resenha crítica - PBworks da Mara Tavares

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FACULDADE DE ARTES DO PARANÁ - FAT
PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICO E INSTITUCIONAL
RESENHA:
A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática
Irecê
2008
EDINEI MESSIAS ALECRIM
RESENHA:
A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática
Trabalho solicitado pela docente
Mônica Loiola da disciplina História da
Psicopedagogia e formação Pessoal
em Psicopedagogia, como requisito
avaliativo do 1º Módulo do Curso de
Pós-graduação em Psicopedagogia
Clínico e Institucional.
Irecê
2008
RESENHA: A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática
BOSSA A., Nádia. Fundamentos da Psicopedagogia. In ______A Psicopedagogia
no Brasil: contribuições a partir da prática. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. P. 1932.
BOSSA A., Nádia. A formação do Psicopedagogo no Brasil: uma especialização. In
______A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2007. p. 37-50.
1.
CREDENCIAIS DA AUTORA
Nádia A. Bossa é Psicopedagoga, Mestre em Psicologia da Educação pelas
Pontifícias Universidades Católica de São Paulo, PUC-SP, Doutora em Psicologia e
Educação pela USP. No final da década de 80, e início dos anos 90, a referida
autora passa de aluna a professora e depois de concluído o mestrado com uma
dissertação que oficializava a existência da Psicopedagogia na PUC-SP, se tornou
uma das grandes percussora da busca constante pela regulamentação da profissão
do psicopedagogo no Brasil.
Obras da autora: Dificuldades de aprendizagem: O que são? Como trata-los?
Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico.
2.
RESUMO DA OBRA
A resenha que será aqui descrita refere-se a uma análise crítica do primeiro e do
terceiro capítulo da obra da autora.
No primeiro capítulo, Bossa apresenta o conceito do termo psicopedagogia. Seu
conceito assinala de forma simples e direta uma das mais profundas e importantes
razões da produção do conhecimento científico: o de ser meio, o de ser instrumento
para o outro, tanto na perspectiva teórico, quanto na aplicada à prática do cotidiano.
A afirmação de que a psicopedagogia, historicamente, surgiu na fronteira entre a
psicologia e a pedagogia merece maior atenção. Para se chegar a uma melhor
conclusão desta proximidade, convém percorrer um caminho em que é preciso
pensar sobre o seu objeto de estudo, sobre as teorias que, na interdisciplinaridade,
embasam essa prática e sobre o seu campo de atuação.
As considerações com relação ao objeto de estudo da psicopedagogia sugerem que
há certo consenso quanto ao fato de que ela deve ocupar-se em estudar a
aprendizagem humana, porém é uma ilusão pensar que tal consenso nos conduza,
a todos, a um único caminho.
É função da pedagogia pensar: O que é educar, o que é ensinar e aprender; como
se desenvolvem estas atividades; como incidem subjetivamente os sistemas e
métodos educativos; quais as problemáticas estruturais que intervém no surgimento
de transtornos da aprendizagem e no fracasso escolar; que propostas de mudança
surgem. O Sujeito que aprende é motivo de perguntas para o psicopedagogo, e
destinatário de sua atividade profissional.
A definição do objeto de estudo da psicopedagogia passou por fases distintas. O
objeto de estudo foi entendido várias formas; primeiro, era o sujeito que não podia
aprender; segundo o fato do sujeito não-aprender é concebido e carregado de
significados que explicam o seu não-aprender. A partir dessa perspectiva a evolução
desta área de estudo passou a entender que o objeto de estudo é sempre o sujeito
em processo de aprendizagem.
O trabalho do psicopedagogo pode ser preventivo e clínico. Podemos então falar em
diferentes níveis de prevenção. No primeiro, o psicopedagogo atua nos processos
educativos com o objetivo de diminuir a freqüência dos problemas de aprendizagem,
tendo como trabalho as questões didático-metodológicas, bem como na formação e
orientação dos profissionais da educação, além do aconselhamento dos pais. Num
segundo momento, o grande objetivo é tratar os problemas de aprendizagem já
instalados, criando um diagnóstico da realidade institucional e elaborando planos de
intervenção baseados na realidade diagnosticada. E no terceiro momento, o grande
objetivo é eliminar os transtornos instalados, a partir de um procedimento clínico
com todas as suas implicações. No exercício do trabalho clinico, o psicopedagogo
deve reconhecer a sua própria subjetividade na relação, pois se trata de um sujeito
que estuda outros sujeitos.
Todo estudo sobre as aprendizagens humanas requer a necessidade de se construir
teorias que fundamentam o aspecto psicopedagógico, embasando a prática tanto no
que se refere ao preventivo, quanto ao clínico.
Os profissionais em psicopedagogia como quaisquer outros profissionais, sustentam
sua prática em pressupostos teóricos muitas vezes distintos. A epistemologia
genética e a psicanálise são necessárias para a teoria psicopedagógica, mas não se
confundem com ela, cujo fim é dar conta da articulação inteligência-desejo.
Considera-se que a psicopedagogia foi se materializando como um conhecimento
independente e complementar, por assimilação recíproca das contribuições das
escolas psicanalítica, piagetiana e da psicologia social de Enrique Pichon-Rivière.
Podemos caracterizar a psicopedagogia como uma área de confluência do
psicológico, ou seja, a subjetividade do ser humano enquanto tal e do educacional,
atividade especificamente humana, social e cultural.
O campo de atuação do psicopedagogo refere-se não só ao espaço físico onde se
dá esse trabalho, mas também e em especial ao espaço epistemológico que lhe
cabe, ou seja, ao lugar deste campo de atividade e ao modo de abordar o seu objeto
de estudo. O trabalho psicopedagógico pode, certamente, ter um caráter
assistencial. Isso acontece quando, por exemplo, o psicopedagogo participa de
equipes responsáveis pela elaboração, direção e evolução de planos, programas e
projetos no setor de saúde e educação, integrando diferentes campos de
conhecimento. A psicopedagogia ocupa-se, assim, de todo o contexto da
aprendizagem, seja na área clínica, preventiva, assistencial, envolvendo elaboração
teórica no sentido de relacionar os fatores envolvidos nesse ponto de convergência
em que opera. Historicamente a psicopedagogia nasceu para atender a patologia da
aprendizagem.
No terceiro capítulo, Bossa sistematiza a formação do Psicopedagogo no Brasil,
numa visão epistemológica como mudança de paradigma a partir do atual contexto
educacional.
A questão da formação do psicopedagogo assume nessa perspectiva um papel de
grande relevância na medida em que é a partir desta formação que se processa o
início da construção da identidade desse profissional.
A psicopedagogia no Brasil ainda não se concretizou como profissão do ponto de
vista legal. Assim sendo, a regulamentação da profissão de psicopedagogo viria a
efetivar a existência legal desse novo profissional. Um desafio está posto.
Uma outra discussão que se denota desafio à profissionalização do psicopedagogo
é a sua prática psicopedagógica. A resposta para atender a este desafio é a própria
prática
psicopedagógica,
exercida
por
um
profissional
especializado,
o
psicopedagogo, cuja atuação visa não apenas a sanar problemas de aprendizagem
e
deficiências
no
aparelho
escolar,
mas,
principalmente,
considerar
as
características muldisciplinares do sujeito que aprende, buscando melhorar seu
desempenho e aumentar suas potencialidades de aprendizagem.
Para tanto, duas formas de atuação são propostas dentro da formação do
psicopedagogo. A atuação da psicopedagogia clínica, visando o atendimento clínico
a partir de uma investigação para compreender o significado, a causa e a
modalidade de aprendizagem do sujeito, com o intuito de sanar suas dificuldades. Já
a atuação psicopedagógica institucional, assume o compromisso com a melhoria da
qualidade do ensino expandindo sua atuação para o espaço escolar, atendendo,
sobretudo, aos problemas cruciais da educação no Brasil.
No ambiente escolar, o psicopedagogo se utiliza de instrumentos especializados,
sistemas específicos de avaliação e estratégias capazes de atender aos alunos em
suas individualidades e de auxiliá-los nas atividades diárias na escola. Também,
este profissional, assessora a escola, alertando-a para o papel que lhe é conferida,
além de reestruturar a atuação da própria instituição junto aos alunos e professores,
seja redimensionando o processo de aquisição e incorporação do conhecimento
dentro do espaço escolar, quanto ao encaminhamento de alunos para outros
profissionais.
A psicopedagogia abrange um outro campo do conhecimento que é a produção
científica, que a partir da estrutura de seus estudos sistematiza um enorme leque de
questões, que abre um vasto campo de investigação de fenômenos envolvidos no
processo de aprendizagem humana.
Portanto, a formação do psicopedagogo, se fundamenta a partir da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional – 9.394/96 que assegura que a educação, dever da
família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Assim, a formação dos profissionais da educação ocorre em cursos de Pedagogia
que, mesmo reformulados com diferentes habilitações, não têm atendido à demanda
da escola. Todavia, permanece na escola um imenso vazio, pois a pedagogia, numa
visão da compreensão do processo de ensino-aprendizagem, não tem contemplado
as diferentes situações advindas da própria escola, como por exemplo, o
desempenho do professor, os conteúdos de ensino e o processo afetivo, cognitivo,
apenas justapondo informações sem conseguir articulá-las.
Nessa perspectiva, a psicologia oferece à pedagogia um conhecimento sabre a
aprendizagem que considera o ser humano de um modo genérico, desvinculando
dos conteúdos de ensino. Por isso, a necessidade de um novo profissional em
aprendizagem com formação psicopedagógica obrigatória a partir de um curso de
especialização em nível de pós-graduação, capaz de desempenhar um papel
específico na ação educativa, com uma sólida fundamentação centrada no
conhecimento científico.
Os profissionais da psicopedagogia já possuem um órgão de classe, a Associação
Brasileira de Psicopedagogia – Abpp, criada há 17 anos com sede em São Paulo,
composta por seções e núcleos nas diferentes regiões do País.
Tendo em vista que a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter oficial
nas Universidades com muita procura, e há um grande número de profissionais
formados nas Universidades brasileiras desde a década de 1960, a regulamentação
da profissão torna-se não só legítima, mas urgente.
3.
CONCLUSÕES DO RESENHISTA
De um modo geral, a autora de forma sistematizada retrata a importância da
Psicopedagogia como campo de estudo da aprendizagem humana, desde o
conceito
do
termo
psicopedagogia
até
a
regulamentação,
fundamentando em idéias próprias e de autores diversos.
apoiando
e
Uma das questões aqui descritas que necessitam ser mais bem discutidas é o seu
objeto de estudo e seu campo de atuação. Assim, a aprendizagem humana como
objeto de estudo, implica dizer que não se pode mais conceber teorias e posturas
metodológicas
que
enfatizam
o
mero
conteúdismo
como
fonte
de
toda
aprendizagem humana, mas a relação deste indivíduo com o objeto, e isto se leva a
entender que o sentido também da aprendizagem humana deve ser a relação entre
sujeito e objeto.
Do ponto de vista da atuação psicopedagógica, a autora, traz de forma categórica o
trabalho do profissional no campo clínico, institucional e científico, haja vista que
estas três atribuições têm como foco o diagnóstico, a intervenção e a produção
científica, vislumbrando no cenário educacional uma melhor aprendizagem dos
envolvidos no processo educativo, bem como a inserção da temática no contexto
acadêmico.
Enfatiza também, as contribuições científicas no cenário das Universidades pela
grande procura do curso, que fortemente se expressa pela necessidade urgente do
trabalho psicopedagógico, principalmente no campo educativo, mais precisamente
no ambiente da sala de aula.
A autora retrata ainda a discussão em torno da formação do psicopedagogo no
Brasil, amparando na Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
9.394/96, que assegura uma educação de qualidade voltada para a formação da
cidadania e profissionalização. Ainda no campo da formação e atuação frente aos
desafios do ensino-aprendizagem, a obra reflete criticamente o papel da pedagogia
na resolução dos problemas enfrentados nesta área. A Pedagogia, atualmente não
consegue mais dar conta de todas as demandas existente no campo do ensinoaprendizagem, necessitando uma postura que vá além do pedagógico, ou seja, que
relacione o conhecimento psicológico ao pedagógico, contribuindo de forma decisiva
na articulação de alternativas de intervenção dentro do ambiente educativo,
especialmente no que se refere aos distúrbios de aprendizagem.
A autora conclui que há uma procura de forma intensa nas Universidades por este
imenso País e fora dele pelo curso de Psicopedagogia, não por se tratar de mais um
novo curso, mas por ser uma área do conhecimento que se preocupa com a
aprendizagem humana no seu sentido mais amplo, e que por isso acredita-se que
não se torna mais só necessário a oficialização deste profissional, mas
imprescindível.
4.
CRÍTICA DO RESENHISTA
A obra fornece subsídios à construção do conhecimento científico, por se tratar de
uma vasta discussão em que a protagonista discute a articulação e a construção de
uma nova área epistemológica que estar por vir.
É uma leitura que exige conhecimentos prévios para se ter uma melhor
compreensão, além de exigir releituras e pesquisas afins, objetivando uma melhor e
mais consistente interpretação do que se discute neste campo do conhecimento.
Com estilos claros e objetivos, a autora dá esclarecimentos sobre conceito, objeto
de estudo, atuação profissional, teorias que embasam o fazer psicopedagógico e a
oficialização da profissão, exemplificando e impulsionando uma reflexão crítica sobre
os fundamentos teóricos da compreensão do que é a Psicopedagogia Clínica e
Institucional.
Finalmente com sólidos conhecimentos em torno da questão da Psicopedagogia, a
autora empenha-se em discutir amplamente a questão da profissionalização do
psicopedagogo, a partir de análises e procedimentos científicos.
5.
INDICAÇÃO DO RESENHISTA
A obra tem por finalidade discutir o contexto da Psicopedagogia no Brasil, se
tornando subsídio para professores, estudantes universitários, pesquisadores, a fim
de que possam realizar planejar e desenvolver as próprias pesquisas tanto na
graduação, quanto na pós-graduação, utilizando-se destas informações para a
produção de conhecimentos confiáveis.
Este livro, especialmente os dois capítulos aqui resenhados, não se trata de um
simples manual, com passos a serem seguidos, mas uma gama de informações,
com fundamentos necessários à compreensão da natureza do método científico no
campo da construção do conhecimento, mais precisamente na área da
aprendizagem humana, com especificidade no campo da psicologia e pedagogia,
bem como pressupostos sistematizados que contribuem para o desenvolvimento do
posicionamento crítico, tão necessário à construção do conhecimento científico.
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