar
laboratório, participação em seminários, etc.
de
de
de
de
Os objetivos dessa proposta são dentre outros, aumentar os
conhecimentos na área de interesse do aluno, proporcionar melhor
integração psicossocial com crianças da mesma da mesma faixa
etária e incentivar o potencial criador.
2 - AGRUPAMENTOS POR HABILIDADES: visa explorar
atividades de grupos de trabalho, diversificados por área de talento,
em cursos especiais ou pelo atendimento em salas de recursos, em
horário alternativo ao da escola regular. Os objetivos dessa
estratégia são a estimulação de interesses em áreas específicas, o
aprimoramento dos talentos apresentados, o aumento da motivação
para desenvolver suas características próprias, como também
estimular
a
interação
entre
o
portador
de
altas
habilidades/superdotado e os seus pares.
3 - ACELERAÇÃO: este programa está relacionado com a entrada
precoce do aluno na escola, a promoção de séries avançadas mesmo
antes do término do ano letivo, ao exame para obtenção de créditos e
aos planos curriculares acelerados. É relevante expor que todas essas
atividades são amparadas por lei, porém, quando autorizadas pelos
Conselhos de Educação e devidamente acompanhados
pedagogicamente. Portanto, a aceleração é diferente dos processos
regulares já apresentados e por isso, necessita de cuidados como
avaliações freqüentes (com o intuito de evitar "déficits" no
desenvolvimento no conteúdo programático) e a observação do
equilíbrio interpessoal do aluno. Essa proposta tem como objetivo
proporcionar maior tempo livre para aperfeiçoamento de suas
habilidades, possibilitar o ingresso precoce no mercado de trabalho e
o melhor aproveitamento de recursos educacionais (possibilitando
acesso antecipado ao ensino médio e universitário).
O AMBIENTE SOCIAL E OS PORTADORES DE ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTADOS
O desenvolvimento biopsicosocial do ser humano depende de sua
interação com o meio social que possibilita seu crescimento como
sujeito cultural: produto e produtor de cultura. É nesse sentido que
Vigotsky afirma que "a inserção do indivíduo num determinado
ambiente cultural, e parte essencial de sua própria constituição
enquanto pessoa. É impossivel pensar o ser humano privado do
contato com um grupo cultural, que lhe fornecerá os instrumentos e
signos que possibilitarão o desenvolvimento das atividades
psicológicas medidas, tipicamente humanas." (Oliveira, 1993, pp.
78-79).
Partindo dessas colocações, como deve ser e como pode contribuir a
comunidade em geral para ajudar as criançaas portadoras de altas
habilidades/superdotados ? Há inúmeras formas para isso acontecer.
Já dissemos o quanto é importante que as crianças estejam inseridas
num ambiente que as estimulem cognitivamente, seja por meio de
atividades intelectuais e lúdicas, seja por meio de muita atenção e
carinho. Contudo, a comunidade como um todo também pode
contribuir para o desenvolvimento destas crianças. Entretanto, é
necessário descobrir aqueles assuntos que lhes são de maior
interesse, aqueles que possam incentivar sua curiosodade senso de
investigação. A partir daí, cabe aos pais e à escola a
responsabilidade de viabilizar a ida das crianças aos locais de seu
interesse, sempre que possível e/ou houver solicitação. Cabe aos
pais também, incentivá-las à pesquisa, como apoio e de forma a não
impor suas preferências.
As visitas obviamente, irão depender da importância dada a
determinados temas de investigação, à disponibilidade de acesso a as
opções existentes. Temos por exemplo, parques municipais e
estaduais, reservas ecológicas, para aqueles que se interessam por
biologia; laboratorios especializados e parques de ciência para quem
se interessa por química e física; museus, exposições, bibliotecas,
teatro, escolas de música, para os amantes da arte.
É relevante para o portador de altas habilidades/superdotado a
criação de oportunidades educaionais fora do âmbito escolar.
Assim, essas crianças tendo um maior acesso ao ambiente de sua
comunidade, poderão melhor identifaicar sua área de interesse e
certamente, utilizarão o seu talento especial em benefício desta
mesma comunidade.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
1 ABSD/ES - Anais do X Seminário Nacional de Educação e
Superdotação, Vitória, 1997.
___________ Oportunidades Educacionais para os alunos
Portadores de Altas Habilidades, Vitória, 1994.
___________ Crianças Superdotadas - Mitos, Vitória, 1998.
2 Alencar, E. & Virgolim, A. Criatividade Expressão e
Desenvolvimento - Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
3 Brasil, MEC/SEESP - Subsídios para Organização e
funcionamento de Serviços de Educação Especial; nºs 9 e 10.
4 Freemam, J. (Org.) Los Niños Superdotados - Aspectos
Psicológicos y Pedagógicos. Madrid: Santilha, 1985.
5 Oliveira, M. K. Vigotsky: Aprendizado e Desenvolvimento. Um
Processo Sócio - Histórico. São Paulo: Editora Scipione, 1993.
6 Santos, Oswaldo de B. (Org.) Superdotados. Quem são? Onde
estão? São Paulo: Pioneira, 1988.
7 Winner, Ellen. Crianças Superdotadas, Mitos e Realidade. Ed.
Artes Médicas, Porto Alegre: 1998.
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