Análise do Tempo de Permanência do Tubo Endotraqueal em Crianças Submetidas a Cirurgias Cardíacas Analysis of the Time of Use of Endotracheal Tube in Children Who Underwent Cardiac Surgeries Milena Lins da Cunha Dias Fisioterapeuta Intensivista, Mestranda em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva - SOBRATI Viviane Ribeiro Targino (orientadora) Fisioterapeuta Intensivista, Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. RESUMO A correção cirúrgica de cardiopatias congênitas tornou-se uma realidade possível nos hospitais públicos do Nordeste. O tratamento pós-operatório requer o acompanhamento em Unidade Terapia Intensiva sendo necessário em alguns casos o uso de Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) no pós-operatório imediato. Atualmente, é consenso entre os profissionais que o desmame da ventilação mecânica deve ser realizado o mais precocemente possível, evitando assim diversas complicações respiratórias que podem vir a dificultar a recuperação dos pacientes e prolongar o tempo de internação. Objetivo: Analisar o tempo de utilização do tubo endotraqueal (TOT) em pacientes pediátricos com cardiopatia congênita no período pós-operatório de cirurgias cardíacas corretivas e paliativas. Métodos: Tipo de estudo retrospectivo por meio de análise de prontuários, sob consentimento da Instituição, de 78 pacientes com indicação de cirurgias cardíacas admitidos na UTI do Complexo de Pediatria Arlinda Marques, João Pessoa – Paraíba, no período de outubro de 2011 a agosto de 2012. Resultados: Dos 78 pacientes, 34 foram do sexo masculino (43,5%) e 44 feminino (56,4%). A faixa etária mais incidente foi entre 0 a 1 ano com 34 pacientes (43,5%). As patologias mais comuns foram: Comunicação Interatrial (CIA) com 22% de incidência, Comunicação Intraventricular (CIV) com 14,1%, Persistência do Canal Arterial (PCA) com 21,7%. Os pacientes que chegaram extubados ao setor corresponderam a 48,7%, os que foram extubados em menos de 6h a 44,8%, entre 6 a 12h a 5,1% e mais de 24h a 1,2%. O índice de reintubação foi de 6,4%. Conclusão: A maioria dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca foram extubados em menos de 6h após chegarem do pós-operatório à UTI. O tempo de permanência no TOT por mais de 6h pode estar relacionado à baixa idade, assim como o índice de reintubação que, também pode ser consequência da extubação precoce. Palavras-chave: pediatria, cirurgia cardíaca, ventilação mecânica. ABSTRACT The surgical correction of congenital heart defects became a possible reality in public hospitals in the Northeast. The postoperative treatment requires monitoring in an Intensive Care Unit, being necessary in some cases the use of Invasive Mechanical Ventilation (IMV) in the immediate postoperative. Nowadays, it is consensus among professionals that the weaning of mechanical ventilation must be made as soon as possible, avoiding this way diverse respiratory complications that can make the patient’s recovery difficult and prolong the hospital stay. Objective: To analyze the time of use of the endotracheal tube (ETT) in pediatric patients with congenital heart disease in the post-operative of corrective and palliative cardiac surgeries. Methods: Retrospective type of study by means of chart analysis, with consent of the Institution, of 78 patients with indication of cardiac surgeries admitted to the Intensive Care Unit (ICU) of the Pediatric Complex Arlinda Marques, in João Pessoa – Paraíba, in the period of October of 2011 to August of 2012. Results: Of the 78 patients, 34 were of the male gender (43.5%) and 44 female (56.4%). The age most incident was between 0 to 1 year old with 34 patients (43.5%). The most common pathologies were: Atrial Septal Defect with 22% of occurrence, Ventricular Septal Defect with 14.1%, Patent Ductus Arteriosus with 21.7%. The patients that arrived extubated to the ICU amounted to 48.7%, the ones that were extubated in less than 6 hours to 44.8%, between 6 to 12 hours to 5.1% and more than 24 hours to 1.2%. The reintubation rate was of 6.4%. Conclusion: The majority of patients submitted to cardiac surgery were extubated in less than 6 hours after arriving from the postoperative to the ICU. The time of use of the ETT for more than 6 hours might be related to the low age, as well as the reintubation rate that might also be consequence of precocious extubation. Key-words: pediatrics, cardiac surgery, mechanical ventilation. INTRODUÇÃO O tratamento pós-operatório de cirurgia cardíaca requer o acompanhamento em Unidade Terapia Intensiva (UTI) também sendo necessário em alguns casos o uso de Ventilação Mecânica Invasiva (VMI) neste período [1,2]. Neste contexto, é consenso entre os profissionais que o desmame da ventilação mecânica deva ser realizado o mais precocemente possível, especialmente em alguns casos como PCA, CIA e CIV 3,4,5,6 , evitando assim diversas complicações respiratórias que podem vir a dificultar a recuperação dos pacientes e prolongar o tempo de internação[5,7,8]. Já foi verificado que a dependência do suporte ventilatório está diretamente relacionada à incidência de morbidade e ao aumento do tempo de internação nas Unidades de Terapia Intensiva. A redução do tempo de início de desmame e a desconexão do suporte ventilatório mecânico poderia prevenir a incidência de complicações pulmonares e o tempo de hospitalização[9]. Esta pesquisa teve como objetivo analisar o tempo utilização do tubo endotraqueal (TOT) no período pós-operatório de cirurgias cardíacas corretivas e paliativas em pacientes pediátricos com cardiopatia congênita. MÉTODO Tipo de estudo retrospectivo por meio de análise de prontuários de pacientes que foram submetidos a cirurgias cardíacas e admitidos na UTI cardiológica do Complexo de Pediatria Arlinda Marques na cidade de João Pessoa – Paraíba. Foram incluídos nesta pesquisa os dados de prontuários de pacientes com idades entre 0 e 16 anos submetidos a cirurgias cardíacas corretivas ou paliativas no período de outubro de 2011 a agosto de 2012. Esta pesquisa foi realizada sob consentimento da referida Instituição. A busca bibliográfica foi realizada em artigos publicados e disponibilizados na base de dados da Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde LILACS e Cientific Electronic Library Online (SCIELO) utilizado-se os termos “pediatria”, “crianças”, “cirurgia cardíaca”, “complicações pulmonares”, “internação hospitalar” , “suporte ventilatório”, “tubo endotraqueal” e seus correspondentes na língua inglesa. A análise dos dados foi realizada através de software específico (Microsoft Office Excel 2007) e apresentada em forma simples de porcentagem. RESULTADOS Dos 78 pacientes analisados, 34 eram do gênero masculino (43,5%) e 44 do gênero feminino (56,4%). A faixa etária mais incidente foi entre 0 a 1 ano (43,5%). As mais frequentes patologias motivadoras para os procedimentos cirúrgicos eram de origem congênita sendo elas: Comunicação Interatrial (CIA) com 22% de incidência, Comunicação Intraventricular (CIV) com 14,1% e Persistência do Canal Arterial (PCA) com 21,7% (Gráfico 1). Os pacientes que chegaram à UTI extubados imediatamente após as cirurgias corresponderam a 48,7%, os que foram extubados na UTI em menos de 6 horas corresponderam a 44,8%, entre 6 e 12 horas a 5,1% e após mais de 24 horas de internação corresponderam a 1,2% (Gráfico 2). O índice de reintubação na UTI foi de 6,4%. DISCUSSÃO Na literatura especializada são frequentemente encontradas discussões acerca da relação entre a dependência do suporte ventilatório e a incidência de morbidade, assim como o aumento do tempo de internação nas Unidades de Terapia Intensiva. De acordo com alguns autores, a redução do tempo para início de desmame e a desconexão do suporte ventilatório mecânico poderia prevenir a incidência de complicações pulmonares e o tempo de hospitalização[9]. No protocolo tipo fast track extubation o desmame da VMI é considerado procedimento prioritário e indica-se a extubação o mais rápido possível, especialmente dentro das primeiras horas reduzindo-se assim as chances de complicações como pneumonias e hipotrofia de diafragma[4,5,10], que já foi constatado que o uso do TOT por um período superior a três dias pode aumentar o risco da ocorrência de infecções pulmonares[11,12]. A fisioterapia no período pré e pós-operatório tem sido indicada em cirurgia cardíaca pediátrica com o objetivo de reduzir o risco desta complicações supracitadas, bem como tratá-las[13]. Foi verificado que a fisioterapia respiratória, após a chegada da criança na UTI, contribui para a ventilação adequada e o sucesso da extubação[9] e, posteriormente, pode ser indicada para preservar a permeabilidade de vias aéreas[5]. Por análise dos dados dos prontuários, foi observado que todos os pacientes extubados ainda no bloco cirúrgico chegaram à UTI em ar ambiente e eram frequentemente adaptados a algum meio de oxigenoterapia como máscaras de Venturi ou capacete Hood permitindo-se a respiração sem estes sistemas assim que era reduzida a sedação ou quando era observação a normalização dos parâmetros vitais através dos sistemas de monitorização. Foi verificado também que o tempo de permanência no TOT por mais de 6h pôde estar relacionado à baixa idade e peso associada a imaturidade do sistema cardiorrespiratório, fatores estes que já foram anteriormente mencionados em estudos semelhantes[14]. Entretanto outros índices de predição de risco[15] e fatores que podem determinar o tempo e sucesso da recuperação pós-operatória, como doenças préexistentes[2], o uso de circulação extra-corpórea[9] durante o procedimento cirúrgico e a atuação pré e pós operatória da fisioterapia[16,17,18,19] não foram avaliados neste estudo. O índice de reintubação foi relativamente pequeno comparativamente ao que é encontrado na literatura, o que pode ter sido influenciado pelo protocolo de desmame precoce. Estudos apontam índices de reintubação de cerca de 10% em grupos de crianças que necessitaram de VMI prolongada associados inclusive com a o aumento da morbidade e mortalidade dessas crianças em pós operatório cardíaco[10]. Este índice de reintubação encontrado nesta pesquisa pôde ser também consequência da extubação precoce em crianças instáveis de cirurgias paliativas, porém são necessários estudos mais aprofundados e com uma amostra maior para garantir resultados mais exatos. CONCLUSÃO Através deste estudo foi observado que os procedimentos de extubação precoce estão sendo respeitados e em acordo com a literatura científica atual, o que é confirmado através dos registros dos prontuários da maioria dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, os quais foram extubados em menos de 6h após chegarem do pósoperatório imediato à UTI. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como objetivo principal a avaliação do tempo de permanência do TOT no período pós-operatório das crianças submetidas a cirurgias cardíacas na supracitada Instituição e os dados obtidos nesta pesquisa vão refletir diretamente as estratégias de intervenção e protocolos da equipe cardíaca que atua na mesma, não devendo portanto ser tomada como parâmetro de comparação com outras instituições que possuem protocolos próprios. REFERÊNCIAS 1-Silva ZM, et al. Fatores associados ao insucesso no desmame ventilatório de crianças submetidas a cirurgia cardíaca pediátrica. 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