PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E FILOSOFIA Projeto Comunicação e Arte – interfaces José Maurício Conrado Moreira da Silva São Paulo Julho 2005 SUMÁRIO 1-Resumo 2-Relatório de atividades 3-Relatório científico 4-Próximas etapas 5- Bibliografia 1-RESUMO O projeto “Comunicação e Arte - interfaces” é um projeto interdisciplinar unindo, num enfoque geral, Comunicação e Arte e, num enfoque específico, multimeios, artes performáticas (do corpo), arte em rede e audiovisual. Possui três subprojetos dos pesquisadores que compõem o “Grupo de Pesquisa em Multimeios” sendo eles suportados por atividade de IC. A principal linha de pesquisa do grupo é “Comunicação e Arte: interfaces” que reflete e intitula o trabalho geral de pesquisa do mesmo. Esse grupo surgiu atrelado à idéia de implantar-se um “Núcleo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Multimeios” , voltado para uma reflexão sobre Arte e Linguagem, nas áreas de vídeo, animação e hipermídia. O subprojeto “O Potencial Performático e as interfaces experimentais em hipermídia” refere-se ao relatório em questão. O Potencial Performático e as interfaces experimentais em hipermídia Resumo Esse projeto apresenta-se vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Multimeios e ao seu Grupo de Pesquisa. Ele apresenta uma quantidade de conteúdos que se referem à parte já desenvolvida, aqui tratada como “Resultados Obtidos”, pois é um projeto já em andamento, e outra parte que objetiva a continuação da pesquisa. As informações aqui apresentadas contribuem para o levantamento e criação de dados aplicados a pesquisa geral do grupo intitulada “Comunicação e Arte: Interfaces”. A especificidade de tema deste projeto é a de voltar-se para o problema da criação de produtos teóricos e práticos que resultam da relação Comunicação e Arte, no seu recorte hipermidiático, numa correlação com a idéia do “Potencial Performático”. Devido à metodologia de pesquisa, a questão do experimento é levada em conta com muita ênfase. 2- RELATÓRIO DE ATIVIDADES 1. Leitura de textos correlacionados ao projeto de pesquisa: BAITELLO, Norval. O animal que parou os relógios. GREINER, Christine indisciplinares. GREINER, Christine e AMORIM, Claudia (Org.). Leituras do Corpo. JOHNSON, Steven. Cultura da Interface. _______________. Dinâmica da rede. KATZ, Helena e GREINER, Christine. A natureza cultural do corpo in Lições de Dança. LEÃO, Lucia (Org.). Interlab – Labirintos do pensamento contemporâneo. LEOTE, Rosangella. O Potencial Performático no meio eletrônico – Das novas mídias às performances biocibernéticas. MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento. __________. De Máquinas e Seres Vivos – Autopoiese: A organização do vivo. .O Corpo. Pistas para estudos NETTO, J. Teixeira Comunicação. SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. __________. Por que a comunicação e artes estão convergindo. SIBILIA, Paula. O Homem Pós-orgânico: Corpo, Subjetividade e Tecnologias Digitais Coelho. Semiótica, Informação e 2. Participação/colaboração na performance de Rosangella Leote “Abundância” na inauguração da exposição “Cinético Digital” no Itaú Cultural 3. Participação como palestrante no “ I ENCONTRO CARNAVAL INTERNET na UERJ em Julho de 2005 3-RELATÓRIO CIENTÍFICO 1- INTRODUÇÃO Esta pesquisa tem como objetivo analisar as possibilidades artístico-performáticas na relação corpo e tecnologia. Para tanto, são necessários os entendimentos de alguns conceitos pertinentes ao desenvolvimento do trabalho, tais como: Cultura, Comunicação, Arte, Corpo, Ambiente, Performance, Processo, Linguagem e Interatividade. Estes serão nossos primeiros passos. A busca de relações entre estes conceitos estrutura esta análise aplicando-se fundamentalmente à busca pelo entendimento do que significa a existência de interface(s) entre contextos distintos e singulares. A existência de interfaces indica sobretudo a existência de um fluxo de conexões, possibilidades de construção de redes. Estes mesmos conceitos que buscamos compreender apresentam interface(s) entre si mesmos. Da mesma forma, hoje constata-se a existência de conexões entre áreas do conhecimento. Por exemplo, há “interfaces” entre o universo da comunicação e o universo das artes, como detectou Lúcia Santaella em Por que a comunicação e artes estão convergindo(2004). Assim como existem interfaces entre a ciência, a filosofia e demais ciências humanas. Outro pesquisador, Muniz Sodré em Antropológica do espelho(2002) argumenta que não há mais como pensar em termos de contextos isolados entre áreas de conhecimento, e as tradicionais barreiras entre os campos do saber encontram-se em pleno processo de fluidez. Este processo de troca e trânsito entre contextos e áreas singulares é portanto a estrutura desta pesquisa, e enfatiza seu objetivo: analisar as conexões entre corpo e tecnologia e suas possibilidades performáticas conectando tais análises às possibilidades de interface entre a comunicação e a arte. 2- PERFORMANCE E POSSIBILIDADES PERFORMÁTICAS- HIPÓTESES, RECORTES E CONEXÕES TEÓRICAS. As possibilidades performáticas são descritas por Rosangella Leote (2001) como Potencial Performático. Este conceito é gerador de uma hipótese geral, que sustenta este trabalho, e que está apresentada no projeto que dá origem a este relatório: O Potencial Performático, que em linhas gerais é um elemento estético relacionado à performance como linguagem e que pode ser encontrado em outras linguagens, que não a performática, deve aparecer com mais facilidade nas obras realizadas utilizando-se interfaces com o corpo, ali acopladas, ou a partir dele desenvolvidas, de maneira experimental. Um conjunto de hipóteses secundárias foi levantado como possibilidade de entendimento das relações/interfaces entre corpo e máquina. Relações/Interfaces que indicam o Potencial Performático que busca ser detectado em diversos trabalhos que relacionam corpo e tecnologia. Assim, tendo como ponto de partida o conceito de “Acoplamento estrutural” proposto por Maturana&Varella (2003) estas hipóteses secundárias desdobram a hipótese geral possibilitando recortes ao tema pesquisado. As três primeiras hipóteses secundárias enfatizam, assim, a existência de uma correlação sistêmica entre partes singulares: 1. "A idéia do acoplamento estrutural desenvolvida por Maturana e Varela, pode dar conta de compreender a relação homem-máquina dentro de um campo estético" 2. "Para compreender-se um acoplamento estrutural é necessário tomar uma medida distintiva, que permita a observação das partes, sem no entanto examiná-las com o descuido dos elementos correlacionados" 3. "Parte-se da visão de um corpo conectado de maneira simbiótica ao sistema do qual é parte. Essa ligação se dá de tal modo que nem mesmo a destruição desse corpo pode retirá-lo da inter-relação do sistema" Este relatório parcial dá ênfase à segunda hipótese, tendo em vista que as demais estão sendo discutidas por Isabella Targas e Marina Rago Moreira. A idéia inicial é pesquisar separadamente tais hipóteses, apontando interfaces entre as mesmas, e num momento posterior proporcionar uma reflexão conjunta das análises levantadas. Em relação ao nosso enfoque temos, neste primeiro momento, a necessidade de apontar o conceito de “Acoplamento estrutural”: “Enquanto uma unidade não entrar numa interação destrutiva com o seu meio, nós, observadores, necessariamente veremos que entre a estrutura do meio e a da unidade há uma compatibilidade ou comensurabilidade. Enquanto existir uma compatibilidade ou comensurabilidade, meio e unidade atuarão como fontes de perturbações mútuas e desencadearão mutuamente mudanças de estado. A esse processo continuado, demos o nome de acoplamento estrutural” (Maturana e Varela 2003: 112). Como acoplamento estrutural em nossa pesquisa temos as relações entre comunicação e arte se compatibilizando e processando-se continuamente entre as relações com o corpo e tecnologia. Como “observação das partes correlacionadas” entendemos analisar o corpo, assim como analisar seus ambientes. Por ambientes, entende-se contextos sócioculturais, contextos espaciais e também contextos tecnológicos. Designar a tecnologia como ambiente é uma possibilidade de entendimento da questão do acoplamento estrutural. Ao falarmos de relações entre corpo e ambiente é necessária atenção a estudos desta área. Para tanto, o conceito de “corpomídia” desenvolvido por Helena Katz e Christine Greiner é bastante pertinente. Estas pesquisadoras tem desenvolvido uma pesquisa acerca do Corpo como objeto de comunicação no programa de estudos pós graduados em Comunicação e Semiótica na PUC-SP. Segundo Christine Greiner (2005): “...o corpomídia nutre a possibilidade de conectar tempos, linguagens, culturas e ambientes distintos. Para estudá-lo, é inevitável construir pontes entre diferentes campos de conhecimento (as ciências cognitivas, a filosofia, teorias das comunicação e da arte), o que implica em algumas escolhas irreversíveis. (Op.cit. 11) Os desdobramentos da tecnologia como continuidade do corpo, ao mesmo tempo, em que comporta-se também como ambiente deste é uma possibilidade de ler o corpo como sistema se correlacionando a outros sistemas em estrutura processual. O argumento proposto pelas teorias evolutivas da cultura, das quais Katz&Greiner fazem parte, de que corpo e ambiente são processos co-evolutivos propicia analisar e correlacionar-se às hipóteses estruturadas pelo já citado conceito de Maturana&Varella. Tendo em vista tais recortes temáticos, o desenvolvimento inicial deste relatório parcial prevê a discussão do conceito de cultura, sua correlação com os estudos sobre comunicação e arte. 3-(RE)LENDO O CORPO E SUAS INTERFACES CONCEITUAIS Se estamos admitindo a existência de sistemas em correlação contínua, sistemas que processam um trânsito constante de informações entre suas singularidades, estamos, então, partindo de uma visão sistêmica da cultura. Indicar um conceito que partilhe desta concepção é vital para este trabalho. Se estamos admitindo, também, a correlação entre os conceitos propostos por Maturana&Varella sobre “acoplamento estrutural” e o conceito acerca do “corpomídia” proposto por Katz&Greiner, vale ressaltar a idéia de que a cultura é um sistema aberto: “...apto a contaminar o corpo e aser por ele contaminado e não influenciá-lo ou ser a causa de mudanças visualmente perceptíveis nele” Katz&Greiner (1999:96) Daqui, entende-se que a tecnologia seja um acoplamento estrutural do corpo, mas também seu caminho inverso, ou seja, o corpo como acoplamento estrutural da tecnologia. Assim, se admitimos um trânsito permanente de informações entre contextos singulares em correlação, não é difícil perceber, por exemplo, que o homem cria cultura, assim como é recriado pela mesma. Não há como pensar a cultura como um objeto estático e monolítico. A cultura é vista, então, como “criatura e criadora”. È interessante apontar estudos permeáveis a esta lógica. Uma contribuição importante para os estudos da comunicação pode ser a semiótica da cultura, disciplina surgida na União Soviética em meados do século XX: “...e que estuda a cultura como macro sistema comunicativo que perpassa todas as manifestações e como tal deve ser compreendido para que se possam compreender as manifestações culturais individualizadas.” Baitello (1997:18-19) A cultura, vista como texto por estes estudos, é assim um conjunto de informações em constante processo de transformação que pode então ser “lida”. A noção de texto da cultura extrapola, então, a noção de leitura verbal. Para a semiótica da cultura considera-se a possibilidade de ler qualquer manifestação cultural como texto. Imagens, sons, aromas, ou seja, toda a infinidade de objetos que constituem a cultura. A noção de acoplamento estrutural relaciona-se intimamente com a noção de texto da cultura, uma vez que estamos “lendo” o corpo, e suas relações com a tecnologia admitida como cultura. A noção de corpomídia admite justamente este posicionamento, o corpo como produto e produtor da cultura e todos seus objetos constituintes: tecnologia, técnicas, produção simbólica, linguagens verbais, imgéticas, sonoras e também suas fusões( linguagens hibridas, como a audiovisual, por exemplo), entre outros. Cabe, agora, entender relações mais específicas entre o “acoplamento estrutural”, o “corpomídia”,, cultura em processo textual, e o conceito de Performance, para prosseguirmos na análise relacional entre corpo e tecnologia e suas possibilidades performaticas. Daí que o próximo passo seja correlacionar este conceito de cultura, que admite ler o corpo como texto produtor de outros textos, ao conceito de linguagem artística, da qual a noção de Performance nutre-se continuamente. 4-PRÓXIMA ETAPA 1. Discutir conceitos como Performance, Linguagem, e Arte e correlacioná-los ao entendimento de “acoplamento estrutural”. 2. Detectar em outras manifestações individualizadas da cultura ( Exposições, Performances Cênicas, e outras situações e contextos que propiciem relaçoes de interatividade entre corpo e tecnologia) as possibilidades performáticas. 3. Criação de oficinas 4. Avaliar a relação entre os conceitos e sua aplicabilidade prática. 5. Analisar as seguintes fontes bibliográficas, dentre outras ainda por descobrir: Uma História do espaço de Dante à Internet. De Margareth Wertein Escola de semiótica. Irene Machado 5-BIBLIOGRAFIA BAITELLO, Norval. O animal que parou os relógios. São PauloAnnaBlume, 1997 1ª Edição GREINER, Christine .O Corpo. Pistas para estudos indisciplinares. PauloAnnaBlume, 2005. 1ª Edição São GREINER, Christine e AMORIM, Claudia (Org.). Leituras do Corpo. São Paulo: AnnaBlume, 2003. 1ª Edição. JOHNSON, Steven. Cultura da Interface. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. _______________. Dinâmica da rede. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999 KATZ, Helena e GREINER, Christine. A natureza cultural do corpo in Lições de Dança. Ed.Univercidade.1999 LEÃO, Lucia (Org.). Interlab – Labirintos do pensamento contemporâneo. São Paulo: Iluminuras, 2002. LEOTE, Rosangella. O Potencial Performático no meio eletrônico – Das novas mídias às performances biocibernéticas. Tese de Doutorado. São Paulo: ECA-USP, 2000. MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento. São Paulo: Palas Athena, 2003. __________. De Máquinas e Seres Vivos – Autopoiese: A organização do vivo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 3º Edição. NETTO, J. Teixeira Coelho. Semiótica, Informação e Comunicação. São Paulo: Perspectiva, 1999. 4º Edição. SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias à cibercultura. São Paulo: Paulus, 2003. __________. Por que a comunicação e artes estão convergindo. São Paulo: Paulus, 2004. SIBILIA, Paula. O Homem Pós-orgânico: Corpo, Subjetividade e Tecnologias Digitais. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.