ENSINO DE FÍSICA E DEFICIÊNCIA VISUAL: DIRETRIZES PARA A IMPLANTAÇÃO DE UMA NOVA LINHA DE PESQUISA Eder Pires de Camargoa [[email protected]] Roberto Nardib [[email protected]] Carla Reis Evangelista c [[email protected]] Noemi Sutild [[email protected]] a,c Departamento de Física e Química, Faculdade de Engenharia, UNESP, Avenida Brasil 56, CEP: 15385000, Ilha Solteira – SP. b Departamento de Educação e Programa de pós-graduação em Educação para a Ciência (Área de Concentração: Ensino de Ciências) da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Campus de Bauru. d Programa de pós-graduação em Educação para a Ciência (Área de Concentração: Ensino de Ciências) da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Campus de Bauru. Apoio: CNPQ Publicado nas atas do XVIII SNEF - Simposio nacional de Ensino de Física, 2009, Vitória. RESUMO Este artigo discute a implantação de linha de pesquisa relacionada ao ensino de física na perspectiva de alunos com deficiência visual. Para tal, será estruturado um laboratório didático/instrumental que dê suporte ao desenvolvimento de pesquisas em nível de graduação e pós-graduação sobre o tema mencionado. A implantação vem ocorrendo junto ao Departamento de Física e Química de uma faculdade de Engenharia de universidade pública e em colaboração com um programa de pós-graduação na área de Ensino de Ciências. Destaca-se ainda que a referida implantação será consolidada por meio da elaboração de site, a fim de divulgar e disponibilizar as atividades, os materiais e os trabalhos científicos desenvolvidos. Entende-se que a articulação entre o corpo de conhecimentos que vem sendo produzido e o laboratório a ser estruturado proporcionará as condições teórico-materiais necessárias à implantação da linha de pesquisa em questão, ou seja, darão as condições para o desenvolvimento de investigações acerca dos temas: ensino de física, deficiência visual, inclusão escolar e necessidades educacionais especiais. São apresentados os critérios para a obtenção, organização e análise de dados atuais e futuros. Os dados já obtidos (resultados iniciais da implantação da linha de pesquisa) estão vinculados ao trabalho de conclusão de curso finalizado, bem como, aos projetos de graduação que avaliarão materiais e métodos hipoteticamente inclusivos. Destacamos que o objetivo principal visado pela implantação da nova linha de pesquisa refere-se à criação de uma tradição investigativa acerca da temática da inclusão escolar de alunos com deficiência visual em aulas de física e da educação científica para alunos com deficiências. Palavras-chave: deficiência visual, inclusão, linha de pesquisa em ensino de física. INTRODUÇÃO Nos dias atuais, o atendimento das diferentes necessidades educacionais dos alunos com e sem deficiências apresenta-se como o desafio mais importante que o professor deve enfrentar (RODRIGUES, 2003). A busca por uma “didática inclusiva” não é simples, deve superar os modelos pedagógicos tradicionais enfatizando o impacto de variáveis específicas na implantação de uma educação para todos. Como discutido nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), ao pensar a implementação da educação inclusiva, há que se contemplar que professor o modelo inclusivista prevê. Teoricamente, este professor deveria estar preparado para planejar e conduzir atividades de ensino que atendam as especificidades educacionais dos alunos com e sem deficiências, o que implica dizer que sua prática deve adequar-se às múltiplas formas interativas possíveis de ocorrer entre os participantes das atividades e os fenômenos estudados. A inclusão posiciona-se de forma contrária aos movimentos de homogeneização e normalização (SASSAKI, 1999). Defende o direito à diferença, à heterogeneidade e à diversidade (RODRIGUES, 2003). Efetiva-se por meio de três princípios gerais, a presença do aluno com deficiência na escola regular, a adequação da mencionada escola às necessidades de todos os seus participantes, e a adequação, mediante o fornecimento de condições, do aluno com deficiência ao contexto da sala de aula (SASSAKI, 1999). Implica numa relação bilateral de adequação entre ambiente educacional e aluno com deficiência, em que o primeiro gera, mobiliza e direciona as condições para a participação efetiva do segundo (MITTLER, 2003). Na lógica da inclusão, as diferenças individuais são reconhecidas e aceitas e constituem a base para a construção de uma inovadora abordagem pedagógica. Nessa nova abordagem, não há mais lugar para exclusões ou segregações, e todos os alunos, com e sem deficiências, participam efetivamente (RODRIGUES, 2003). A participação efetiva é entendida em razão da constituição de uma dada atividade escolar que dá ao aluno com deficiência, plenas condições de atuação. A participação efetiva pode, portanto, servir como parâmetro sobre a ocorrência ou não de inclusão, além de explicitar as reais necessidades educacionais do aluno com deficiência. Concluir que incluir alunos com deficiências em aulas de física, química, biologia, matemática, história, língua portuguesa etc., deve ir além dos princípios gerais indicados, é reconhecer a necessidade do investimento em pesquisas que revelem propriedades ativas das variáveis específicas. A partir do exposto, o presente artigo apresenta o planejamento e a implantação de uma nova linha de pesquisa, isto é, aquela relacionada ao ensino de física e à deficiência visual. O fomento ao desenvolvimento de pesquisas na área descrita é relevante, visto que, no Brasil, devido às recomendações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LEI Nº. 9394/96 Artigo 4 – (BRASIL, 1996), a matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais é significativamente crescente. A presença de alunos com deficiência visual na rede regular de ensino apresenta um reflexo prático muito importante, na medida em que influi nas relações docente/discente com deficiência visual, conteúdo físico/aluno com deficiência visual, metodologia de ensino/discentes com e sem deficiência visual, recurso instrucional/discente com deficiência visual e discente com e sem deficiência visual. * Na perspectiva da presença de alunos com deficiência visual em salas regulares de física, a investigação de questões como as seqüentes é relevante: (a) Que perfil deve possuir a função docente numa sala de aula que contemple a presença de alunos com e sem deficiência visual? Deve ser esta função caracterizada por atendimentos especializados ou por saberes que dêem conta de uma prática de ensino que contemple a presença de alunos com e sem deficiência visual? (b) Como estruturar materiais que possibilitem aos alunos com deficiência visual o trabalho com idéias físicas expressas por meio de relações matemáticas? (c) Como utilizar adequadamente em aulas de física, que contemplem a presença de alunos com e sem deficiência visual, recursos instrucionais audiovisuais como as simulações computacionais ou o vídeo? (d) Como desarticular as comunicações audiovisuais caracterizadoras das aulas de física? (e) Como estruturar atividades de ensino de conceitos físicos de óptica para alunos cegos? (f) Como deve ser estruturada uma atividade experimental de física tendo em vista a participação efetiva de alunos com deficiência visual? (g) Como elaborar atividades de ensino de física fundamentadas em elementos multissensoriais a fim de atender as necessidades educacionais de alunos com e sem deficiência visual? (h) Quais são as potencialidades dos programas de interface auditiva: virtual Vision, Jaws e Dosvox para o ensino de física de alunos com deficiência visual? Não se defende a idéia de que a implantação da educação inclusiva deva dar-se somente após a investigação e superação de situações problemas como as apresentadas, mesmo porque, o referido pré-requisito representaria uma justificativa à existência de espaços educacionais segregativos. Todavia, concorda-se com uma relação dialética entre aceitação dos alunos com deficiência visual na rede regular de ensino e busca de soluções à problemática que se estabelece. Como apontam os Parâmetros Curriculares Nacionais, “a inclusão escolar impõe-se como uma perspectiva a ser pesquisada e experimentada na realidade brasileira“ (BRASIL, 1998). Objetivos da nova linha de pesquisa Implantar, junto ao Departamento de Física e Química da Faculdade de Engenharia da UNESP de Ilha Solteira (SP) e em colaboração com o programa de pós-graduação em Educação para a Ciência da Faculdade de Ciências da UNESP de Bauru, uma nova linha de pesquisa, vinculada ao ensino de física e às necessidades educacionais de alunos com deficiência visual. A implantação da referida linha de pesquisa vem ocorrendo por meio do desenvolvimento de dois objetivos específicos, a saber: 1) Incentivar e promover em parceria com alunos de graduação em Licenciatura em Física da UNESP de Ilha Solteira e pós-graduação em Educação para a Ciência da UNESP de Bauru, o desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao ensino de física e à deficiência visual. Para tal, objetiva-se construir um laboratório didático/instrumental que disponibilize aos pesquisadores (alunos de graduação e pós-graduação), tanto materiais de apoio já existentes, quanto condições para a elaboração de novos materiais de ensino de física para alunos com deficiência visual. O laboratório, portanto, funcionará como um local para a concretização de idéias sobre materiais e metodologias de ensino de física para alunos cegos ou com baixa visão, materiais e métodos estes cuja eficácia será verificada por meio das pesquisas a serem desenvolvidas. Alguns dos materiais que constituirão o laboratório mencionado encontram-se descriminados na seqüência. Grupo 1: Equipamentos para a produção de eventos sonoros, textos sonoros e situações problemas sonoras – mini-estúdio de gravação: micro computador, gravador digital, aparelho de gravação de situações sonoras de ensino (Digi 002), microfone, caixa de som, fone de ouvido, CD com efeitos sonoros (som de carro, caminhão, trovão, chuva etc.). Grupo 2: Equipamentos de apoio: ensino de física/alunos com deficiência visual (parte 2): Programas de interface auditiva (virtual Vision, Jaws e Dosvox), impressora braile, scanner digital, open book, magic com voz e linha braile. Na seqüência, apresentam-se as aplicações de alguns dos equipamentos do grupo 2. Scanner para digitalização de textos e Open Book (Software leitor de textos): Trabalhando junto com um scanner de mesa comum, o OpenBook converte materiais impressos (páginas de livros e revistas, folhetos, estratos, faturas de contas, cartões de visita etc.) em imagens digitais cujo conteúdo textual é reconhecido e convertido em texto para ser falado por um sintetizador de voz. Além do texto, o software também vocaliza informação acerca do layout da página escaneada (número e posição de imagens, cabeçalhos, rodapés, títulos, colunas, etc.) e oferece recursos sofisticados de leitura, navegação e conversão para outros formatos, inclusive MP3 e WAV. Magic com voz: Esse é um software de ampliação de tela de computador. Além de ampliar a tela em até 16 vezes, permite escolher entre diversas configurações visuais e formas de exibição para conseguir a melhor condição de visualização possível para a condição visual do usuário (alunos com baixa visão). Sua opção sonora permite ainda vocalizar textos da tela ao mesmo tempo em que esta é ampliada. Linha braile: A linha Braile, ou display Braile, é um dispositivo de saída de computador que exibe dinamicamente em Braile a informação da tela. Consiste em um sistema eletromecânico de várias celas Braile ligado a uma porta de saída do computador. Cada cela tem uma superfície plana com 08 (oito) furos, dispostos no formato e nas dimensões de uma cela Braile padrão. Sob o comando do usuário do computador, um leitor de telas (software Jaws) transforma os dados exibidos na tela em sinais elétricos que são enviados à linha Braile. O sistema interpreta esses sinais e faz com que cada pino das celas suba ou desça através dos furos para formar assim caracteres Braile. Esse material pode auxiliar um aluno com deficiência visual a entrar em contato tátil com informações digitalizadas em um computador. Como hipótese, pode dar condições ao aluno com deficiência visual realizar operações matemáticas na resolução de problemas físicos. A implantação do laboratório didático/instrumental vem ocorrendo gradativamente, buscando priorizar o atendimento inicial ao desenvolvimento de projetos de graduação. Posteriormente, o foco de prioridades será dirigido ao desenvolvimento de projetos de pósgraduação. Para a implantação do laboratório, dispõe-se de apoio financeiro parcial da Proex (Próreitoria de extensão – Unesp) e do CNPQ. Em nível de graduação, a partir do primeiro ano de implantação (2006), o laboratório vem apoiando, no mínimo, o desenvolvimento anual de um trabalho de conclusão de curso (TCC), bem como, a produção de materiais inclusivos de ensino de física efetuada na disciplina de natureza prática: “Atividades experimentais multissensoriais de física como alternativa à inclusão escolar de alunos com deficiência visual”. Sobre o TCC, cabem os seguintes comentários: a conclusão do curso em Licenciatura em Física da UNESP de Ilha Solteira está vinculada à produção, por parte dos formandos, de uma monografia. Assim, no decorrer do último ano de curso, os licenciandos envolvem-se numa atividade de pesquisa. Ao final de cada ano, os resultados da monografia são apresentados a uma banca examinadora composta por três membros (orientador do trabalho, professor da unidade local e professor de fora da unidade). Dessa forma, a linha de pesquisa vem apoiando o desenvolvimento de monografias relacionadas à temática do ensino de física e da deficiência visual. Acerca da disciplina de natureza prática anteriormente mencionada, cabem os seguintes esclarecimentos: esta disciplina, de caráter optativo, de duração semestral, e que vem sendo, a partir de 2008, oferecida anualmente, objetiva através da produção de materiais multissensoriais: (a) Promover a reflexão de futuros professores de física acerca da realidade escolar que contempla a presença de alunos com deficiência visual. A produção de materiais fundamentar-se-á nos referenciais teóricos: SOLER (1999) e CAMARGO (2000), autores estes que destacam a importância das percepções não-visuais para a construção de conhecimentos em Ciências. Dessa forma, a valorização de todos os sentidos durante os processos de observação, reflexão e análise dos fenômenos estudados é a base estruturadora da denominada: “didática multissensorial da ciência” (SOLER, op. Cit.). Portanto, a disciplina tem como pano de fundo a idéia de que materiais instrucionais de interface multissensorial, além de criarem canais de comunicação entre alunos com deficiência visual, docente e fenômeno estudado, contribuem à construção do conhecimento científico de todos os discentes. (b) Prestar atendimento educacional a alunos com deficiência visual e professores de Física/Ciências da Diretoria de Ensino de Andradina (SP). Por meio de parceria com a diretoria de ensino da região de Andradina, os materiais a serem produzidos pelos licenciandos chegarão até as escolas que possuem matriculados alunos com deficiência visual. A idéia é instalar na diretoria de ensino um acervo de materiais que fique disponível às escolas que possuam alunos com a deficiência mencionada. A parceria com a referida diretoria de ensino também prevê o atendimento teórico-prático dos professores de física que lecionam aos alunos com deficiência visual. Este atendimento dar-se-á por meio de minicursos a serem agendados, e visará suprir dificuldades docentes em elaborar, conduzir e utilizar os materiais de ensino anteriormente mencionados. Escolheu-se a Diretoria de Ensino de Andradina como beneficiária direta em relação ao recebimento de materiais e atendimento de seus docentes de Física/Ciências, pois, Ilha Solteira pertence à região da Diretoria de Ensino mencionada. (c) Contribuir para o surgimento de questões problemáticas sobre o ensino de física e a deficiência visual, questões estas potencialmente geradoras de temas a serem investigados nos trabalhos de conclusão de curso. É provável que licenciandos que cursaram a disciplina anteriormente descrita se interessem em realizar trabalhos de conclusão de curso que abordem a temática: ensino de física/deficiência visual. Além da disciplina descrita, uma segunda denominada: “O ensino de física e a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais” merece ser destacada. Tal disciplina, também de caráter optativo, de natureza teórica e que desde 2007 vem sendo oferecida semestralmente para o curso de Licenciatura em Física da UNESP/Ilha Solteira, tem por objetivos: discutir os enfoques de inclusão e integração (SASSAKI, 1999), a legislação brasileira referente à inclusão escolar (FÁVERO, 2004), a influência de distintos referenciais educacionais para a implantação de uma prática de ensino de física inclusiva (LOWENFELD, 1983), as viabilidades e dificuldades inerentes ao planejamento e condução de situações inclusivas de ensino (CAMARGO, 2006), e recentes pesquisas relacionadas ao tema do ensino de física e da inclusão escolar (CAMARGO; NARDI, 2007). Um dos efeitos dessa disciplina para a estruturação da linha de pesquisa, foi a motivação por ela produzida nos projetos de 03 (três) licenciandos. Esses projetos serão discutidos posteriormente. As disciplinas enfocadas representam, no contexto dos cursos de licenciatura em física no Brasil, um aspecto inovador, visto que, levam futuros professores a envolverem-se junto a uma prática reflexiva ligada às temáticas: inclusão escolar, necessidades educacionais especiais, deficiência visual, e produção de materiais e/ou experimentos multissensoriais (SOLER, 1999). Tais disciplinas, portanto, contribuem significativamente à formação dos licenciandos, visto que, na hipótese dos mesmos lecionarem para alunos com deficiência visual, eles terão condições de desenvolver atividades e materiais educacionais de física adequados a esta realidade. Neste sentido, cabe destacar que o modelo brasileiro dos cursos de formação de professores raramente prevê o oferecimento de disciplinas sobre a temática da inclusão escolar de alunos com deficiências. Em geral, a abordagem de tal temática fica reservada para os cursos ligados à educação especial, fato este que se mostra contraditório, pois, a atual LDB (BRASIL, 1996), recomenda que o atendimento educacional dos alunos com necessidades especiais ocorra, preferencialmente, na rede regular de ensino. Disso decorre a necessidade de todos os professores, e não apenas aqueles da educação especial, receberem formação adequada acerca da temática aqui mencionada. As pesquisas em nível de pós-graduação ganharão prioridade a partir do terceiro ano da implantação do laboratório didático/instrumental. Pretende-se, a partir do período mencionado, orientar no mínimo 02 (dois) projetos em nível de pós-graduação que utilizem o laboratório para seus desenvolvimentos. Estas pesquisas estarão vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Educação Para a Ciência, da Faculdade de Ciências da UNESP de Bauru (SP). Estas serão realizadas por pesquisadores motivados em investigar a temática do ensino de física e da deficiência visual. Representam pesquisadores em potencial os licenciandos da UNESP de Ilha Solteira (autores do TCC), bem como, professores da rede regular preocupados no desenvolvimento de projetos na área em questão. Destaca-se, entretanto, que a participação dos pesquisadores em potencial estará vinculada à aprovação dos mesmos no exame de seleção do programa de pósgraduação mencionado. 2) Elaborar um site a fim de divulgar e disponibilizar aos professores, pesquisadores, discentes etc., as atividades, os materiais e os trabalhos científicos desenvolvidos. Os trabalhos serão disponibilizados no site em arquivos cuja extensão seja adequada à interface auditiva de softwares próprios para pessoas com deficiência visual (doc, rtf e htm). Neste contexto, não serão disponibilizados arquivos em extensão pdf ou jpg, pois, este tipo de documento dificulta e/ou impede a exibição oral de seus conteúdos. É importante frisar que tal site buscará constituir-se como um veículo acessível a pessoas com deficiência visual, o que implica dizer que sua construção fundamentar-se-á em comandos de navegação por meio do teclado e não exclusivamente do mouse. Como exemplo de site acessível para pessoas com deficiência visual apresenta-se o http://www.lerparaver.com. Em relação ao primeiro objetivo específico, cabe destacar: conjuntamente à prioridade no desenvolvimento de pesquisas e trabalhos em nível de graduação, os anos de 2009 e 2010 estarão destinados à aquisição de equipamentos básicos do laboratório (Grupo 1). A aquisição de equipamentos finalizar-se-á em 2011 (Grupo 2). Estes equipamentos visam apoiar, prioritariamente, pesquisas em nível de pós-graduação. Portanto, com a aquisição gradativa de equipamentos conjuntamente ao desenvolvimento de pesquisas em nível de graduação, objetiva-se construir uma estrutura para a promoção de pesquisas em nível de pós-graduação. Esta estrutura estará credenciada pela presença física do laboratório, bem como, de um conjunto de problemas temáticos potencialmente investigáveis cuja origem se fundamenta em três referenciais: (1) Na experiência do primeiro autor do artigo como pesquisador, docente e discente com deficiência visual. Em outras palavras, nos últimos dez anos, o autor vem desenvolvendo investigações no campo do ensino de física e da deficiência visual, atuando como docente com deficiência visual nos níveis fundamental, médio e superior, além de desempenhar atividades como discente com deficiência visual desde os nove anos de idade. Estas diversas atuações influíram diretamente na identificação de problemas ligados ao ensino de física para alunos com deficiência visual tais como os explicitados em (*); (2) Na identificação de problemas por parte dos licenciandos em física da UNESP de Ilha Solteira por ocasião da participação nas disciplinas: (a) “Atividades experimentais multissensoriais de física como alternativa à inclusão escolar de alunos com deficiência visual”, (b) “O Ensino de física e a inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais especiais” e nos trabalhos de conclusão de curso. Os dois ambientes mencionados (disciplinas e TCC), visam, além de produzir resultados, serem geradores de novos problemas que poderão servir como objeto de investigação; (3) Na apresentação de problemas por parte de pesquisadores, que procurem no laboratório didático/instrumental e no programa de pós-graduação as condições para o desenvolvimento de suas pesquisas. Neste sentido, as pesquisas a serem desenvolvidas não se fundamentam num conjunto fechado e predeterminado de situações problemas. Para a utilização do laboratório será considerada positiva a presença de situações problemáticas inovadoras e importantes ao contexto investigativo aqui discutido. Na seqüência, apresentam-se o referencial analítico e a análise dos resultados iniciais oriundos da nova linha de pesquisa que vem sendo implantada. Categorias de análise Do ponto de vista teórico, o processo analítico fundamenta-se nos procedimentos: préanálise, exploração do material (fragmentação e agrupamento em categorias) e interpretação, procedimentos estes definidos em Bardin (1977) para a realização de uma análise temática. Dessa forma, a análise se dará em razão de duas categorias, a saber: (1) Motivação investigativa (efeitos produzidos pelas disciplinas sobre os interesses dos licenciandos em desenvolverem TCC na área do ensino de física/deficiência visual) e (2) (trabalhos desenvolvidos) Monografias de graduação (TCC). Ainda não se encontram disponíveis resultados referentes aos materiais produzidos pelos licenciandos na disciplina de caráter prático e aos efeitos produzidos pelos TCC em relação à continuidade de pesquisa por parte dos licenciandos (dissertações e/ou teses). Tais resultados serão observados ao longo do processo de implantação e consolidação da presente linha investigativa. As categorias de análise serão orientadas por quatro subcategorias: (a) objetivo principal; (b) processo de desenvolvimento; (c) produto final e (d) efeitos futuros (do TCC e dos projetos). Análise dos dados e alguns resultados Os dados a serem analisados referem-se aos efeitos iniciais produzidos pela implantação da linha de pesquisa. Esses efeitos serão avaliados em razão das categorias 1 e 2 em conjunto com suas subcategorias. Assim, agrupando-se os objetos de análise em função das categorias mencionadas obtêm-se dois grupos de efeitos. São eles: Grupo 1 – projetos de pesquisa; e Grupo 2 – monografia de conclusão de curso (TCC). O Grupo 1 encontra-se vinculado com a categoria 1 (motivação investigativa) enquanto que o Grupo 2 vincula-se com a categoria 2 (trabalhos desenvolvidos). Grupo 1: Projetos de pesquisa: Esse grupo evidencia o efeito produzido pela disciplina de natureza teórica sobre as motivações dos licenciandos em realizarem investigações relacionadas ao ensino de física e à deficiência visual. A disciplina oferecida em 2007 contou com a participação de 20 (vinte) licenciandos. Desses, 03 (três) manifestaram interesse em realizar suas monografias sobre a temática aqui discutida. Esses licenciandos elaboraram projetos de pesquisa que se encontram em processo de desenvolvimento. Projeto 1: Estudo da didática multissensorial aplicada a alunos com e sem deficiência visual (FERREIRA, 2007). Objetivo principal: Estudar os efeitos de aprendizagem e motivação decorrentes da utilização da didática multissensorial de Ciências em sala de aula que contempla a presença de alunos com e sem deficiência visual. Nesse contexto, o projeto assume como hipótese que a didática multissensorial pode ser uma ferramenta para o ensino de ciências não só para alunos com deficiência visual, mas também para os alunos videntes. Processo de desenvolvimento: Realização de mini-curso sobre o tema: óptica, desenvolvimento de materiais/equipamentos multissensoriais, registro das aulas em vídeo, processo analítico segundo os critérios de análise categorial (BARDIN, 1977). Produto final: Monografia de conclusão de curso, materiais e equipamentos multissensoriais, formação do docente na perspectiva de sua atuação em contextos inclusivos. Efeitos futuros: Possibilidade de produção de artigos/trabalhos científicos, possibilidade da elaboração e desenvolvimento de projeto de pós-graduação (mestrado/doutorado). Projeto 2: Estudo de modelos de ensino aprendizagem de fenômenos relacionados à composição da matéria para alunos com e sem deficiência visual (SANTIM, 2007). Objetivo principal: Investigar a utilização de modelos de fenômenos físicos associados à didática multissensorial que contribuam para a prática inclusiva. Para tal, 02 (dois) objetivos específicos foram definidos: (a) elaborar e avaliar modelos multissensoriais de fenômenos relacionados à composição da matéria para alunos com e sem deficiência visual; (b) confeccionar experimentos multissensoriais numa perspectiva inclusiva que ofereça ao discente oportunidade de associar modelos característicos de uma interpretação pessoal aos fenômenos enfocados. Processo de desenvolvimento: Realização de mini-curso sobre o tema: composição da matéria, desenvolvimento de materiais/equipamentos multissensoriais, registro das aulas em vídeo, processo analítico segundo os critérios de análise categorial (BARDIN, 1977). Produto final: Monografia de conclusão de curso, materiais e equipamentos multissensoriais, formação do docente na perspectiva de sua atuação em contextos inclusivos. Efeitos futuros: Possibilidade de produção de artigos/trabalhos científicos, possibilidade da elaboração e desenvolvimento de projeto de pósgraduação (mestrado/doutorado). Projeto 3: Produção de um texto paradidático e sua aplicação em um contexto escolar: possíveis melhorias no ensino de física para alunos com e sem deficiência visual (EVANGELISTA, 2008). Objetivo principal: Investigar como se dá a produção e aplicação prática de um texto paradidático de forma a promover um avanço favorável no processo de ensinoaprendizagem de física. Para verificar os efeitos produzidos pelo texto, será feita sua aplicação prática em sala de aula que contenha alunos com e sem deficiência visual, pois, pretende-se verificar se é possível, a partir de um enfoque didático interativo/dialógico (MORTIMER; SCOTT, 2002), promover a inclusão escolar de alunos com a mencionada deficiência junto aos processos de construção de conhecimento em física. Processo de desenvolvimento: A investigação encontra-se dividida em duas etapas: 1) produção do texto paradidático e (2) sua aplicação em sala de aula que contemple a presença de alunos com e sem deficiência visual. Produto final: Projeto bem elaborado, com problema de pesquisa, metodologia e critérios de análise de dados bem definidos e com referencial teórico em fase de consolidação (dentro de um contexto de pesquisa de monografia de graduação). Efeitos futuros: Desenvolvimento e conclusão do projeto, elaboração de material didático inclusivo, produção de artigos, possibilidade de desenvolvimento por parte do licenciando de projeto em nível de pós-graduação (mestrado/doutorado). Grupo 2: monografia de conclusão de curso. Esse grupo evidencia a elaboração final de trabalho de conclusão de curso. Destaca-se que a monografia enfocada resultou de motivações pessoais de seu autor conjuntamente ao incentivo de seu orientador. Dessa forma, o trabalho de conclusão de curso aqui discutido representa o primeiro efeito prático oriundo da implantação da linha de pesquisa. Suas características serão na seqüência apresentadas. Monografia 1: A prática de ensino mediante a inclusão de alunos com deficiências na escola regular (LUCINDO, 2006). Objetivo principal: Investigar a compreensão e a implantação prática de ensino de professores de Física (nível médio) de Ilha Solteira sobre a inclusão escolar de alunos com deficiência visual. Processo de desenvolvimento: Foi utilizado um questionário contendo 08 (oito) interrogativas respondidas por 10 (dez) professores que já vivenciaram a experiência de lecionar para alunos com deficiência visual. As questões enfatizaram os seguintes temas: (1) Identificação da categoria de alunos com deficiência (visual, auditiva, física ou intelectual) que o docente já havia encontrado em sua sala de aula; (2) Identificação dos relatos dos docentes acerca de sua experiência e se a mesma foi boa para ele, de que lhe serviu, etc; (3) Identificação da formação do docente em vistas à prática inclusiva (se o mesmo teve formação na graduação, em algum curso de pós-graduação etc.); (4) Identificação das opiniões docentes acerca das possibilidades de formação continuada em vistas à promoção de inclusão de alunos com deficiência visual; (5) Identificação da preparação docente com vistas ao desenvolvimento de sua aula em salas que contemplam a presença de alunos com deficiência visual; (6) caracterização das relações entre os alunos com e sem deficiência visual, ou seja, esta é uma relação de preconceito ou de solidariedade e de amizade; (7) Abordagem dos cursos oferecidos no Estado de São Paulo com vistas à uma prática docente adequada no contexto da inclusão de alunos com deficiências. Nessa questão buscou-se verificar se os docentes conhecem esses cursos, seu interesse por eles e se acham que são válidos; (8) Visou explicitar se os docentes são favoráveis ou contrários à inclusão escolar de alunos com deficiências. Produto final: (a) Constatou-se que os professores entrevistados não foram preparados para trabalhar com alunos cegos ou com baixa visão e que a grande maioria acha difícil a preparação para tal prática. Além disso, grande parte questionou a maneira como o projeto de inclusão está sendo implantado nas escolas. Concluiu-se que os próprios professores precisam avançar na compreensão das diferenças entre os seres humanos, de modo que possam recolocar a maneira como concebem suas práticas no intuito de auxiliar todos os seus alunos a compreenderem o sentido de tais diferenças; (b) Preparação do licenciando em vistas à sua atuação em ambientes escolares caracterizados pela presença de alunos com deficiência visual. Efeitos futuros: Autor da monografia desenvolve investigações em nível de mestrado sobre tema físico (ciências dos materiais). Nesse sentido, não se envolveu com o desenvolvimento de estudos de pós-graduação sobre temática da inclusão de alunos com deficiência visual. O autor da monografia até o momento não publicou artigos sobre seu TCC. Considerações finais Explicitou-se o processo de implantação de linha de pesquisa ligada ao ensino de física no contexto da deficiência visual. A criação da referida linha estará vinculada à construção de um laboratório didático/instrumental, às disciplinas de natureza teórica e prática que abordam elementos e práticas inclusivas, bem como, ao desenvolvimento de projetos em nível de graduação e pós-graduação acerca da temática discutida. Conjuntamente ao fomento de pesquisas, vem sendo elaborado um site para a divulgação de resultados oriundos de pesquisas já concluídas, em andamento, e provenientes da nova linha de pesquisa. Explicitaram-se também possíveis temas de investigação, embora em relação a tais temas, exista um aspecto dinâmico e inovador que implicará na apresentação de novas pesquisas ao longo do processo investigativo. Foram apresentados os critérios para a obtenção, organização e análise de dados atuais e futuros. Os dados já obtidos (resultados iniciais da implantação da linha de pesquisa) estão vinculados ao trabalho de conclusão de curso finalizado, bem como, aos projetos de graduação que avaliarão materiais e métodos hipoteticamente inclusivos. Tanto a monografia concluída quanto os projetos de graduação focalizam a investigação da implantação de práticas inclusivas no interior da sala de aula. Esse fato evidencia-se nos objetivos e procedimentos investigativos dos projetos/monografia, o que mostra uma diretriz importante indicada pela linha de pesquisa, ou seja, temas inerentes a como o discente com deficiência visual aprende conceitos físicos, como atuar em processos de ensino, na elaboração de materiais, e de que maneira a deficiência visual pode influir nos procedimentos didáticos de Física. Finalizando, é importante destacar que o objetivo principal visado pela implantação da nova linha de pesquisa refere-se à criação de uma tradição investigativa acerca da temática da inclusão escolar de alunos com deficiência visual em aulas de física, e porque não dizer, da educação científica para alunos com deficiências. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 225 p. BRASIL, MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais, Adaptações Curriculares, 1998. www.educacaoonline.pro.br/adaptacoes_curriculares.asp. Acesso em: 10 maio 2005. In: BRASIL. 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