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Por um segundo
Texto de Léo Gomes
Colossensses 2, 7
“enraizados e edificados Nele, inabaláveis na fé que fostes instruídos, com o coração a
transbordar gratidão.”
(ator sentado na cadeira que deverá estar localizada no centro-médio. Início do esquete não terá música)
Onde encontro as respostas? (pausa) Onde encontro a saída? (indo para trás da cadeira) Está frio aqui. Está
vazio aqui. (se referindo ao coração) Faz frio aqui. Está vazio aqui. Alguém sabe as respostas? Alguém sabe
onde encontrar a saída?
(fica de costas para cadeira, faz o sinal da cruz) Senhor, sei que me escuta e que me entende. Diga-me por
onde devo ir. Ilumina meu caminho. Quebra essas paredes que me impedem de te ver e seguir
plenamente!
Quebra as paredes da minha ignorância, dos meus medos, do meu egoísmo. Quebra! (em tom mais baixo)
Quebra...
(sentado) Eu gostaria de poder tocar no além. Eu gostaria de ver, sentir o que tem além dessas paredes.
(‘direita-alta’ atravesso até a esquerda-alta. Balbuciando ‘por um segundo’)
Eu tenho tantas dúvidas, tantos medos. Tenho tantas perguntas e não ouço, nem mesmo ao longe, as
respostas. Não ouço a voz que sai de mim, não ouço a voz de Deus, não ouço nada! Acho que já até parei
de sentir.
Estou cansado. Cansado de gritar de frente pro abismo e não ouvir nem mesmo o eco da minha voz. Estou
cansado de acreditar em algo que não posso ver; de falar pro vento e achar que alguém me ouvirá. Estou
cansado de tudo. Tudo!
Eu procurei tanto, lutei tanto, sofri tanto para tentar encontrar a Deus. Em vão. Acho que esse frio, esse
vazio, essa dor que não passa, não ameniza, não cura, não piora... Se Ele estivesse comigo. Se Ele me visse,
ouvisse, sentisse, mas não! Ele não sai desse pedestal maldito que nós homens o colocamos! Se és Deus,
desce! Se Tu és, de fato, qualquer coisa, fala comigo... Eu preciso ouvir sua voz. Fala. Qualquer coisa, mas
fala!
Eu ouço tanta coisa! Eu vejo, eu sinto, eu vivo, mas... Você não está. Não está... E começo então a achar
que nunca esteve. Por que essa vida vala solitária não me deixa pensar em outra coisa e acho que você
também não quer que eu pense!
O problema é que eu estou morrendo por dentro e o lado de fora já sente o cheiro de podre. O problema é
que eu me perdi neste labirinto de Santos e ateus e não faço a mínima idéia de como sair; as imagens
apontam para o céu ou então para os seus próprios pés; a luz vermelha ilumina somente o seu entorno. O
problema é que está escuro agora. Não vejo mais com a mesma clareza de antes. Tudo tão confuso, tão
morto, tão sombrio, tão seco. Tão vazio. Queria poder ver, achar a saída, mas para que eu veja e encontre a
saída terei que fechar os meus olhos, deixar de ver as cores que eu criei. O problema é que esse choro que
não sai está me fazendo inchar e acho que em breve vou explodir! Me diz o por que dessa agonia
desgraçada, desse choro que não sai, dessas vozes que não se calam, desse medo que me acompanha,
desse tempo que não passa. Me diz o por que dessa dor infinita.
Sinto agora uma enorme vontade de chorar, por pra fora tudo o que não pus ontem. Meus olhos se
enchem d’água, e o coração de uma vontade súbita de não mais existir. Fecho os olhos e me lembro de
cada momento, de cada palavra. Fecho os olhos e me vejo parado em meio ao nada, no meio de algum
lugar com vários caminhos. Tento sonhar, mas não consigo. Queria me recolher para chorar, mas não
posso. Queria dividir com alguém o que sinto, mas a minha língua trava. Acho que até o choro travou. Hoje
acordei trancado em um mundo impenetrável. Nem a voz dos meus amigos me conforta.
Acho que preciso tomar banho de chuva... Chorar sem que percebam... Preciso ir à praia de noite e ver a
onda se quebrar nas pedras. Preciso de um abraço e não sei como pedir. Preciso de ajuda, mas não consigo
gritar. Preciso que me salvem! Este mundo está escuro e não gosto mais disso.
Onde encontro as respostas? (pausa) Onde encontro a saída? (indo para trás da cadeira) Está frio aqui. Está
vazio aqui. (se referindo ao coração) Faz frio aqui. Está vazio aqui. Alguém sabe as respostas? Alguém sabe
onde encontrar a saída?
É triste. É triste, sabe?! Tão triste descobrir que se está caminhando num mundo contrário. Eu não via a
Deus porque nunca olhei para cima. Para o alto. Para céu. Para o horizonte. Eu nunca olhei para o chão e
percebi que a minha fé me mantinha preso a Ele. Que a minha fé me dava asas e que sempre voei pelos
mais belos montes! Eu me ceguei e não percebi que a minha vida estava enraizada Nele, e que nós somos
um só ser! Eu demorei a perceber que as paredes que me cercavam eram as minhas mãos tapando os meus
olhos. Eu demorei a entender que não há mais sofrimento sem causa, ou por castigo, ou por vingança, ou
por qualquer outro motivo! Sofremos somente aquilo que nos permitimos sofrer e eu, idiota, me permitia
sofrer por tudo! Eu não via Deus porque eu não queria. E hoje eu quero. Aqui e agora eu quero! Eu preciso!
Hoje eu toco o céu. Agora quando parei diante do abismo, eu ouvi claramente a voz de Deus no canto do
pássaro. Eu vi Deus no pôr-do-sol. E ele é lindo.
Eu percebi que procurava Deus do lado errado. Ele não estava a minha direita nem a minha esquerda. Ele
estava bem do lado de dentro. Ele estava aqui. Sempre esteve aqui. Aqui...
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