O NÚCLEO COMUM Rogério Rodrigues Hoje, com o desabrochar

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O NÚCLEO COMUM
Rogério Rodrigues
Hoje, com o desabrochar da ciência e da tecnologia, a educação a
distância tem sua eficácia consolidada. Já vão longe os anos de 1960, em
que a EAD era exclusivamente o ensino por correspondência. Muita gente
se profissionalizou efetivamente com cursos por correspondência. Os
correios, com seus estafetas, foram os grandes agentes que possibilitaram
a realização dos sonhos de quem queria se formar no projeto madureza
ginasial ou artigo 99 , além dos cursos técnicos como Rádio e televisão,
mecânica de automóveis, desenho técnico ou artístico/publicitário.
Escolas como o Instituto Universal Brasileiro – IUB e o Instituto Monitor
dominavam as páginas de anúncios dos quadrinhos e conquistavam cada
dia mais alunos.
Até então, ainda se podia escolher um ensino secundário clássico ou
científico. No primeiro, o aluno tinha acesso à Filosofia e à Literatura
Clássica greco-romana. No segundo, estudava-se, prioritariamente,
Matemática e Ciências. No universo infindo do conhecimento, ainda
podia-se escolher de acordo com o desejo ou a vocação de cada aprendiz.
Por volta de 1968, com o advento do AI-5, a filosofia foi definitivamente
banida do rol de possibilidades da educação secundária; afinal, estudar
Karl Marx era meio perigoso, posto que não era bom para o Brasil. Além
do mais, a instrução eficaz das classes sociais menos favorecidas não era
um desejo dos governantes, visto que eles não representavam essas
classes, só se serviam delas. A manutenção da ignorância era um processo
articulado com dolo, mesmo nos conchavos com outros países como na
famigerada Aliança para o progresso, à luz da ideologia norte-americana.
Pelo acordo MEC-USAID, tivemos a fusão dos cursos Primário, ginasial e
científico,gerando a educação básica de 11 anos, 1 ano a menos que o
tempo mínimo do resto do mundo. As disciplinas que não foram extintas
do curso secundário, como a Filosofia -substituída por Educação Moral e
Cívica- tiveram sua carga-horária reduzida, como a História. A aliança para
o progresso, cuja logomarca exibia duas mãos em estreito aperto, era uma
série de acordos com amplitude que alcançava, além da educação, a
saúde pública; até leite em pó os americanos enviavam para o Brasil. Na
época, todos os estudantes e educadores que se opuseram a esses
acordos foram obrigados a cair na clandestinidade, tamanha era a
determinação dos militares na execução desses projetos.
Hoje, a história , em seu caráter recorrente, reapresenta, em cores,
um filme que já foi preto e branco. Assim como a EAD substituiu os
estafetas do correio pela Internet, ampliando as boas possibilidades de
acesso à boa educação, nossos políticos e governantes vêm com uma
proposta de um núcleo curricular comum, discriminatório, tanto no ponto
de vista social quanto epistemológico. O conhecimento é difuso e
emaranhado, não é compartimentado. Do ponto de vista social, os
sistemas educacionais devem oferecer maximamente as mesmas
possibilidades.
É fácil acreditar que esse filme colorido, que tem o mesmo roteiro
daquele em preto e branco, também tem a mesma consciência geradora
do primeiro; afinal, a consciência política das velhas oligarquias é como
uma herança das gerações descendentes, ainda mais dentro do
fisiologismo e do carreirismo político. Pode ser que muitos deles não
tenham a plena consciência desses posicionamentos por já os terem
consolidado como valores; entretanto, são valores equivocados.
O núcleo comum, sem pragmatismo excessivo, deve contemplar um
conjunto de competências que promovam efetivamente o aprendiz nos
campos da linguagem, da matemática, das ciências (incluindo-se a
filosofia) e o esporte (educação física) como estratégia disciplinar. Por sua
vez, cada sistema educacional, dentro das características próprias de sua
identidade ou vocação, pode oferecer outros conteúdos como formação
religiosa, música, arte,...
Enfim, deve-se pensar na educação como processo de libertação e
crescimento, sem demagogias de tolas bandeiras, com sinceridade.
Belo Horizonte, 21 de outubro de 2016.
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