Centro Universitário de Barra Mansa Microbiologia Geral Prof. DSc. Victor Maximiliano Reis Tebaldi NUTRIÇÃO E CRESCIMENTO MICROBIANO O termo crescimento, quando aplicado a organismos unicelulares como as bactérias, refere-se ao aumento do número de indivíduos presentes na população. O aumento é obtido através de divisão binária, processo em que uma célula dá origem a duas outras pela separação do material celular em duas metades equivalentes. Medidas de crescimento A avaliação da população microbiana no habitat natural ainda é a tarefa mais difícil, cujos resultados nem sempre refletem a realidade. Esta dificuldade é gerada pelas próprias características dos microrganismos, cuja diversidade biológica é notável. A população bacteriana é avaliada através da contagem do número de células na amostra por microscopia, contagem de colônias, avaliação da densidade celular por turbidimetria, ou sua atividade enzimática sobre um produto específico. No caso da população fúngica, a avaliação normalmente é feita medindo-se o crescimento das hifas determinando a massa seca. Curva de crescimento bacteriano Nos microrganismos pluricelulares, a multiplicação celular conduz a um aumento do tamanho do indivíduo. Nos organismos unicelulares, a multiplicação celular leva a um aumento do número de indivíduos. O crescimento de uma população bacteriana pode ser limitado pela exaustão de nutrientes disponíveis e pelo acúmulo de substâncias tóxicas. Uma curva de crescimento típica pra uma cultura bacteriana apresenta no mínimo 4 fases principais: A- Fase inicial ou “lag” B- Fase de crescimento exponencial ou logarítmica C- Fase estacionária máxima D- Fase de morte ou declínio A- A fase “lag” – iniciada quando se inocula células velhas em meio novo ou em meios diferentes do anterior. É o tempo decorrido desde a inoculação até o início do crescimento constante. As células aumentam de tamanho; o organismo dormente está absorvendo água; são fisiologicamente ativos; sintetizam enzimas. Não há aumento do número de células, ao contrário, alguns podem até morrer. No final da fase “lag” cada organismo se divide. B- Fase de crescimento exponencial ou logarítmica – quando ocorre taxa de crescimento constante. Todas as células são viáveis. A população é grandemente uniforme em termos de composição química, atividade metabólica e características fisiológicas. C- Fase estacionária máxima – Nesta fase, ocorre o fim do crescimento que pode ser atribuída à exaustão de nutrientes e à produção de produtos tóxicos. A população permanece constante, como resultado da completa cessação de divisões ou o equilíbrio entre o rítmo de reprodução e de morte. D- Fase de morte ou declínio – Nesta fase o número de morte de bactérias é maior do que o número das que continuam se multiplicando. Vários fatores contribuem para que isto aconteça: acúmulo de substâncias inibidoras, como ácidos e etanol, diminuição de nutrientes essenciais, etc. CULTIVO E CRESCIMENTO DE MICRORGANISMOS Fatores físicos para o cultivo dos microrganismos Quatro condições principais influenciam o meio físico de um microrganismo: temperatura, pH, atmosfera gasosa e pressão osmótica. Temperatura Em temperaturas mais favoráveis para o crescimento, o número de divisões celulares por hora, chamado taxa de crescimento, geralmente dobra para cada aumento de temperatura de 10°C. A temperatura na qual uma espécie de microrganismo cresce mais rapidamente é a temperatura ótima de crescimento. Para qualquer microrganismo: as três temperaturas importantes são as temperaturas de crescimento mínima, ótima e máxima. Os microrganismos podem ser divididos em três grupos, de acordo com a variação de temperatura na qual crescem melhor: 1) Psicrófilos – Microrganismos que crescem em baixas temperaturas. Melhores condições de crescimento ocorrem em temperaturas de 15°C a 20°C, embora cresçam em temperaturas mais baixas. 2) Mesófilos – Microrganismos que crescem em temperaturas numa faixa de temperatura média. A maioria dos microrganismos são mesófilos, crescendo melhor em temperaturas que variam de 25°C a 40°C. Microrganismos patogênicos para o homem crescem melhor em torno da temperatura corporal (37°C). 3) Termófilos – A maioria dos termófilos cresce à temperatura em torno de 40°C a 85°C, porém crescem melhor entre 50°C e 60°C. Encontrados em áreas vulcânicas, em misturas de fertilizantes e em nascentes quentes (gêiseres). A maioria dos microrganismos termofílicos são procarióticos; nenhuma célula eucariótica conhecida cresce em uma temperatura superior a 60°C. Ex: Bacillus stearothermophilus As enzimas dos termófilos são produzidas mais rapidamente do que as enzimas dos mesófilos, por isso aquelas que são danificadas pelas altas temperaturas são rapidamente substituídas. A perda de função da membrana citoplasmática em baixas temperaturas pode ser o que determina a temperatura de crescimento mínimo dos termófilos. Atmosfera Gasosa Os microrganismos no seu hábitat natural necessitam de quantidades variadas de gases tais como o oxigênio, dióxido de carbono, nitrogênio e metano. De acordo com a resposta ao oxigênio gasoso, os microrganismos são divididos em quatro grupos fisiológicos: microrganismos aeróbios, facultativos, anaeróbios e microaerófilos. Microrganismos aeróbios – requerem oxigênio para o crescimento e podem crescer em uma atmosfera padrão de 21% de oxigênio. Ex: fungos filamentosos e bactérias dos gêneros Mycobacterium e Legionella. Alguns microrganismos requerem níveis elevados de dióxido de carbono. Ex: Neisseria gonorrhoeae, crescem melhor em uma atmosfera enriquecida com 5 a 10% de CO2. Microrganismos facultativos- Os microrganismos facultativos são aqueles que crescem na presença do ar atmosférico e podem também crescer em anaerobiose. Eles não requerem oxigênio para o crescimento, embora possam utilizá-lo para a produção de energia em reações químicas. Sob condições anaeróbicas, eles obtêm energia por um processo chamado fermentação. Os membros da família Enterobacteriaceae, tais como Escherichia coli, são facultativas, assim como muitas leveduras. Um exemplo é a Saccharomyces cerevisiae, que é uma levedura comum dos pães. Microrganismos anaeróbios- aqueles que podem ser mortos pelo oxigênio, não podem crescer em presença do ar e não utilizam oxigênio, mas os anaeróbios estritos são mortos por uma breve exposição ao gás. Exemplos: - tolerantes ao oxigênio – Clostridium perfringens - anaeróbio estrito – Bacteroides fragilis Observações: Toxicidade devida a formação de radical superóxido. O2 + e - O2- Mecanismos enzimáticos Superóxido dismutase – elimina os radicais superóxido convertendo-os rapidamente em peróxido de hidrogênio. O peróxido de hidrogênio produzido por esta reação pode ser metabolizado por outras enzimas: catalase, que converte peróxido de hidrogênio em oxigênio molecular e água; e peroxidase, que converte peróxido de hidrogênio em água. Jarra para cultivo de bactérias anaeróbicas em placas de Petri. Quando se adiciona água a uma embalagem contendo produtos químicos como bicarbonato de sódio e boroidreto de sódio, ocorre a liberação de hidrogênio e dióxido de carbono. O catalisador de paládio está localizado em uma câmara separada e na sua superfície ocorrerá a reação entre o hidrogênio e o oxigênio do interior da jarra, que combinados formarão água. Dessa forma o oxigênio é removido. Também presente na jarra está um indicador de anaerobiose como o azul de metileno, que tem a coloração azul quando oxidado, tornando-se incolor quando o oxigênio é removido Equipamento utilizado na produção de ambientes ricos em CO2. (a) Placas e tubos inoculados com, por exemplo Neisseria meningitidis são colocados em uma jarra contendo uma vela acesa e a jarra é posteriormente fechada hermeticamente. Através desta metodologia uma atmosfera contendo aproximadamente 3% de CO2 será produzida. (b) O pacote consiste em uma embalagem contendo a placa de Petri e o gerador do gás CO2. O gerador de gás é esmagado misturando os reagentes químicos que contêm e possibilitando o início da reação liberará CO2. Esta gás reduzirá a concentração de oxigênio para aproximadamente 5% dentro da embalagem, produzindo uma concentração de CO 2 de 10%. Microrganismos microaerófilos- são organismos que, assim como os aeróbios, podem utilizar oxigênio nas reações químicas para a produção de energia. Entretanto, ao contrário dos aeróbios, eles não podem resistir a níveis de oxigênio (21%) presentes na atmosfera e normalmente crescem melhor em níveis de oxigênio variando de 1 a 15%. Esta tolerância moderada ao oxigênio deve-se à alta susceptibilidade aos radicais peróxido e peróxido de hidrogênio, que são formados nas culturas incubadas sob condições de anaerobiose. pH Para crescer bem em um meio ácido ou básico, um microrganismo deve ser capaz de manter seu pH intracelular em torno de 7,5, não importando qual o valor do pH externo. Bactérias: mínimo = 4; máximo = 9 Os alimentos tais como chucrute e picles são preservados por ácidos orgânicos resultantes da fermentação bacteriana, uma vez que as bactérias que deterioram os alimentos não podem crescer em valores de pH 3 e 4. Fungos filamentosos e leveduras: variação de pH mais extensa do que as bactérias. O pH ótimo para seu crescimento é mais baixo do que o das bactérias – em torno de 5 a 6. Pressão hidrostática Também pode influenciar o crescimento microbiano. Esta pressão é aquela exercida nas células pelo peso da água que permanece na superfície delas. Os microrganismos têm sido isolados do fundo do oceano, que está a 2500 m abaixo do nível do mar, onde a pressão é maior que 250 bars (250 x a pressão atmosférica). Estes organismos não crescerão em laboratórios a menos que o meio esteja sob uma pressão similar. Os microrganismos dependentes de pressão são chamados barófilos. Eles morrem em um meio com baixa pressão hidrostática porque contém vesículas de gás que se expandem com grande força na descompressão e rompem as células. Pressão osmótica Afeta o crescimento bacteriano, e a água pode ser atraída para dentro ou para fora das células, de acordo com a pressão osmótica relativa criada por substâncias dissolvidas na célula e no meio ambiente. (1) O transporte ativo minimiza os efeitos da alta pressão osmótica do meio ambiente. (2) As bactérias chamadas halófilas necessitam de sal em quantidades que variam de moderada a grande e são encontradas em oceanos e em águas excepcionalmente salgadas. Fatores Nutricionais (Químicos) Todos os organismos necessitam de uma fonte de carbono: (1) Os autótrofos usam o CO2 e sintetizam outras substâncias de que precisam. (2) Os heterótrofos precisam de glicose ou de outra fonte orgânica de carbono a partir da qual obtêm energia, bem como de intermediários para o processo de síntese. Os m.o. necessitam de fontes de nitrogênio orgânico ou inorgânico a partir dos quais sintetizam proteínas e ácidos nucléicos. Também requerem fontes de outros elementos encontrados dentro deles, inclusive enxofre, fósforo, potássio, ferro e muitos oligoelementos. Os microrganismos que não possuem as enzimas para sintetizar vitaminas específicas devem obter estas vitaminas a partir do seu meio ambiente. As necessidades nutricionais de um organismo são determinadas pelo tipo e quantidade de suas enzimas. A complexidade nutricional reflete uma deficiência nas enzimas biossintéticas. A maioria dos microrganismos transporta substâncias de baixo peso molecular através de sua membrana celular, metabolizando-as internamente. Algumas bactérias (e fungos) também produzem exoenzimas, que digerem grandes moléculas fora da membrana celular do organismo. Os microrganismos ajustam-se a suprimentos limitados de nutrientes aumentando a quantidade de enzimas que produzem, sintetizando as enzimas que metabolizam outros nutrientes disponíveis ou ajustando suas atividades metabólicas de modo a crescerem a uma velocidade condizente com a disponibilidade de nutrientes.