relações étnicas e sociabilidade em guarapuava no

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RELAÇÕES ÉTNICAS E SOCIABILIDADE EM GUARAPUAVA NO INÍCIO DO
SÉCULO XX
Flávia Marchione da Silva (UNESPAR)
[email protected]
Palavras-chaves: sociabilidade; relações étnicas; Paraná.
Resumo: O presente trabalho refere-se ao estudo das relações étnicas por meio dos
espaços de sociabilidade constituídos nas primeiras décadas do século XX em Guarapuava
(PR). Busca-se, com esta reflexão, compreender as instituições de clubes específicos (Clube
Guayra e Rio Branco) em suas facetas simbólicas, representativas e identitárias que irão
contrapor negros e brancos numa espacialização discriminatória e ao mesmo tempo
relacional.
Introdução
Como domínio da história a sociabilidade ganhou destaque com os estudos
desenvolvidos pela historiografia européia da segunda metade do século XX, notadamente
os contidos na obra de Maurice Agulhom (1976) que observou que todo grupo humano uma
vez definido no tempo, no espaço e na hierarquia social, possui sociabilidade. Partindo desta
observação, propôs uma valorização maior do tema, um conhecimento efetivo das
sociabilidades pela densidade da existência de associações constituídas e suas mutações
num quadro geográfico e cronológico delimitado.
A noção de sociabilidade refere-se geralmente à situações lúdicas em que há congraçamento
e confraternização entre as pessoas. Ariès (1981) circunscreve neste termo as visitas,
encontros e festas que envolvem trocas afetivas e comunicações sociais além do círculo
familiar. É também momento propício para se afirmar valores e reforçar certos tipos de
relação.
Os espaços de sociabilidade constituem ambiente fértil para o estudo da formação das identidades,
das representações e da produção simbólica uma vez que expressam campos de forças e disputas diversas.
Como afirma Bourdieu (1989):
O campo da produção simbólica é um microcosmos da luta simbólica entre as classes: é ao
servirem os seus interesses na luta interna do campo de produção (e só nesta medida) que
os produtores servem os interesses dos grupos exteriores ao campo de produção.
Esta luta simbólica entre as classes, inclusive de cunho étnico, pode ser encontrada nos
espaços sociais da cidade de Guarapuava onde, no início do século XX, se dá a formação de
dois clubes sociais, sendo um destinado, especificamente para brancos (clube Guayra) e
outro para negros (clube Rio Branco). Tais espaços configuram-se objetos dessa pesquisa.
Materiais e Métodos
O presente trabalho fundamenta-se em fontes documentais, impressas e
iconográficas encontradas no Arquivo Histórico da Unicentro (fotos, atas do clube Guayra e
diversos jornais do período); e também em produção de fontes orais, principalmente para
obtenção de informações sobre o clube Rio Branco.
Resultados e Discussão
A problemática da pesquisa suscita questões importantes para o debate sobre o negro
liberto no Paraná. Entre essas questões podemos citar a singularidade da existência já no
início do século XX, de um espaço de sociabilidade – e representatividade - exclusivamente
negra que pode ser entendido como resistência à instituição do espaço branco (Clube
Guayra); o qual, embora não discriminasse explicitamente os negros proibia a entrada ou
associação de criados e amas, condição na qual se encontrava a maioria dos negros.
Apesar da espacialização desses grupos e da relação de alteridade estabelecida entre
eles, ambos tiveram grande relevância e prestígio social no período estudado. Exemplo disso
é a exceção estabelecida para que as diretorias dos clubes pudessem se tornar sócias umas
das outras, ou seja, diretores do Rio Branco poderiam freqüentar o Guayra e vice –versa. É
certo que a idéia de uma aproximação entre grupos identitários diferentes não é nova.
Remonta à discussão clássica de que na sociedade brasileira existiria uma convivência
harmoniosa entre os diferentes, seja em termos de classe ou de cor (FREYRE, 1997). Numa
releitura mais recente dessas idéias, Da Matta (1983) argumenta que teríamos um
movimento constante de promoção de articulações e aproximações entre diferentes,
operando através de múltiplos eixos de forma a encontrar sempre um plano que compense
uma diferenciação existente. Todas essas aproximações ganhariam destaque, é claro, por
terem como pano de fundo uma sociedade extremamente hierárquica e desigual.
Conclusão
A especificidade do caso encontrado em Guarapuava é relevante por mostrar as
cisões identitárias, étnicas e de classe existentes no Paraná. Além de esclarecer as relações
entre brancos e negros nos espaços de sociabilidade da cidade de Guarapuava, o presente
trabalho também visa contribuir para a superação da ainda propagada idéia da modesta
participação dos negros na formação do estado.
Referências
AGULHOM, Maurice. La sociabilité, la sociologie et’la histoire. Paris: L’Arc, 1976.
ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio deJaneiro. Bertrand, 1989.
DA MATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: para uma sociologia do dilema
brasileiro.Rio de Janeir: Zahar, 1983.
FREYRE, Gilberto.Casa Grande & Senzala. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977.
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