Capítulos VI e VII de “A hora da igualdade. Brechas por selar, caminhos por abrir” PACTO FISCAL É CHAVE PARA FECHAR AS BRECHAS SOCIAIS Apesar da leve tendência por uma melhor distribuição da renda entre 2003-2008, devido, sobretudo, a melhorias no emprego e na renda do trabalhador, as diferenças sociais na América Latina e no Caribe continuam sendo enormes. A renda per capita do quintil mais rico supera em média 19 vezes a do mais pobre, com a diferença chegando a ser 33 vezes em Honduras. É fundamental o investimento social orientado para os grupos de menor renda, com políticas anticíclicas de longo prazo e garantias explícitas, e níveis de qualidade garantidos. Os sistemas de proteção e promoção social requerem, no entanto, maior segurança financeira e estabilidade institucional, para o que é necessário o respaldo de um pacto social. Desde meados dos anos noventa, os Estados têm fortalecido suas políticas no sentido de reduzir a desigualdade e a pobreza, entre elas, as transferências diretas de renda, as redes de proteção social e os subsídios às contribuições aos sistemas de previdência social e de saúde. No entanto, na maioria dos países da região, persiste uma alta proporção da população que não gera renda mínima adequada, devido a três razões fundamentais: a desocupação, os baixos salários e a inatividade. Subsistem sérios obstáculos à redução da desigualdade. Entre eles, destacam-se a distribuição da renda, da educação e do conhecimento, a capacidade desigual para aproveitar essa educação e conhecimentos no mercado de trabalho e a continuidade da desigualdade entre gerações. A educação desempenha um papel decisivo para conseguir-se maior igualdade. Uma agenda próigualdade deve tender a ampliar a cobertura da educação pré-escolar e a jornada escolar na educação pública, avançar na conclusão da educação secundária em setores socioeconômicos de menores recursos e reduzir as brechas nos aprendizados e conhecimentos adquiridos. A tributação é chave para outorgar aos Estados a capacidade de financiar políticas orientadas a reduzir as diferenças sociais, mas na América Latina, esta não tem o efeito re-distributivo que se vê em países desenvolvidos. São três os fatores que incidem na capacidade de arrecadação fiscal e na forma que estes recursos são distribuídos: a carga tributária, sua estrutura e o controle da evasão de impostos. A maioria dos países na região tem sérias dificuldades em algum ou em todos estes fatores. Apesar de a pressão tributária na América Latina ter aumentado de uma média de 12,8% do PIB em 1990 para 18,4% em 2008, continua sendo muito baixa e, além disto, pouco progressiva. Menos de um terço da arrecadação corresponde a impostos diretos (progressivos), enquanto que a maior parte da carga recai sobre os impostos de consumo e outros impostos indiretos, com escasso efeito redistributivo. Adicionalmente, as taxas de evasão tributária são muito elevadas: entre 40% a 65%. O pacto fiscal deve incluir pelo menos: Um compromisso gradual de incremento da carga tributária Uma rota clara para melhorar a arrecadação através da redução e controle da evasão Uma reforma da estrutura tributária, elevando o imposto sobre a renda Uma plataforma compartilhada que correlacione as mudanças na carga e estrutura tributária com o destino que a maior taxação terá nas políticas públicas Uma agenda pública para melhorar a transparência do gasto público e sua eficiência e eficácia Uma rota de reprogramação gradual do gasto social onde a recomposição intra e inter setorial mostre, à luz da evidência disponível, um maior impacto redistributivo e maiores externalidades em equidade e produtividade Uma estrutura tributária e uma institucionalização do gasto que possam dar conta das desigualdades territoriais e procure a sua convergência Um pacto fiscal desta natureza requer a rediscussão do papel do Estado e das estratégias governamentais, recuperando a noção de planejamento do desenvolvimento, que compreende um desenho integral das políticas públicas. Enquanto a maior convergência produtiva é a base para se conseguir uma maior igualdade de forma sustentável na sociedade, as ferramentas redistributivas mais imediatas e disponíveis para o Estado seguem sendo a reforma tributária e a orientação do gasto social. Neste contexto, exige-se um pacto fiscal entre agentes públicos e privados que aponte para a redistribuição de renda, bem como para a superação da enorme heterogeneidade estrutural, dotando o Estado de maior capacidade para captar e redistribuir recursos.