Os Processos de Formação de Palavras na LIBRAS

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Org. Profª. Joilce Karine F. S. Pereira
Jul/ 2013
LIBRAS: A LÍNGUA DE SINAIS DOS SURDOS BRASILEIROS
Mesmo quando estiveram banidas da educação dos surdos, as Línguas de
Sinais (ou mímica, com se dizia) despertavam o interesse dos educadores.
Como surgiram? Quando? Por que não existe uma Língua de Sinais única
para que os surdos de todo o mundo possam se comunicar entre si?
Essas perguntas, porém, são as mesmas que se fazem com relação à própria
existência da linguagem humana. Desde que o homem passa a refletir sobre
sua existência enquanto homem, ele reflete sobre essa questão. O mito
ocidental da Torre de Babel pode servir como símbolo dessa busca de
respostas.
São incontáveis os estudos lingüísticos, históricos, sociológicos sobre o
surgimento da língua falada pela humanidade. Houve um desenvolvimento
gradual, progressivo da linguagem, no qual ela se tornou o sistema complexo
de significação e comunicação que é hoje, ou, como consideram outros
pesquisadores, desde que existe é a linguagem formalmente completa,
idêntica ao que conhecemos hoje em dia?
O primeiro ponto de vista é defendido por cientistas como G. Révész, que em
seu livro Origine et Préhistoire du langage (citado por Kristeva: 1981), aponta
para uma perspectiva evolutiva na qual, em seis etapas, traça uma linha
desde a comunicação animal até a linguagem humana altamente
desenvolvida e complexa. O homem em seu estado primitivo estaria
associado à dêixis, aos gritos e aos gestos.
Essa visão, compartilhada durante muito tempo pela comunidade científica
trouxe, e traz ainda, uma boa dose de rejeição às Línguas de Sinais das
comunidades surdas, associando-as à gestualidade primitiva e portanto à
inferioridade.
Mais recentemente, autores passam a considerar a existência de uma língua
somente a partir do momento que exista uma cultura a ela ligada, não
delimitando os meios de transmissão utilizados, a extensão do vocabulário, o
tipo de som emitido pelos “falantes”. Podemos afirmar, sob esse ponto de
vista, que as Línguas de Sinais existiram desde que existe a língua oral
humana, e sempre que existirem surdos reunidos por mais de duas gerações
em comunidades (Sacks, 1990:62).
Pelo fato de as Línguas de Sinais serem “faladas”, sem registro escrito[1],
existe muita dificuldade de se localizarem as origens das mesmas. Por se
tratarem também de comunidades pequenas e não reunidas geograficamente,
o que se conhece até hoje sobre os surdos e suas Línguas de Sinais ainda é
pouco.
Tentarei traçar, porém, um percurso que aponte para o significado dessas
Línguas de Sinais no trabalho educacional dos surdos e que possa
efetivamente auxiliar o professor nesses novos tempos da inclusão escolar.
Raízes históricas das Línguas de Sinais
O primeiro livro conhecido em inglês que descreve a Língua de Sinais como
um sistema complexo, na qual "homens que nascem surdos e mudos (...)
podem argumentar e discutir retoricamente através de sinais", data de 1644,
com autoria de J. Bulwer, Chirologia. Mesmo acreditando que a Língua de
Sinais que conhecia era universal e seus elementos constitutivos "naturais"
(icônicos, de certa forma), o fato de ter sido publicado um livro a respeito do
assunto em uma época que eram raras as edições em geral já demonstra o
interesse do tema, evidenciando uma preocupação com a educação dos
surdos. Preocupação essa ratificada com a publicação, em 1648, do livro
Philocophus, do mesmo autor, dedicado a dois surdos: o baronês Sir Edward
Gostwick e seu irmão William Gostwick, no qual se afirma que o surdo pode
expressar-se verdadeiramente por sinais se ele souber essa língua tanto
quanto um ouvinte domine sua língua oral (in Woll,1987:12).
Quase dois séculos depois, em 1809, Watson (que era neto de Thomas
Braidwood, fundador da primeira escola para surdos na Inglaterra) descreve
em seu livro Instruction of the deaf and dumb um método combinado de sinais
e desenvolvimento da fala.
Em 1760, na França, o abade l'Epée (Charles Michel de l'Epée: 1712 -1789)
iniciou o trabalho de instrução formal com duas surdas a partir da Língua de
Sinais que se falava pelas ruas de Paris, datilologia/alfabeto manual e sinais
criados e obteve grande êxito, sendo que a partir dessa época a metodologia
por ele desenvolvida tornou-se conhecida e respeitada, assumida pelo então
Instituto de Surdos e Mudos (atual Instituto Nacional de Jovens Surdos) em
Paris como o caminho correto para a educação dos seus alunos.
Thomas Hopkins Gallaudet, professor americano de surdos, visitou a
instituição em 1815 com o objetivo de conhecer o trabalho lá realizado (antes
ele passara pela Inglaterra tentando aprender com os Braidwod acerca da
metodologia oralista que eles desenvolviam, não obtendo aceitação pois os
profissionais negaram-se a ensinar em poucos meses o que sabiam). De tão
impressionado que ficou, Gallaudet convidou um dos melhores alunos da
escola, Laurence Clerc, a acompanhá-lo de volta aos Estados Unidos. Lá, em
1817, os dois fundaram a primeira escola permanente para surdos em
Hartford, Connecticut.
Ao lado de escolas que continuaram a desenvolver o método oralista, em
1821 todas as escolas públicas americanas passaram a se mover em direção
à ASL (Língua de Sinais Americana) como sua língua de instrução, o que
levou em 1835 à uma total aceitação da ASL na educação de surdos nos
Estados Unidos. Ramos (1992:65) relata que houve em conseqüência dessa
atitude uma elevação do grau de escolarização das crianças surdas, que
passaram a atingir o mercado profissional de nível mais alto, a maioria delas
optando por se tornarem professores de surdos.
Pesquisando sobre a educação de surdos em dezessete países (Austrália,
Rússia, Alemanha, Holanda, França, Espanha, França, Espanha, Suíça, Itália,
Dinamarca, Suécia, Itália, Dinamarca, Suécia, Argentina e Venezuela)
observei que esse movimento em direção à utilização das Línguas de Sinais
na educação dos surdos passa a acontecer na maioria dos países e com as
mesmas conseqüências.
Surpreendentemente, em 1880, no famoso Congresso de Milão, que reuniu
professores de surdos, as Línguas de Sinais passam a ser progressivamente
banidas na educação de surdos, só sendo retomadas a partir da década de
1940 ou mais tarde.
O que aconteceu para que ocorresse essa mudança radical de pensamento?
Ainda não existem respostas claras, apenas indícios apontando para o
desenvolvimento da tecnologia das próteses reabilitadoras gerando uma
expectativa de superação da surdez, sobre lutas de poder entre os “novos”
professores surdos exigindo o afastamento do professores ouvintes...O que
temos aqui, realmente, é uma lacuna histórica a ser preenchida.
A lingüística e as Línguas de Sinais
Superando as decisões políticas, a ciência manteve-se curiosa com relação às
Línguas de Sinais.
Ferreira Brito (1993:12), aponta os trabalhos de Carrick Mallery, de 1882
(reedidatos por Umiker-Sebeok e Sebeok em 1978, em uma coletânea de dois
volumes, com estudos posteriores críticos de outros autores), a respeito das
Línguas de Sinais indígenas das Américas e Austrália, como os primeiros
estudos lingüísticos sobre Línguas de Sinais.
O pesquisador considerava a “Plains Sign Language – PSL/Língua de Sinais
das Planícies Norte-Americanas” uma espécie de pantomímica. Apesar disso,
porém, seu estudo torna-se importante para o avanço do estudo lingüístico
das Línguas de Sinais por apresentar uma descrição bastante completa da
PSL, propiciando aos seus sucessores analisar inúmeros aspectos da mesma.
“Alguns estudiosos tais como Voegelin(1958), Liung(1965) e Taylor(1975)
analisam a PSL em seus níveis lingüísticos (gestêmico, morfêmico e
lexêmico), discutindo os três parâmetros, até então não mencionados neste
livro: configuração de mão (forma), movimento (‘motion’) e ponto de
articulação.” (Ferreira Brito:1993,11)
Pelo fato de as Línguas de Sinais indígenas serem usadas não só pelos
surdos, mas, principalmente, na comunicação intertribal, apesar de terem sido
aqueles primeiros estudos extremamente importantes, considera-se como
data inicial dos estudos científicos das Línguas de Sinais dos surdos, os
trabalhos realizados a partir de 1957 por William C. Stokoe sobre a ASLAmerican Sign Language, financiados pelo governo norte-americano.
Sua primeira publicação, Language Structure: An outline of the Visual
Communication Systems of the American Deaf, de 1960, é tida como marco,
como “prova” da importância lingüística das Línguas de Sinais. Em 1965 ele
publica, em co-autoria com D. Casterline e C. Cronoberg, o primeiro dicionário
de Língua de Sinais (A Dictionary of American Sign Language), inserindo
definitivamente o estudo das Línguas de Sinais na ciência lingüística.
Os Estados Unidos continuam até hoje sendo o centro mundial mais
importante de pesquisa lingüística em Língua de Sinais, contando atualmente,
inclusive, com alguns pesquisadores surdos em suas equipes, inaugurando
um momento de trabalhos que trazem forte influência da visão culturalista. A
entrada de pesquisadores surdos no cenário da pesquisa lingüística sobre as
Línguas de Sinais poderá trazer uma mudança qualitativa no trabalho que vem
sendo realizado até hoje.
Como destaca Lucinda Ferreira Brito (1995:12), o estudo lingüístico de uma
língua de modalidade gestual-visual pode afetar as teorias lingüísticas por
vários motivos: os próprios preceitos teóricos que definiam a capacidade
lingüística associada à fala oral; a gramática tradicional sendo obrigada a
rever seus conceitos de arbitrariedade (substituindo, talvez, por
convencionalidade), de simultaneidade (que não é possível na língua oral), do
que é central e o que é periférico (o caso da entoação, que na língua oral é
um fator paralingüístico e na Língua de Sinais faz parte do signo).
O fator mais importante, porém, é a necessária mudança de atitude do
lingüista diante de sua pesquisa, abandonando a ilusória neutralidade diante
de seus “informantes”, e tendo que se envolver com os problemas
psicossociais e educacionais dos surdos. É evidente que quando o
pesquisador é surdo, quando sua língua nativa é a Língua de Sinais, todos os
fatores acima descritos terão um maior aprofundamento.
No Brasil, Lucinda Brito inicia seus importantes estudos lingüísticos em
1982[2] sobre a Língua de Sinais dos índios Urubu-Kaapor da floresta
amazônica brasileira, após um mês de convivência com os mesmos,
documentando em filme sua experiência. A idéia para a pesquisa, segundo a
própria autora (1993), adveio da leitura de um artigo publicado no livro acima
citado de Umiker-Sebeok (1978), de autoria de J. Kakumasu, Urubu Sign
Language. No estudo, a Língua de Sinais dos Urubu-Kaapor se diferenciaria
da PSL por constituir um veículo de comunicação intratribal e não como meio
de transação comercial. Lucinda Brito, porém, constatou que a mesma se
tratava de uma legítima Língua de Sinais dos surdos, pelos mesmos criada.
O interessante de se observar, no caso dos Urubu-Kaapor, é que os ouvintes
da aldeia “falam” a Língua de Sinais e a língua oral, evidentemente, enquanto
que os surdos se restringem à Língua de Sinais. Assim, os ouvintes da aldeia
se tornam bilíngües, enquanto os surdos se mantém monolíngües.
Mas, e a Língua Brasileira de Sinais, a LIBRAS, como surgiu?
Aqui no Brasil
É conhecido como o "início oficial" da educação dos surdos brasileiros a
fundação, no Rio de Janeiro, do Instituto Nacional de Surdos-Mudos (INSM,
atual Instituto Nacional de Educação de Surdos- INES), através da Lei 839,
que D. Pedro II assinou em 26 de setembro de 1857. Porém, já em 1835, um
deputado de nome Cornélio Ferreira apresentara à Assembléia um projeto de
lei que criava o cargo de "professor de primeiras letras para o ensino de cegos
e surdo-mudos" (Reis,1992:57). Projeto esse que não conseguiu ser
aprovado.
Reis relata que o professor Geraldo Cavalcanti de Albuquerque, discípulo do
professor João Brasil Silvado (diretor do INSM em 1907), informou-lhe em
entrevista que o interesse do imperador D. Pedro II em educação de surdos
viria do fato de ser a princesa Isabel mãe de um filho surdo e casada com o
Conde D’Eu, parcialmente surdo.
Sabe-se que realmente houve empenho especial por parte de D. Pedro II
quanto à fundação de uma escola para surdos, mandando inclusive trazer
para o país em 1855 um professor surdo francês, Ernest (ou Eduard) Huet,
vindo do Instituto de Surdos-Mudos de Paris, para que o trabalho com os
surdos estivesse atualizado com as novas metodologias educacionais.
A LIBRAS, em conseqüência foi bastante influenciada pela Língua Francesa
de Sinais, apesar de não se encontrar, através da análise do programa de
ensino adotado inicialmente por Huet (Língua Portuguesa, Aritmética,
Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil, Linguagem Articulada,
Leitura Sobre os Lábios para os com aptidão e Doutrina Cristã), nenhuma
referência
à
Língua
de
Sinais.
Entretanto, poucos anos depois, Tobias Rabello Leite (diretor da escola de
1868 a 1896) publica Notícias do Instituto dos Surdos e Mudos do Rio de
Janeiro pelo seu diretor Tobias Leite (1877) e Compêndio para o ensino dos
surdos-mudos (1881), nos quais se percebe que havia aceitação da Língua de
Sinais e do alfabeto datilológico. O autor considerava a utilidade dos dois no
ensino do surdo, como forma de facilitar o entendimento professor/aluno.
(Leite,1881
in
Reis,
1992:60/68)
É de 1873 a publicação do mais importante documento encontrado até hoje
sobre a Língua Brasileira de Sinais, o Iconographia dos Signaes dos SurdosMudos, de autoria do aluno surdo Flausino José da Gama, com ilustrações de
sinais separados por categorias (animais, objetos, etc).
Como é explicado no prefácio do livro, a inspiração para o trabalho veio de um
livro publicado na França e que se encontrava à disposição dos alunos na
Biblioteca do INSM. Vale ressaltar que Flausino foi autor das ilustrações e da
própria impressão em técnica de litografia. Não sabemos se a organização
também foi realizada por ele.
Em 1911, seguindo os passos internacionais que em 1880 no Congresso de
Milão proibira o uso da Língua de Sinais na educação de surdos, estabelecese que o INSM passaria a adotar o método oralista puro em todas as
disciplinas. Mesmo assim, muitos professores e funcionários surdos e os exalunos que sempre mantiveram o hábito de freqüentar a escola, propiciaram a
formação de um foco de resistência e manutenção da Língua de Sinais.
Somente em 1957, por iniciativa da diretora Ana Rímoli de Faria Doria e por
influência da pedagoga Alpia Couto, finalmente a Língua de Sinais foi
oficialmente proibida em sala de aula. Medidas como o impedimento do
contato de alunos mais velhos com os novatos foram tomadas, mas nunca o
êxito foi pleno e a LIBRAS sobreviveu durante esses anos dentro do atual
INES.
Em depoimento informal, uma professora que atuou naquela época de
proibições (que durou, aliás, até a década de 1980) contou-nos que os sinais
nunca desapareceram da escola, sendo feitos por debaixo da própria roupa
das crianças ou embaixo das carteiras escolares ou ainda em espaços em que
não havia fiscalização. É evidente, porém, que um tipo de proibição desses
gera prejuízos irrecuperáveis para uma língua e para uma cultura.
Pesquisar as origens da LIBRAS é realmente uma tarefa a ser realizada, pois
surpreende a todos aqueles que trabalham com a comunidade surda brasileira
(tão espalhada por este imenso país) a homogeneidade lingüística da mesma.
Apesar dos "sotaques" regionais, podemos observar apenas algumas
variações lexicais que não comprometem em nenhum momento sua unidade
estrutural.
Em 1969 foi feita uma primeira tentativa no sentido de tentar registrar a Língua
de Sinais falada no Brasil. Eugênio Oates, um missionário americano, publica
um pequeno dicionário de sinais, Linguagem das mãos, que segundo Ferreira
Brito (1993), apresenta um índice de aceitação por parte dos surdos de 50%
dos
sinais
listados.
A partir de 1970, quando a filosofia da Comunicação Total e, em seguida, do
Bilingüismo, firmaram raízes na educação dos surdos brasileiros, atividades e
pesquisas relativas à LIBRAS têm aumentado enormemente. Em 2001 foi
lançado em São Paulo o Dicionário Enciclopédico Ilustrado de LIBRAS, em um
projeto coordenado pelo Professor Doutor (Instituto de Psicologia/USP)
Fernando Capovilla e em março de 2002 o Dicionário LIBRAS/Português em
CD-ROM, trabalho realizado pelo INES/MEC e coordenado pela Professora
Doutora Tanya Mara Felipe/ UFPernambuco/FENEIS.
Extraído do texto LIBRAS: A LÍNGUA DE SINAIS DOS SURDOS BRASILEIROS
da pesquisadora Clélia Regina Ramos/Jornalista-USP, Pós-Graduada em
Ciências da Comunicação-USP, Pós-Graduada em Lingüística Aplicada às
Ciências Sociais-UERJ, Mestre e Doutora em Semiologia-UFRJ, Editora da
Revista da FENEIS- Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos.
SISTEMA DE TRANSCRIÇÃO PARA A LIBRAS
As línguas de sinais tem características próprias e por isso vem sendo
utilizado mais o vídeo para sua reprodução à distância. Existem sistemas de
convenções para escrevê-las, mas como geralmente eles exigem um período
de estudo para serem aprendidos, é comum entre os pesquisadores da área a
utilização de um "Sistema de notação em palavras".
Este sistema, que vem sendo adotado por pesquisadores de línguas de
sinais em outros países e aqui no Brasil, tem este nome porque as palavras de
uma língua oral-auditiva são utilizadas para representar aproximadamente os
sinais.
Assim, a LIBRAS será representada a partir das seguintes convenções:
1. Os sinais da LIBRAS, para efeito de simplificação, serão representados
por itens lexicais da Língua Portuguesa (LP) em letras maiúsculas. Exemplos:
CASA, ESTUDAR, CRIANÇA, etc;
2. um sinal, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua
portuguesa, será representado pelas palavras correspondentes separadas por
hífen. Exemplos: CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO "não querer", MEIODIA, AINDA-NÃO, etc;
3. um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será
representado por duas ou mais palavras, mas com a idéia de uma única coisa,
serão separados pelo símbolo ^ . Exemplos: CAVALO^LISTRA “zebra”;
4. a datilologia ( alfabeto manual), que é usada para expressar nome de
pessoas, de localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está
representada pela palavra separada, letra por letra por hífen. Exemplos:
J-O-Ã-O, A-N-E-S-T-E-S-I-A;
5. o sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por
empréstimo , passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto
manual com uma incorporação de movimento próprio desta língua, está sendo
representado pela datilologia do sinal em itálico. Exemplos: R-S “reais”, A-CH-O, QUM “quem”, N-U-N-C-A, etc;
6. na LIBRAS não há desinências para gêneros (masculino e feminino) e
número (plural), o sinal, representado por palavra da língua portuguesa que
possui estas marcas, está terminado com o símbolo @ para reforçar a idéia de
ausência e não haver confusão. Exemplos: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” ,
FRI@ “fria(s) e frio(s)”, MUIT@ “muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e
todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”, ME@ “minha(s) e meu(s)” etc;
7. Os traços não-manuais: expressões facial e corporal, que são feitos
simultaneamente com um sinal, estão representados acima do sinal ao qual
está acrescentando alguma idéia, que pode ser em relação ao:
a) tipo de frase ou advérbio de modo:
interrogativa
ou... i ...
negativa
ou
... neg ... etc
Para simplificação, serão utilizados, para a representação de frases nas
formas exclamativas e interrogativas, os sinais de pontuação utilizados na
escrita das línguas orais-auditivas, ou seja: !, ? e ?!
b) advérbio de modo ou um intensificador: muito
interrogativa
Exemplos:
rapidamente exp.f "espantado"
exclamativo
NOME
ADMIRAR
etc;
muito
LONGE
8. os verbos que possuem concordância de gênero (pessoa, coisa, animal),
através de classificadores, estão representados tipo de classificador em
subescrito.
Exemplos: pessoaANDAR, veículoANDAR,
coisa-arredondadaCOLOCAR,
etc;
9. os verbos que possuem concordância de lugar ou número-pessoal,
através do movimento direcionado, estão representados pela palavra
correspondente com uma letra em subscrito que indicará:
a) a variável para o lugar: i
=
j
=
ponto próximo à 1a pessoa,
ponto próximo à 2a pessoa,
k' = pontos próximos à 3a pessoas,
e = esquerda,
d = direita;
b) as pessoas gramaticais:
1s, 2s, 3s
1d, 2d, 3d
1p, 2p, 3p
Exemplos:
1s
= 1a, 2a e 3a pessoas do singular;
=
1a, 2a e 3a pessoas do dual;
= 1a, 2a e 3a pessoas do plural;
DAR2S "eu dou para "você",
2sPERGUNTAR3P
kdANDARk,e
"você pergunta para eles/elas",
"andar da direita (d) para à esquerda (e).
10. Às vezes há uma marca de plural pela repetição do sinal. Esta marca
será representada por uma cruz no lado direito acima do sinal que está sendo
repetido:
Exemplo: GAROTA +
11. quando um sinal, que geralmente é feito somente com uma das mãos,
ou dois sinais estão sendo feitos pelas duas mãos simultaneamente, serão
representados um abaixo do outro com indicação das mãos: direita (md) e
esquerda (me).
Exemplos:
`
IGUAL(md)
IGUAL (me)
PESSO@-MUIT@ANDAR(me)
PESSOAEM-PÉ
(md)
Estas convenções vem sendo utilizadas para poder representar,
linearmente, uma língua espaço-visual, que é tridimensional. Felipe (1988,
1991,1993,1994,1995,1996)
INTRODUÇÃO À GRAMÁTICA DA LIBRAS
VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS
Na maioria do mundo, há, pelo menos, uma língua de sinais usada
amplamente na comunidade surda de cada país, diferente daquela da língua
falada utilizada na mesma área geográfica. Isto se dá porque essas línguas
são independentes das línguas orais, pois foram produzidas dentro das
comunidades surdas.
A Língua de Sinais Americana (ASL) é diferente da Língua de Sinais Britânica
(BSL), que difere, por sua vez, da Língua de Sinais Francesa LSF).
Ex. :
NOME
ASL
LIBRAS
Além disso, dentro de um mesmo país há as variações regionais.
A LIBRAS apresenta dialetos regionais, salientando assim, uma vez mais, o
seu caráter de língua natural.
1.1 VARIAÇÃO REGIONAL: representa as variações de sinais de uma região
para outra, no mesmo país.
Ex.:
VERDE
Rio de Janeiro
São Paulo
Curitiba
MAS
Rio de Janeiro
São Paulo
Curitiba
1.2 VARIAÇÃO SOCIAL: refere-se à variações na configuração das mãos
e/ou no movimento, não modificando o sentido do sinal.
Ex.:
AJUDAR
CONVERSAR
1.3 MUDANÇAS HISTÓRICAS: com o passar do tempo, um sinal pode sofrer
alterações decorrentes dos costumes da geração que o utiliza.
Ex.:
AZUL
2 - ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE
A modalidade gestual-visual-espacial pela qual a LIBRAS é produzida e
percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos
os sinais são o “desenho” no ar do referente que representam. É claro que,
por decorrência de sua natureza lingüística, a realização de um sinal pode ser
motivada pelas características do dado da realidade a que se refere, mas isso
não é uma regra. A grande maioria dos sinais da LIBRAS são arbitrários, não
mantendo relação de semelhança alguma com seu referente.
Vejamos alguns exemplos entre os sinais icônicos e arbitrários.
2.1 SINAIS ICÔNICOS:
Uma foto é icônica porque reproduz a imagem do referente, isto é, a pessoa
ou coisa fotografada. Assim também são alguns sinais da LIBRAS, gestos que
fazem alusão à imagem do seu significado.
Ex.:
TELEFONE
BORBOLETA
Isso não significa que os sinais icônicos são iguais em todas as línguas. Cada
sociedade capta facetas diferentes do mesmo referente, representadas
através de seus próprios sinais, convencionalmente, (FERREIRA BRITO,
1993) conforme os exemplos abaixo :
ÁRVORE
LIBRAS - representa o tronco usando o antebraço e a mão aberta, as folhas
em movimento.
LSC (Língua de Sinais Chinesa) - representa apenas o tronco da árvore com
as duas mãos ( os dedos indicador e polegar ficam abertos e curvos).
LIBRAS
LSC
CASA
LIBRAS
ASL
2.2 SINAIS ARBITRÁRIOS:
São aqueles que não mantêm nenhuma semelhança com o dado da realidade
que representam.
Uma das propriedades básicas de uma língua é a arbitrariedade existente
entre significante e referente. Durante muito tempo afirmou-se que as línguas
de sinais não eram línguas por serem icônicas, não representando, portanto,
conceitos abstratos. Isto não é verdade, pois em língua de sinais tais
conceitos também podem ser representados, em toda sua complexidade.
Ex.:
CONVERSAR
DEPRESSA
3-ESTRUTURA GRAMATICAL
3.1 ASPECTOS ESTRUTURAIS:
A LIBRAS têm sua estrutura gramatical organizada a partir de alguns
parâmetros que estruturam sua formação nos diferentes níveis linguísticos.
Três são seus parâmetros principais ou maiores: a Configuração da(s) mão(s)(CM), o Movimento - (M) e o Ponto de Articulação - (PA); e outros três
constituem seus parâmetros menores: Região de Contato, Orientação da(s)
mão(s) e Disposição da(s) mão(s).(FERREIRA BRITO, 1990)
3.1.1 Parâmetros principais
Os parâmetros principais são :
a) configuração da mão (CM)
b) ponto de articulação (PA)
c) movimento (M)
VELHO
a) Configuração da mão (CM): é a forma que a mão assume durante a
realização de um sinal.
Ex. :
TELEFONE
CM [Y]
VEADO
CM [5]
BRANCO
CM [B ]
ONTEM
CM [ L]
b) Ponto de articulação (PA): é o lugar do corpo onde será realizado o sinal.
Ex.:
LARANJA
APRENDER
c) Movimento (M) : é o deslocamento da mão no espaço, durante a realização
do sinal.
Ex.:
GALINHA
HOMEM
Direcionalidade do movimento
a) Unidirecional : movimento em uma direção no espaço, durante a
realização de um sinal.
Ex.: PROIBID@, SENTAR, MANDAR.
b) Bidirecional : movimento realizado por uma ou ambas as mãos, em duas
direções diferentes.
Ex.: PRONT@, JULGAMENTO, GRANDE, COMPRID@, DISCUTIR,
EMPREGAD@, PRIM@, TRABALHAR, BRINCAR.
c) Multidirecional: movimentos que exploram várias direções no espaço,
durante a realização de um sinal.
Ex. : INCOMODAR, PESQUISAR.
Tipos de movimentos
a) movimento retilíneo:
ENCONTRAR
ESTUDAR
PORQUE
b) movimento helicoidal:
ALT@
MACARRÃO
AZEITE
c) movimento circular:
BRINCAR
IDIOTA
BICICLETA
d) movimento semicircular :
SURD@
SAP@
CORAGEM
e) movimento sinuoso:
BRASIL
RIO
NAVIO
f) movimento angular:
RAIO
ELÉTRICO
DIFÍCIL
3.1.2 Parâmetros secundários:
a) Disposição das mãos : a realização dos sinais na LIBRAS pode ser feito
com a mão dominante ou por ambas as mãos.
Ex.: BURR@, CALMA, DIFERENTE, SENTAR, SEMPRE, OBRIGAD@
b) Orientação das mãos : direção da palma da mão durante a execução do
sinal da LIBRAS, para cima, para baixo, para o lado, para a frente, etc.
Também pode ocorrer a mudança de orientação durante a execução de um
sinal.
Ex. : MONTANHA, BAIX@, FRITAR.
c) Região de contato: a mão entra em contato com o corpo, através do :
Toque : MEDO, ÔNIBUS, CONHECER.
Duplo toque : FAMÍLIA, SURD@, SAÚDE.
Risco : OPERAR, GRÁTIS, PESSOA.
Deslizamento : CURSO, EDUCAD@, LIMP@, GALINHA.
3.1.3 Componentes não manuais:
Além desses parâmetros, a LIBRAS conta com uma série de componentes
não manuais, como a expressão facial ou o movimento do corpo, que muitas
vezes podem definir ou diferenciar significados entre sinais. A expressão facial
e corporal podem traduzir alegria, tristeza, raiva, amor, encantamento etc;
dando mais sentido à LIBRAS e, em alguns casos, determinando o significado
de um sinal.
Ex.: O dedo indicador em [G] sobre a boca, com a expressão facial calma e
serena, significa silêncio ; o mesmo sinal usado com um movimento mais
rápido e com a expressão de zanga, significa uma severa ordem: Cale a
boca!.
A mão aberta, com o movimento lento e com expressão serena, significa
calma ; o mesmo sinal com movimento brusco e com expressão séria,
significa pára.
Em outros casos, utilizamos a expressão facial e corporal para negar, afirmar,
duvidar, questionar , etc.
Ex:
PORTUGUÊS
LIBRAS
-Você encontrou seu amigo?
-VOCÊ ENCONTRAR AMIG@
- Você encontrou seu amigo.
(expressão de interrogação)
- Você encontrou seu amigo!
- VOCÊ ENCONTRAR AMIG@
- Você encontrou seu amigo!?
(expressão de afirmação)
- Você não encontrou seu amigo.
- VOCÊ ENCONTRAR AMIG@
- Você não encontrou seu amigo?
(expressão de alegria)
- VOCÊ ENCONTRAR AMIG@
(expressão de dúvida / desconfiança)
- VOCÊ NÃO-ENCONTRAR AMIG@
(expressão de negação)
- VOCÊ NÃO-ENCONTRAR AMIG@
(expressão de interrogação/ negação)
(QUADROS apud STROBEL, 1995, p.25)
Sinais faciais: em algumas ocasiões, o sinal convencional é modificado,
sendo realizado na face, disfarçadamente.
Exemplos: ROUBO, ATO-SEXUAL.
3.2 ESTRUTURA SINTÁTICA
A LIBRAS não pode ser estudada tendo como base a Língua Portuguesa,
porque ela tem gramática diferenciada, independente da língua oral. A ordem
dos sinais na construção de um enunciado obedece regras próprias que
refletem a forma de o surdo processar suas idéias, com base em sua
percepção visual-espacial da realidade. Vejamos alguns exemplos que
demonstram exatamente essa independência sintática do português :
Exemplo 1: LIBRAS: EU IR CASA . (verbo direcional)
Português : " Eu irei para casa. "
para - não se usa em LIBRAS, porque está incorporado ao verbo.
Exemplo 2: LIBRAS: FLOR EU-DAR MULHER^BENÇÃO (verbo direcional)
Português: "Eu dei a flor para a mamãe."
Exemplo 3: LIBRAS: PORQUE ISTO (expressão facial de interrogação)
Português: "Para que serve isto?"
Exemplo 4: LIBRAS: IDADE VOCÊ (expressão facial de interrogação)
Português: " Quantos anos você tem? "
Há alguns casos de omissão de verbos na LIBRAS:
Exemplo 5:" LIBRAS: CINEMA O-P-I-A-N-O MUITO-BO@
Português: " O filme O Piano é maravilhoso !
Exemplo 6: LIBRAS: PORQUE PESSOA FELIZ-PULAR
Português: "... porque as pessoas estão felizes demais!"
Exemplo 7: LIBRAS: PASSADO COMEÇAR FÉRIAS EU VONTADE
...........................................DEPRESSA VIAJAR
Português: " Quando chegaram as férias, eu fiquei ansiosa para
viajar.”
Observação : na estruturação da LIBRAS observa-se que a mesma possui
regras próprias; não são usados artigos, preposições, conjunções, porque
esses conectivos estão incorporados ao sinal.
3.2.1 Sistema pronominal
a) Pronomes pessoais : a LIBRAS possui um sistema pronominal para
representar as seguintes pessoas do discurso:
no singular, o sinal para todas as pessoas é o mesmo CM[G], o que
diferencia uma das outras é a orientação das mãos;
dual: a mão ficará com o formato de dois, CM [K] ou [V];
trial: a mão assume o formato de três, CM [W];
quatrial: o formato será de quatro, CM [54];
plural: há dois sinais :
sinal composto ( pessoa do discurso no singular + grupo).
configuração da mão [Gd] fazendo um círculo (nós).
Primeira pessoa
Singular: EU - apontar para o peito do enunciador (a pessoa que fala)
Dual: NÓS – 2
Plural:
NÓS – GRUPO
NÓS - TOD@
Segunda pessoa
Singular: VOCÊ - apontar para o interlocutor (a pessoa com quem se fala).
Trial: VOCÊ – 3
Terceira pessoa
Singular: EL@ - apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para
um lugar convencional.
Plural :
EL@ - GRUPO EL@ - TOD@
Quando se quer falar de uma terceira pessoa presente, mas deseja-se ser
discreto, por educação, não se aponta para essa pessoa diretamente. Ou se
faz um sinal com os olhos e um leve movimento de cabeça em direção à
pessoa mencionada ou aponta-se para a palma da mão (voltada para a
direção onde se encontra a pessoa referida).
b) Pronomes demonstrativos: na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os
advérbios de lugar tem o mesmo sinal, sendo diferenciados no contexto.
Configuração de mão [G]
EST@ / AQUI - olhar para o lugar apontado, perto da 1ª pessoa.
ESS@ / AÍ - olhar para o lugar apontado, perto da 2ª pessoa.
AQUEL@ / LÁ - olhar para o lugar distante apontado.
Tipos de referentes:
Referentes presentes. Ex.: EU, VOCÊ, EL@...
Referentes ausentes com localizações reais. Ex.: RECIFE, PREFEITURA,
EUROPA...
Referentes ausentes sem localização.
c) Pronomes possessivos: também não possuem marca para gênero e estão
relacionados às pessoas do discurso e não à coisa possuída, como acontece
em Português:
EU : ME@ IRM@ ( CM [5] batendo no peito do emissor)
VOCÊ : TE@ AMIG@ ( CM [K] movimento em direção à pessoa referida)
ELE / ELA : SE@ NAMORAD@ ( CM [K] movimento em direção à pessoa
referida)
Observação. : para os possesivos no dual, trial, quadrial e plural (grupo) são
usados os pronomes pessoais correspondentes.
d) Pronomes interrogativos: os pronomes interrogativos QUE, QUEM e
ONDE caracterizam-se, essencialmente, pela expressão facial interrogativa
feita simultaneamente ao pronome.
QUE / QUEM: usados no início da frase.(CM [bO].
QUEM: com o sentido de quem é e quem é são mais usados no final da
frase.
QUANDO: a pergunta com quando está relacionada a um advérbio de tempo
(hoje, amanhã, ontem) ou a um dia de semana específico.
Ex. :
EL@ VIAJAR RIO QUANDO-PASSADO (interrogação)
EL@ VIAJAR RIO QUANDO-FUTURO (interrogação)
EU CONVIDAR VOCÊ VIR MINH@ ESCOLA. VOCÊ PODER D-I-A
(interrogação)
QUE-HORAS? / QUANTAS-HORAS?
Para se referir à horas aponta-se para o pulso e relaciona-se o numeral para a
quantidade desejada.
Ex.: CURSO COMEÇAR QUE-HORAS AQUI (interrogação)
Resposta : CURSO COMEÇAR HORAS DUAS.
Para se referir a tempo gasto na realização de uma atividade, sinaliza-se um
círculo ao redor do rosto, seguido da expressão facial adequada.
Ex.: VIAJAR RIO-DE-JANEIRO QUANTAS-HORAS (interrogação)
POR QUE / PORQUE
Como não há diferença entre ambos, o contexto é que sugere, através das
expressões faciais e corporais, quando estão sendo usados em frases
interrogativas ou explicativas.
e) Pronomes indefinidos:
NINGUÉM (igual ao sinal acabar): usado somente para pessoa;
NINGUÉM / NADA (1) (mãos abertas esfregando-se uma na outra) : é usado
para pessoas e coisas;
NENHUM (1) / NADA (2) (CM [F] balança-se a mão) é usado para pessoas e
coisas e pode ter o sentido de "não ter";
NENHUM (2) / POUQUINHO (CM [F] palma da mão virada para cima) : é um
reforço para a frase negativa e pode vir após NADA.
3.2.2 Tipos de verbos
Verbos direcionais
Verbos não direcionais
a) Verbos direcionais - verbos que possuem marca de concordância. A direção
do movimento, marca no ponto inicial o sujeito e no final o objeto.
Ex.:
"Eu pergunto para você."
"Você pergunta para mim."
"Eu aviso você."
"Você me avisa."
 Verbos direcionais que incorporam o objeto.
Ex. :TROCAR
TROCAR-SOCO
TROCAR-BEIJO
TROCAR-TIRO
TROCAR-COPO
TROCAR-CADEIRA
b) Verbos não direcionais : verbos que não possuem marca de
concordância. Quando se faz uma frase é como se eles ficassem no infinitivo.
Os verbos não direcionais aparecem em duas subclasses :
Ancorados no corpo: são verbos realizados com contato muito próximo do
corpo. Podem ser verbos de estado cognitivo, emotivo ou experienciais, como:
PENSAR, ENTENDER, GOSTAR, DUVIDAR, ODIAR, SABER; e verbos de
ação, como: CONVERSAR, PAGAR, FALAR.
Verbos que incorporam o objeto : quando o verbo incorpora o objeto,
alguns parâmetros modificam-se para especificar as informações.
Ex.:
COMER
TOMAR /BEBER
COMER-MAÇÃ
TOMAR-CAFÉ
COMER-BOLACHA
TOMAR-ÁGUA
COMER-PIPOCA
BEBER-PINGA / BEBER-CACHAÇA
3.2.3 Tipos de frases
Para produzirmos uma frase em LIBRAS nas formas afirmativa, exclamativa,
interrogativa, negativa ou imperativa é necessário estarmos atentos às
expressões faciais e corporais a serem realizadas, simultaneamente, às
mesmas.
Afirmativa: a expressão facial é neutra.
Interrogativa: sobrancelhas franzidas e um ligeiro movimento da cabeça,
inclinando-se para cima.
Exclamativa: sobrancelhas levantadas e um ligeiro movimento da cabeça
inclinando-se para cima e para baixo.
Forma negativa: a negação pode ser feita através de três processos:
a) incorporando-se um sinal de negação diferente do afirmativo:
TER / NÃO-TER GOSTAR / NÃO-GOSTAR
b) realizando-se um movimento negativo com a cabeça, simultaneamente à
ação que está sendo negada.
NÃO-CONHECER
NÃO-PROMETER
c) acrescida do sinal NÃO (com o dedo indicador) à frase afirmativa.
NÃO COMER
Observação: em algumas ocasiões podem ser utilizados dois tipos de
negação ao mesmo tempo.
NÃO-PODER
Imperativa: Saia! Cala a boca! Vá embora!
3.2.4 Noções temporais
Quando se deseja especificar as noções temporais, acrescentamos sinais que
informam o tempo presente, passado ou futuro, dentro da sintaxe da LIBRAS.
Ex.:
Presente
(agora / hoje)
LIBRAS HOJE EU-IR CASA MULHER^BENÇÃO ME@
Português "Hoje vou à casa da minha mãe"
LIBRAS AGORA EU EMBORA
Português “Eu vou embora agora.”
Passado
(Ontem / Há muito tempo / Passou / Já)
LIBRAS DEL@ HOMEM^IRMÃ@ VENDER CARRO JÁ
Português "O irmão dela vendeu o carro."
LIBRASONTEM EU-IR CASA ME@ MULHER^BENÇÃO
Português"Ontem, eu fui à casa da minha mãe."
LIBRAS
TERÇA-FEIRA
PASSADO
EU-IR
COMER^NOITE
Português"Na terça-feira passada eu jantei no restaurante
Futuro
(amanhã / futuro / depois / próximo)
LIBRAS EU ESTUDAR AMANHÃ
Português "Amanhã irei estudar "
RESTAURANTE
LIBRAS PRÓXIMA QUINTA-FEIRA EU ESTUDAR
Português "Estudarei na quinta-feira que vem"
LIBRAS DEPOIS EU ESTUDAR
Português "Depois irei estudar"
LIBRASFUTURO EU ESTUDAR FACULDADE MATEMÁTICA
Português "Um dia farei faculdade de matemática
3.2.5 Role-Play
Este é um recurso muito usado na LIBRAS quando os surdos estão
desenvolvendo a narrativa. O sinalizador coloca-se na posição dos
personagens referidos na narrativa, alternando com eles em situações de
diálogo ou ação.
3.3 FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Como já vimos anteriormente, na LIBRAS os sinais são formados a partir de
parâmetros principais e secundários e através de alguns componentes nãomanuais. Há, também, uma série de outros sinais que são formados por
processos de derivação, composição ou empréstimos do português. Vejamos
alguns exemplos:
3.3.1 Sinais compostos: da mesma forma que no português, teremos
compostos de palavras no qual um elemento será o principal- o núcleo - e um
elemento o especificador - o adjunto. É interessante observar, que na LIBRAS
a estrutura não será apenas binária e, neste caso, teremos dois ou mais
elementos especificadores de uma palavra-núcleo.
Ex.:
Simples: CAFÉ, AMIGO, CONHECER
Composto: CAVALO^LISTRAS ( zebra )
HOMEM^VENDER^CARNE ( açougueiro)
CAIXA^GUARDAR^COLHER ^FACA^GARFO ( faqueiro )
Em alguns casos, quando ao sinal acrescenta-se outro, o mesmo passa a ter
outro significado.
Ex.: pílula
PILULA^EVITAR^GRÁVIDA ( pílula anticoncepcional )
PÍLULA^CALMA ( calmante)
PÍLULA^DOR DE CABEÇA (analgésico )
Médico
MÉDIC@^SEXO ( ginecologista )
MÉDIC@^OLHO ( oftamotologista )
MÉDIC@^CRIANÇA ( pediatra )
MÉDIC@^CORAÇÃO ( cardiologista )
a) Sinais compostos com formatos: há execução de um sinal convencional
com acréscimo de um outro sinal na "forma" do objeto que se quer especificar.
Ex.: retângulo
RETÂNGULO^TELEGRAMA “bilhete de telegrama”
RETÂNGULO^CONSTRUÇÃO “tijolo”
RETÂNGULO^DINHEIRO “cédula”
RETÂNGULO^CARTA “envelope”
RETÂNGULO^ÔNIBUS “passagem de ônibus”
b) Sinais compostos por categorias: para classificar um sinal por categoria ou
por grupo, acrescentamos à palavra-núcleo o sinal VARIADOS.
Ex.:
MAÇÃ^VARIADOS “frutas”
CARRO^VARIADOS “meios de transportes”
COR^VARIADOS “colorido”
COMER^VARIADOS ‘alimentos”
LEÃO^VARIADOS “animais”
3.3.2 Gênero (feminino / masculino): é interessante observar que não há
flexão de gênero em LIBRAS, os substantivos e adjetivos são, em geral, não
marcados. Entretanto, quando se quer explicitar substantivos dentro de
determinados contextos, a indicação de sexo é feita pospondo-se o sinal
"HOMEM / MULHER", indistintamente, para pessoas e animais, ou a indicação
é obtida através de sinais diferentes para um e para outro sexo:
Ex:
HOMEM “homem”
MULHER “mulher”
HOMEM^VELH@ “vovô”
MULHER^VELH@ “vovó”
Adjetivos, pronomes e numerais não apresentam flexão de gênero,
apresentando-se em forma neutra.
3.3.3 Adjetivos: Os adjetivos são sinais que formam uma classe específica na
LIBRAS e sempre estão na forma neutra, não havendo, portanto, nem marca
para gênero (masculino e feminino), em para número (singular e plural).
Muitos adjetivos, por serem descritivos e classificadores, apresentam
iconicamente uma qualidade do objeto, desenhando-a no ar ou mostrando-a a
partir do objeto ou do corpo do emissor. Em português, quando uma pessoa
se refere a um objeto como sendo arredondado, quadrado, listrados, etc está,
também, descrevendo e classificando, mas na LIBRAS esse processo é mais
“transparente” porque o formato ou textura são traçados no espaço ou no
corpo do emissor, em uma tridimensionalidade permitida pela modalidade da
língua.
Em relação à colocação dos adjetivos na frase, eles geralmente vêm após o
substantivo que qualifica.
Ex:
PASSADO EU GORD@ MUITO-COMER, AGORA EU MAGR@ EVITAR
COMER
LEÃ@ COR CORPO AMAREL@ PERIGOS@
RAT@ PEQUEN@, COR PRET@, ESPERT@
3.3.3.1. Comparativo de igualdade, superioridade e inferioridade
Em LIBRAS, também, pode ser comparada uma qualidade a partir de três
situações: superioridade, inferioridade e igualdade.
Para se fazer os comparativos de superioridade e inferioridade, usa-se os
sinais MAIS ou MENOS antes do adjetivo comparado, seguido da conjunção
comparativa DO-QUE, ou seja:
• comparativo de superioridade: X MAIS ------- DO-QUE Y;
• comparativo de inferioridade: X MENOS ---- DO-QUE Y.
Para o comparativo de igualdade, podem ser usados dois sinais: IGUAL
(dedos indicadores e médios das duas mãos roçando um no outro) e IGUAL
(duas mãos em B, viradas para frente encostadas lado a lado), geralmente no
final da frase.
Ex:
VOCÊ MAIS VELH@ DO-QUE EL@
VOCÊ MENOS VELH@ DO-QUE EL@
VOCÊ-2 BONIT@ IGUAL (me) IGUAL (md)
3.3.4 Números: A sinalização dos números na língua brasileira de sinais
acontece de quatro formas dependendo do significado do número:
 Números Cardinais: Usado como código representativo é sinalizado
da seguinte forma:
Ex: número do telefone, número da caixa postal, número da casa, número da
conta no banco...etc.
 Números
Cardinais:
Usado
para
quantidades.
Também
são
sinalizados sem adição de movimento, porém há diferenças na
configuração de mão e no posicionamento dos números de 1 a 4,
observe:
Ex: quantidade de canetas na mesa, quantidade de pessoas presentes,
quantidade de ônibus....etc.
ordinais: do primeiro até o nono tem a mesma forma dos cardinais, mas os
ordinais possuem movimento enquanto que os cardinais não possuem.Os
ordinais do 1 º ao 4 º têm movimentos para cima e para baixo e os ordinais do
5 º até o 9 º têm movimentos para os lados. A partir do numeral dez não há
mais diferenças.
 Valores monetários:São sinalizados com movimentos rotacionais do 1
ao 9, seguindo a configuração de mão dos números cardinais. Do
número 10 em diante acrescentasse o sinal da moeda (REAL). Para os
valores de 1.000 até 9.000 usa - se a incorporação do sinal VÍRGULA
ou PONTO.
Observação:
Para sinalizar as horas do relógio é importante saber que:
 Não se sinaliza as horas com dois algarismos a partir das 13h até às
24h. Acrescentasse o substantivo manhã, tarde, noite e madrugada
quando necessário;
 Os números de 1 a 4 são sinalizados como cardinais de quantidade;
 As horas são sinalizadas como quantidade enquanto os minutos são
sinalizados com cardinais como código representativo;
 Para a fração 30 minutos a configuração varia de acordo com região da
comunidade surda.
Para sinalizar as horas com sentido de duração é importante saber que:
 A partir do número 5 são usadas duas configurações (horas-quantidade
+ cardinal como código representativo).
 A duração das horas tem incorporação dos numerais quando se trata
de 1 a 4h.
3.3.5 Formas de plural: há plural na LIBRAS no uso repetido de sinais ou
indicando a quantidade.
Ex.: MUITO-ANO(quantidade), MUITO-ANO(duração),
DOIS-DIA, TRÊS-DIA, QUATRO-DIA, TODO-DIA,
DOIS-SEMANA, TRÊS-SEMANA, DOIS-MÊS ...
3.3.6 Intensificadores e advérbios de modo : utiliza-se a repetição exagerada
para intensificar o significado do sinal.
Ex.: COMER – COMER - COMER “ Comer sem parar.”
FUMAR – FUMAR - FUMAR “ Fumar sem parar.”
FALAR – FALAR - FALAR “ Falar sem parar.”
Advérbios de modo:
MUITO: utilizado como intensificador em LIBRAS e expresso através das
expressões facial e corporal ou de uma modificação no movimento do sinal.
RÁPIDO: para estabelecer um modo rápido de se realizar a ação, há uma
repetição do sinal da ação e a incorporação de um movimento acelerado.
3.3.7 Advérbios de tempo: (frequência)
N-U-N-C-A : sinal soletrado
FREQÜENTE e FREQÜENTEMENTE: mesma configuração de mão [L], mas
para a segunda idéia o sinal é feito repetidamente.
SEMPRE “ continuar” e MESMO: mesma configuração de mão [V] mas no
primeiro há um movimento para frente do emissor.
3.3.8 Alfabeto Manual: é a soletração de letras com as mãos. É muito
aconselhável soletrar devagar, formando as palavras com nitidez. Entre as
palavras soletradas, é melhor fazer uma pausa curta ou mover a mão direita
para o lado esquerdo, como se estivesse empurrando a palavra já soletrada
para o lado. Normalmente o alfabeto manual é utilizado para soletrar os
nomes de pessoas, de lugares, de rótulos, etc., e para os vocábulos não
existentes na língua de sinais.
3.3.9 Empréstimos da língua portuguesa.: alguns sinais são realizados
através da soletração, uso das iniciais das palavras, cópia do sinal gráfico pela
influência da Língua Portuguesa escrita. Estes empréstimos sofrem mudanças
formativas e acabam tornando-se parte do vocabulário da LIBRAS.
Ex.: N-U-N-C-A "nunca"
B-R “bar”, A-L "azul"
MATEMÁTICA
MARROM, ROXO, CINZA.
Esta descrição sucinta da LIBRAS não é suficiente para conhecê-la na sua
estrutura lingüística como um todo e, muito menos, em suas especificidades
enquanto língua de uma comunidade. No entanto, parece ser um primeiro
passo para que saibamos que a LIBRAS é uma língua natural com toda
complexidade dos sistemas lingüísticos que servem à comunicação,
socialização e ao suporte do pensamento de muitos grupos sociais.
Mesmo a despeito de mais de um século de proibição de seu uso nas escolas
de surdos, preconceito e marginalização por parte da sociedade como um
todo, as línguas de sinais resistiram, demonstrando a necessidade essencial
de sua utilização entre as pessoas surdas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Lingüística e Filologia,
1995.
PIMENTA, Nelson; QUADROS, Ronice Muller de. Curso de Libras 1. Rio de
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PIZZIO, Aline Lemos. REZENDE, Patrícia Luiza Ferreira. QUADROS, Ronice
Muller de. Língua Brasileira de Sinais I. Universidade Federal de Santa
Catarina. Florianópolis, 2007.
SILVA, Fábio Irineu da. REIS, Flaviane. GAUTO, Paulo Roberto. SILVA,
Simone Gonçalves de Lima da. PATERNO, Uéslei. APRENDENDO LIBRAS
COMO SEGUNDA LÍNGUA NÍVEL BÁSICO. Centro Federal de Educação
Tecnológica de Santa Catarina – CEFET/SC. Núcleo de Estudos e Pesquisas
em Educação de Surdos – NEPES. Santa Catarina, 2007
FELIPE, Tanya A; MONTEIRO, Myrna S. Libras em Contexto: curso básico,
livro do professor instrutor – Brasília : Programa Nacional de Apoio à
Educação dos Surdos, MEC: SEESP, 2001.
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