Doenças Sexualmente Transmissíveis 1-A Vagina Normal A vagina normal apresenta mecanismos anatômicos e fisiológicos que dificultam a proliferação de organismos patogênicos em seu interior. A própria vulva apresenta características anatômicas de defesa da vagina. São elas o tegumento, a pilificação e a coaptação adequada dos pequenos lábios. A secreção vaginal normal é composta por células esfoliadas, tanto vaginais quanto cervicais, secreções de glândulas sebáceas, sudoríparas, de Bartholin e de Skene, muco cervical, microorganismos da flora vaginal e seus metabólitos. Muitos dos componentes da secreção vaginal normal são dependentes de hormônios. A secreção de muco cervical por exemplo é maior na metade do ciclo menstrual,quando o estímulo estrogênico é máximo. Outro fator que é determinado por hormônios é o tipo celular predominante nesta secreção. Sob estímulo estrogênico, predominam as células superficiais. Sob o estímulo da progesterona, predominam as células intermediárias. E sob nenhum estímulo predominam as células parabasais. Consequentemente, o estímulo estrogênico é fator de proteção contra infecções. A lâmina basal vaginal é rica em células de defesa como macrófagos, linfócitos, mastócitos, células de Langerhans, eosinófilos e plasmócitos. O muco cervical, além de ser uma barreira mecânica contra a ascenção de patógenos, contém substâncias bactericidas tais como a lisosima e a lactoferrina.. Um dos mecanismos de defesa mais importantes é a flora microbiana comensal, predominantemente aeróbica, com uma média de 6 espécies bacterianas, sendo a principal os lactobacilos produtores de peróxido de hidrogênio. Sob o estímulo do estrogênio, as células epiteliais vaginais produzem glicogênio e o clivam em monossacarídeos que são metabolizados pelos lactobacilos em ácido lático. Talácido garante a manutenção do pH vaginal em torno de 4,5, o que confere uma proteção bioquímica contra infecções.. É importante saber que algumas situações são fatores de risco para infecções vaginais: diabetes mellitus, ingestão de esteróides, traumas, uso de lubrificantes vaginais, absorventes internos e externos, depilação exagerada e freqüente, roturas perineais, prática de coito não convencional, uso de DIU e estados hiper ou hipoestrogênicos. 2 – Vulvovaginites A) Candidíase Vulvo-vaginal - Agente etiológico: 90% dos casos é a Cândida albicans. Não é considerada uma DST pois a transmissão não é predominantemente sexual. Trata-se de um fungo dimérfico, que apresenta-se na forma de blastóforos, responsáveis pela transmissão e colonização assintomática, e na forma de micélios, compostos por hifas e esporos e responsáveis pela colonização sintomática. A invasão da mucosa ocorre devido à liberação de bradicininas e prostaglandinas, as quais são responsáveis pelos sintomas de prurido, edema e eritema. Ao que parece, é necessário uma concentração maior que 10000/ml para a infecção ser sintomática. A cândida é um dos poucos organismos capazes de se beneficiar do pH ácido vaginal. Os fatores predisponentes para a infecção são: diabetes mellitus e gestação (as quais diminuem qualitativamente a imunidade local), uso de antibióticos (que altera a concentração da flora bacteriana local,facilitando a proliferação da C. albicans), outras situações imunossupressoras, uso de roupas íntimas de lycra e os fatores de risco comuns a grande parte das vulvovaginites. - Clínica: os sintomas mais encontrados são prurido, ardor, disúria, dispareunia e corrimento inodoro. Prurido é o sintoma mais frequentemente relatado. A disúria deve ser caracterizada particularmente por ser de caráter diferente. Chama-se de disúria externa (ou disúria por salpicos) que ocorre devido ao contato da urina com pele ou mucosa vulvar inflamada. No exame físico deve-se inicialmente observar a vulva. Normalmente há eritema e edema da pele dos lábios e vulvar. Pode haver lesões papulares e corrimento aderido a uma vagina eritematosa. No exame especular observase um corrimento esbranquiçado, grumoso, inodoro e aderido a mucosa. Se a infecção for por C. glabrata, pode não haver um corrimento, apenas um eritema vaginal. -Diagnóstico: normalmente clínico; utiliza-se como complemento um exame a fresco do corrimento vaginal. Em até 80% dos casos observam-se no exame a fresco elementos fúngicos. O teste de pH normalmente está sem alterações. Teste das aminas negativo. Se não forem visualizados hifas e esporos na lâmina, pode-se proceder a cultura de fungos em meio de agar-Sabouroud ou meio de Nickerson. Normalmente não são recomendados em vista dos custos e do tempo necessário ao diagnóstico. -Diagnóstico diferencial com dermatite atópica, vulvovaginite atrófica, hiperssensibilidade e traumas decorrentes de relação sexual. - Tratamento: o tratamento é dividido em situação não complicadas, complicadas e recorrentes. * Tratamento de infecções não-complicadas: episódios esporádicos, sintomas leves a moderados, mulher hígida e não-gestante. A eficácia do tratamento tópico e oral é a mesma. Utilizam-se prefencialmente os derivados de azóis,cuja eficácia é superior a da nistatina. *Tratamento de infecções complicadas: diabetes mal controlado, imunossupressão, outras doenças vulvovaginais, cândida não-albicans, gravidez e sintomas severos. Indica-se o tratamento com derivados azólicos tópicos por 7 a 14 dias ou 2 doses de terapia oral espaçadas por 72 horas. Há presença de falha terapêutica em 50% dos casos de C.glabrata com o uso de azólicos. Pode-se nesses casos fazer tratamento com ácido bórico tópico, 600mg/dia por 14 dias (eficaz em 70% dos casos de C. glabrata), flucitosina creme 4% por 14 dias (eficaz em 90% dos casos de glabrata – antifúngico fluorado sintético). * Tratamento de infecções crônico-recorrentes: definida como 4 ou mais episódio sintomáticos por ano. Trata-se com cetoconazol (200mg 12/12h) ou fluconazol (150mg a cada 3 dias) até a resolução dos sintomas. Após isso, devem ser mantidas doses profiláticas durante 6 meses, com cetoconazol (100mg/dia) ou fluconazol (150mg/semana). * Tratamento na gravidez: segundo o CDC e a Febrasgo somente os azólicos tópicos são recomendados, devendo ser utilizados por 7 dias, sendo o preferido o isoconazol. Podem também ser recomendados banhos de assento com bicarbonato de sódio (30 a 60 g diluídos em 1000ml) Não é necessário tratar o parceiro sexual, pois esta não é a principal via de transmissão. Trata-se o parceiro apenas nos casos em que este for sintomático ou em casos de infecção recorrente. A identificação do fungo na cultura ou no preventivo na ausência de sintomas não é indicação de tratamento. B) Tricomoníase - Agente Etiológico: Trichomonas vaginalis é um protozoário anaeróbio, capaz de produzir hidrogênio, o qual reage com o oxigênio produzindo um ambiente anaeróbio. É altamente transmissível pela via sexual, chegando a 70% de chance de tranmissão da mulher para o homem em um único contato sexual. Estima-se que a transmissão do homem para a mulher seja ainda maior. - Clínica: a mulher afetada pode permanecer por longo tempo assintomática. Normalmente, após a infecção há um período de incubação de 4 a 28 dias, quando então, em 50% dos casos surge um corrimento, que pode ser de qualquer cor, bolhoso e com odor. O quadro é frequëntemente associado com cervicite, vaginite, uretrite e até DIP. Outros sintomas que podem aparecer é eritema e edema vaginais, prurido e irritação vulvar e colpite macular (também chamada de colo em “morango”, que consiste em pequenas sufusões hemorrágicos no colo uterino, correspondentes a inoculações do T. vaginalis). O quadro clínico é muito frequentemente associado com vaginose bacteriana. - Diagnóstico: (1) o pH vaginal costuma ser maior que 5; (2) o exame a fresco pode evidenciar protozoários flagelados móveis; (3) o C.O. pode ser um método, mas tem apenas 60-70% de sensibilidade e apresenta 8% de falsos-positivo; (4) a cultura em meio de Diamond é extremamente sensível e específica, porém recomendada apenas para diagnóstico em crianças ou em casos de esfregaços repetidamente negativos. Caso a investigação seja positiva, deve-se obrigatoriamente rastrear infecções de Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis. Individualizando cada caso, pode caber a investigação de sífilis e HIV. - Tratamento: o tratamento ideal é com metronidazol 2g VO dose única, ou espaçado em 500mg de 12/12h por 7 dias. Não deve-se utilizar tratamento tópico. Os casos que não respondem ao tratamento inicial devem ser tratados com metronidazol 500mg, duas vezes ao dia por 7 dias. Se ainda assim não houver resolução do caso, a paciente deve ser tratada com metronidazol 2g ao dia por 3 a 5 dias. Se o caso ainda assim for refratário, deve-se fazer uma investigação minuciosa e lançar mão de culturas do parasita para determinar sua suscetibilidade ao metronidazol. Outras drogas que podem ser utilizadas são o Secnidazol 2g dose única e o Tinidazol dose única. * Deve-se sempre tratar o parceiro sexual * O tratamento na gestação deve ser feito com metronidazol e a escolha é por via oral. Apenas deve-ser feito após o primeiro trimestre. Tratam-se apenas os casos sintomáticos. C) Vaginose Bacteriana É a principal causa de vaginite em mulheres na menacme. Usa-se o termo vaginose devido à ausência de processo inflamatório exuberante. Consiste em um desequilíbrio na concentração dos lactobacilos, o que predispõe a proliferação de bactérias anaeróbias, Gardnerella vaginalis e até mesmo Micoplasma hominis. Imagina-se que isto ocorra pela menor produção de ácido lático pelos lactobacilos o que aumenta o pH vaginal. - Fatores de Risco: múltiplos parceiros sexuais, uso de DIU, duchas vaginais, tabagismo e sexarca precoce. - Clínica: 50-75% das mulheres são assintomáticas; os sintomas mais frequentemente presentes são corrimento de odor fétido, que piora após as relações sexuais e no período menstrual. - Diagnóstico: é necessário preencher 3 entre 4 critérios para se diagnosticar a VB; três desses 4 critérios também estão presentes na tricomoníase. a - pH vaginal superior a 4,5 b - leucorréia cinzenta, aderida às paredes vaginais c – teste das aminas positivo d – exame a fresco demontrando clue-cells (células epiteliais vaginais recobertas por bactérias, que a fazem perder seu contorno preciso; é o achado mais confiável de VB) A cultura não tem papel no diagnóstico, visto que não há um organismo causador específico. O achado de gardnerella não é sinônimo de VB, pois pode ser encontrada em 50% das mulheres assintomáticas. * O C.O. não é confiável para o diagnóstico de VB - Tratamento: só devem ser tratadas as pacientes sintomáticas ou as que serão submetidas a procedimentos ginecológicos, pois se resolve espontaneamente em 1/3 das pacientes. O tratamento pode ser feito com metronidazol ou clindamicina por via oral ou tópica. Ambas têm eficácia semelhante, embora pela via oral haja maiores efeitos colaterais. - Metro 500mg VO de 12/12h por 7 dias - Metro gel a 0,75% vaginal, por 5 dias - Clinda 300mg VO de 12/12 por 7 dias - Clinda creme a 2% vaginal por 7 dias (menos eficaz que o metro) * Alternativas: metronidazol 2g VO dose única, clindamicina óvulo por 3 dias, tianfenicol, secnidazol, tinidazol, ampi e amoxi com taxas muito baixas de cura. * Em caso de recorrência deve-se fazer metro gel 0,75% vaginal por 10-14 dias, e após fazer 2 a 3 vezes por semana por 3 a 6 meses. * Não deve-se tratar o parceiro * Na gestação tratam-se as sintomáticas com preferência de metro ou clinda VO, após o 1 trimestre. Em gestantes assintomáticas o tratamento é controverso, apesar da associação de VB com TPP e endometrite pós-parto. 3 – Cervicites - Agentes Etiológicos: Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis, Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealiticum, Herpes simplex vírus, bactérias da flora vaginal e Trichomonas vaginalis. Clamídia e gonococo são os principais. - Fatores de Risco: múltiplos parceiros sexuais, novo parceiro sexual, má-condição sócio-econômica, ectopia cervical, adolescentes, história de DST prévia. - Clínica: cerca de 60% dos casos são assintomáticos. Os sintomas mais comuns são sangramento vaginal pós-coital, sangramento vaginal anormal e disúria. A cervicite por gonococo e por clamídia apresentam quadros clínicos parecidos. No entanto, a evolução da clamídia é mais arrastada e leva a maiores danos a longo prazo. Ambas podem ascender e gerar processo inflamatório pélvico. O gonococo pode também gerar infecções em orofaringe e disseminada. O exame pode mostrar um colo friável, com corrimento endocervical purulento. Esses sinais estão presentes em cerca de 1/3 das mulheres acometidas por clamídia. - Complicações: bartholinite, DIP, Sd de Fitzhugh-Curtis (perihepatite) e artrite reativa. Na gravidez a infecção por clamídia pode causar TPP, baixo peso ao nascer, pneumonia neonatal, conjuntivite no RN por clamídia. - Diagnóstico: cultura em meio de Thayer-Martin é o padrão ouro para gonococo.Para a clamídia pode-se utilizar cultura (caro), imunofluorescência direta, ELISA, PCR é o padrão ouro. - Tratamento: o tratamento é o mesmo para as uretrites masculinas. É feito empiricamente objetivando cobrir tanto clamídia quanto gonococo. A clamídia é sensível às tetraciclinas e aos macrolídeos (azitromicina 1g vo,dose única; doxiciclina 100mg 12/12h por 7 dias). Para gonococo pode-se usar a ceftriaxona 125mg IM, ofloxacina, ciprofloxacina, cefixima, e a levofloxacina. * O parceiro sempre deve ser tratado * Na gravidez pode-se utilizar o esquema ceftriaxona-azitromicina. Caso seja alérgica a cefalosporinas, recomenda-se sua dessensibilização. * Deve-se pesquisar HIV e sífilis. 4 – Doença Inflamatória Pélvica A – Introdução Corresponde a 5-10% das internações de emergências ginecológicas. É uma síndrome clínica representada pelo acometimento dos órgãos genitais superiores. As apresentações clínicas possíveis são: endometrite, salpingite, pelviperitonite e abscesso tubo-ovariano. Apesar da abordagem terapêutica ser semelhante, deve-se afastar condições associadas ao ciclo grávido-puerperal ou manipulações cirúrgicas ou diagnósticas, pois a etiopatogenia é diferente. B – Fatores de Risco Adolescentes, nível sócio-econômico baixo, multiplicidade de parceiros sexuais ou novos parceiros, coito no período menstrual (pela ausência de proteção do muco cervical e presença de um meio de cultura fisiológico, o sangue), DST’s prévias, cervicites e uretrites, tabagismo (co-fator imunossupressivo), DIU (interfere no mecanismo de defesa do endométrio – aumenta o risco em 3-5 vezes – aumenta o risco por infecção do Actinomices israelli), o não uso de métodos de barreira ou de contrceptivos hormonais (manutenção do muco cervical e diminuição do sangramento). C – Etiopatogenia A DIP é caracterizada pela ascensão de microorganismos pelo trato genital de forma planimétrica ascendente, de forma espontânea ou por manipulação. A gênese da DIP é polimicrobiana. Os microorganismos da flora vaginal geralmente são inócuos. Porém, podem participar de alguns casos. Por isso é feita a diferenciação em patógenos primários e secundários. Os primários desencadeiam o processo de inflamação do trato genital superior e cerca de 90% dos casos de DIP são provocados por agentes etiológicos de DST. Os secundários em condições normais não causam infecção. Somente após uma lesão tecidual provocada pelos primários é que aqueles podem desenvolver uma infecção oportunista. Acredita-se que a Clamídia seja o maior causador de DIP. D – Agentes Etiológicos Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, micoplasmas, Ureaplasma urealyticum e alguns anaeróbios. E – Clínica É variável a presença dos diversos sinais e sintomas. A apresentação varia conforme a paciente e o agente etiológico. - Endocervicite: secreção vaginal purulenta ou muco purulenta. - Salpingite: dor em abdome inferior é o sintoma mais freqüente. - Endometrite: alteração do ciclo menstrual, com sangramentos discretos. - Perihepatite: síndrome de Fitzhugh-Curtis. As manifestações incluem dor pleurítica a direita e dor em hipocôndrio direito. - Uretrite: disúria, urgência e freqüência. - Peritonite: sinais de irritação peritoneal e sintomas sistêmicos como febre, náuseas e vômitos. A evolução habitual da DIP consiste em corrimento vaginal purulento, dor em abdome inferior ou sangramento vaginal, evoluindo então para sinais de irritação peritoneal. A DIP gonocócica normalmente apresenta início mais agudo. A DIP por clamídia pode evoluir de forma mais indolente. Em pacientes usuárias de DIU a infecção pode ser por Actinomices israelli e é de evolução normalmente gradual. A DIP que cursa com abscesso tubo-ovariano normalmente tem etiologia polmicrobiana. Tanto a salpigite como a cervite estão associadas com clamídia e com gonococo. No exame físico normalmente se observa queda do estado geral, febre, dor à palpação de andar inferior do abdome (principalmente na salpingite), dor em hipocôndrio direito e epigástrio (traves fibrosas entre o peritônio e a cápsula de Glisson), dor à mobilização do colo uterino e fórnices vaginais, os quais podem estar abaulados por presença de abscesso, especular pode apresentar corrimento purulento oriundo do OCE (detectado na maioria dos casos causados por clamídia e gonococo). F – Exames Complementares - Hemograma com leucocitose e desvio a esquerda presente em meos de 50% dos casos. Não tem muito valor diagnóstico. - VHS e PCR: inespecíficos. Úteis no acompahamento, assim como o hemograma. - PU: avalia de modo grosseiro o comprometimento uretral - Culdocentese: raramente necessária. - Avaliação microbiológica: cultura de material coletado do OCE - US: útil para avaliar a presença de líquido livre em fundo de saco vaginal, aumento de espessura endometrial e presença de massa anexiais. - TAC: importante no dx diferencial de abscessos pélvicos. - RNM: mesma função da TAC - RX de abdome: sensibilidade baixa; útil apenas em casos avançados de peritonite. - Histeroscopia: útil para detectar as conseqüências da DIP - Biópsia de endométrio: útil para diagnóstico de endometrite; é relatada associação de 75% dos casos de endometrite com salpingite confirmada por laparoscopia. - VLP: padrão ouro no diagnóstico de DIP; G – Critérios Diagnósticos Para se obter um diagnóstico de DIP deve-se ter um critério elaborado ou três critérios maiores e um menor. - Critérios Maiores: dor em abdome inferior dor à palpação de anexos dor à mobilização do colo uterino - Critérios Menores: febre secreção vaginal ou cervical anormal massa pélvica hemograma indicando infecção VHS ou PCR elevada Comprovação laboratorial de infecção por gonococo, clamídia ou micoplasma. - Critérios Elaborados: evidência histopatológica de endometrite abscesso tubo-ovariano em estudo de imagem achados de VLP compatíveis com DIP H – Diagnóstico Diferencial Causas ginecológicas: abortamento, ectópica, ruptura ou torção de cisto ovariano, sangramento do corpo lúteo, Mittelschmerz (dor do meio do ciclo), dismenorréia ou degeneração de miomas. Causas não-ginecológicas: apendicite, diverticulite, linfadenite mesentérica, obstrução intestinal, ITU, litíase urinária, verminoses, constipação crônica, cólon irritável, enterite, etc... I – Classificação - ESTÁGIO 1: endometrite e salpingite aguda sem peritonite - ESTAGIO 2: salpingite com peritonite - ESTAGIO 3: salpingite aguda com oclusão tubária ou comprometimento tuboovariano - ESTAGIO 4: abscesso tubo-ovariano roto com secreção purulenta na cavidade J – Tratamento O tratamento para DIP quase sempre deve ser iniciado precocemente e demaneira empírica visando a cobrir clamídia e gonococo. As falhas terapêuticas ao tratamento inicial chagam a 20%. Em pacientes graves é recomendado colher hemocultura. Como medidas gerais, a paciente deve permanecer em repouso absoluto, abstinência sexual, retirar DIU (após 6h de ATB), tratamento sintomático com AINES e analgésicos. Tratamento ambulatorial é indicado se a paciente apresentar temperatura menor que 38˚ C, leucocitose inferior a 11000, ausência de sinais clínicos de peritonite, peristalse presente e boa tolerância por alimentação VO. Os esquemas possíveis recomendados pelo CDC são, para casos leves e oligossintomáticos, vários possíveis, incluindo: doxiciclina (14d), tetraciclina(14d), norfloxacina dose única+doxiciclina por 14d; ceftriaxona IM dose única + cefalosporina equivalente + doxiciclina 14d; levofloxacina por 14 dias. Para os casos leves e com comprometimento sistêmico mais intenso devese utilizar ofloxacina+doxiciclina+metronidazol por 14 dias. Tratamento hospitalar é indicado quando o diagnóstico for incerto, quando não se pode excluir emergências cirúrgicas, presença ou suspeita de abscesso intra-cavitário, gestantes, usuárias de DIU, adolescente, temperatura axilar superior a 38˚, náuseas e vômitos, incapacidade de seguir ou tolerar o tratamento ambulatorial, ausência de resposta ao tto ambulatorial e imunodepressão. Os esquemas recomendados pelo CDC são: cefoxitina 2g EV 6/6h ou cefotetan 2g 6/6h EV + doxiciclina 100mg 12/12 VO ou EV; gentamicina 60-80mg EV de 8/8h + clindamicina 600-800mg EV de 8/8h ou tianfenicol 750mg EV de 8/8H; gentamicina 60-80mg EV 8/8h + Penicilina G cristalina 5milhões de UI EV de 4/4h; Genta+metro; genta+metro+pen G; ofloxacina + metro ou clinda; amoxicilina+clavulanato+doxiciclina; ciprofloxacina+doxiciclina+metronidazol. Tratamento cirúrgico só é indicado na falhado tratamento clínico(ausência de resposta por 72H), presença de massa pélvica mesmo após o tto clinico, dúvida diagnóstica (DIP, apendicite, esctópica), suspeita de rutura de abscesso, hemoperitônio, abscesso de fundo de saco de Douglas quando não for possível a sua resolução por colpotomia. A laparotomia fica reservada para casos emergenciais. A VLP pode ser feita se as condições clínicas permitirem. Outras recomendações do tratamento são: tratar o parceiro sexual, coletar sorologia de outras DST, deve ser avaliada trimestralmente no primeiro ano, alguns autores recomendam a realização de VLP após 180 dias para avaliar o fator tubo-peritoneal com interesse reprodutivo. K – Seqüelas Infertilidade por fator tubário e diretamente proporcional à intensidade da inflamação, dor pélvica crônica (20% dos casos), dispareunia (até 50%), infecção recidivante (até 15%) e prenhez ectópica. * A FEBRASGO tem um fluxograma de atendimento à paciente com dor pélvica aguda, o qual eu me recuso a colocar aqui. L – VLP Os achados videolaparoscópicos encontrados podem ser de 3 tipos: forma catarral, com útero e trompas edemaciados, com vasos sanguíneos dilatados, trompas sem mobilidade, com possível saída de secreção das trompas à expressão, peritôneo edemaciado por congestão vascular, pouco líquido livre e não costuma ter aspecto purulento; estado de aderências, com aderências frouxas entre os órgãos, trompas espessas e encurtadas e pode haver pus saindo pelos óstios tubários; abscessos pélvicos.