Contexto, Ensino e Didática em História Autor: Rodrigo Janoni

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Contexto, Ensino e Didática em História
Autor: Rodrigo Janoni Carvalho
Data: 05/05/2011
As referências mencionadas nesse breve trabalho estão relacionadas à disciplina da
História, seu contexto e sua didática. Circe Maria Bittencourt, em seu livro Ensino de
história: fundamentos e métodos, faz uma análise da disciplina escolar de modo
geral e da história, como também dos componentes das disciplinas, o papel do
professor e as aproximações e distanciamentos da escola com o conhecimento
acadêmico.
Oldimar Cardoso procura definir o conceito de Didática da História pautando
discussões com a bibliografia sobre o tema, a partir de contribuições alemãs,
francesas e brasileiras. E, Selva Guimarães Fonseca, realiza um percurso histórico
sobre a disciplina de história e da humanidade, nas últimas décadas do século
passado, dialogando sobre as dificuldades e as organizações curriculares na
ditadura militar brasileira e na posterior redemocratização.
Todas essas discussões giram em torno do que conhecemos por "cultura escolar".
Fonseca aponta para importância do diálogo sobre a produção e as relações entre
universidades e ensino básico:
"As mudanças operadas no ensino de história nas últimas décadas do século XX
ocorreram articuladas às transformações sociais, políticas e educacionais de uma
forma mais ampla, bem como àquelas ocorridas no interior dos espaços
acadêmicos, escolas e na indústria cultural [...] discutir o ensino de história, hoje, é
pensar os processos formativos que se desenvolvem nos diversos espaços, é
pensar fontes e formas de educar cidadãos, numa sociedade complexa marcada por
diferenças e desigualdades" (FONSECA, 2008, p. 15).
Bittencourt descreve duas concepções de disciplina escolar. A primeira seria uma
"transposição didática", que se caracteriza, para alguns autores franceses e
ingleses, como Yves Chevallard, como decorrência das ditas ciências eruditas de
referência, ou seja, da academia. Nesse sentido, a disciplina escolar é dependente
do conhecimento científico que é "transposto" para as escolas por uma "boa"
didática. Outra questão seria a hierarquia dos conhecimentos, bem clara nessa
visão, numa escala de inferioridade da escola.
Nessa concepção, a escola é um lugar de recepção e reprodução do conhecimento
externo, e, o professor, mero reprodutor. Ao contrário desta tendência, há a
disciplina como entidade específica, defendida por autores, como Ivor Goodson e
André Chervel. Para eles, ao invés da ?transposição?, a disciplina se constitui por
uma rede de conhecimentos que pauta diferenças entre as formas de conhecer
científica e escolar.
A disciplina escolar se relaciona com seu papel de instrumento de poder em
determinados setores da sociedade, seja na compreensão do papel da escola ou da
manutenção de privilégios sociais. Nesse sentido, a cultura escolar abarca as
disciplinas a partir de objetivos próprios.
"A seleção dos conteúdos escolares, por conseguinte, depende essencialmente de
finalidades específicas e assim não decorre apenas dos objetivos das ciências de
referência, mas de um complexo sistema de valores e de interesses próprios da
escola e do papel por ela desempenhado na sociedade letrada e moderna"
(BITTENCOURT, 2004, p. 39).
São assim estabelecidas as finalidades de cada disciplina com determinados
conteúdos explicitados e métodos definidos para apreensão e avaliação da
aprendizagem. No que divergem as disciplinas escolares das científicas, a autora
cita Goodson. Para este, nas escolas primárias e secundárias se utiliza o termo
"matéria", apesar de aparecer "disciplina escolar" em documentos oficiais; já nos
cursos superiores, o termo usado é "disciplina" composta por diversas "matérias".
Outro ponto de destaque são os objetivos de cada ensino. Na academia, visa-se
formar um profissional especialista. Na escola, visa-se formar um cidadão que
necessita de um conhecimento básico para situar-se no mundo que vive. Por outro
lado, no caso da História, encontramos aproximações entre as disciplinas. Por
exemplo, a divisão da História em grandes períodos para organizar os estudos
escolares afetou as divisões das disciplinas históricas universitárias.
Como aponta Cardoso, através de Chervel, a cultura escolar não é apenas uma
simplificação do saber erudito, mas que esta criou muitos saberes para ela mesma e
para a academia ao longo do tempo. O autor cita os exemplos de Ésquilo e da
ortografia francesa, este último também usado por Bittencourt, que basicamente
refletem a influência dos saberes escolares nos científicos.
Bittencourt, ainda, chama atenção ao papel do professor na formação das disciplinas
através de sua ação, pois este é o sujeito principal na articulação do currículo real
posto em prática. É quem transforma o saber a ser ensinado em saber aprendido.
Com a frequente especialização de professores, os mesmos buscam sua
identificação em associações, que acabam influenciando a construção de currículos
no país.
Como aponta Fonseca, o professor é um dos elementos mais importantes do
processo de realização de um projeto educacional. Em seu histórico sobre a
disciplina de história, a autora aponta os desdobramentos da política de ensino na
ditadura e após o regime, no Brasil:
"Evidentemente, os princípios de segurança nacional e desenvolvimento econômico
norteadores da política educacional da ditadura militar chocam-se com o princípio de
autonomia do professor, e o Estado passa a investir deliberadamente no processo
de desqualificação/requalificação dos profissionais de educação. [...] o Estado passa
a se preocupar com a necessidade de revigorar o ensino de educação cívica pela
ótica da doutrina de segurança nacional, havendo, como contrapartida, a
descaracterização e o esvaziamento do ensino de história nas escolas" (FONSECA,
2008, p. 19-21).
Nesse sentido, era exercida, durante a ditadura, uma forte pressão sobre a produção
e a liberdade da cultura escolar a partir do controle das disciplinas humanísticas com
ênfase na educação moral e cívica, e por outros mecanismos, privando o saber
escolar, como também, o erudito científico das universidades. A implantação de
licenciaturas curtas e o crescimento da rede privada são exemplos disso. Com a
reformulação de currículos na maioria dos estados brasileiros, no período de
redemocratização política, tivemos algumas mudanças significativas no ensino,
apontadas por Fonseca, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e
os Parâmetros Curriculares Nacionais.
Consoante ao conceito de cultura escolar que os autores abordados aqui utilizam,
principalmente baseado em André Chervel, Cardoso aponta para importância da
Didática da História, sendo esta não somente um facilitador de aprendizagem. Os
professores e outros profissionais como museólogos, cineastas, jornalistas etc., que
trabalham com a cultura histórica, utilizam os conteúdos históricos em suas
produções. E, essas produções estão presentes nas mãos dos próprios professores
e como referências dos alunos no ensino.
"[...] a Didática da História como uma disciplina que tem por objeto de estudo todas
as elaborações de História sem forma científica [...] não estuda apenas o ensino e a
aprendizagem da História escolar, mas todas as expressões da cultura e da
consciência históricas que circulam dentro e fora de escola" (CARDOSO, 2008, p.
165-166).
A Didática da História busca compreender a cultura e a consciência histórica na
sociedade como um todo. Esse espaço não se restringe somente às aulas de
História, mas em outras formas de conhecimento como filmes, livros, peças de teatro
etc. Nesse sentido, tal didática apontada contribui como mais um fator de autonomia
considerável da cultura escolar ao saber universitário.
Assim, as discussões apontadas nesse breve trabalho se destacam como
contribuições sobre a importância do saber escolar e as suas aproximações e
distanciamentos com o saber acadêmico. O conceito de cultura escolar utilizado
reflete as dinâmicas e as potencialidades escolares como meio de produção do
conhecimento, que não apenas recebe conteúdos universitários, mas que influencia
este segundo também. Cada meio tem sua finalidade, objetivo, métodos e públicos
diferenciados.
Referências Bibliográficas
BITTENCOURT, Circe Maria. O que é disciplina escolar? In: Ensino de História:
fundamentos
e
métodos.
2ª
ed.,
São
Paulo,
Cortez
Editora,
2004.
CARDOSO, Oldimar. Para uma definição de Didática da História. In: Revista
Brasileira
de
História.
São
Paulo,
v.
28,
n.
55,
2008,
pp.
153-170.
FONSECA, Selva Guimarães. Revisitando a História da disciplina nas últimas
décadas do século XX. In: Didática e Prática de Ensino de História. 7ª ed.,
Campinas, Papirus Editora, 2008, pp. 121-126.
Fonte: http://www.pedagogia.com.br/artigos/contextoeensino/
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