AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE SULFIDRILAS EM CÓRTEX PRÉ-FRONTAL DE RATOS SUBMETIDOS AO TRATAMENTO COM LÍTIO E OXCARBAZEPINA. Letícia Soares Boing; Dra Jucélia Jeremias Fortunato (orientadora). Introdução: Nos últimos anos, o tratamento do transtorno bipolar (TB) sofreu mudanças consideráveis com o uso regular de valproato de sódio, oxcarbazepina, lamotrigina e outros anticonvulsivantes em associação ou substituição ao lítio. Porém, devido à complexidade do transtorno e à variabilidade de características e de curso, não há um tratamento único ou uma combinação de tratamentos que funcione em todos os pacientes. O desenvolvimento de novas medidas terapêuticas para o TB, assim como para outros transtornos do humor, tem sido dificultada pelo limitado conhecimento tanto da neurobiologia como dos mecanismos de ação a longo prazo das mais diversas medicações. O lítio, utilizado como medicamento de escolha e útil em cerca de 60% dos casos, foi o primeiro fármaco aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para o TB, sendo utilizado há mais de 50 anos para o tratamento das fases agudas e de manutenção da doença bipolar, o único medicamento com propriedades estabilizadoras do humor comprovado. A oxcarbazepina (OXC) é um ceto-análogo da carbamazepina (CBZ), sendo um importante anticonvulsivante e estabilizador do humor. A principal diferença entre essas duas substâncias é que, ao contrário da CBZ, a OXC não é metabolizada em um derivado epóxido. Como o derivado epóxido é responsável por vários dos efeitos tóxicos da CBZ, a diminuição da epoxidação da OXC é, provavelmente, uma das razões para seu melhor perfil em relação aos efeitos colaterais. Apesar da grande quantidade e diversidade de estudos avaliando a biologia do TB, ainda pouco se sabe sobre a real associação entre os achados neurobiológicos dessa doença e as alterações comportamentais e neurovegetativas observadas nesses pacientes. O estresse oxidativo também tem sido sugerido como papel importante no desenvolvimento do TB. Estudos recentes observaram uma redução na atividade da superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase (principais enzimas antioxidantes) e aumento de malondialdeído (um produto da peroxidação lipídica, também conhecido como uma das espécies reativas ao ácido barbitúrico, ou TBARS) em sangue periférico de indivíduos com TB. Objetivos: a) Avaliar a concentração de sulfidrilas em córtex pré-frontal de ratos submetidos ao tratamento com lítio e oxcarbazepina b) Caracterizar um modelo animal de mania induzido por tratamento crônico com metilfenidato (MDT); Palavras-chave: Transtorno Bipolar, Lítio, Oxcarbazepina Métodos O presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da Universidade do Sul de Santa Catarina/UNISUL, sob protocolo 10.617.4.01.IV. Foram utilizados 60 ratos Wistar machos, com idade entre 2 e 3 meses, pesando entre 250-300g, provenientes do biotério da UNISUL, campus Tubarão. Para caracterização do modelo animal de mania, realizou-se a administração crônica de metilfenidato (2,5 mg/kg), intraperitonelamente, uma injeção diária durante 7 dias consecutivos. Os animais do grupo controle receberam solução salina de NaCl 0,9%. Seguindo o protocolo, os animais foram organizados em quatro grupos (n = 15), onde receberam duas injeções diárias, conforme o grupo a que pertenciam: Grupo 1(Sal + Sal); Grupo 2 (MDH + Sal); Grupo 3 (MDH + OXC); Grupo 4 (MDH + Li + OXC). A OXC foi administrada na dose de 80mg/kg e o lítio na dose de 47,5mg/kg. Após a realização dos experimentos os ratos foram sacrificados por decapitação e a região de córtex cerebral, isolada e armazenada a -80oC para posterior análise bioquímica. O dano oxidativo em proteínas do tecido nervoso foi determinado pela medida de grupos sulfidrila conforme previamente descrito (Aksenov e Markesbery, 2001). Os dados 2 foram submetidos à análise de variância (ANOVA) de uma via, tendo as substâncias utilizadas (oxcarbazepina e lítio) como os fatores. Para comparação entre a média dos grupos foi utilizado o teste de Tukey como teste post hoc. As análises foram realizadas por software estatístico (SPSS 16.0). RESULTADOS Quando comparado ao grupo Sal-Sal, o grupo MDT-Lítio apresentou diferença significativa na concentração de sulfidrilas (p<0,008), o mesmo ocorreu quando comparouse o mesmo ao grupo MDT-Oxc (p<0,002). DISCUSSÃO Nesse trabalho foram investigados os efeitos antioxidantes de dois estabilizadores de humor: o lítio e a OXC, administrados de forma crônica em monoterapia ou associação, em modelo animal de mania induzido por psicoestimulante, o fármaco metilfenidato. A instalação do processo de estresse oxidativo decorre da existência de um desequilíbrio entre compostos oxidantes e antioxidantes, em favor da geração excessiva de radicais livres ou em detrimento da velocidade de remoção desses. Tal processo conduz à oxidação de biomoléculas com consequente perda de suas funções biológicas e/ou desequilíbrio homeostático, cuja manifestação é o dano oxidativo potencial contra células e tecidos. Ferrari (2004), em estudo de revisão, ratifica que a geração de radicais livres desencadeia eventos patológicos que, por sua vez, estão envolvidos nos processos cardiovasculares, carcinogênicos e neurodegenerativos. Há um aumento no nível de evidências que associam os distúrbios do humor com estresse oxidativo e dano ao DNA celular, tornando as supostas propriedades antioxidantes do lítio particularmente importantes. O tratamento crônico com lítio também inibiu os metabólitos reativos de oxigênio, a morte celular induzida por H2O2 e aumentou os níveis de glutationa em culturas de células corticais cerebrais de ratos. Em nosso estudo, a sulfidrila, um marcador de oxidação de proteínas, apresentou uma diferença significativa quando comparado o grupo que recebeu administração de lítio ao grupo controle, demonstrando uma capacidade de neuroprotetora do uso crônico de lítio, corroborando com os resultados encontrados por Schao e colaboradores, em 2005. Quando comparado ao grupo tratado com OXC, o lítio também apresentou uma diferença significativa na concentração de sulfidrilas, caracterizando uma maior capacidade antioxidante do mesmo. Conclusões: Considerando-se que o aumento nas concentrações de sulfidrilas é um parâmetro de atividade antioxidativa, nossos estudos apontaram para uma maior função protetora do lítio quando comparada a oxcarbazepina, reforçando que, mesmo com a utilização de novas classes de fármacos no tratamento do TB, o lítio continua sendo a substância mais segura quando se avalia a capacidade de impedir os danos gerados pelo estresse oxidativo. Referências FUENTES, D. et al., Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008. KAPCZINSKI, F. Anormalidades neuropatológicas e neuroquímicas no transtorno afetivo bipolar. Rev. Bras. Psiquiatr., Set 2004, vol.26, no.3, p.180-188. KAPCZINSKI, F. et al. Tratamento farmacológico do transtorno bipolar: as evidências de ensaios clínicos randomizados. 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