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Medicamento na dose certa
Uso incorreto de qualquer remédio pode trazer graves prejuízos à saúde.
Erros na prescrição e no acompanhamento são alguns dos principais problemas
O procedimento é quase sempre o mesmo. Ao sentir dor ou perceber
qualquer problema de saúde, o primeiro passo é buscar o tratamento para se ver
livre da sensação de desconforto. Alguns pacientes procuram um médico para
receber orientações corretas sobre o remédio que devem usar. Outros tomam uma
atitude precipitada e preferem se automedicar. Os perigos de ingerir um
medicamento inadequadamente são muitos e vão desde reações adversas
(efeitos negativos) até o agravamento do problema de saúde. Para informar
melhor os pacientes sobre o uso dos medicamentos, o Ministério da Saúde e a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinaram a adaptação para
uma linguagem mais acessível das bulas para o consumidor.
O processo de adaptação das bulas começou em 2004 e se estenderá ao
longo de 2005. A medida não estabeleceu prazo definido para que as alterações
sejam feitas em todos os produtos comercializados no mercado. Quando o
fabricante for registrar um novo produto ou renovar a licença do medicamento que
fabrica, deverá apresentar a bula no formato acessível para o consumidor.
Para o chefe da Unidade de Farmacovigilância da Anvisa, Murilo Freitas
Dias, a medida permitirá o esclarecimento de dúvidas e vai orientar as pessoas
sobre o uso racional dos medicamentos. Além da bula com linguagem para o
consumidor, haverá outra para o profissional de saúde. Essa bula estará
disponível no site da Anvisa (www.anvisa.gov.br). O formato muito técnico das
atuais bulas motivou a mudança. Para a agência, esse caráter demasiado técnico
prejudicava a compreensão do paciente.
Junto com a mudança nas bulas, a Anvisa iniciou um trabalho de detecção
de erros relacionados ao uso de remédios nos hospitais. Murilo Freitas conta que
o uso de medicamentos dentro dos hospitais envolve de 20 a 30 etapas. Passa
pela prescrição, preparo e mistura, administração, aplicação, acompanhamento e
monitoramento do uso. Um erro em qualquer etapa pode provocar riscos à saúde
do paciente.
Com o trabalho, será possível identificar as causas dos erros de medicação
mais comuns nos hospitais. Sabe-se que entre os principais erros estão o
desconhecimento sobre o produto, a desinformação dos médicos quanto à
característica alérgica dos pacientes, a não checagem das doses e a falta de
interação entre a equipe médica e a área de farmácia das unidades de saúde.
Indicação – Outro problema identificado diz respeito à utilização dos remédios
para outras finalidades, que não as aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária. É o que se chama de “off label” (uso não descrito na bula). Quando isso
acontece, o risco de reações adversas é desconhecido para a saúde do paciente.
Recentemente,
a
Anvisa
identificou
que
dermatologistas
estavam
prescrevendo o medicamento flutamida para mulheres, quando seu uso é
aprovado apenas para os homens. Esse medicamento é indicado somente para
tratamento de câncer de próstata em estágio avançado. O registro de produtos à
base dessa substância em países como o Brasil, França e Estados Unidos não
prevê uso em pacientes do sexo feminino. No País, a comercialização de
flutamida é restrita à prescrição médica.
Mesmo com a determinação, alguns dermatologistas estavam indicando a
flutamida para o tratamento de acne e queda de cabelo em mulheres. A Anvisa
recebeu a notificação de cinco casos de hepatite fulminante em mulheres jovens
que faziam uso da substância no tratamento de acne. O Chefe da Unidade de
Farmacovigilância explica que todo medicamento aprovado na Anvisa passa por
uma análise de riscos e benefícios, de acordo com uma dada indicação
terapêutica. A cada mudança de indicações, tornam-se necessários estudos
adicionais para avaliação de seus benefícios e riscos.
A falta de informações é outro motivo de preocupação. Muitas vezes, o
paciente sai de uma consulta, recebe a prescrição para uso de um medicamento,
mas não é informado pelo médico sobre como utilizá-lo da melhor forma. “É
preciso que o paciente seja esclarecido sobre a possibilidade de tomar o
medicamento acompanhado de um outro, e sobre o tempo de duração do
tratamento”, exemplifica Murilo Freitas. “Também é importante a informação de
que o remédio deve ser sempre tomado com água”, assinala. A água favorece a
dissolução do remédio no estômago. Assim o princípio ativo é liberado e o
medicamento faz efeito.
O paciente também precisa observar se na prescrição do medicamento há
referências sobre a dosagem indicada pelo médico. Ou seja, se a dose é de
200mg ou 500mg, por exemplo. Caso essa informação não esteja correta, o
paciente corre o risco de chegar na farmácia e não comprar o medicamento de
acordo com a dose necessária. Esse procedimento pode acarretar efeitos como a
intoxicação, em caso de uso de uma dose maior, ou a perda do efeito terapêutico,
pela ingestão de uma dose menor.
Para os profissionais de saúde, a automedicação pode ser ainda mais
perigosa se indicada por um leigo. “O paciente deve sempre procurar orientação
de um farmacêutico ou médico antes de usar qualquer medicamento”, alerta
Murilo Freitas.
Venda livre – Existem remédios classificados como de venda livre. São aqueles
que não precisam de prescrição médica para serem comprados, como os
analgésicos, as vitaminas, os antiácidos, os laxantes e os descongestionantes
nasais. O problema é que muitas vezes esses medicamentos são usados
incorretamente e podem provocar reações adversas, como vômitos, tonturas,
diarréia e outras mais severas.
Para não correr riscos no uso de medicamentos de venda livre, o
consumidor deve primeiro procurar um farmacêutico para falar sobre o problema
de saúde e discutir o recurso terapêutico mais indicado, se isso for realmente
necessário. O paciente deve informar o farmacêutico se utiliza algum outro
medicamento, para evitar casos de interação medicamentosa (quando dois
remédios usados juntos provocam riscos à saúde) e a freqüência com que
consome bebidas alcoólicas. “O consumidor deve estar atento para não confundir
o farmacêutico, um profissional formado, com o balconista da farmácia, que não
pode recomendar o uso de medicamentos”, alerta Murilo. “Durante o tratamento,
se o paciente apresentar reações ao medicamento, deve procurar imediatamente
um médico ou o farmacêutico da farmácia que lhe vendeu o produto”, completa.
Mulheres grávidas, idosos e crianças têm sempre de se consultar com um
médico antes de tomar qualquer medicamento. Em relação aos idosos, as doses
indicadas para eles não são as mesmas dos adultos e das crianças. No caso das
gestantes e crianças, existem remédios contra-indicados. “A população idosa é um
grupo que merece muita atenção, pois é comum que faça uso de vários
medicamentos ao mesmo tempo, aumentando os riscos”, destaca Murilo Freitas.
Antibióticos: uso incorreto pode levar a infecção generalizada
Para obter os resultados esperados em tratamentos com antibióticos, é
indispensável tomar o medicamento no horário correto e cumprir o período de uso
determinado pelo médico (geralmente de sete a dez dias). É preciso ter
responsabilidade para fazer esse tipo de tratamento, pois a interrupção pode levar
a infecções generalizadas graves.
Quando se toma o antibiótico em tempo inferior ao prescrito, a bactéria a
ser combatida torna-se resistente. Assim, aumentam os riscos de essa bactéria
espalhar-se por todo o organismo sem que existam muitas alternativas de cura.
“Os antibióticos não devem ser tomados junto com nenhum outro medicamento,
pois podem ter seu efeito reduzido”, afirma o Chefe da Unidade de
Farmacovigilância da Anvisa, Murilo Freitas Dias.
Alguns procedimentos são indispensáveis no caso de o paciente esquecer
de tomar o antibiótico no horário e período corretos. Ele deve observar se os
sinais da infecção, como febre, dores e secreções, desapareceram. Se os
sintomas permanecem é porque a bactéria não foi combatida e o paciente
continua doente. Nesse caso, é preciso procurar um médico imediatamente para
orientar sobre o uso de um outro antibiótico ou para corrigir o tratamento usando o
mesmo medicamento. “O uso incorreto de um antibiótico pode torná-lo insuficiente
para tratar outra ocorrência de infecção no futuro”, observa Murilo Freitas.
Tomar remédios com leite e antiácidos pode alterar efeito da
medicação
O Leite é um alimento e, por isso, estimula a produção de sucos digestivos.
Vários medicamentos podem perder seus efeitos ao serem degradados pelo suco
gástrico liberado pelo organismo. Além disso, leite contém cálcio e outros
nutrientes que podem promover a perda do efeito terapêutico pela inativação
química (quelação), reação comum entre essa bebida e a tetraciclina.
Muitas pessoas também têm o costume de ingerir antiácidos antes de tomar
remédios que irritam o estômago. Esse hábito pode cortar totalmente o efeito do
medicamento, pela diminuição da absorção do princípio ativo ou pela absorção
junto deste de componentes dos antiácidos.
Efeitos do leite e antiácidos em alguns medicamentos
-
antibióticos: Ampicilina e tetraciclina (redução do efeito antibacteriano pela
redução de sua absorção);
-
contraceptivo oral: redução do efeito pela diminuição da absorção com uso
de antiácidos especialmente;
-
Digoxina: redução da absorção com diminuição do efeito cardiotônico;
-
Diazepam: redução da absorção com diminuição do efeito sedativo.
Estes exemplos reforçam a necessidade de se tomar todo medicamento no
horário certo e sempre com um copo cheio de água. Deve-se evitar qualquer
outra bebida.
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