O QUE DIZER SOBRE O MOVIMENTO CONSCIÊNCIA BR A S I L O homem antes de ser brasileiro, antes de ser um consumidor, é um ser cultural e político. Tudo bem existe a genética, a tal da predisposição, mas será que estas questões influenciam tanto assim as nossas conquistas, o nosso comportamento com o próximo, a nossa maneira de ver o mundo, a nossa atitude perante as coisas da vida e principalmente as nossas escolhas? Realmente é mais fácil acreditar que as nossas escolhas fazem parte de nossa educação e quando falo em educação não estou falando apenas na educação doméstica e muito menos a educação formal, que não deixa de ser importante e determinante, mas falo sobre uma maneira mais ampla de se enxergar a educação. É uma educação intimamente relacionada a todo o processo cultural envolvido. E muito cuidado leitor, pra não atrapalhar o conceito de cultura também, que é muito mais amplo, assim como o conceito de educação. Cultura não está necessariamente ligada a instrução, como por exemplo, a pessoa que tem o hábito de ler. A gente ouve muito falar: fulano é muito culto, ele lê 3 livros pôr mês. Ou ainda: sicrano é muito culto, vai a muitos museus. Cultura está em tudo, em toda parte, é um processo maior, não é isolado, faz parte do nosso dia-a-dia. E digo mais! Também não é só os hábitos e costumes de um povo, porque se fosse assim, o processo cultural seria estático, não haveriam as trocas, os intercâmbios. Cultura é a soma de tudo isso, incluindo as verdades simbólicas de cada um, em um momento e em um contexto, num processo de aprendizado chamado endoculturação. Bem, agora que estamos sintonizados sobre o processo cultural, a próxima pergunta é: a cultura influencia o consumo? De que forma? Vou usar uma palavrinha estranha, mas muito importante pra gente tentar responder a essas questões. Você já ouviu falar em Memética? Viu que é estranha? Memética é o estudo dos mémens que vem de Persona, que deriva da formação da personalidade. É um processo cultural geralmente familiar em que os filhos apresentam a tendência de copiar algumas decisões dos pais, ou de outras pessoas que exerçam influência sobre eles. Então... observando pela ótica do consumo, podemos entender a memética como a influência na compra daqueles produtos que a pessoa mais próxima da gente consome, gosta e em alguns casos até defende como se fosse o dono da empresa fabricante. Vou dar um exemplo pra você entender melhor. Uma marca de geladeira que nossa mãe possui ou um carro que seu pai vive falando que é bom. Qual é a nossa tendência? Quando sair de casa comprar a mesma marca não é mesmo? Fazemos isso sem perceber, mas é um tal de um processo de decisão de compra que a psicologia chama da ação do inconsciente. Concorde comigo, as vezes compramos algo e quando chegamos em casa, paramos e pensamos, porque eu comprei essa marca mesmo? Logo a mais cara? Pois é, o processo de consumo, portanto é uma característica aprendida e estamos suscetíveis a aprender a consumir das empresas que fazem o melhor marketing ou a melhor maneira de tornar a sua relação com as marcas cada vez mais próxima, natural e até mesmo subliminar. Nesta relação entra como complemento o ensino-aprendizado, que significa a criação do hábito de se consumir determinado produto ou serviço, associado à criação de desejo e porque não dizer, indução ao consumo. Só que o aprendizado do consumo do brasileiro começou antes mesmo do marketing existir de fato. Esta prática surgiu com outro conceito conhecido de nós que é a globalização, só que também ainda não tinham inventado essa palavrinha na época. Vamos chamar, somente por fins didáticos de pré-globalização, se é que podemos chamar assim. Estou me referindo às grandes navegações, onde se deu a primeira forma de colonialismo. Foram descobertos territórios desconhecidos, povos estranhos aos europeus e o surgiram ainda outros povos, como nós brasileiros, este povo miscelânico, que durante muito tempo não teve uma identidade própria, o que facilitou toda esta absorção da cultura estrangeira, incluindo a cultura de consumo. Depois desta pré-globalização, vieram os nortes - americanos com, aí sim, a globalização, e aí também com o marketing já amadurecido e formatado, com a palavra popularizada e com estratégias montadas baseadas em estudos não só de mercado, mas principalmente do comportamento de nós, seres humanos. E já que estamos falando em marketing, sabemos que os americanos são craques nesse assunto, até porque foram eles que desenvolveram o conceito e o praticam muito antes de nós brasileiros. A própria palavra marketing deriva do inglês, onde “mark” é alvo, no que resulta em acertar no alvo. Nesse tal do marketing americano acontece um sentimento engraçado em alguns brasileiros. É assim, só de ouvir a palavra “americano”, algumas pessoas ficam até arrepiadas de tanta raiva que sentem. Mas o intrigante é que na hora de comprar produtos, essas mesmas pessoas não fazem associação com a empresa que está vendendo o bem. Eles são bons ou não são bons de marketing? É disso que trata o projeto Movimento Consciência Brasil, conscientizar as pessoas através de uma mudança cultural, a perceber a importância das escolhas no ato do consumo. É o fazer despertar nas pessoas a criação da consciência de que o consumo é um ato que traz conseqüências políticas, econômicas, psicológicas, sociológicas e antropológicas. O simples ato de escolher um produto movimenta o comércio, gera empregos, cria amizades ou inimizades entre nações, gera sentimentos de posse, inveja, submissão, poder, status, cria divisão de classes, representa o indivíduo dentro de sua “tribo” seja ela rural ou urbana, mexendo a todo tempo com o comportamento do homem moderno com suas complexidades cada vez mais veementes. Você leitor, concorda comigo que se as pessoas reprogramarem suas mentes em relação ao consumo, não fica evidente que é melhor para todos nós brasileiros consumirmos os produtos da nossa terra? Não é melhor para a nossa economia e até para a nossa auto-estima consumir produtos brasileiros? E não venham me dizer que os produtos brasileiros não possuem boa qualidade que eu não vou acreditar. E não venham me dizer que necessitamos de muitos produtos que não existem aqui, que também não vou acreditar. O Brasil, cujas terras pela sua extensão territorial, diversidade de climas e tipos de terra, pode produzir tudo que necessita, minimizando substancialmente sua dependência externa; o problema não está na agricultura, sim na política que rege a agricultura. No momento atual, o país continua produzindo quase tudo, não somente derivado da terra, mas produtos industrializados e com uma demanda poderosa, que pode ser comparada a vários países Europeus juntos. Nesse contexto atual, podemos até parafrasear Pero Vaz de Caminha “aqui em se plantando tudo dá” por “aqui em se produzindo, tudo vende”. O problema então, não é comprar o produto estrangeiro. A solução é preferenciar o produto nacional, pois gera-se emprego, melhoria da economia, da qualidade de vida e do direito de ser cidadão mundial, e com o desenvolvimento, incluir social e economicamente o brasileiro como cidadão do mundo. Autores: José Hamilton Sampaio, foi mestre do idealizador do movimento Consciência Brasil & o jornalista Tito Mutti, amigo em comum.