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O CREPÚSCULO DOS ÓRGÃOS SEXUAIS: ENTRE PODERES E SABERES A
CONSTRUÇÃO SOCIAL E HISTÓRICA DA IDENTIDADE MASCULINA E OS
SEUS ‘’OUTROS’’
Abnele Ramalho1
[email protected]
Resumo: Nas relações de gênero o binário homem/mulher é estabelecido enquanto padrão,
legitimado no modelo heterossexual. Porém é necessário perceber a rede de poderes, práticas
e discursos que conferem inteligibilidade a essa fórmula-padrão. Nas tessituras de culturas e
histórias é tecido o modelo homem/hetero pautado no seu órgão sexual, construído
historicamente como “órgão da diferença”, outorgando o poder que o falo tem na legitimação
da “dita” superioridade masculina. É preciso, pois, analisar essa teia discursiva que permeia as
relações de gênero em consolidação da constituição de padrão. Esse modelo edifica-se
equiparado a formulação do seu outro, que por sinal se constrói como ordinário, seja a mulher
ou o homossexual. Mas o que seria desse homem/hetero/padrão sem o falo? Qual seria sua
funcionalidade cultural e relacional? Pretendemos analisar essa cultura falocêntrica entre
poderes e saberes, práticas e discursos. Pensando o corpo através de uma ótica genital,
poderemos compreender que o biológico é apenas mais uma faceta da estrutura sexual. A nãofixidez faz com que não tenhamos definições exatas do que é ser homem ou mulher. Ter um
falo ou uma vagina não define escolhas, mas implica em funções sociais previamente
estabelecidas. Os órgãos sexuais servem para o sexo e o binarismo não serve mais para atuar
como o correto nas relações sociais. Mas afinal que função sexual, cultural e histórica o
“macho” de outrora teria sem seu falo?
Palavras- chave: Falo, homem, discurso.
1
Graduanda em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN/CERES/Campus de Caicó.
2
Contrariamente a todo o entendimento do senso comum,
as ciências humanas vêm esclarecer que tudo que diz
respeito ao comportamento social do homem e sua vida
individual e coletiva tem origem social e histórica, não
havendo nada, do ponto de vista do que se foi afirmado
antes, que possa ser aceito como resultado de herança
biológica.
(Sousa Filho)
As estruturas que compõem a sexualidade humana são curvilíneas que se entrelaçam,
formando os protagonistas e coadjuvantes da conjuntura sexual que permeia o ser. Todos nós,
invariavelmente possuímos um corpo, distribuído em facetas de órgãos, veias e significados
que o mapeam. Os órgãos genitais são classificados a partir de uma linha divisória
homem/falo/mulher/vagina, quase que simetricamente produzidos ao “encaixe”2 e construídos
enquanto meio de reprodução, garantia de perpetuação da espécie. Nesse binarismo
homem/mulher estão inseridos representações a cerca dos padrões sociais que legitimam a
heterossexualidade como a “verdadeira”, portanto correta relação sexual e social.
Os discursos estão “desalinhados” e repartidos em mosaicos coloridos de palavras,
termos e conceitos usados para delinear as curvas corporais com funções pré-estabelecidas
biológico e social. São esses discursos que vão sendo articulados e incorporados pelo sistema
social que lhe confere inteligibilidade e credibilidade.
Utilizando os binarismos homem/mulher/falo/vagina, já citados anteriormente,
podemos entender como os mecanismos classificatórios são construídos social e
historicamente no tempo e nas relações. O fato de o homem ter um falo e a mulher uma
vagina é condicionado a uma espécie de baluarte dos desejos, vontades e verdades a cerca do
“padrão”. A Heterossexualidade Compulsória3 baseada no binário é a confirmação dos
“dissabores” do falo/vagina. Nesse momento toda e qualquer relação que fuja aos padrões do
binarismo heterossexual é considerada ilícita e suja. Entretanto, ao pensarmos num padrão, a
sua diferença é a referência mais segura para basearmos a “dita” superioridade. O “outro” se
torna a base mais sólida numa onda de fluidez pertinente.
“Eu” me penso a partir do “outro” e suas práticas, num jogo de complexidade e
hierarquias sexuais e sociais. O heterossexual se transforma no centro, a “matriz” de uma
linhagem de relações que são repensadas através de práticas discursivas da ordem biológica,
institucional e social. Butler (2003) nos dar uma explicação expansiva sobre a construção
dessa “Matriz Heterossexual”: “...a naturalização tanto da heterossexualidade como da
2
Usado para designar Ato Sexual que envolve falo e vagina.
Conceito trabalhado e desenvolvido por Judith Butler para designar o padrão heterossexual de relação entre os
seres.
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2
3
agência sexual masculina são construções discursivas em parte alguma explicados, mas em
toda parte presumidas”( p. 73 ). Esta é a realidade vigente de uma sociedade, agora pósmoderna e “incapaz” de tecer teias fixas que se intercruzem e direcionem explicações mais
concretas.
Diante da instabilidade e discrepância a cerca do “outro”, surgem indagações sobre os
papéis sociais que o ser social tem de representar. E mesmo o binário homem/mulher
confluente com o gênero pauta-se no objeto móvel (o corpo) e numa relação ainda mais
próxima com a genitália que a compõe e classifica enquanto masculino e feminino.
Entretanto, esse binarismo genital é fruto de um conjunto de práticas discursivas que vão
nomeando funções arraigadas a sociedade. Em outras palavras, cada parte do objeto móvel (o
corpo) é classificada conforme a nomenclatura biológica e sua função temporal na sociedade.
Nesse sentido os estereótipos do objeto e abjeto são construídos paralelamente assim como as
redes de relações geradas e “geridas” por todo esse sistema.
O corpo é despido pelo sistema social, cirurgiados4 por um conjunto de significados que
tendem a hierarquizar um padrão binário heterossexual, entretanto esta relação ideal de
opostos que se completam está “abalada”, não faz mais sentido padronizar relações,
programar sensações e deter desejos. A fixidez abre campo para a areia movediça abaixo de
nós. A respeito das padronizantes naturalizações de corpos, afirma Berenice Bento (2003):
A busca por reproduzir uma natureza em ato faz com que tenhamos de estar
interpretando as normas, o que é feito a partir de suposições, da parte do
sujeito, e de expectativas, por parte do outro, que espera que os atos
correspondam à natureza dos corpos. (p.05).
Representações que geram idealizações, mas por sua vez, também produzem o ser não
idealizado, o seu outro. Os órgãos genitais, partes integrantes do objeto móvel não são mais
garantia da “diferença”, da “separação” do “rosa e azul”. O homem que não chora, a mulher
como poço de sensibilidade, ambos são aos poucos camuflados e um novo ser, o móvel,
inconstante e perecível, foge, aparece enfim. Entretanto este outro/abjeto possui órgãos
genitais implícitos pela hierarquia de um ser “dito” perfeito, o homem heterossexual.
Nesse confronto surgem três questionamentos: se cortássemos o falo de um homem
heterossexual qual seria sua função na sociedade? E se este mesmo homem continuasse com
seu órgão e preferisse homens, qual a função do seu falo na sociedade? Que continuidade de
práticas haveria agora entre seu corpo, seus órgãos genitais e o seu papel social?
4
Referência ao artigo: Transexuais, Corpos e Próteses de Berenice Bento.
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Previamente, as três indagações poderiam se unir, costurar os seus pós e contras,
articular os papéis sociais e executar suas finalidades. O nosso homem/hetero/padrão
contrapõe-se ao homem/homo/outro, mas algo os une agora, a discriminação que ambos
sofreriam por não usarem seu falo para a sociedade. O primeiro “incapacitado” pela falta do
falo, o segundo mesmo o possuindo não usaria para fins procriativos 5, para a “normalidade” e
sentido das relações heterossexuais. A reprodução da espécie estaria ameaçada?
As construções históricas e sociais denotam que o homem/hetero tem a função de
procriador e os discursos expressam a “necessidade” de este homem ser viril e forte,
sobretudo “macho”. Ele não pode falhar, não pode chorar, depender dos outros, pois todos
dependem dele, ele é o centro. Em Nordestino, Uma Invenção do falo, Durval Muniz de
Albuquerque Júnior (2003) descreve esse macho, sua lapidação, experimentação, vicitudes,
entrecruzando sua criação com o poder atribuído ao falo:
Desconstruir estas falas que inventaram o falo como significante
regional é questionar a própria legitimidade social, a que assistimos
até nossos dias, para a estrutura hierárquica e autoritária do gênero,
dominante na sociedade nordestina, acompanhada da própria
legitimidade social para atos de violência contra o feminino e de
desprezo, medo e ressentimento por tudo que ele representa. Para
promover o respeito feminino, em todas as variações, é preciso que na
carnação da fala se faça a desencarnação do falo. (p.252)
Esse macho construído por discursos e não-discursos é associado à virilidade, sem a
força e dominação não existe homem macho: “Enrijecimento de organismo potente e forte,
tipo fisicamente construído e forte, aspecto dominador de um titã acobreado.” (Op. Cit: p. 19)
O homem macho constitui poder/potência sobre os seus “outros”. O falo é o seu instrumento
de dominação, arquitetura de poder e imponência escondida dentro das “calças” de suas
próprias construções.
Este homem-padrão não corresponde mais ao “ser” perfeito, algo que compõe a
estrutura que define as normas e padrões sociais. O ser incompleto se revelou, a sociedade
calorosa de antes agora o reprime e não o define mais como estereótipo da perfeição, a areia
movediça do gênero foi tragando aos poucos as definições e transformando o masculino em
produto indefinido. As experiências nos mostram a multiplicidade de ser homem e
construções a cerca do mesmo. O fato é que ser homem, pertencer ao gênero masculino não é
estabelecido pelo biológico como pregam os “ditames” dos padrões. Ser homem é complexo,
5
Isso se deve principalmente ao discurso da Igreja Católica ao longo do tempo, determinando a relação sexual
com o objetivo de conferir a continuidade da espécie.
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múltiplo e indefinido. São teias de informações e suposições que não nos define dentro dos
labirintos sociais que nos cercam.
O “macho” sem o falo não representa mais o papel social que se estabeleceu de ser
realmente um protótipo de virilidade, o construtor, desbravador do sexo. O faminto de carnes
e voraz “comedor” de tudo que represente o feminino, a prostituta, a lésbica, a santa e
ensandecida mulher, como afirma Foucault (2005): “Eles (os homens) acham que as mulheres
só podem experimentar prazer considerando os homens como donos”. (p. 37). Esse poder que
os homens “julgam ter” sobre as mulheres está implícito no falo, este determina relações e
atribui funções para este homem/falo produzido pela “Matriz Heterossexual”.
Que práticas sexuais o homem falo, agora “desprovido” de seu redundante órgão,
utilizaria para se satisfazer? Será que este novo homem se entregaria às práticas
homossexuais? O fato é que este ser anteriormente protegido pelo órgão da diferença (o falo),
não existe mais, sua fluidez se revelou, assim como a instabilidade de suas afirmações
enquanto ser homem. Mesmo que o biológico não determine a sexualidade, estes
questionamentos servem para nos perguntamos o que é ser homem? O que significa ter um
falo? E como os dois (homem/falo) são representados “juntos” ou não no meio social. Estas
representações estão intimamente ligadas aos discursos6. “Eu” enquanto homem/mulher
preciso me comportar como “manda o figurino” e receber confirmações a cerca do que
represento. Em outras palavras sou homem ou mulher para a sociedade (a respeito da
normatização de corpos e práticas), represento os papéis que são dados implícitos e
explicitados pelo jogo social de “ser” algo, percorro os labirintos de atribuições dúbias e
relações plurais.
Nesse jogo da sexualidade, o corpo serve como uma espécie de depósito aonde vão
sendo guardadas as expectativas, os termos, as funções, sua construção histórico/social é
simbólica. O objeto móvel é utilizado nas experiências, práticas e afirmações exteriores.
Dessa forma o falo foi inventado com uma série de expectativas exteriores e interiores que ao
longo do processo biológico e histórico da construção do menino aparecem sobrepujando
quaisquer outros interesses. Por esta razão quando perguntamos qual a função do
homem/hetero sem o falo na sociedade, estamos abrindo caminho para entendermos o
“outro”, a mulher, o homossexual, os cirurgiados corporal e socialmente, os ordinários7
entram em cena.
6
Referência à obra A Ordem do Discurso de Michel Foucault.
O homem ordinário é um conceito utilizado por Michel de Certeau em A Invenção do Cotidiano – Artes de
fazer, para designar o cada um e o ninguém que a sociedade estabelece em relação ao padrão estabelecido.
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5
6
O ser social é um contorcionista, percorre espaços fugidios em busca de suas
definições, estas que mapeiam o psicológico e o físico de sua existência. Este contorcionista
se adequa a sua realidade intima. Ter um falo não significa ser heterossexual, entretanto ser
heterossexual implica utilizar o falo para fins procriativos e carnais, fruto de um homem
construído para se satisfazer e não ser monogâmico.
“O poder penetrou no corpo, encontra-se exposto no próprio corpo” (FOUCAULT:
2004; p, 146) Os micropoderes do corpo, definem não só o olhar sobre o mesmo, mas as
práticas nele existencializadas. É o poder que constrói, modela as experiências e significados,
examina as vivências de um ser preso aos estereótipos. Somos o objeto móvel, o possuímos,
mas ele “amedronta”, o corpo constitui poder sobre outro que o confirma. Um falo sozinho
não denota força, é necessário que o sujeito produza discursos que o legitimem enquanto
órgão do poder, da “diferença” em relação ao seu “outro”, nesse caso, a mulher. Não se
produzem discursos a cerca da vagina, a mulher não é uma vagina, é a mãe, a receptora do
líquido da vida. Se ela fosse a vagina, a existência dos “pobres” seres sociais estaria
ameaçada, pois a mulher/vagina procura o sexo, o prazer, a “libertinagem” de um corpo não
apenas reprodutivo.
O ideal para uma sociedade que se renova é a mulher materna, fruto de designações que
a compreendem como passiva e serva. Segundo Cantonné (2001): “A atividade sexual
corresponde a uma livre virilidade, enquanto a passividade corresponde à servidão” (p.40) A
servidão concentra-se no corpo da mulher, ela é o objeto do homem. O lugar de prazer, onde
as necessidades sexuais são saciadas e preparadas para se renovar. A mulher é o fetiche até o
momento de ser alcançada, depois é a serva.
O grande medo dos homens, da Igreja e sociedade moralista é que essa mulher/vagina
venha e se revele, saia da “toca” e mostre o que pensa, sente, anseia e deseja, ou seja, o
contrário de tudo aquilo que foi pregado e interiorizado historicamente. É interessante notar
que as expectativas criadas em torno dessa menina, refletem no processo de construção da
mulher, mera representação. O problema de toda repressão acerca das mulheres não está na
sua “possível” fraqueza em relação aos homens, mas na sua construída inferioridade de não
possuir um falo, isto não implica que a mulher quer um falo, mas que nas práticas discursivas
o órgão masculino foi construído com muito mais significância a ponto de se transformar no
sinônimo de poder, de gerador da vida e produtor da humanidade, é o símbolo não apenas
desse poder, mas dessa superioridade do homem nas relações com o seu outro.
Não existem teorias a cerca da vagina, as práticas discursivas não falam, e quando
levantam quaisquer questões sobre as mulheres associam ao corpo. A mulher não é uma
6
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vagina, é um corpo, não é um ser, é um desejo. É obvio que ser mulher não corresponde
apenas ter uma vagina, mas fica evidente que os homens se sentem superiores por ter um falo.
Pergunte a qualquer homem/hetero o que ele sente quando ver duas mulheres se beijando, a
resposta vai ser clara e objetiva, desejo. O fato dessas duas mulheres não possuírem um falo,
desperta nesse homem à vontade de fazê-las sentir prazer, porque na sua concepção elas
jamais sentirão. Elas não possuem o produto do “encaixe”, a força bruta, a ereção. Por estas
razões e construções, o falo é estudado, analisado e interpretado ao longo do processo
histórico/cultural. Esse processo começa na formação do menino na barriga da mãe, quando o
bebê sai, adentra no universo que o espera, preparado para recebê-lo e dominá-lo (o falo).
Nesse sentido a mulher é vista como a confirmação da masculinidade do homem. Ele precisa
da vagina, do corpo feminino para ser e se constituir enquanto “macho”. Abrangendo esta
perspectiva Butler usa Lacan para definir quem é ou tem o falo:
Ao afirmar que o outro a quem falta o falo é aquele que é o falo, Lacan
sugere claramente que o poder é exercido por essa posição feminina de não
ter, e que o sujeito masculino que “tem” o falo precisa que esse outro
confirme e, consequentemente, seja o falo em seu sentido “ampliado”. (Op.
Cit. p.74, 75)
Na realidade é problemático afirmar isto. A mulher pode deter o poder de confirmação,
mas ser o falo e não possuí-lo seria mais uma vez criar teorias masculinas para explicar a
mulher. Obviamente que a questão da mulher não ter um falo e por essa razão ser
marginalizada é considerável, o problema central não é esse, mas o fato da mulher não ser
considerada como detentora de algo, nesse caso a vagina. O biológico não define opções, não
constrói identidades, na realidade o biológico é a própria areia movediça das explicações que
tentam maquiar a realidade social e cultural de homens e mulheres. Somos sexuais,
indiferentemente do que nos “classifica” e legitima enquanto homem/mulher.
Os mesmos tons se confundem e ao mesmo tempo evocam o discurso, este emerge das
profundezas dos corpos, de um interior subjugado e um exterior ameaçado por leis, valores e
ações preconceituosas. Quando se sugere que o corpo é um objeto escrito, lançamos as luzes
necessárias para compreender as sombras que nos rodeiam, é um conjunto de coisas
interiorizadas e espalhadas no seio social a partir de interpretações e nuances relativas.
Costumeiramente o nosso sistema social nos “traga” para dentro de conjunturas e regras,
vitorianos que discordam em tudo, desconstrutores que não se movem, todavia falar em
“mudanças” é cair na “mesmice” de radicalismo sem nexo. Seres “civilizados” tentam a todo
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custo impedir as “burlas”, os não-fixos e não–lineares. Mas o corpo se move, deleita-se sobre
as costuras sociais.
O ato sexual precisa dos órgãos sexuais para delinear suas faces, transbordando prazer e
“cuspindo” nas ordens. É o momento, o lugar dos objetos e abjetos se mostrarem, é onde as
intercessões acontecem e os sujeitos “criados” pelos discursos falam, explodem todas as
imposições de um sistema vitoriano8 e regrado. Faz sentido perguntar qual ou quais as
funções sociais dos órgãos sexuais, se todos os possíveis caminhos já foram mostrados,
escritos e interiorizados? Faz sentido afirmar o que é ser homem, se este mesmo homem não
possui falo? Qual a função da vagina, quando tudo na mulher é visto unicamente como corpo
modelado para a procriação? O corpo do homem é seu falo? O que compreende as linhas de
nossos sistemas, tão frágeis a ponto de romper com um simples questionamento? São
perguntas necessárias para entender que somos frágeis, assim como tudo que nos cerca e
classifica.
Nosso corpo é um objeto escrito, fundado a partir da fala e exercido através dos desejos.
São esses escritos e falas que constróem o corpo não como vemos, mas como o entendemos.
Dessa forma somos frutos de ações e discursos sociais, de identidades nômades9 não-fixas.
Somos seres indefinidos, plastificados biologicamente, exercidos socialmente e construídos
historicamente. Nessas histórias e papéis sociais tecidos, ser homem ou mulher implica bem
mais do que as roupas que cada um usa. Ser macho ou fêmea é um fenômeno social e
histórico, plausível de clivagens, tolerante e intolerante, cego ou vívido demais...
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Referência à obra História da sexualidade 1: A vontade de saber de Michel Foucault. Onde o Vitorianismo
significa o padrão heterossexual.
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Referência ao artigo: Identidade Nômade, heterotopias de mim de Tânia Navarro Swain.
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REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS:
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Nordestino, uma invenção do falo – uma
história do gênero masculino (Nordeste – 1920/1940). Maceió: Edições Catavento, 2003.
BENTO, Berenice. Transexuais, corpos e próteses. Labrys – estudos feministas.
Nº 4, agosto/dezembro, 2003.
BUTLER, Judith. Problemas do gênero: feminismo e subversão da identidade.
Rio de Janeiro: civilização brasileira, 2003.
CATONNÉ, Jean-Philippe. A sexualidade, ontem e hoje. São Paulo, Cortez,2001.
( Coleção Questões da Nossa Época;v.40).
CERTEAU, Michel de. “Um lugar comum: a linguagem ordinária”. In. ____: A Invenção
do Cotidiano – Artes de Fazer. Petrópolis/RJ, Vozes, 2003. p.59-72.
FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade 1: a vontade de saber. Rio de
Janeiro, edições Graal, 1988.
________________ A ordem do discurso. São Paulo, edições Loyola, 2004.
________________ Um diálogo sobre os prazeres do sexo: Nietzche, Freud e Marx,
Treatrum Philosoficum.São Paulo, Landy,2005.
________________ Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: edições Graal,1979.
SOUSA FILHO, Alípio de. Medos, Mitos e Castigos: Notas Sobre a Pena.
De Morte. Ed_São Paulo: Cortez,2001.( Coleção Questões da Nossa Época;v,46).
SWAIN, Tânia N. Identidade nômade e heterotopias de mim. In: RAGO, Margareth;
ORLANDI, Luiz B(orgs) Imagens de Foucault e Deleuze: ressonâncias
nietzschianas. Rio de Janeiro: DP&A,2002.
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