O SR. ELIMAR MÁXIMO DAMASCENO (PRONA-SP) pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Estou aqui para falar de um cidadão como poucos o Brasil produziu no século XX. Quero, aqui, prestar a minha homenagem solitária ao homem, ao jurista, ao intelectual, ao escritor, ao cidadão, ao ser político que é, por excelência, Miguel Reale. Reconhecido nos meios acadêmicos, respeitado pela vida e a obra, ouvido e aplaudido pelas posições firmes, solidamente assentadas não apenas na profunda erudição, mas sobretudo nos mais transcendentes valores morais, Miguel Reale é um orgulho da Nação brasileira. Suas convicções político-doutrinárias decorreram sempre da mente arguta e operosa, da imensa vontade de mudar o Brasil, para torná-lo mais equânime. De toda a militância, de todas as batalhas, ressaltam em Miguel Reale a persuasão sincera, a adesão apaixonada às causas que achou justas. Aderiu ao Integralismo no mesmo ano da fundação da AIB (Ação Integralista Brasileira), em 07 de outubro de 1932, pois ele já acompanhava Plínio Salgado desde a fundação da SEP (Sociedade de Estudos Políticos) , em fevereiro do mesmo ano. Por ser autodidata, dono de uma profunda inteligência, foi nomeado para o Conselho Supremo da AIB, no cargo de Secretário de Doutrina e propaganda. Neste período da década de 30, escreveu vários livros que ajudaram a solidificar a doutrina do Sigma, destacando-se entre eles: “A Política Burguesa (1934)”; “ABC do 2 Integralismo(1935)”; “O Estado Moderno(1935)”; “Perspectivas Integralistas (1935)”; “O capitalismo Internacional (1936)” e “Atualidades Brasileiras (1936)”. Se não faltaram luzes a Miguel Reale para assistir, interpretar e tentar mudar a realidade, ora pela ação política, ora pelas lides acadêmicas, ora pela atividade de escritor, também não lhe faltaram essas luzes, nobres Colegas, para atuar em vários outros campos. Desses, dois, em especial, foram-lhe sempre bastante caros: o Direito e a Universidade, campos que, na trajetória de Miguel Reale, entrelaçaram-se todo o tempo, em escopos muito próximos. Como jurista emérito, foi um dos autores intelectuais do Tratado de Itaipu, que abriria caminho para a construção da Barragem e da Hidrelétrica, seguida da constituição da Binacional de mesmo nome. Em 1985, passou a integrar a Comissão de Estudos Constitucionais, presidida por Afonso Arinos e composta por cinqüenta estudiosos do Direito. Não foi menor, Senhoras e Senhores Deputados, a contribuição de Miguel Reale, como acadêmico e intelectual, ora ainda no ramo do Direito, ora em destacadas incursões por outras áreas, notadamente a Filosofia. Em 1940, fez-se aprovar em concurso para professor catedrático de Filosofia do Direito, na Universidade de São Paulo, USP, com a tese ”Fundamentos do Direito”, lançando, aí, as bases de sua famosa “Teoria Tridimensional do Direito”, internacionalmente conhecida. Em 1949, ajudou a fundar o Instituto Brasileiro de Filosofia, tornando-se seu Presidente. No mesmo ano, foi nomeado Reitor da USP, cargo que voltaria a exercer de 3 1969 até 1973, período em que implantou as reformas universitária e administrativa e completou a estrutura dos campus da Capital e do interior. Em 1975, rejeitou um lugar de Ministro do Supremo Tribunal Federal. A essa glória, sobejamente merecida, preferiu a de Membro da Academia Brasileira de Letras, conquistada pela força de seu talento, assim como pela pujança da obra caudalosa. Entre os livros que escreveu, constituem leitura obrigatória para estudantes, bem como para todos os que desejam compreender melhor o País: Horizontes do Direito e da História – Estudo de Filosofia do Direito e da Cultura, de 1956; Momentos Decisivos do Pensamento Nacional, de 1958; Teoria do Direito e do Estado, de 1960; Pluralismo e Liberdade, de 1960; O Direito como Experiência: Introdução à Epistemologia Jurídica, de 1968; Direito Administrativo, de 1969; Problemas de Nosso Tempo, também de 1969; Cem Anos de Crença do Direito no Brasil, de 1973; A Filosofia do Direito, de 1978; Poemas da Noite, de 1980; O Homem e Seus Horizontes, também de 1980. E assim, quase ininterruptamente, nobres Colegas, continuou em sua produção, até o mais recente, lançado pela Editora GRD com o título Variações. Miguel Reale é, não resta dúvida, um intelectual em larga dimensão, um humanista completo, por isso depositário do meu mais profundo respeito. Quase adentrando os 93 anos, vividos com uma fé imensa no Brasil, tem estado ausente da vida nacional, mas presente sempre estará, na solidez de suas idéias e no vigor de seu exemplo. Em recente entrevista à TV Câmara, ao ser indagado pelo entrevistador com a seguinte pergunta: o que mudou do Miguel Reale Integralista, para o Miguel Reale de Hoje? Respondeu: “ Eu diria que nada, eu 4 participei do Integralismo com determinação e espírito público, e essa mesma determinação e espírito público nunca me abandonaram. Felicitamos ao Município de São Bento do Sapucaí, sua terra natal e ao Estado de São Paulo de brindarem a nação com o patriota de escol chamado Miguel Reale; fica aqui, a homenagem desta Casa e do povo brasileiro. Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente. Muito obrigado. Elimar Máximo Damasceno PRONA – SP