Estratégias de Investigação O problema da investigação Todas as investigações partem de um problema a investigar. Por vezes, pode tratar-se de um caso de ignorância factual. Podemos simplesmente desejar melhorar o nosso conhecimento acerca de certas instituições, processos sociais ou culturais. O investigador pode desejar responder a questões do tipo das seguintes: qual a proporção da população que tem fortes convicções religiosas? As pessoas estarão realmente descontentes com o «grande governo»? Qual a diferença em termos económicos entre mulheres e homens? As respostas seriam basicamente descritivas. Não obstante, a melhor investigação sociológica parte de problemas que também constituem enigmas. Um enigma não é apenas uma falta de informação, é igualmente uma lacuna no nosso entendimento. Uma grande parte da capacidade para realizar investigações sociológicas relevantes consiste em identificar correctamente enigmas. A pesquisa descritiva responde simplesmente à pergunta, «O que está a acontecer aqui?» A investigação que tenta resolver um enigma contribui para o conhecimento das razões porque os eventos se verificam de um modo determinado, em vez de simplesmente os aceitar pelo que parecem ser à primeira vista. Deste modo, podemos perguntar: porque estarão os padrões da crença religiosa a modificarem-se? O que provoca o aparecimento da «Nova Direita» na política, nos últimos anos? Por que é tão diminuta a representação das mulheres nos empregos de estatuto social elevado? Nenhum trabalho de investigação se encontra isolado. Os problemas de investigação surgem como parte do trabalho que se está a efectuar; um projecto de investigação pode facilmente conduzir a outro pois sugere assuntos que o investigador não tinha considerado previamente. Os enigmas também podem surgir com a leitura do trabalho de outros investigadores publicado em livros e revistas da especialidade, ou através de uma tomada de consciência da existência de tendências específicas na sociedade. Por exemplo, e tal como foi mencionado no Capítulo 5 («Conformidade e Desvio»), durante os últimos anos, um número crescente de programas procurou inserir os doentes mentais na comunidade em vez de os internar em asilos. Os sociólogos podem ser induzidos a questionar o que provocou esta mudança de atitude em relação aos doentes mentais, e quais as consequências prováveis tanto para os próprios doentes como para o resto da comunidade. Revisão da bibliografia existente O primeiro passo a dar num processo de uma investigação é a leitura do trabalho já realizado sobre o assunto. Pode ser que investigações anteriores já tenham clarificado satisfatoriamente o problema e, como tal, o presumível investigador deverá ler os trabalhos de outros sociólogos sobre essa matéria. Se o problema não ficar esclarecido, o investigador deverá examinar cuidadosamente todo o material existente e analisar a sua utilidade para o trabalho que tem entre mãos. Será que os investigadores anteriores identificaram os mesmos enigmas? Como tentaram eles resolvê-los? Que aspectos do problema não analisaram? Discorrer sobre ideias de outros ajuda o investigador a clarificar assuntos que podem ser levantados num projecto possível e os métodos que podem ser usados a investigação. Definição do problema da investigação O estádio seguinte envolve a elaboração de uma formulação precisa do problema de investigação. Se já existe literatura relevante, o investigador pode regressar da biblioteca com uma boa noção do modo como o problema poderá ser abordado. Neste estádio, os palpites sobre a natureza do problema podem tornar-se hipóteses definidas. Uma hipótese é uma suposição acerca da relação entre os fenómenos em que o investigador está interessado. Para que a investigação seja eficaz, deverá ser estabelecida uma hipótese para que o material reunido forneça a oportunidade de a testar. Fig, 1 – Etapas do processo de investigação. Elaboração de um projecto de investigação Agora, temos de decidir exactamente como vamos reunir material (informação) de que necessitamos. Existem vários métodos de investigação e a escolha de um em especial depende dos objectivos globais do estudo, assim como das características de comportamento a analisar. Em certas circunstâncias, pode ser mais adequado fazer um inquérito (no qual normalmente se usam os questionários). Noutras, podem ser mais apropriadas as entrevistas ou um estudo assente na observação. Se estivermos obviamente a estudar um assunto de Sociologia histórica não se pode recorrer a nenhum destes métodos. Nesse caso, temos de recorrer a documentos relacionados com o período que desejamos estudar. Realização da Investigação Na altura de iniciar a investigação, podem surgir dificuldades práticas imprevistas. Pode revelar-se impossível contactar algumas das pessoas a quem os questionários deveriam ser enviados ou que o investigador deseja entrevistar. Uma empresa ou departamento governamental, por exemplo, podem mostrar-se relutantes em deixar o investigador efectuar o seu trabalho. Pode ser mais difícil do que se pensa inicialmente encontrar documentação. Interpretação dos Resultados O material reunido tem de ser analisado de forma a documentar o problema que induziu ao estudo. Os problemas do investigador ainda não acabaram – pelo contrário, podem estar apenas a começar! Organizar as implicações das informações coligidas e relacioná-las com o problema em questão raramente é uma tarefa fácil. Embora possa ser possível obter uma resposta clara ás questões que a investigação se propunha analisar, muitas investigações não são totalmente conclusivas. Elaboração do Relatório Final O relatório da investigação, normalmente publicado numa revista sob a forma de artigo ou em livro, fornece uma descrição da natureza da investigação e justifica as conclusões que foram extraídas. Este é um «estádio final» só em termos do projecto individual