Atualmente é possível observar no país diferentes situações em que aparece a controvérsia em torno da orientação sexual homossexual. No ano de 2011, destacam-se quatro episódios que colocam o debate sobre a homossexualidade em pauta: a decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a união estável para casais homoafetivos; a retomada da luta pelo movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) pela aprovação do projeto de lei da Câmara (PLC) 122/06, que busca tornar crime a discriminação motivada pela orientação sexual ou identidade de gênero; o primeiro beijo entre pessoas do mesmo sexo na televisão aberta brasileira, na telenovela “Amor e Revolução” do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão); e a polêmica política educacional “Escola sem Homofobia” lançada pelo Ministério da Educação da distribuição de um kit-anti-homofobia na rede pública de ensino, incluindo materiais didáticos, DVD’s, apostilas, entre outros. Diante de tais eventos, este trabalho tem a proposta de visualizar o tratamento da temática da sexualidade no ambiente escolar, em destaque para a orientação sexual homossexual. O material “Escola sem Homofobia” é um instrumento político-pedagógico de ações específicas de enfrentamento da homofobia, que se originou do programa lançado em 2004, Brasil sem homofobia – Programa de combate à Violência e Discriminação contra LGBT e de Promoção da Cidadania Homossexual. Diante da controvérsia gerada e da rejeição manifestada por parte do próprio Congresso Nacional, liderado pela bancada conservadora e evangélica, houve uma grande repercussão na sociedade e pressão sobre o governo da atual presidenta Dilma Rousseff pela não aprovação do material, e a distribuição do kit foi cancelada. O debate em torno do kit “Escola sem homofobia” demonstra não só a existência de um campo que demanda uma discussão sobre esse assunto, como torna visível a multiplicidade de visões de mundo acerca da construção social da sexualidade. Uma pesquisa da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) sobre Juventude e sexualidade coordenada por Mary Garcia Castro e Miriam Abramovay, em 2004, revela que ¼ dos alunos entrevistados em escolas de capitais brasileiras como Fortaleza, Belém, Porto Alegre , Rio de Janeiro afirmam que não gostariam de ter um colega homossexual e a proporção é mais alta entre os pais que não gostariam que seus filhos tivessem colegas homossexuais. A pesquisa ainda aponta o posicionamento entre alguns docentes diante da questão da homossexualidade e a dinâmica de suas relações entre os alunos e alunas homossexuais, ao forçadamente tornar invisíveis ou ratificarem preconceitos e discriminação de cunho homofóbicos. Em meados da década de 1990, a sexualidade é inserida nos manuais educacionais e pedagógicos, sob temas transversais, através da proposição dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997-8) publicado pelo Ministério da Educação para todo o ensino fundamental e médio. Na diretriz da transversalidade, a orientação sexual é um dos temas a ser trabalhado em sua interface com os conhecimentos formalmente transmitidos na prática pedagógica, e sua discussão deve aprimorar a intervenção sobre as relações sociais no cotidiano escolar, objetivando maior informação sobre saúde sexual e combate às ações injustas e segregadoras pautadas em preconceitos homofóbicos. Inicialmente, como campo das ciências médicas, a sexualidade foi unicamente pensada segundo a perspectiva teórica essencialista, isto é, a sexualidade como uma dimensão biológica, condicionada aos aspectos endocrinológicos, genéticos e naturais movida por um funcionamento fisiológico e hormonal, como elucida Heilborn e Brandão (1999). Com a abordagem das ciências sociais a partir dos anos 1970, a sexualidade ganha contorno simbólico atrelada a um processo histórico e cultural específico de cada sociedade. Neste sentido, as considerações feitas por Vance (1995), dispõem que a concepção da sexualidade como obra do determinismo biológico da fisiologia foi contrastada com o debate do construcionismo social. Essa perspectiva recorreu a várias correntes sociológicas e da antropologia simbólica para atestar que a sexualidade resulta de fatores históricos e culturais, e se trata de um fenômeno dinâmico em seus significados. Gagnon (2006) ratifica esse paradigma do construcionismo, ao argumentar sobre a passagem dos instintos forçadamente fisiológicos para um campo de iniciativa social de busca por respostas amparadas pelo viés da sociedade e pelo campo da ação simbólica. Na educação básica, os conhecimentos das ciências sociais se expressam na disciplina sociologia lecionada nas três séries do ensino médio, conforme estabelecido pela Lei nº 11.684, de 2008. Apesar dos PCN incorporarem transversalmente o tema da sexualidade e orientação sexual pelas diversas áreas do conhecimento, a sociologia torna-se uma disciplina privilegiada. O debate acerca da sexualidade encontra terreno fértil nessa área do conhecimento, já que temáticas relacionadas como gênero, diversidade sexual, estereótipos, estigma, preconceito e discriminação, direitos, construção de identidades, diferenças e desigualdades são assuntos legítimos e consagrados no campo das ciências sociais. Portanto, pretende-se tomar como objeto de pesquisa os professores/as de sociologia afim de mapear as abordagens, os recortes teóricos e práticas pedagógicas dos professores/as de sociologia voltadas para o tema da sexualidade, diversidade, identidade e direitos sexuais nas escolas, e especificamente para questões relacionadas à orientação sexual homossexual.