Uma coisa boa em excesso CHARLES CLOUGH The New York Times O colapso dos mercados financeiros ocorrido no último verão está desaparecendo na memória distante. O Federal Reserve tornou-se mais acessível e os investidores estão novamente despejando dinheiro em ações. Mas antes de supormos que a economia está fora de perigo, talvez devamos perguntar em primeiro lugar porque os mercados perderam sua posição tão completamente. Dois resultados econômicos do terceiro trimestre oferecem uma dica. A economia no seu geral pareceu bem, mas os dois componentes de perspectivas futuras do produto interno bruto - lucros e investimentos - mostraram uma queda pela primeira vez desde 1991, que foi um ano de recessão. A confiança do consumidor e o crescimento do número de empregos estão enfraquecendo e o dispêndio com ativos fixos (despesas com novas fábricas e equipamento) perdeu impulso. Os estoques - de automóveis e bens não-duráveis, de commodities como cobre e níquel - estão se acumulando. Será que tudo isso é derivado dos acontecimentos na Ásia ou existem problemas domésticos que talvez precisem ser resolvidos? Há provas de que o excesso de investimentos, geralmente visto como a causa básica para que a Ásia caísse em desgraça econômica, poderia constituir um problema também para a nossa economia. Simplificando as coisas, o excesso de capacidade de tudo, desde aço a semicondutores, surgiu de repente no cenário asiático. Poderiam os problemas da Ásia estar acontecendo aqui, talvez em escala? Quantias imensas de capital têm estado disponível nos últimos anos. As empresas americanas ficaram mais eficientes e conseguiram mais dinheiro. E usaram esse dinheiro vivo para financiar um dos maiores surtos de crescimento de investimentos de todos os tempos. O investimento cresceu 70% mais depressa do que as vendas finais nos últimos três anos e foi o motor que produziu empregos e crescimento. Porém, há um lado negativo nisso. O investimento aumenta a capacidade de produção e agora o excesso de suprimentos está proliferando. Os varejistas e as instituições financeiras aumentaram sua capacidade num ritmo mais rápido que os americanos conseguem gastar ou economizar. A produção industrial aumentou 25% nos últimos cinco anos, mas a porcentagem de capacidade de fabricação que está realmente sendo usada está inalterada. Em quantidades razoáveis, o investimento é saudável, pois aumenta a produtividade e os lucros. Mas, como tudo o mais, seu excesso pode ser contraproducente. O excesso de capacidade acaba provocando queda nos preços e, com isso, os lucros começam a sofrer. Durante a maior parte da recente expansão, as empresas conseguiram financiar a expansão de capital, cobrir dividendos e ter um pouco de sobra de caixa. Foi em 1997 que começou a mudança - pesadamente comprometidas com dispêndios com ativos fixos, as empresas começaram a sangrar dinheiro e muitas agora precisam tomar empréstimos para tapar o déficit. Desde 1996, as corporações não-financeiras dobraram a quantidade de novos bônus que estão emitindo, para US$ 360 bilhões anualmente. A questão é: quem está emprestando o dinheiro? A resposta pode vir do "déficit de conta corrente" do país, que é de US$ 200 bilhões. As economias incorrem em déficits de conta corrente quando gastam mais do que poupam. Os Estados Unidos vêm vivenciando essa situação intermitentemente desde 1973. Nossos déficits anteriores, entretanto, foram provocados pelo governo federal, que gastou mais do que arrecadou em impostos e compensou a diferença emitindo títulos e bônus da dívida. Como se viu, esses déficits causaram poucos danos aos mercados de capital e as taxas de juros caíram bruscamente na década de 80. Os bancos centrais estrangeiros, especialmente o Banco do Japão, estiveram dispostos a participar e comprar esses títulos do Tesouro em grande quantidade. Os títulos do Tesouro são seguros porque oferecem um alto rendimento em uma moeda reserva e têm altíssima liquidez. O déficit externo de hoje é muito mais problemático porque está sendo incorrido por corporações americanas, não pelo governo. Em outras palavras, as empresas americanas precisam atrair mais de US$ 200 bilhões em investimento externo para título corporativos e ações. De repente, há riscos comerciais, riscos de qualidade, riscos de liquidez, um caleidoscópio de riscos nunca enfrentados por um comprador de títulos do Tesouro. Os investidores estrangeiros compreensivelmente podem reclamar de tal desafio, particularmente se os lucros americanos continuarem a cair. Curiosamente, os fundos hedge ajudaram durante algum tempo. Tomando emprestado no Japão a juros de 1% e comprando títulos de empresas americanas e títulos hipotecários, tais fundos reciclaram as enormes poupanças do Japão para o tomador de empréstimo de empresas americanas e de hipoteca. Agora, as dificuldades que os fundos hedge encontraram os deixaram minguados e a pergunta é: quem absorverá a folga? No momento, parecem ser os bancos. Os empréstimos bancários para os investidores em títulos mobiliários subiram 60% em relação a um ano atrás e os bancos vêm comprando imensas quantidades de ações e títulos corporativos, o que tem ajudado os mercados financeiros, mas duvido que possa ser sustentado. O resultado mais provável é que esse excesso de capacidade e lucros fracos mate essa orgia de investimento de capital. Isso reduziria as necessidades de empréstimo das empresas, permitiria a queda das taxas de juros e reduziria o déficit da conta corrente. Porém, como aumento do número de empregos e do dispêndio depende de investimentos, a economia poderá tropeçar, esmaecendo ainda mais a já fraca perspectiva de lucros para 1999.