Especialização em Gestão Pública Programa Nacional de Formação em Administração Pública INTUTIÇÕES DE APOIO À CRIANÇA E ADOLESCENTE: O CASO DA ASSOCIAÇÃO ASSISTENCIAL E PROMOCIONAL NOSSA SENHORA PASTORA DO MUNICÍPIO DE TAPEJARA – PR TAPEJARA 2011 2 ELIANE MARIA CUARELI ALÉCIO INTUTIÇÕES DE APOIO À CRIANÇA E ADOLESCENTE: O CASO DA ASSOCIAÇÃO ASSISTENCIAL E PROMOCIONAL NOSSA SENHORA PASTORA DO MUNICÍPIO DE TAPEJARA – PR Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. Orientador: Profº Campos TAPEJARA 2011 Antonio Carlos de 3 ELIANE MARIA CUARELI ALÉCIO INTUTIÇÕES DE APOIO À CRIANÇA E ADOLESCENTE: O CASO DA ASSOCIAÇÃO ASSISTENCIAL E PROMOCIONAL NOSSA SENHORA PASTORA DO MUNICÍPIO DE TAPEJARA – PR Trabalho de Conclusão de Curso do Programa Nacional de Formação em administração Pública, apresentado como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Gestão Pública, do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. Orientador: Campos Profº Antonio Carlos de 4 RESUMO Este estudo tem por objetivo é compreender a trama que configura as políticas públicas e atenção a crianças e adolescentes em situação de rua do município de Tapejara - PR, através do conhecimento das instituições, governamentais e não governamentais destinadas à aplicabilidade destas políticas. Este estudo será realizado no município de Tapejara - PR que enfrenta problemas relacionados ao crescimento do número de crianças e adolescentes em situação de rua. A Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor desenvolve ações para o encaminhamento à rede de atendimento a defesa dos direitos da criança e do adolescente. Ao se verificar a questão da evasão e da reprovação escolar, do analfabetismo, da carência de docentes preparados pedagogicamente, da falta de interesse dos discentes, do descompromisso por parte das famílias, nota-se o quanto a falta da formação cidadã contribui para uma vivencia pobre quanto aos instrumentos e meios de crescimento da pessoa humana. Palavras-chave: descompromisso crianças, adolescentes, políticas, Pastoral do Menor, 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................ 6 1 A EXCLUSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E O APOIO DAS INSTITUIÇÕES ASSISTENCIAIS.......................................................................... 8 1.1 REFLEXÕES SOBRE A EXCLUSÃO.............................................................. 9 1.2 REFLEXÕES SOBRE A EXCLUSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES... 9 2 CARACTERIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA ENTIDADE ASSOCIAÇÃO ASSISTENCIAL E PROMOCIONAL NOSSA SENHORA PASTORA NO MUNICÍPIO DE TAPEJARA – PR.......................................................................... 13 2.1 MISSÃO DA ENTIDADE................................................................................... 14 2.2 PRINCIPAIS ATIVIDADES E/OU PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA ENTIDADE.............................................................................................................. 15 3 O PROJETO ADOLESCENTE APRENDIZ, COMO ALTERNATIVA PARA A ASSISTÊNCIA A CRIANÇAS E ADOLESCENTE EM RISCO.............................. 17 CONCLUSÕES....................................................................................................... 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 22 6 INTRODUÇÃO A fase de criança ou a fase da adolescência, bem como os significados específicos trazidos por estas etapas da vida não podem ser expropriadas do desenvolvimento do ser humano mesmo que este tenha a rua como meio real de subsistência. Apesar de muitos destes indivíduos terem a rua como seu espaço principal, ainda continuam sendo crianças e adolescentes como outros quaisquer, com suas necessidades, próprias desta fase de acelerado desenvolvimento físico, psíquico, moral, intelectual, interacional, afetivo, entre outros. No entanto, este espaço pode não lhes trazer subsídios adequados para o enfrentamento desta etapa da vida em direção a construção do indivíduo pleno e cidadão. Por esta razão, propõe-se aqui realizar um estudo sobre as políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes assistidos pela Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora no município de Tapejara – PR, haja vista ser esta uma entidade preocupada no desenvolvimento de projetos que objetivem criar novos espaços de vivência a crianças e adolescentes em risco. É de conhecimento geral que no município de Tapejara – PR, apesar de ser considerado um município de pequeno porte, nele há uma realidade concreta de crianças e adolescentes em situação de rua, além da falta e de certa ausência de profissionais inseridos em instituições de atenção à criança e adolescente em situação de risco. Além disso, esta realidade representa a concretização e legitimação do abandono social da infância, do descompromisso do estado para com a família e para o papel social que esta possui. Crianças e adolescentes em abandono social e vivendo em situação de risco é uma realidade deste pequeno município, que deve ser analisada sob os olhos de uma nova conjuntura social, levando-se em consideração a historicidade desta questão, movida por acontecimentos sociais, interesses políticos e econômicos. Este estudo tem por objetivo é compreender a trama que configura as políticas públicas de atenção a crianças e adolescentes em situação de rua do município de Tapejara - PR, através do conhecimento das instituições, governamentais e não governamentais destinadas à aplicabilidade destas políticas. 7 Considerando o caráter de investigação, o objeto deste estudo e os objetivos aqui expostos, direciona-se à construção deste trabalho dentro da abordagem qualitativa, por acreditar-se na adequação desta às aspirações aqui levantadas. Este estudo será realizado no município de Tapejara - PR que enfrenta problemas relacionados ao crescimento do número de crianças e adolescentes em situação de rua. O município tem na produção de álcool e açúcar sua fonte econômica principal, sendo a agricultura e pecuária também ramos importantes, no entanto estes setores passam, por determinada crise, evidenciada por um número relativo de desemprego e subemprego, o que não foge a regra do país. A pesquisa será realizada junto a Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora no Município de Tapejara – PR., que propõem oferecer suporte e/ou trabalhar junto a crianças e adolescentes em situação de rua. Para conquistar estes objetivos, o trabalho encontra-se estruturado em mais três seções, além desta introdução e das conclusões. A primeira seção apresenta uma discussão sobre o processo de exclusão da criança e do adolescente na sociedade. A segunda seção traz a caracterização e descrição da entidade Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora no Município de Tapejara – PR. A terceira seção evidencia o projeto Adolescente Aprendiz, como alternativa para a assistência a crianças e adolescente em risco. Por fim, serão tecidas algumas conclusões. 1 A EXCLUSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E O APOIO DAS INSTITUIÇÕES ASSISTENCIAIS Refletindo sobre os agravos individuais e sociais da questão crianças e adolescentes em situação de rua, observa-se uma problemática de ausência de políticas públicas voltadas para entidades ao atendimento desses indivíduos. Tornase necessário também, observar-se o caráter das poucas políticas sociais destinadas a essa população. De acordo com Medeiros (1995 p.07): Não podemos perder de vista que mesmo muitas vezes rotuladas pela sociedade como anti-sociais e infratores, são crianças e adolescentes que se encontram em suas respectivas fases de crescimento e desenvolvimento, e também que apesar de permanecerem pelas ruas sujeitas aos riscos pessoais e sociais característicos do universo da rua, 8 nem sempre compõem um grupo naturalmente predisposto ao crime e à marginalidade. Inúmeros estudos (SOUZA NETO, 1993; MINAYO, 1993; MEDEIROS, 1995; MEDEIROS & FERRIANI, 1995) se propõem a compreender a questão do abandono social da infância e adolescência no país, contribuindo de forma significativa na construção de conhecimento possibilitador da compreensão deste fenômeno social. Minayo (1993) e Medeiros (1999) apontam para a necessidade de se ter conhecimento das especificidades locais, onde se tem esta realidade social, na contribuição para ações que possuam maiores possibilidades de sucesso. Graciani (1997) compreende a denominação “crianças e adolescentes em situação de rua”, como oprimidos e relegados pelo sistema social e não como marginais sociais e que a classificação “de” e “na” rua expressa uma categoria social que tem a rua como um território de vida e de trabalho, como resultado de um processo social de dominação, exploração e de exclusão. Há evidências de que as políticas de atenção à criança e adolescente caracterizadas como em situação de rua no país são marcadas por uma trajetória de enorme descompasso político entre discurso legal, ideologias e práticas, ações governamentais e não governamentais desarticuladas. Há ainda, a vulnerabilidade das mudanças políticas, o que inviabiliza a consolidação dos programas e o crescimento dos mesmos, junto às ações que propõem realizar, além da escassez de recursos materiais e humanos, e, a rivalidade entre as diferentes instituições responsáveis pela teorização e prática destas ações sociais, conforme afirma Souza Neto (1993). 1.1 REFLEXÕES SOBRE A EXCLUSÃO Segundo Jodelet (2001) a noção de exclusão compreende a fenômenos variados. Em situações de exclusão estão inúmeros processos e categorias, uma série de manifestações que aparecem como fraturas e rupturas do vínculo social (pessoas idosas, deficientes, desadaptados sociais, minorias étnicas ou de cor, desempregados de longa duração, jovens impossibilitados de acender ao mercado de trabalho, dentre outros). De acordo com Estivill (2003) é possível constatar que a exclusão está relacionada com a insatisfação, o mal-estar de todo o ser humano quando se 9 encontra em situações nas quais não pode realizar aquilo que deseja e ambiciona para si próprio e para a sua família. Partindo-se deste princípio, percebe-se que a exclusão tem uma carga subjetiva apoiada em ações materiais. Para este mesmo autor, por vezes, a exclusão que segue determinadas modos, hábitos ou idéias dominantes pode ser vivida de forma positiva por uma pessoa, um grupo, uma comunidade, pois pode reforçar sua coesão interna. Noutras ocasiões, a exclusão pode gerar condições para estimular a criatividade artística e intelectual ou uma vida e reflexão mais filosófico-religiosas (ESTIVILL, 2003). No entanto, na maioria das vezes, e, causada por modelos econômicos e políticos vigentes, a exclusão traz diversas conseqüências negativas, como o surgimento dos “meninos de rua”, que torna-se uma das expressões mais nítidas dos níveis de pobreza e desigualdades social existente no país (CERVINI e BURGER, 1991). 1.2 REFLEXÕES SOBRE A EXCLUSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES O abandono de crianças, o infanticídio, o aborto como meio de contracepção são práticas costumeiras em diversas sociedades. Essas práticas nem sempre são aceitas legalmente, mas, sempre "toleradas" (ÁRIES, 1989). Os registros históricos sobre o abandono na infância parecem estar intimamente ligados a história do tratamento dado ao abandonado e ao que abandona e, este tratamento vincula-se à concepção de infância que se tem em dada época. A criação da roda dos expostos constitui-se num marco histórico do tratamento público aos abandonados no Brasil e esta tinha como principal característica a de deixar o expositor anônimo, já que sua forma cilíndrica, dividida ao meio por uma divisória, se fixava no muro ou na janela da instituição, permitia que a criança fosse depositada na parte externa. Depois, o expositor girava a roda, puxava uma cordinha com uma sineta para avisar a vigilante que uma criança havia sido abandonada. De acordo com Marcílio (1997, p. 72) “a roda serviu também de subterfúgio para se regular o tamanho das famílias, dado que na época não haviam métodos eficazes de controle de natalidade”. Outras causas levavam à procura da roda como: 10 [...] pessoas pobres que não tinham recursos para criar seus filhos, por mulheres da elite que não podiam assumir um filho ilegítimo ou adulterino e, também, por senhores que abandonavam crianças escravas e alugavam suas mães como amas de leite (Lima e Venâncio, 1996, p.67). Antes desse período as crianças eram deixadas nas portas das casas, de igrejas, e familiares se ocupavam da criação dos expostos. A roda vem institucionalizar tal prática, determinando um local especializado para receber estas crianças ou como meio de sustar os ‘sacrifícios humanos’. Mas a criança era sempre vista de modo diferente por este período. De acordo com Ariés, a sociedade tradicional via mal a criança, e pior ainda o adolescente. "A duração da infância era reduzida a seu período mais frágil, enquanto o filhote do homem ainda não conseguia bastar-se; a criança então mal adquiria algum desembaraço físico, era logo misturada aos adultos, e partilhava de seus trabalhos e jogos." (ARIÉS, 1989, p.10). O autor destaca ainda que um período de "paparicação" era reservado a esta nos seus primeiros anos de vida, "enquanto ela ainda era coisinha engraçadinha". Depois, era comum que passasse a viver em outra casa que não a de sua família." (ARIÉS, 1989, p.10). Também a noção de família passa a ser vista de outra maneira, uma vez que, anteriormente não tinha a função afetiva e, segundo Ariés nesta época não havia uma sociabilidade entre os grupos familiares. As trocas afetivas e as comunicações sociais eram realizadas, portanto, fora da família, num "meio" muito denso e quente, composto de vizinhos, amigos, amos e criados, crianças e velhos, mulheres e homens, em que a inclinação se podiam manifestar mais livremente. (ARIÉS, 1989, p.11) A partir do século XVII, a criança deixou de ser misturada aos adultos e apreender a vida diretamente, através do contato com estes. “Começou então um longo processo de enclausuramento das crianças (como dos loucos, dos pobres e das prostitutas) que se estenderia até nossos dias, ao qual se dá o nome de escolarização”. (ARIÉS, 1989, p.11) A prática ilegal e quase aberta do abandono e o fatalismo com que era aceita a mortalidade infantil revelavam certa indiferença ao valor da criança 11 até o início do século XIX, quando as escolas começaram a descobri-la e a classe médica passou a insistir na necessidade da criação dos filhos pelas mães, pois cada criança achada (depois de abandonada) era uma criança perdida. (LEITE, 1996, p.99). De acordo com Oliveira (1990) algumas famílias passam a desenvolver certo interesse por essas crianças, pois, além de receberem por elas, quando estas alcançam certa idade passam a ser trabalhadores na casa, na lavoura, na lida com o gado, no cuidado dos mais velhos e das crianças da família. São os chamados "agregados", e eram quase sempre tratados como serviçais da casa que os "adotava". Quase nunca essas crianças faziam parte na partilha das terras ou eram reconhecidos como filhos e, muitas vezes, não podiam nem sentar á mesa com a família. Segundo Marcílio (1997, p. 72) "A partir daí, poder-se-ia explorar o trabalho da criança de forma remunerada, ou apenas em troca de casa e comida, como foi o caso mais comum". Fonseca (1996) destaca que é por volta de 1924 que se é criado e regulamentado por parte do Poder Judiciário o Juizado de Menores e de todas as instituições auxiliares. A partir de então a criança e o adolescente passam a ter uma legislação especial. Ao Estado então, cabe assumir a responsabilidade legal pela tutela da criança órfã e abandonada e, quase nessa mesma época se começa a definir a política de adoção no país. A criança passa a ser considerada como alguém a ser preparado para o futuro. "A nova ciência psicológica consolidou a noção moderna de "infância" enquanto fase crucial para o desenvolvimento da personalidade do adulto, necessitando de orientação especializada". (FONSECA, 1996, p.120). O que pode ser percebido na verdade é que até a criação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) em 1990, como política pública voltada para o atendimento da criança e do adolescente, o tratamento da infância por parte do Estado recebeu sérias críticas. Crianças e adolescentes são enclausurados em verdadeiras prisões para "menores" (RIZINNI, 1993). Isto porque o termo "menor" toma conotação estigmatizante dentro da política de atendimento, pois, entendia-se que este seria um condenado em potencial. Rizzini (1993) diz que na prática jurídica a construção do "menor" tem os seguintes sentidos: 12 Menor não é apenas aquele indivíduo que tem idade inferior a 18 ou 21 anos conforme mandava a legislação em diferentes épocas. Menor é aquele que, proveniente de família desorganizada, onde imperam os maus costumes, a prostituição, a vadiagem, a frouxidão moral, e mais uma infinidade de características negativas, tem a sua conduta marcada pela amoralidade e pela falta de decoro, sua linguagem é de baixo calão, sua aparência é descuidada, tem muitas doenças e pouca instrução, trabalha nas ruas para sobreviver e anda em bandos com companhias suspeitas. (RIZZINI, 1993, p.96). É de consenso que o ECA trouxe grandes mudanças na concepção e no tratamento da infância e da adolescência, colocando todas as crianças sob o mesmo código. A lei já não olha para a infância fazendo diferença entre as crianças situadas nesta faixa etária, uma vez que, perante a lei, todas são pessoas portadoras de direitos, que necessitam de atenção, alimento, boa escola, atendimento na saúde. A prática de atendimento passou a ser dividida com diversas organizações civis e saiu das mãos exclusivas do Estado. Dá-se então, a instauração dos Conselhos Tutelares Municipais e o Conselho de Direitos, programas diretamente ligados à política municipal e uma série de novas instituições nacionais, estaduais e municipais que vão surgir para acompanhar a mudança estatutária, mudança esta ocasionada pelo avanço na discussão dos direitos humanos infantis na sociedade brasileira. 2 CARACTERIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA ENTIDADE ASSOCIAÇÃO ASSISTENCIAL E PROMOCIONAL NOSSA SENHORA PASTORA NO MUNICÍPIO DE TAPEJARA – PR Ao passar a residir na cidade de Tapejara, no ano de 1998, a Ir. Dirce da Silva, da Congregação das Irmãs de Cristo Pastor, sentiu a necessidade de ajudar as crianças carentes, e juntamente com algumas pessoas uniu forças e começou a fazer um trabalho com essas crianças. Dessa vontade que foi posta em prática surgiu a Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora - Pastoral do Menor. (BARRADAS, 2006) No início reuniam crianças e adolescentes uma vez por semana, ensinava-se datilografia e espiritualidade e, com o passar do tempo a adesão das crianças foi necessário aumentar as atividades realizadas, diversificando-as. Conseguiram-se monitores para a pintura em tecido, trabalhos manuais, aulas de inglês e recreação, 13 sempre tentando conscientizá-los de seus direitos e deveres de cidadãos e cristãos. Com o aumento das atividades estas crianças e adolescentes passaram a serem atendidos duas vezes por semana até o término do ano de 2001. A Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor foi criada em março de 2002 e é constituída por um número ilimitado de associados, mediante o compromisso de colaborar com serviços, donativos ou mensalidades à consecução dos objetivos da associação. A partir do ano 2002 houve novamente a necessidade de repensar o atendimento as crianças adolescentes tapejarenses, pois a procura por parte deles era cada vez maior. Então se formou uma comissão, pessoas que estavam auxiliando a pastoral fundaram a Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora - Pastoral do Menor, que já é reconhecida como utilidade pública do município, e na Assistência Social, tendo certificados do Conselho Municipal da Assistência Social (CMAS) e Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) passando a atender todos os dias da semana. A Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor, situa-se à Rua São Vicente, 377 – Centro - Tapejara PR e tem como seu representante legal a senhora Alessandra Alves Inácio Fabrão. A Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor tem por finalidade: Acolher, amparar e promover crianças e adolescente, usuários de drogas, abandonadas, exploradas sexualmente, adolescentes grávidas e rejeitadas pelas famílias e todos aqueles que, por motivo de desajuste ou situação precária, vivenciem uma situação de risco social; Usar de aconselhamento moral e religioso, bem como dos meios pedagógicos apropriados para a recuperação das crianças e adolescentes e suas famílias; Promover pré-aprendizagem destinada à qualificação pré-profissional; Qualificar e requalificar os adolescentes em atividades profissionais e encaminhá-los a empregos e funções, dentro de suas aptidões e condições particulares; Integrar-se com os demais segmentos da sociedade civil e organizada, de forma que possa ampliar oportunidades de emprego e de ajustamento dos adolescentes; 14 Firmar convênios ou parcerias com órgãos públicos ou particulares e entidades que tenham por finalidade o encaminhamento profissional de adolescentes assistidos. (ESTATUTO SOCIAL, 2002). A Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor é administrada por assembléia geral, diretoria e conselho fiscal. Os recursos para a manutenção da Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor são provenientes de contribuições de associados e/ou terceiros; doações de beneficiários e/ou terceiros; receitas de eventos e promoções organizadas pela Associação e subvenções dos governos Federal, Estadual e Municipal. 2.2 MISSÃO DA ENTIDADE Sua missão é levar às crianças e os adolescentes a uma experiência com o sagrado (Deus), prestar atendimentos sociais às crianças e adolescentes, bem como de seus familiares vitimas de exclusão social; tal missão pode ser alcançada por meio de um processo que visa à sensibilização, conscientização crítica, organização e mobilização da sociedade como um todo, criando condições para a garantia dos direitos fundamentais. Seu principal objetivo é tirar estas crianças e adolescentes das ruas oferecendo-lhes alternativas ocupacionais, capazes de fazê-los sair da ociosidade em que se encontram. Na entidade, eles participam de atividades que visam o desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e artístico, bem como sua inclusão social. 2.2 PRINCIPAIS ATIVIDADES E/OU PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA ENTIDADE As ações desenvolvidas vão desde o encaminhamento à rede de atendimento à defesa dos direitos da criança e do adolescente até atividades de abordagem educativa, partindo de um planejamento geral da mesma, sendo elas organizadas a cargo dos educadores e voluntários, sendo que cada qual elabora seu plano de trabalho e o desenvolve contando com outras parcerias. A coordenadora geral da 15 entidade responde pelas decisões maiores, a coordenadora pedagógica, organiza o cronograma das oficinas, cuida da parte burocrática e juntamente com o trabalho psicossocial atende os alunos. Atende em regime de Contra turno Social, atendendo 50 crianças e adolescentes no período matutino e 60 crianças e adolescentes no período vespertino, com idade entre 7 e 17 anos e seus respectivos familiares. (BARRADAS, 2006) Atualmente o desenvolvimento das atividades realizadas na entidade se dá por meio de oficinas e outros como os citados abaixo: Oficinas de: Oficina de Esportes; Oficina de Artesanato; Oficina de Informática; Oficina de Espiritualidade; Oficina LUD’ARTE; Oficina MUTETRAL (musica, dança e teatro); Oficina Raman Projetos com famílias de atendidos: Horta comunitária; Roda de conversa; Esporte; Artesanato; Projetos com crianças e adolescentes: Violão Coral; Flauta; Dança; Reciclagem; Sarau; Avaliação nutricional; 16 Adolescente/jovem Aprendiz Curso para comunidade Costura industrial; Reaproveitamento de óleo; Artesanato. Destaca-se aqui que, além destes projetos, a associação tem contribuição na implementação do projeto Adolescente Aprendiz que será tratado a seguir. 3 O PROJETO ADOLESCENTE APRENDIZ, COMO ALTERNATIVA PARA A ASSISTÊNCIA A CRIANÇAS E ADOLESCENTE EM RISCO Crianças em situações vulneráveis são exclusas da sociedade porque vêm de um ambiente hostil, sem perspectivas de melhoria de vida e falta de oportunidades sociais. Logo cedo precisam de trabalho para sua manutenção e da família deixando a escola de lado. Na busca para solução de problemas como estes, programas e projetos são lançados tendo como base a permanência deste na escola e a preparação do mesmo para o mercado de trabalho. Também com este objetivo a Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor desenvolve o Projeto de Aprendizagem Auxiliar Administrativo para 30 adolescentes/jovens aprendizes entre 14 e 18 anos, prioritariamente entre 14 a 16 anos, tendo como parceiros o Ministério Público do trabalho – Procuradoria Regional do Trabalho da 9ª Região – Umuarama; Empresas contratantes de médio e grande porte; GRTE – Maringá; e, a Prefeitura Municipal de Tapejara. Ressalta-se que o Ministério Público do Trabalho e o MTE – GRTE/Umuarama também desenvolvem função fiscalizadora no projeto. (BARRADAS, 2006) Tendo em vista a necessidade do cumprimento de cota aprendizagem, previstos na Lei 10.097/00, que altera os dispositivos da Consolidação das Leis de Trabalho – CLT, os estabelecimentos de qualquer natureza são obrigados a empregar um número que varia de 5% a 15% de adolescente/jovem aprendiz, cuja função demande em formação profissional. 17 O referido projeto ainda é conduzido de modo a respeitar os artigos descritos no Capítulo V do Estatuto da Criança e Adolescente que tratam dos Direitos fundamentais, sendo estes do Direito à Profissionalização e Proteção no Trabalho. O projeto tem o propósito de selecionar, cadastrar e encaminhar adolescentes / jovens aprendizes, com idade entre 14 a 18 anos, para curso teórico e prático do Projeto de Aprendizagem Auxiliar Administrativo, através de visitas e relatórios de regularidade da aprendizagem teórica e prática de adolescente/jovem, priorizando a formação integral, o desenvolvimento de suas potencialidades e habilidades profissionais, tornando-os protagonistas de sua própria história por meio do exercício da cidadania. Seu objetivo maior é oportunizar aos adolescentes/jovens o acesso a cursos profissionalizantes de qualidade, favorecendo aos mesmos, crescimento pessoal, humano, social, psíquico e profissional, formando assim mão de obra qualificada para o mercado de trabalho, visando também (ESTATUTO SOCIAL, 2002). Proporcionar autoconhecimento e consciência dos próprios limites e possibilidades, visando o desenvolvimento da autonomia e autoconfiança; Promover o desenvolvimento de conhecer habilidade profissional básica sobre apresentação pessoal, atendimento ao cliente, qualidade nos serviços prestados, meios de informação, convivência em grupo e relacionamento interpessoal; Averiguar, junto aos mesmos, formas de assimilação de valores que sirvam de base para enfrentar os fatores que influenciam seu desenvolvimento integral, capacitando-os à organização de um projeto de vida; Acompanhar e zelar para que o contrato de cooperação e o desenvolvimento do projeto sejam cumpridos por ambas as partes, verificando sempre a freqüência e o desenvolvimento do adolescente/jovem no ensino regular, no curso de formação teórico e prático do aprendiz, na família e em suas dificuldades pessoais; Oportunizar ao adolescente/jovem a consciência crítica da realidade atual, bem com o exercício da cidadania, favorecendo assim através da aprendizagem, os alicerces para melhorar a qualidade de vida tanto pessoal como social; 18 Inserir o adolescente/jovem capacitado no mercado de trabalho através do projeto de Aprendizagem Auxiliar Administrativo, oportunizando aos mesmos a garantia e efetivação de seus direitos e deveres. Faz parte da metodologia de trabalho constante no projeto o cadastramento e seleção do adolescente/jovem aprendiz. O cadastramento do adolescente/jovem é realizado na Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora, utilizando para este, uma ficha que contará com alguns itens para realizar tal inscrição sendo eles: estar inscrito no Programa Bolsa Família; estar devidamente matriculado na rede regular de ensino; e/ou ser indicado pelo Conselho Tutelar ou pelo Centro de Referência da Assistencia Social (CRAS). Para a seleção do adolescente/jovem este deverá participar de uma entrevista individual com uma psicóloga; participar de uma dinâmica em grupo; realizar um teste individual aplicado por uma psicóloga; e, ter Carteira de Trabalho ou protocolo. Há por parte dos dirigentes do projeto o acompanhamento individual do aprendiz e para o encaminhamento para a contratação do adolescente/jovem aprendiz pelas empresas, cuja contratação deverá ser regida obrigatoriamente pelo Contrato de Trabalho, passando a fazer parte integrante do presente projeto; visitas bimestrais as Empresas contratantes; relatórios trimestrais, da Regularidade da Aprendizagem, conforme formulários de avaliação; realização de períodos de readaptação do adolescente aprendiz, em caso de desligamento da empresa, antes de encaminhá-lo ou desligá-lo do projeto. 19 CONCLUSÕES O que se pode observar é que a exclusão social deixa marcas nas vidas dos seres humanos que não são apagadas apenas com casa e comida, principalmente quando se fala em crianças ou adolescentes. Para conhecer como são essas crianças e adolescentes realmente torna-se necessário trabalhar com as marcas deixadas pela situação de exclusão social em suas vidas. As soluções apontadas pela sociedade não são simples como parecem, pois explicitar o que significa trabalhar com este segmento da população, formular metodologias de trabalho adequadas ao mesmo, e garantir, pela mobilização política, recursos que propiciem o desenvolvimento das mesmas são desafios colocados à garantia dos direitos conquistados com a nova legislação para a criança e o adolescente no país. Percebe-se que a população atendida pela Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor pertence a uma parcela onde a realidade está um tanto fragmentada na dimensão étnica, social e econômica. Ao se verificar a questão da evasão e da reprovação escolar, do analfabetismo, da carência de docentes preparados pedagogicamente, da falta de interesse dos discentes, do descompromisso por parte das famílias, nota-se o quanto a falta da formação cidadã contribui para uma vivencia pobre quanto aos instrumentos e meios de crescimento da pessoa humana. As condições reais em que se encontram as crianças e adolescentes atendidas pela Associação Assistencial e Promocional Nossa Senhora Pastora – Pastoral do Menor, em âmbito profilático, educacional e de desempenho das atividades culturais, bem como o incentivo nas áreas de esporte e lazer, atendimento às famílias, gestantes, crianças desnutridas, qualificação e treinamento para o mercado de trabalho e promoção integral da família da criança e adolescente, não são das melhores, mesmo porque, pode-se afirmar, nenhuma das instituições destinada a este atendimento cumpre realmente o seu papel. O que se verifica é que tanto o município quanto a igreja, embora parceiros na intenção de assistir á crianças e adolescentes, apóiam-se em trabalhos realizados no voluntariado, cuja natureza já contém em si o germe do improviso. 20 O trabalho de articulação entre o poder público e a igreja apresenta um déficit na sua atuação enquanto executores de suas funções e atribuições, o que repercute diretamente no andamento e na eficácia do trabalho por eles executado. Enquanto isso, paliativos são destinados ao atendimento da criança e do adolescente em situação de risco. Profilaxias e curas são meras utopias enquanto verdadeiras políticas públicas não forem engendradas e cumprida em favor deste público. 21 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARIÉS, Philipe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Guanabara S.A, .1989. BARDIN, L. Análise de conteúdos. Lisboa. Edições 70. 1979. BARRADAS, Olinda de Jesus. 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