INTERAÇÃO ENTRE MARCAÇÃO ASPECTUAL E OBJETO NULO NA AQUISIÇÃO DO PB Sabrina Casagrande Universidade Estadual de Campinas, Brasil Este trabalho pretende investigar de que maneira a marcação aspectual e a retomada de antecedente pelo objeto nulo ou pronome lexical na posição de objeto direto anafórico (daqui em diante ODA) podem estar relacionadas à interpretação dos traços do DP pela criança. Nossa hipótese de trabalho sugere que a identificação dos traços semânticos do antecedente, ao menos nos dados de produção espontânea, apontam concomitantemente para a determinação do tipo de retomada na posição de ODA e para a especificação de aspecto em AspP, diferenciando perfectivos de imperfectivos. Partimos da proposta de que aspecto, nas línguas que não apresentam marcação morfológica específica para tal (português, inglês, espanhol), é computado composicionalmente na sintaxe, levando em conta, além das características verbais, a cardinalidade do objeto direto (cf. Verkuyl (1993) e Slabakova (2001). No campo da aquisição, a maioria dos trabalhos indica que, em termos de produção, as crianças demonstram adquirir tal fenômeno bem inicialmente, mas que, em termos de compreensão, a aquisição completa de aspecto se dá mais tarde (cf. Hodgson (2003), Wagner (2006)). Ainda destacam que, inicialmente, a criança restringe o aspecto gramatical ao lexical e tende a usar formas imperfectivas com verbos atélicos e perfectivas com télicos. Para realizar este trabalho analisamos qualitativamente dados de uma criança (G.) entre 1;10 – 3;6 no que tange ao aspecto; para os dados referentes a objetos nulos, lançamos mão do trabalho de Casagrande (2007), que analisou, além de outras duas crianças, também os dados de G. Os resultados mostram que ao mesmo tempo em que AC começa a produzir formas imperfectivas (segundo Lopes (no prelo) aos 2;3), ela produz seus primeiros pronomes lexicais retomando antecedentes animados em posição de objeto direto anafórico, e seus nulos, que inicialmente eram predominantemente dêiticos sob formas imperativas, passam a ser em maioria anafóricos, como temos no gráfico, extraído de Casagrande (op.cit.: 157): Gráfico 1: número absoluto de nulos dêiticos vs. nulos anafóricos em cada faixa etária de AC 30 25 20 ON dêitico ON anafórico 15 10 5 0 1;8 1;10 2;1 2;3 2;8 3;0 3;7 Assim como AC, os dados de G. analisados mostram que ao mesmo tempo em que suas formas imperfectivas se tornam produtivas, há um aumento significativo na quantidade de objetos nulos anafóricos em posição de objeto direto, como temos no gráfico (2), extraído de Casagrande (op.cit.: 158): Gráfico 2: número absoluto de nulos dêiticos vs. nulos anafóricos em cada faixa etária de G. 30 25 20 ON dêitico 15 ON anafórico 10 5 0 1;10 2;1 2;3 2;8 3;0 3;6 Como podemos ver, os dados de G. vão na mesma direção dos dados de AC. e poderiam corroborar nossa hipótese, delineada acima. Os resultados mostram um padrão de aquisição entre as duas crianças, ambas apresentando aumento no número de nulos anafóricos a partir dos 2;3, além de apresentarem formas imperfectivas, a partir dos 2;3 – 2;8, contrastando com formas perfectivas, o que pode indicar especificação dos traços de AspP. Diante dos dados analisados por Lopes (no prelo) e Casagrande (2007) e dos dados analisados preliminarmente neste trabalho, parece que nossa correlação entre aquisição de marcação aspectual e de objeto nulo através da identificação dos traços lingüísticos do antecedente está no caminho certo1. Referências CASAGRANDE, S. A Aquisição do objeto direto anafórico em Português Brasileiro. Dissertação de Mestrado, UFSC, 2007. ______________. A Aquisição de complementos nulos em Português Brasileiro. Tese de Doutorado, UNICAMP, em preparação. HODGSON, M. "The acquisition of Spanish perfective aspect: a study on children’s production and comprehension". ZAZ Papers in Linguistics, 29: 105-117, 2003. LOPES, R.E.V. A aquisição do objeto nulo e sua relação com aspecto. (no prelo). LOPES, R.E.V.; SOUZA. T. T. A aquisição do aspecto lexical e aspecto gramatical no PB. UFSC, 2005, ms. SLABAKOVA, R. Telicity in the second language. Amsterdam: John Benjamins, 2001 VERKUYL, H. A theory of aspectuality. Cambridge: Cambridge University Press, 1993 WAGNER, L. Aspectual Bootstrapping in Language Acquisition: Telicity and transitivity. Language Learning and Development. n.2. v.1. 2006. p. 51 – 76. 1 Dados experimentais, já previstos em Casagrande (em preparação) nos ajudarão na avaliação da hipótese proposta aqui, proporcionando a comparação entre dados de produção espontânea e dados de compreensão.