CAP 19 – LOCALISMOS E COMUNIDADES VIRTUAIS Cultura: tempo e espaço A cultura está intrinsecamente ligada à nossa humanidade. A cultura se traduz tanto por hábitos, costumes e comportamentos externos e observáveis como pela formação de subjetividades que permitem que esses comportamentos sejam a afirmação de visões de mundo, o que envolve emoções, crenças, valores e memória. As culturas são totalidades complexas, compostas de elementos em coesão ou conflito. Dos conflitos surgem as subculturas. Só podemos compreender a cultura de um grupo se o situarmos num tempo e num espaço determinados Lugar e cultura A antropologia sempre dedicou espaço e significância à descrição e interpretação do cenário físico em que se desenrola a cultura. A relação com a terra e a ideia de que o território ocupado é uma dádiva divina, por exemplo, faz parte da mitologia de povos de diferentes origens. Lugar distingue-se de espaço na medida em que é ocupado, vivido e construído. Lugar é o espaço da cultura, do compartilhamento e da formulação de significados. O lugar é o cenário da ação em sociedade. O lugar nas sociedades complexas Os espaços possuem pontos fixos, como a casa, o templo, a feira, a fronteira, mas também possuem fluxos, como o trânsito de pessoas, a troca de mercadorias, as guerras, as viagens, as migrações, que em geral ampliam os espaços. É nessa rede de relações estabelecidas no espaço entre o fixo e o móvel que se dá a cultura. Nas sociedades complexas e urbanas, os diversos lugares que ancoram a vida social tendem a se sobrepor, na medida em que participamos de diferentes fluxos, trânsitos e rituais. Há o espaço da casa, da igreja, da escola, do trabalho, do lazer e a própria rua, que se torna um lugar de sociabilidade, e cada um desses lugares colabora para nossa identidade e afirmação. No entanto, conforme as cidades crescem, mais anônima e impessoal se torna a vida social e mais importantes se tornam os espaços identitários, o lugar antropológico, onde há memória e história, onde carregam-se de significado e emoção. O lugar é o espaço preenchido pelo cotidiano compartilhado. As fronteiras que se estabelecem entre fluxos, pessoas, habitantes e significados são demarcadas pelos limites da cultura local (nativo / estrangeiro). O local, que é o espaço onde a diversidade se processa, é um microcosmo gerador de identidade, com a qual o indivíduo se integra no todo. Instituições totais São espaços únicos, em que um determinado grupo de pessoas convive de forma isolada, por um motivo qualquer – manicômios, prisões, conventos, navios ou estações espaciais. Possuem uma administração controladora e se caracterizam pelo fato de os internos realizarem uma série de atividades num mesmo lugar e com as mesmas pessoas, seguindo regras rígidas e um cronograma detalhado. Os internos têm em geral origens sociais e regionais diferentes, mas essa pluralidade é atenuada pela rígida disciplina a que são submetidos. Assim, com o tempo, as marcas da cultura de origem tendem a se apagar. Esse fenômeno se intitula desculturamento. Os não lugares Espaços que se reproduzem no mundo todo com as mesmas características impessoais e a-históricas. Shopping centers, caixas eletrônicos, elevadores, vagões de metrô, saguões de aeroportos, interiores de avião, máquinas de café-expresso são alguns desses não lugares, semelhantes em todo o mundo. As pessoas estão em trânsito, não se conhecem e não estão lá para se conhecer. O desenvolvimento tecnológico e a globalização têm feito os não lugares proliferarem pelo mundo e se incorporarem às nossas vidas. Culturas virtuais Cada vez mais se prevê a intermediação ou o relacionamento da máquina com o homem: autoatendimento, caixas eletrônicos, mensagens gravadas, telefones, computadores etc. Esse aparato tecnológico que faz ou medeia a prestação de serviços faz parte dos ambientes inteligentes. Com o uso de sensores, chips, fibras ópticas, comunicação por satélite, monitores, base de dados e memória artificial, os ambientes inteligentes transformam-se em espaços hi-tech, onde há um isolamento quase completo do mundo exterior. Verdadeiras ilhas de realidade virtual, implantam no globo uma vivência nova comandada por circuitos e sistemas – o ciberespaço. Enaltecidos pelos otimistas e condenado pelos pessimistas, o ciberespaço estabelece formas peculiares de relação entre as máquinas, entre estas e seus usuários e entre os próprios usuários. As relações assim estabelecidas promovem outras formas de interação que caracterizam uma nova forma de cultura – a cibercultura. As redes de relacionamento proporcionam novas formas de convívio e sociabilidade e têm ganhado importância no cotidiano das pessoas, assim como os blogs que se tornam novos veículos de expressão, debate e noticiário. A sociologia enfrenta essas novas relações sociais procurando explicá-las e introduzilas no contexto da sociedade instituída.