Cursinho Triu – História / Professores: Léo e Julie / Aula 5: Baixa Idade Média A Baixa Idade Média (século XI ao XV) foi marcada pelo aparecimento daquelas que serão as grandes características da Idade Moderna (como o desenvolvimento das cidades e diversificação da estrutura social – com a formação da burguesia). Nesse processo foram colocadas abaixo as estruturas feudais e foram redesenhadas as práticas sociopolíticas europeias. Uma das principais características do período foi o conjunto de melhorias técnicas que passaram a ser denominadas “inovações tecnológicas” – como o uso do arado com tração animal, o crescente número de ferreiros produzindo melhores ferramentas e novas formas de se navegar (refinando práticas comerciais marítimas). O processo chamado de renascimento urbano aconteceu entre os séculos XI e XIII, e deve ser analisado como um fenômeno que atingiu a minoria da população europeia na Idade Média. O fortalecimento dos burgos (nome dado às cidades da época) está ligado à nova dinâmica que se dá nos feudos, principalmente pelo aumento de sua produção em razão do alto crescimento demográfico. Houve, nesse cenário, um intenso deslocamento de servos para a região dos burgos – em certos casos até bem aceitos pelo rei (pois com o aumento da produção também havia aumento das despesas reais com os habitantes de vários estamentos). Vale lembrar que essas cidades ficavam dentro dos feudos e eram obrigadas a pagar taxas para os senhores, além de serem locais para venda de excedentes agrícolas dos feudos – dado o aumento de sua produtividade. Além disso, por terem o comércio como atividade principal, esses burgos acabaram por se desenvolver próximos às grandes rotas comerciais – se tornando, muitas vezes, o centro delas. As feiras passaram a ser uma prática comum dos comerciantes do período – concentrando suas atividades em uma região durante algumas semanas, e depois transferidas para outras localidades. Entretanto, as regras para tais práticas variavam de acordo com o domínio de cada senhor feudal, através de regras estabelecidas por ele. Logo, havia vários sistemas de medidas, pesos e mesmo de equivalentes gerais (moedas), o que poderia gerar altos lucros para um comerciante, e, por outro lado, grandes prejuízos para outros. Dado o alto número de moedas circulantes, foi nesse período também que começaram a surgir as primeiras casas bancárias – nas quais os comerciantes depositavam suas moedas mediante a pagamento de juros, viajando com créditos (e não mais com grandes quantidades de dinheiro). Seguindo a mesma lógica comercial, os citadinos passaram também a artesanato e comércio para se inserir na nova lógica dos burgos, dessa forma foram criadas as corporações de ofício – associações voluntárias que tinham não só a função de controlar o preço dos produtos e honorário dos trabalhadores, mas também de estabelecer bases para o aprendizado e condições para se tornar mestre em determinado ofício. As cruzadas se inserem no contexto medieval, no qual a cristandade foi, indiscutivelmente, um dos elementos unificadores do mundo europeu após as invasões germânicas. Caracterizadas de “medidas externas” tinham como objetivo oficial recuperar Jerusalém, a Terra Santa, dominada pelos Islâmicos. Apesar da legitimação através do argumento religioso, outro motivo para a defesa das cruzadas foram pressões por parte dos comerciantes – que desejavam expulsar os árabes, que atrapalhavam seu comércio, além de ver nas Cruzadas possibilidades de se abrirem novas rotas comerciais para o Oriente. Apesar de fracassar em seu objetivo, as Cruzadas trouxeram alguns resultados que modificaram a dinâmica da sociedade medieval, como: acelerar a crise do feudalismo (com o desaparecimento e empobrecimento de muitos nobres, ajudando a centralizar novamente o poder na figura do rei), provocar a decadência do Império Bizantino, assegurar a reabertura comercial do Mediterrâneo e a possibilidade, no plano cultural, de entrar em contato com importantes conhecimentos desenvolvidos pelos muçulmanos (como no campo da matemática, medicina e astronomia). A Igreja também passou por reformas na baixa Idade Média, como a instituída pelo papa Gregório V (1073-1085), conhecida como reforma gregoriana. O papa entendia que os problemas enfrentados pela Igreja advinham da nomeação de pessoas despreparadas para as atividades religiosas, indicadas pelos monarcas. Esse conflito entre Igreja e Estado pelo poder de nomeações eclesiásticas ficou conhecido como Querela das Investiduras, e durou até 1122 quando se firmou o acordo chamado Concordata de Worms – pela qual se estabeleceu que a nomeação de bispos e autoridades religiosas seria dividida entre o papa e o imperador. Também foram criados nesse período, mais precisamente em 1229, os famosos tribunais da Inquisição – atuantes, porém, mais incisivamente somente no período moderno. Somadas a essas “ameaças externas” houve um enfraquecimento e cisão interna na Igreja – o chamado Cisma do Ocidente, quando entre 1378 e 1417 disputas internas pelo papado fizeram com o corpo eclesiástico se dividisse em apoio aos papas Urbano VI ou Gregório XI. Nota-se, tomado o contexto geral, um nítido enfraquecimento da Igreja no final da Idade Média. A crise do feudalismo é marcada no século XIV pelo fim da expansão europeia, crise do comercio e da economia feudal e grandes catástrofes. O refluxo da expansão se deu principalmente pela ocupação quase total das terras cultiváveis (em razão do aumento populacional e da produção) – é importante lembrar que não havia avanços tecnológicos no sistema agrário, além do sistema produtivo que empobrecia o solo. Sendo a produção de gêneros agrícolas intimamente ligada ao comércio, dá-se a crise generalizada. A crise foi alarmada com a Peste Negra, que entre 1348 e 1350 dizimou entre 25 e 35% da população europeia – atingindo mais fortemente os núcleos urbanos, mas também chegando ao campo. Além desse efeito imediato, a peste ainda legitimou exigências daqueles servos que sobreviveram e continuaram a trabalhar nos feudos – dada a nova situação calamitosa. Também começava a aparecer um sentimento generalizado de insatisfação, evidenciando a crise de um modelo que foi agravado com a Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre França e Inglaterra. Dentre os motivos do embate estavam a questão dinástica envolvendo a sucessão do trono francês (em razão dos laços de parentesco entre os herdeiros ingleses e o antigo monarca francês) e a disputa pela região comercial de Flandres. A guerra acabou agravando a questão demográfica – com terras já despovoadas em razão da peste, e só teve vitória definitiva da França ao expulsar os ingleses e aliados da maior parte do continente. Como consequência houve a centralização do poder na França a partir do enfraquecimento dos nobres feudais, enquanto na Inglaterra se instaurou uma guerra civil (Guerra das Duas Rosas), com a disputa de duas dinastias pelo poder político. A Igreja marcou não só a vida política e social, mas também cultural do período medieval. O saber valorizado no período era a teologia – expressa em pensadores como Santo Agostinho [conhecido pelo princípio do “livre-arbítrio”], e São Tomás de Aquino. Além disso, a cultura eclesiástica também era expressa na construção das Igrejas – através dos estilos românico e gótico. Ambos eram marcados não só por técnicas, materiais e ornamentos próprios, mas pela ideia de que as igrejas deveriam ser militantes – tanto no sentido de afirmação de sua monumentalidade e poder, quanto no sentido de se fortificar em construções que lembravam fortalezas.