UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS HABILITAÇÃO PORTUGUÊS/INGLÊS POR QUE CORRIGIR, PROFESSOR? JUSSARA HOFFMAN Trabalho acadêmico apresentado por THAÍS BERNARDES COSTA como requisito parcial de avaliação da disciplina Planejamento e Orientação em Língua Inglesa IV, ministrada pela professora Valeska Soares Souza. UBERABA – MG October 2010 HOFFMAN. Jussara. Por que corrigir, professor? In: ______. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. 4 ed. Porto Alegre: Educação e Realidade, 1993. p. 87-115. Por que corrigir, professor? O texto de Jussara Hoffman discute os porquês de se corrigir atividades de alunos e as maneiras como professor, escola e pais interpretam as correções. Partindo de uma análise feita por um grupo de professoras das séries iniciais de uma escola municipal de Porto Alegre, a autora faz suas considerações. Essas professoras, a partir de questões como “em que medida a correção das tarefas auxilia o aluno a compreender o que errou?” (HOFFMAN, p. 88), buscaram entender como essa didática interferia no aprendizado de seus alunos e como elas poderiam melhor desenvolvê-la. Depoimentos foram colhidos e, através deles, se pode notar que as opiniões dos professores são diversas. Alguns julgam ser estritamente necessária a correção como modo de avaliação, outros acreditam que é somente parte do processo de aprendizado não sendo tão essencial. A correção na expectativa dos pais, alunos e professores Outra importante relação tratada pela autora é a relação da correção com a opinião dos pais, a postura da escola e os métodos do professor. Os pais esperam conceitos sobre o nível de aprendizado de seus filhos, ou seja, acreditam ser necessárias notas em todos os trabalhos e provas. Essa nivelação parece garantir aos pais que seus filhos estão recebendo uma educação de qualidade por professores preparados e por uma escola de boa qualidade. A escola, por sua vez, “receosos de não saber onde chegar ou de encolher o número de matrículas na escola, no caso das particulares” (HOFFMAN, p. 94) adotam uma perspectiva tradicionalista com falso construtivismo. Portanto, o professor acaba adotando essa maneira, e o uso da correção de forma não proveitosa é cada vez mais comum. Correção ou coerção? São apresentando dois modos distintos de corrigir tarefas e trabalhos: Avaliação Classificatória: “verifica respostas certas e erradas e, cm base nessa verificação periódica, tomar decisões quanto ao seu aproveitamento escolas em cada série ou grau de ensino (prática avaliativa tradicional).” (p.95) Avaliação Mediadora: analisa “teoricamente as várias manifestações dos alunos em situações de aprendizagem” (p. 95), ou seja, ao longo processo de aprendizagem sem a necessidade de conceituação. São dois modos opostos. Contudo notamos que as escolas, em sua maioria, optam pelo primeiro modelo, um modo tradicional que tende a levar o aluno a sempre exigir de si a concepção de certo/errado. Também se nota que o professor, como a autora diz, raramente chama a atenção do aluno para algo interessante que ele tenha feito, desvalorizando a posição de aprendiz dele frente ao ambiente escolar. O aluno não é um ser dotado de todos os conhecimentos, eles está em uma sala de aula para aprender novos conteúdos e esse é o papel do professor: incentivar e criar aprendizado. Ainda, muitas vezes o professor se prende ao seu conceito julgando-o correto e não admite outro. A voz do aluno e a opinião dele sobre um conteúdo são ignoradas, tornando-se assim um “receptáculo” de conhecimento. Essa idéia é melhor discutida no próximo tópico. Aceitar versus valorizar A partir do exemplo de duas professoras que, ao receber respostas de seus alunos diferentes daquelas esperadas, agiram de forma diferente, a autora discute o modo como é aceita (ou não) a idéia dos alunos. A primeira professora ouviu o aluno e sua interpretação para o problema matemático em questão, porém para explicar o que não estava correto ela parte para a resposta pronta, sem questionar como ele chegou a aquela resposta. Já a segunda, instiga o aluno a raciocinar elaborando problemas parecidos e o fazendo “enxergar” onde estava incorreto, porém, ela mesmo afirma que muitas vezes não sabe o que fazer com os resultados dessa reflexão. É necessário, segundo Hoffman, adotar uma perspectiva construtivista, mas de forma cautelosa, ou seja, não é correto aceitar tudo o que a criança fala ou faz, porque é interessante, ou bonitinho. Considerar, valorizar, não significa observar e deixar como está, ou acreditar que um dia ela virá a descobrir. Pelo contrário, o “considerar” exige do professor a reflexão teórica necessária para o planejamento de situações provocativas ao aluno que favoreçam a sua descoberta, o seu aprofundamento em determinada área do saber. (HOFFMAN, p. 106) Professor, o meu trabalho é nota 10? O uso de notas com valores numéricos é uma terminologia vastamente usada, mas, se analisada, não possui muita fundamentação. Um número não é capaz de expressar toda a opinião que o professor teve sobre o exercício do aluno. Seria bem mais interessante que o professor colocasse sua opinião através de frases, ou textos, em cada atividade, ou então fizesse uma análise no final de cada bimestre, semestre ou ano. Porém essa idéia não é muito aceita por escolas e pais, pois esses buscam a constante avaliação para acompanhar a construção do aprendizado das crianças. Nessa parte, a autora cita a presença de aspectos sócio-afetivos ou cognitivos em determinadas práticas pedagógicas de correção. O aluno se sente atado aos modelos tradicionais de certo/errado e busca sempre mostrar o que é certo segundo o que o professor. Por isso existem relatos de que alunos escondem o que estão escrevendo no caderno quando o professor passa pelas carteiras na sala de aula, o medo de ter que apagar tudo e reescrever. O erro não é um pecado Para concluir suas idéias, Hoffman defende que “errar não é errado”. Acredita que a avaliação deve ser feita ao longo do desenvolvimento, sem soma de notar e cálculo de médias, o acompanhamento das tarefas exige um registro sério e significativo que não se reduz a numero de acertos ou conceitos amplos.(...) Ao invés de analisar os exercícios dos alunos para responder: acertou/não-acertou, analisá-los para observar quem aprendeu/quem AINDA não aprendeu, (...) comprometendo-se em tornar a ‘vir ser’ possível, em oportunizar-lhes muitos desafios que favoreçam sua descoberta do mundo. (HOFFMAN, p. 114-115)