Começando a falar de Ética e Cidadania Ao falarmos de Ética e de Cidadania é necessário ter cuidado com relação ao fato de que, embora esses dois conteúdos possam parecer iguais, eles são, no entanto, assuntos diferentes. É verdade que Ética e Cidadania têm muitas características em comum, como, por exemplo, o bem da coletividade e a busca pela justiça, mas os termos não têm sentidos únicos, e é preciso ter cuidado para não confundir todo o conteúdo da Ética com todo o conteúdo da Cidadania. Você pode estar se perguntando: por que em filosofia os termos podem ter tantos sentidos diferentes? Por que é tão complicado de entender? Na verdade, quanto à variedade dos significados das palavras, não é um “problema” da filosofia, mas sim uma característica da linguagem. Em qualquer dicionário comum vê-se muitas vezes a mesma palavra com significados diferentes. No caso da filosofia, essa diferença entre significados para a mesma palavra é algo muito importante porque o trabalho da filosofia é alcançar a clareza conceitual e, dessa forma, é necessário sempre estar atento ao sentido específico da palavra com que se está trabalhando. Se buscarmos historicamente a origem do termo “Cidadania”, seremos remetidos ao termo “política” já que, na Grécia Antiga, político era a pessoa responsável por cuidar e tomar decisões em relação à polis (cidade, região). Quando o Império Romano invadiu a Grécia, houve adaptação do termo grego polis para o termo latino civis. Desse termo surgiram palavras como cidade, civilização, civismo e cidadania. Por causa desse fato histórico, pelo menos em termos linguísticos, o termo “cidadão” é o equivalente, em língua latina, do termo de origem grega “político”. Em nossos dias e em nossa língua, ser politico é antes ser um profissional da política. Ou seja, não se diz que todos somos políticos simplesmente porque todos somos cidadãos. A equivalência, essa igualdade entre ser político e ser cidadão, não existe mais em nosso dia a dia. Então a pergunta é: o que é um cidadão se ele não for político? Ora, se separarmos a ação política do cidadão, este perde todo seu espaço e razão de ser. O cidadão só é cidadão se cuida de sua cidade, de seu meio, ou seja, se for político no sentido original grego da palavra. Dessa afirmação podem-se retirar muitas discussões sociológicas, mas o que nos interessa é compreender que o eixo da Cidadania envolve a noção de cuidado com a coletividade. São exemplos simples dessas ações: o não desperdício da água; o respeito às instituições e a recursos públicos e privados; a responsabilidade na educação das crianças; o respeito às leis de trânsito; o voto consciente; a solidariedade com os mais necessitados; a exigência de direitos e o cumprimento de deveres etc. Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos na constituição. Uma boa cidadania implica que os direitos e deveres estão interligados, e o respeito e cumprimento de ambos contribuem para uma sociedade mais equilibrada. Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e obrigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer a cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais. Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos objetivos da educação de um país. O conceito de cidadania também está relacionado com o país onde a pessoa exerce os seus direitos e deveres. Assim, a cidadania brasileira está relacionada com o indivíduo que está ligado aos direitos e deveres que estão definidos na Constituição. Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais. Os direitos e deveres de um cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que ao cumprirmos nossas obrigações permitimos que o outro exerça também seus direitos a toda população. Quanto à Ética, temos a origem do termo também na Grécia Antiga. O primeiro tratado formal de Ética é de Aristóteles, feito na obra chamada Ética a Nicômaco, escrito que traz uma série de considerações de como agir da melhor forma possível, da forma mais justa, mais próxima do bem e, antes de mais nada, do bem comum. Para Aristóteles, “o homem é um animal político”, ou seja, suas ações se referem e devem se referir à coletividade. Portanto, a boa ação só pode ser de fato boa se envolver a felicidade da coletividade. “Assegurar o bem de um indivíduo é apenas melhor que nada; porém, assegurar o bem de uma nação ou de um Estado é uma realização mais nobre e mais divina.” (Aristóteles) Posteriormente, a Aristóteles foram atribuídos outros pensamentos éticos, que envolviam questões diversas. Na Idade Média, por exemplo, o foco da Ética era Deus. Na Idade Moderna (a partir do século XVI) passou a ser o homem. Em nossos dias, passam a ser, predominantemente, os avanços científicos e os acontecimentos da macropolítica. Mas a ênfase no bem comum e na justiça foi aquilo que marcou toda a trajetória das principais éticas desenvolvidas ao longo da história do pensamento ocidental. Podese, então, de maneira resumida, dizer que o centro da ética reside na busca pela melhor ação a ser realizada visando ao benefício do maior número de pessoas possível. O bem coletivo, esse é ponto em comum entre a Ética e a Cidadania. Ética x Moral Muitas vezes, os termos Ética e Moral são usados como se fossem sinônimos, e, de fato, em alguns momentos da história da filosofia eles chegaram a significar a mesma coisa. Aqui, no entanto, faremos a diferenciação entre os dois conceitos no sentido de que a Ética pode ser definida como o estudo da conduta humana em relação aos valores. Ética é parte da filosofia que estuda o comportamento humano sempre buscando o bem comum, o bem da coletividade. A moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em uma sociedade, regras estas determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é uma pessoa moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral, portanto podemos dizer que a moral é pura e simplesmente o comportamento humano repetido e reiterado em uma determinada sociedade. Os conceitos de Ética e Moral podem parecer muito próximos e se não tomarmos cuidado podemos confundi-los. A moral tem um caráter imediato, pois é pura e simplesmente o comportamento repetido e imposto por uma sociedade mas que não tem preocupação nenhuma com o bem comum, o que por sua vez dentro do estudo da ética é o grande diferencial, já que a ética vem estudar a moral (o comportamento humano) fazendo um intenso estudo para entender e questionar se tal conduta leva ao bem da coletividade. A ética portanto pode ser considerada uma ciência pois ela é parte da filosofia que estuda a moral (o comportamento humano), isto é reflete sobre as regras morais. A reflexão ética pode inclusive contestar as regras morais vigentes, entendendo-as, por exemplo, ultrapassadas ou não. Embora seja possível ser ético e moral ao mesmo tempo, é notório também saber que podemos ter atitudes que não são morais mas que são éticas, por exemplo, eu posso ser imoral quando desobedeço uma determinada regra moral imposta pela sociedade em que vivo porque refletindo eticamente sobre ela, considero-a equivocada, ultrapassada ou simplesmente errada, sem sentido para o bem coletivo. Para que isso fique mais claro vamos a um exemplo. Imagine que um médico esteja diante desta situação: para salvar a vida de uma criança, ele precisa fazer uma transfusão de sangue nela. Porém, a criança segue uma religião em que a transfusão é proibida e, sendo assim, os pais dela não permitem o procedimento. O médico está diante de dois valores: o valor religioso da família da criança e o valor do juramento que ele fez como profissional, para fazer todo o possível para salvar uma vida. Os dois valores correspondem à Moral. Agora, o médico terá de tomar uma decisão: precisará pesar os valores e decidir qual deles é mais importante, para então decidir como agir. Ou seja, é o momento em que ele começa a avaliar de maneira racional os valores envolvidos, para agir com ética visando o bem comum. Vejamos um outro exemplo famoso, ocorrido em 1955, quando Rosa Parks uma costureira negra que vivia na cidade de Montgomery, no Alabama, nos Estados Unidos, desobedeceu uma regra existente de que a maioria dos lugares dos ônibus era reservada para pessoas brancas (podemos dizer que isso era a moral do local, uma vez que esse comportamento era imposto e repetido, TODOS deviam respeitar a divisão dos assentos reservado para pessoas brancas). Já com certa idade e farta daquela humilhação moralmente oficial, Rosa se recusou a levantar para um branco sentar. O motorista chamou a polícia, que prendeu a mulher e a multou. Este acontecimento provocou um movimento nacional de boicote aos ônibus e foi a gota d’agua de que precisava o jovem pastor Martin Luther King para liderar a luta pela igualdade dos direitos civis. Neste exemplo de Rosa Parks podemos dizer que ela teve uma atitude imoral indo contra o comportamento humano imposto daquela época, porém ao analisarmos e refletirmos o caso, vendo o quanto essa atitude foi boa para a sociedade e como essa atitude pioneira ajudou a lutar contra o preconceito, podemos dizer que dentro da ética a atitude de Rosa foi correta pois ajudou muita gente, fez uma enorme diferença e definitivamente foi bom para o coletivo, para o bem de todos. Temos portanto uma atitude que mesmo sendo imoral é considerada ética. Revisando portanto, a moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em sociedade, regras estas determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é uma pessoa moral; quem as desobedece, uma pessoa imoral. A ética, por sua vez, é a parte da filosofia que estuda o comportamento humano (a moral), isto é, que reflete sobre as regras morais fazendo uma reflexão e sempre buscando o bem comum. A reflexão ética pode inclusive contestar as regras morais vigentes, entendendo-as, por exemplo, ultrapassadas. Ética dentro das organizações modernas O comportamento ético é priorizado no momento em que o mundo passa por grandes mudanças. As empresas se reformam e se transformam para sobreviver a essas mudanças e atender melhor seu consumidor. Assim, hoje, para um sucesso continuado, e para sua sobrevivência o desafio maior das empresas é ter uma ética interna que oriente suas decisões e permeie as relações entre as pessoas que delas participam e, ao mesmo tempo, um comportamento ético reconhecido pela comunidade. Se a empresa, como espaço social, produz e reproduz esses valores, ela se torna importante em qualquer processo de mudança de perspectiva das pessoas; tanto das que nela convivem e participam quanto daquelas com as quais essas pessoas se relacionam. Assim, quanto mais empresas tenham preocupações éticas mais a sociedade na qual essas empresas estejam inseridas tenderão a melhorar no sentido de constituir um espaço agradável onde as pessoas vivam realizadas, seguras e felizes. RESPONSABILIDADE SOCIAL DENTRO DAS EMPRESAS A idéia da Responsabilidade Social vem ganhando destaque e popularidade a participação das empresas em ações que beneficiam a sociedade que também é acompanhada atentamente pelo mercado. A consequência desse movimento é que a Responsabilidade Social passou a ser pensada na definição da estratégia empresarial e, para a empresa ser percebida pelos consumidores, empregados e investidores, não basta parecer ser ética e responsável. As ações precisam ser acompanhadas e divulgadas sistematicamente, incorporando ao dia-a-dia da empresa. É através da sociedade que a empresa se viabiliza, consome os recursos naturais existentes, que constituem o patrimônio natural desta sociedade e utiliza os recursos de capital, de tecnologia e de mão de obra, que são parte do seu patrimônio cultural, social e econômico. Investindo em projetos sociais, a empresa assume a sua responsabilidade social e oferece algo em troca ao que, por ela, foi usurpado da sociedade. Segundo Maximiano (2004), a Responsabilidade Social se baseia em dois princípios o da caridade e o do zelo. Em 1889, Andrew Carnegie (1835-1919), fundador do conglomerado U.S.Steel corporation, publicou o livro chamado “O Evangelho da Riqueza”, que estabeleceu abordagem clássica da Responsabilidade Social das grandes empresas. A visão de Carnegie se baseava em dois princípios: O princípio da caridade e o princípio da custódia. Princípio da Caridade O principio da caridade, segundo Carnegie(1889), diz que os indivíduos mais afortunados da sociedade devem cuidar dos menos afortunados, compreendendo desempregados, doentes, pobres, pessoas com deficiência física. Esses desafortunados podem ser auxiliados diretamente ou por meio de instituições como igrejas, associações da caridade ou movimentos de auxílio. Princípio do Zelo O princípio do zelo (stewardship), derivado da Bíblia, estabelece que as empresas e os indivíduos ricos deveriam enxergar-se como depositários de sua propriedade, devendo ter zelo (cuidado) para com seus funcionários, para com a população em geral e para com o meio ambiente. Segundo Carnegie(1889), os ricos têm seu dinheiro com a confiança do restante da sociedade e podem usá-lo para qualquer finalidade que a sociedade julgar legítima, ajudando e zelando com TODOS os setores (seus empregados, a população e o meio em que vive). O papel da empresa é também aumentar a riqueza da sociedade, por meio de investimentos prudentes e uso cauteloso dos recursos sob sua responsabilidade. Ética Profissional É o conjunto de normas de conduta que deverão ser postas em prática no exercício da profissão. A ética profissional é o conjunto de práticas que determinam a adequação no exercício de qualquer profissão. É através dela que se dão as relações interpessoais no trabalho, visando, especialmente, o respeito e o bem-estar no ambiente profissional. O Código de Ética de uma profissão tem como função precípua preservar a moralidade e a conduta ética dos profissionais É importante lembrar que a ética é indispensável para conviver em sociedade. É através dela que se pratica o respeito. Portanto, dentro do ambiente de trabalho ela é ainda mais importante. Afinal, atitudes inadequadas podem afetar o desempenho e a reputação de uma empresa. Existe uma ética padrão? Algumas profissões possuem conselhos responsáveis pela criação de códigos de ética específicos, como é o caso dos médicos, dos advogados, das engenharias etc. No entanto, estes códigos se referem a procedimentos e normas padrões das áreas, e são necessários por uma questão de segurança. Eles preveem penas disciplinares em lei para violações visando preservar a moralidade dentro de uma conduta ética da profissão. No entanto, há comportamentos que devem ser adotados em qualquer que seja a área, por contribuírem para o bom funcionamento do trabalho. Quais são os principais fatores componentes da ética profissional? Os elementos mais importantes da ética profissional são: - Honestidade: É um preceito básico para a convivência tanto pessoal quanto profissional. Falar sempre a verdade, não culpar colegas por erros seus e assumir falhas próprias são atitudes honestas e de valor para uma vida profissional ética e reta. - Honra: Ter a idéia de que a profissão é honra para o ser humano, e que qualquer decisão tomada de maneira errada pode influenciar na vida das outras pessoas. - Sigilo: Alguns assuntos são confidenciais por segurança, e não é nada ético sair falando aos quatro ventos sobre coisas que não dizem respeito a determinados públicos. Informações sigilosas geralmente estão protegidas por lei e, caso algum funcionário quebre este protocolo, a pena é certa. - Competência: A competência envolve também o compromisso, a organização e a capacidade de ajudar os demais, tudo com a finalidade de realizar um bom trabalho de forma geral. - Prudência: Ter noção da hierarquia, cuidado com comentários, brincadeiras e atitudes que podem até mesmo ofender os demais. É importante ainda ter prudência na realização das tarefas, fazer tudo da forma mais correta possível, sem “atalhos” ou “jeitinhos”. - Humildade: Perguntar quando há dúvidas, no caso do empregado. É ouvir os subordinados, no caso do líder. Ou, para ambos, reconhecer erros e aprender com eles. - Imparcialidade: Tratar a todos de maneira igual, independentemente do cargo que ocupam. Ser imparcial é mais importante ainda para os gestores. É comum as relações profissionais extrapolarem os limites do escritório, mas é imprescindível saber separar a relação pessoal da profissional. A ética profissional vale para todos, independentemente de cargo. Comportamentos antiéticos praticados por líderes invariavelmente abalam o clima organizacional, prejudicando o rendimento da equipe.