Gabarito Atividades para reflexão e verificação (autônoma!) do aprendizado 1. (Fuvest-SP) "Oh! Maldito o primeiro que, no mundo, Nas ondas vela pôs em seco lenho! Digno da eterna pena do Profundo, Se é justa a justa Lei que sigo e tenho! Nunca juízo algum, alto e profundo, Nem cítara sonora ou vivo engenho, Te dê por isso fama nem memória, Mas contigo se acabe o nome e a glória" Camões. Os lusíadas. Nos quatro últimos versos, está implicada uma determinada concepção da função da arte. Identifique essa concepção, explicando-a brevemente. Resposta: O eu lírico determina que àqueles que se lançam aos mares não seja dada nem fama nem memória através da cítara ou do vivo engenho, ou seja, da poesia mais alta e sublime. A arte teria, portanto, o poder de eternizar os altos feitos dos heróis, segundo as palavras do Velho do Restelo. 2. (Unicamp-SP) Leia atentamente: "A poesia, ao contrário da filosofia, não é um conhecimento teórico da natureza humana, mas imita, narrativa ou dramaticamente, ações e sentimentos, feitos e virtudes, situações e vícios dos seres humanos. No entanto, a poesia é diferente da história, embora esta também seja uma narrativa de feitos humanos e de situações, das virtudes e dos vícios dos humanos narrados. A diferença está no fato de que AQUELA visa, por meio de uma pessoa ou de um fato, a falar dos humanos em geral (cada pessoa [...] não é ela em sua individualidade, mas é ela como exemplo universal, positivo ou negativo, de um tipo humano) e a falar de situações em geral (por meio, por exemplo, do relato dramático de uma guerra, fala sobre a guerra), enquanto ESTA se refere à individualidade concreta de cada pessoa e de cada situação. A poesia trágica não fala de Édipo ou de Eletra, mas de um destino humano; a epopéia não fala de Helena, Ulisses ou Agamenon, mas de tipos humanos. A história, ao contrário, fala de pessoas singulares e situações particulares. Por isso, diz Aristóteles, a poesia está mais próxima da filosofia do que da história, já que esta nunca se dirige ao universal." Marilena Chauí. Introdução à história da filosofia. As palavras que estão em maiúsculas foram introduzidas no trecho acima em substituição a duas palavras-chave para a exposição que faz Marilena Chauí das idéias de Aristóteles referentes a distintas formas de conhecimento. Um leitor atento será capaz de identificar as palavras que estavam no texto original, a partir apenas da leitura do trecho aqui apresentado. a) Substitua as palavras em maiúsculas pelas palavras que estavam no texto original. b) De acordo com o texto, como podem ser caracterizadas as formas de conhecimento referidas por essas palavras? c) Com base neste texto, a que se dirige a filosofia, segundo Aristóteles? Respostas a) AQUELA: poesia; ESTA: história. b) A poesia, por meio de uma pessoa ou fato, fala dos humanos em geral e de situações universais; a história fala de pessoas singulares e situações particulares. c) A filosofia dirige-se ao universal – é um conhecimento teórico da natureza humana. Pelo seu caráter universal é que a poesia se aproxima mais da filosofia do que da história. 3. (Enem-MEC) "Do pedacinho de papel ao livro impresso vai uma longa distância. Mas o que o escritor quer, mesmo, é isso: ver o seu texto em letra de forma. A gaveta é ótima para aplacar a fúria criativa; ela faz amadurecer o texto da mesma forma que a adega faz amadurecer o vinho. Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda. O período de maturação na gaveta é necessário, mas não deve se prolongar muito. 'Textos guardados acabam cheirando mal', disse Silvia Plath, [...] que, com esta frase, deu testemunho das dúvidas que atormentam o escritor: publicar ou não publicar? Guardar ou jogar fora?" Moacyr Scliar. O escritor e seus desafios. Nesse texto, o escritor Moacyr Scliar usa imagens para refletir sobre uma etapa da criação literária. A idéia de que o processo de maturação do texto nem sempre é o que garante bons resultados está sugerida em que frase do texto? "Em certos casos, a cesta de papel é melhor ainda". 4. (Enem-MEC) "E considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico." Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. 20. ed. O poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu assim sobre a obra de Rubem Braga: "O que ele nos conta é o seu dia, o seu expediente de homem, apanhado no essencial, narrativa direta e econômica. (…) É o poeta do real, do palpável, que se vai diluindo em cisma. Dá o sentimento da realidade e o remédio para ela." Em seu texto, Rubem Braga afirma que "este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos". Que afirmação semelhante pode ser encontrada no texto de Carlos Drummond de Andrade ao analisar a obra de Braga? Sentimento de realidade. (Unifesp) O poema a seguir, de Raimundo Correia, é a base para as questões 5 e 6. As pombas "Vai-se a primeira pomba despertada... Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sangüínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida noitada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas, Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um céleres voam, Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais..." 5. (Unifesp) Há uma equivalência entre os dois quartetos e os dois tercetos do poema. Assim, o que podemos afirmar sobre o que representam os pombos? Os sonhos. 6. (Unifesp) O que revelam os dois últimos versos do poema? Uma visão pessimista da condição humana em relação à vida e ao tempo. 7. (Unicamp-SP) O poema abaixo pertence ao Cancioneiro de Fernando Pessoa. "Ah, quanta vez, na hora suave Em que me esqueço, Vejo passar um vôo de ave E me entristeço! Por que é ligeiro, leve, certo No ar de amávio? Por que vai sob o céu aberto Sem um desvio? Por que ter asas simboliza A liberdade Que a vida nega e a alma precisa? Sei que me invade Um horror de me ter que cobre Como uma cheia Meu coração, e entorna sobre Minh'alma alheia Um desejo, não de ser ave, Mas de poder Ter não sei quê do vôo suave Dentro em meu ser." Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995. p. 138. a) Identifique o recurso lingüístico que representa a ave tanto no plano sonoro quanto no imagético. b) Que relação o eu lírico estabelece entre a tristeza e a liberdade? Respostas: a) A ave é representada pelas expressões “vôo de ave” (verso 3) e “vôo suave” (verso 19). Em ambos os casos ocorre um processo metonímico (aspecto semântico da imagem) e um processo aliterativo (aspecto sonoro da imagem). A metonímia explica-se pelo uso de vôo em lugar de ave. A aliteração decorre da repetição sistemática da consoante fricativa /v/. b) O poema opõe o mundo natural, representado a ave e seu vôo, ao mundo da cultura que, ao valorizar o raciocínio, afasta o homem da natureza, provocando melancolia. 8 (Fuvest-SP) “A tua saudade corta como aço de navaia... O coração fica aflito Bate uma, a outra faia... E os óio se enche d'água Que até a vista se atrapaia, ai, ai...” Fragmento de Cutelinho, canção folclórica. a) Nos dois primeiros versos há uma comparação. Reconstrua esses versos numa frase iniciada por “Assim como (...)”, preservando os elementos comparados e o sentido da comparação. b) Se a forma do verbo atrapalhar estivesse flexionada de acordo com a norma padrão, haveria prejuízo para o efeito de sonoridade explorado no final do último verso? Por quê? Respostas: a) Ao se estabelecer a comparação introduzida por "Assim como (...)", há pelo menos duas possibilidades para os versos: • Assim como a tua saudade,/o aço da navalha também corta... • Assim como a tua saudade corta,/também o aço da navalha… b) Se o verbo “atrapalhar” estivesse flexionado em acordo com a norma padrão, a sonoridade da quadra de sete sílabas estaria comprometida, pois estaria desfeita a rima com a palavra “faia”. Além disso, a troca implicaria uma incoerência lingüística, uma vez que o restante do texto apresenta traços da variante falada popular e informal da língua caipira. 9. (Enem-MEC) Leia o que disse João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus textos: "Falo somente com o que falo: a linguagem enxuta, contato denso; falo somente do que falo: a vida seca, áspera e clara do sertão; falo somente por quem falo: o homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e na míngua. Falo somente para quem falo: para os que precisam ser alertados para a situação da miséria no Nordeste." Para João Cabral de Melo Neto, como deve ser a linguagem no texto literário? A linguagem do texto deve refletir o tema, e a fala do autor deve denunciar o fato social para determinados leitores. 10. (ITA-SP) O poema abaixo faz parte do livro Rosácea (1986), da escritora Orides Fontela. Leia-o atentamente. Lembretes "É importante acordar a tempo é importante penetrar o tempo é importante vigiar o desabrochar do destino." FONTELA, Orides. Trevo (1969-1988). São Paulo: Duas Cidades, 1988. a) Em cada estrofe, a escritora nos lembra de algo importante acerca da vida humana. Explique a que atitudes, comportamentos ou momentos da existência a escritora se refere em cada uma das três estrofes do poema. b) A seqüência dos “lembretes” torna-se complexa ao longo do poema por meio de metáforas cada vez mais abstratas. Aponte qual o possível significado metafórico da expressão “vigiar/o desabrochar do destino”, na última estrofe. Respostas: a) Na 1ª estrofe, “acordar a tempo” indica a necessidade da reação a algo iminente, em uma postura de reconhecimento da força do tempo. Sendo assim, podemos dizer que a estrofe defende a necessidade de preparar-se para a vida, o que pode ser associado a momentos como a infância ou mesmo o início da fase adulta. Na 2ª estrofe, “penetrar o tempo” já mostra ação que está além da preparação: há, nesse caso, a sugestão de que é preciso compreender o tempo. Trata-se de uma atitude de confronto, de enfrentamento, correspondente à vida adulta ou ao exercício consciente da própria existência. Na 3ª estrofe, a idéia de que é preciso “vigiar o desabrochar do destino” indica o cuidado com que se deve encarar o desenrolar da vida, sem se descuidar das experiências que são oferecidas pela vida, podendo se associar a uma etapa de plenitude ou de multiplicidade de perspectivas. b) Conforme dissemos no item anterior, a expressão em destaque pode ser entendida como a necessidade de se ficar atento ao desenrolar dos acontecimentos da vida, em todas as suas etapas.