E S T U D O S ... Revista A Época, junho de 1936. Heg\el — Fenotnenologia dei Espirita — Revista do Oci* dente — Madrid — 1935. Trata-se de uma tradução de X. Zubiri para a excelentjfc seção de Textos Filosóficos dirigidos por José Gaos, da ~Re? vista de Ocidente, que já nos deu Suarez, Com te, Fichte e Descartes. Foram incluídas neste volume as três partes mais impor tantes $ía Fenonienologia, no original: Prologo 9 Introdução e Saber Absoluto. Com este livro, escrito em 1806 em íena, sob as investidas napoleonicas^ <e publicad'o em 1807, inicia Hegel a série de suas grandes obras. Na Fenom&nologia, um dos dois únicos livros saídos do próprio punho de Hegel (a outro é a Lógica), está o seu rosm*pimento doutrinário, e até mesmo pessoal, com Schelling* e Holderlin, velhos: amigos e mestres. Diz Nietzsche em alguma parte que não é digno do mfós* tre quem quer ser eterno dicipulo, e isto sabia -o Hegel, que, após acumular graves dúvidas sobre a filosofia da identidade, do irracional-absoluto, de Schelling, publicou esta confissão (Santo Agostinho) de sua crise intelectual, através de um livro afir mador e creadior, talvez o mais bem urdido de toda a historia; da filosofia, e que nos faz contrastar com estes ceticismos es*» tereis dos medíocres, quando duvidam! Embora completamfente racionalista, a Fenomenologia é um momento decisivo d'a própria vida de Hegel, d'aí dizer Zubiri,, seu tradutor: «P,or esío, a Io largo de sus paginas palpita una emoción intelectual y una vehentencia que ya no volverán a encontrarsie eu ningun otro escrito de Hegel». Hegel foi sua própria filosofia vivida, o que parecerá un* pouco paradoxal aos vii&lisúas,, em sentidb filosófico. Para Hegel, o essencial no espirito é conceber, e só adquiria valor vital para ele o que fosse possível de ser vivido filosoficamente, fora daí seria sua contra-vida. A Fcnomenologia é uma introdução á Filosofia, mediante uma exposição connexa dos diferentes rrtodos de manifestãr-se a vida não perceberíamos o tempo. E' através o tempo, que sentimos a nossa relação dupla—com o Infinito (naturesa) e com o finito (homem). Existir, é manifestar-se como partícula do Infinito numa relação de finitos. Eu não existo porque penso, mas porque per cebo que penso. O sentido da percepção está antes do pensamen to. Nós não percebemos porque pensamos, mas pensamos porque percebemos. Se nada percebêssemos, nada pensaríamos. Em suma, se este sexto sentido, não afirmasse a nossa posição em relação ao tempo, não só não pensaríamos, como n n. o teríamos a certesa de como relativo vivemos. Existo, portanto, porque percebo. E percebo o que: - - que sou uma manifestaçõo relativa. E como percebo isso ? Porque a certesa da minha existência, surge de duas certesas anteriores : a de não ter existido e a de deixar de existir. Estas certesas anteriores, estabelecem um inicio e um fim de percepção. Entre esse inicio e esse fim, está um período de tempo, o qual chamamos vida. Esse fim e esse inicio, dando -nos a percepção desse elemento. Tempo, afirma-nos como relativos, e deixa-nos a certesa de um absoluto como eternidade. E podemos raciocinar assim : A Eternidade, para existir fez-se em partículas, subdividindo-se. A proporção que essas partículas se desintegraram de si e voltam a si, através elas, ela se vae compreendendo. No instante em que a ultima partícula se desintegrar e voltar a si, ela se compreenderá. Desaparecerá a relação entre o homem e o tempo, a vida e manifestar-se-á ela mesma. A eternidade é o tempo absoluto da naturesa. As partículas que dela se desintegraram: os seres, A relação creada: a vida. Os seres existem porque existe o tempo. O tempo existe porque os seres o percebem. J, G. DE ARAÚJO JORGE. P6DRO CniilTlOn Rn nCnDeUHn — nas ultimas eleições realizadas na Academia Brasileira de Letras, para preenchimento da vaga de Felix Pacheco, foi eleito o prof. Pedro Calmon. Muito Moço ainda, pois tem apenas 32 anos, o novo «imortal» já tem uma posição bem definida no seio da intelectualidade do paiz, quer como jurista, escritor, jornalista e politico, Ao illustre professor d'essa Fa culdade, enviamos os nossos parabéns. B6ITÍ, ÍOflO n6VeS I— no acordo político em preparo, entre a minoria parlamentar e o governo da Republica, um dos itens formulados pela Oposição, é a questão da liberdade dos intelectuais e parlamentares presos. Os alunos da Faculdade, receberam com vivo contentamento, esta alviçareira noticia e por isso, procuraram o deputado João Neves da Fontoura, para cumprimenta-lo. Assim, sim! o saber («Estie devenir de Ia ciência en general, o dei saber, és o que expone Ia fenomenologla dei espirita» — 33) no desenvolvimento da conciencia «em seu avanço, desde a primeira oposição imediata entre ela e o objeto, até o saber absoluto.»,; em contínua superação de suas formas sensíveis subordinadas pelas superiores até a dissolução de todos os gráos na verdade absoluta. Aqui já aparece o método dialético completamente ama durecido, de modo que cada forma de conciencia surge com! necessidade interior da outra, na série ininterrupta do conhecimento, até a completa unidade do conceito e do objeto. Nesta obra, Hegel alcança a meta definitiva de seu sis tema, levantando-se contra o individualismo sentimentalista, reinante em sua época, («Lo antihutrkino, to animal, cosiste en quedarse \en seniimientos y en no poder contunicarse sino con estos» — 93), que reduzia toda conduta valorativa, teórica, ou prática, a ipuras inspirações individuais. Hegel foi além de seu objetivo preliminar, prosseguindo em meditações sobre a vida e a Historia, que desde nniitío palpitavam em seu interior, investigando ias diferentes experiências espirituais das diversas gerações, que expressam formas típicas de conciencia. Contrapondo-se ao heroísmo, individual, a Historia apiarece aqui com sua forçazidkdle supraindividuaJ, sendo o papel do indivíduo «un presenciar el desenvolvintienio de Ia Idea conto própria actividad de ella, sin que et sujeio anada na.d\a por su parte»; mas com1 este presenciar, »o indivíduo indentifica-se á Historia, havendo uma, unidade do particular com o geral, e assim a crise de Hegel foi a crise de sua época. Com isto quer Hegel afastar do individual tudo que seja, Contingente e irracional. Com esta obra - • de que nem todos se aperceberam Heglel foi o precursor de toda a filosofia alemã da angustia, este isentir-se extranho no meio das coisas que nos cercam, este sentir-se extranho no meio das coisas que nos cercam, sendo toda sua filosofia uma luta contra esta extranheza — que tanto aprofundou Schopenhauer. Pela doutrina de ser toda experiência uma experiência de condencia, -colocado como fundador da moderna filosofia da vivência (ErLebniss). Os verdadeiros filósofos, os que fazem da filosofia timía autoreflexão do espirito sobre sua conduta valorativra teórica e pratica, em busca de uma concepção racional do universo, muito devetat a Hegel, este filosofo que é a maior critica ad prelogismo, que soube colocar a filosofia em 1 seu verdadeiror lugar /«Por est\e lado es especialmente urgente volver a liaccr dei filosofar una ocupación seria» — 89. «Pens\amientos verda* deros y evTSencias cientificas, solamenfe pueden adquirirse con cl ir aba] o dei concepto^ —• 94). Hegel preocupoiu-se tanto em levar a serio a filosofia, em afasta-la desta charlatanice de intuições, inspirações e genia l idades, que creou seu método filosófico, ou seja: «a estrutu ra da proposição especulativa»,, isto é, o predicado não deve significar somente o predicado - - na lógica geral - - senão que deve expressar a essência do sujeito, donde declarar o predicada que o sujeito o é efetivamente como ele diz. «A Fenomienologla é a genial abertura do sistema hegeliano, em que os motivos característicos se aglomeram com vi gor cheio de promessas e em abundância plena de vida», eá* creveii o Dr. H. Falkenheim, um dos mais profundos conhe cedores de Hegel no mundo atual. 4 Hcg\el • Filosofia dei Derecho — Revista de Ocidente Madrid — 7935. Este volume pertence também aos excelentes Textos Filoso* flcos, dirigidjoiS por José Gaos, editados pela casa que mais tem difundido a filosofia na Hespanha. Enquanto que a Fenomenologia do Espirito é a primeira grande obra de Hegel, esta é a ultima;, tendoí aparecido ietn 1821, em completa madurez filosófica de Hegel. Da obra original, incluiu-se nesta tradução somente duas partes: a Introdução e \a E deidade. Hegel começa por conceituar a jurisprudência filosófica, que «tem por objeto a Idéa do Direito, isto é, o conceito do Dir reito ie sua realização». Em continuação, estuda Hegel o Direito positivo, e em sua contraposição ao Direito natural, relação esta que lembra muito de perto; a teoria do Direito natural de conteúdo variável de Stantmler. O terreno dó direito para Hegel é o espiritual, tendo c(v mo conteúdo a vontade livre («O Direito é a existência em absoluto, existência da vontade livre» — 56), o que novamente nos faz associar com Stamtnler, que dá como c onteúdo do direito a pureza da vontade, com Zitelmann e com Oertmann, continuadores desta Willenstheofie, estudadla por Hegel na Filosofia do Direito. Assim classifica Hegel as esferas da vontade e seus cor* respondentes exteriores: a) — vontade imiediata - personalidade - Direito abstrato oi\ formal. ^^ — vontade como singularidade subjetiva em frente $ c) — vontade que se reflexa em si no mundo exterior — eticidadle. Da substancia ética, Hegel dá, em seus diversos desenvolvimentos: a) espirito natural — familija; b) sociedade civil; c) o Estádio, sendo que o seu Difpifo é o supremo. ?.. Em Hegel, ou se faz um resumo quasi que só de nomerçH clatura ou se é obrigado a acompanha-lo e:m toda sua meditarão para «compreender a velha verdíade». «Sua Filo sofia não é um repensar que tolere um pensar mais profundo ou dife rente sobre o mesmo objeto, mas sim umi pensar de novo* desde o principio»,, completa-nos F. E. G. Vicent, tradutor da filosofia ãel jDerec/io. E. M. F,