Módulo: 3 – Modelos e Planos de Ação Fórum: B – Unidade 8 / Tela 8.2.2 Título: Adoção de estratégias para promover a inovação dentro do contexto empresarial, tendo como referência o Cirque du Soleil Aluno: Rodrigo José Ribeiro Disciplina: Estratégia de Empresas MB13 Turma: EEEAD-T0224-0712 Introdução Ao longo do tempo as empresas se depararam, e continuam se deparando, com um ambiente empresarial em constante transformação. Muitas delas não conseguiram sobreviver em virtude da inabilidade de se reinventarem, de perceberem que estas mudanças não eram meramente modismos e que haviam chegado para ditar novas regras para o mundo dos negócios. A forma tradicional de gerenciar uma empresa, olhando para o retrovisor, já não era mais suficiente para que a mesma obtivesse o sucesso do passado. A competição se tornou mais acirrada, as economias deixaram de ser locais ou regionais para se tornarem globais, novos produtos foram introduzidos no mercado com apelos muito mais atrativos e inovadores que os produtos tradicionais, grandes empresas surgiram a partir de fusões e aquisições e com isso o poder de negociação começou a migrar entre consumidores e fornecedores, podendo pender para um lado ou para o outro dependendo de alguns fatores estruturais da indústria, tais como: número de compradores e fornecedores, importância estratégica destes grupos no mercado, diferenciação ou comoditização do produto comercializado, custos para mudança do fornecedor atual, etc. À luz desta nova realidade no cenário empresarial, novos conceitos de gestão surgiram para auxiliarem as empresas a se organizarem e se prepararem para o futuro, com o objetivo de obterem um crescimento sustentável e se perpetuarem ao longo do tempo. Dentre estes conceitos gostaríamos de destacar três, o conceito de “Planejamento Estratégico”, estabelecido nos anos 70, o conceito de “Administração Estratégica”, que surgiu nos anos 80, e o conceito de “Gestão Estratégica”, que apareceu nos anos 90. Este último foi uma evolução dos dois primeiros, e que buscou a correção de problemas ocorridos nos anteriores, tais como: falta de foco na implementação e não trabalhar a abordagem sistêmica respectivamente. Foi durante a Administração Estratégica, em 1980, que Porter publicou Competitive Strategy, focalizando o lado prescritivo do pensamento estratégico. Porter criou então alguns modelos para facilitar o processo do pensamento estratégico, dos quais destacamos três: “As Cinco Forças Competitivas”, para que as empresas possam entender e analisar a estrutura da indústria em que estão inseridas, “Estratégias Competitivas”, que define quais as estratégias competitivas genéricas disponíveis e identificáveis no mercado, e por último o modelo de “Cadeia de Valor”, que enfoca o gerenciamento e a interação das atividades primárias ou fins com as atividades secundárias ou meios da empresa para a maximização das margens de lucro. Utilizando-se destes três modelos de Porter, iremos discutir a seguir a adoção de estratégias para promover a inovação dentro do contexto empresarial, tendo como referência o Cirque du Soleil. 1 Cinco forças competitivas Essencialmente as cinco forças competitivas de Porter fazem uma análise estrutural da indústria, cujo foco é o meio ambiente em que determinada empresa está inserida, e aborda tanto as forças sociais como econômicas e suas implicações estratégicas. A relação da empresa com seu meio ambiente é a essência na formulação de uma estratégia competitiva. As cinco forças são: o grau de rivalidade entre as empresas; a ameaça dos novos entrantes potenciais; a ameaça dos produtos substitutos; o poder de barganha dos consumidores; o poder de barganha dos fornecedores. Agora vamos analisar como o Cirque du Soleil utilizou estas forças a seu favor. Desde o princípio os idealizadores do Cirque du Soleil procuraram claramente o caminho da inovação como forma de se destacar do tradicional mundo circense existente até o momento em que a empresa fora criada, no ano de 1984. A originalidade de seus espetáculos e a nova abordagem utilizada pelo Cirque du Soleil, tal como a não utilização de animais e a combinação de ginástica artística com artes circenses e conhecimentos teatrais, fez com que as pessoas percebessem uma nova e inovadora forma de se fazer espetáculos de circo, onde além de rirem, se espantavam e se surpreendiam com as acrobacias inusitadas de seus extraordinários artistas. Desde então o Cirque du Soleil não parou de inovar, criando espetáculos cada vez mais sofisticados, utilizando-se de talentos de todo o mundo e transformando-os em grupos harmoniosos. Seu objetivo é o de criar um espetáculo novo a cada ano, e para isto utilizam-se de dois elementos principais: trilhas sonoras e temas únicos. Apesar de toda esta sofisticação, o Cirque nunca se afastou de suas raízes, a arte de rua. O Cirque evita narrações durante o espetáculo para permitir que o público interprete o tema utilizado da maneira que quiser. Neste breve relato podemos observar vários elementos das cinco forças competitivas na estratégia do Cirque de Soleil para se tornar o grande sucesso que é hoje: 1 – Primeiramente recriou o modelo que até então as pessoas tinham em mente do que seria o mundo do circo, introduzindo um novo produto que poderia substituir com sucesso o modelo tradicional e o tornaria ímpar em relação aos seus concorrentes, minimizando com isto a rivalidade existente. 2 – Tranformou o circo de algo tradicionalmente local ou regional para um negócio global, tornando-o incomparável, único, lhe permitindo criação de valor e poder de barganha com seus consumidores. 3 – Utiliza um constante processo de inovação e criação para fazer com que o Cirque du Soleil seja praticamente inimitável, gerando a necessidade de investimentos elevados de capital, provocando uma barreira de entrada para concorrentes potenciais. Hoje o Cirque du Soleil é uma empresa que vende anualmente US$ 450 milhões em ingressos e mais de 40 milhões de pessoas já assistiram a pelo menos um de seus espetáculos. Números incomparáveis no setor circense. 2 Estratégias competitivas Porter aborda como sendo três as estratégias genéricas de competição disponíveis e identificáveis no mercado, são elas: 1 – Estratégia de liderança do custo total: atingir a liderança no custo total, buscando vantagem estratégica em posição de baixo custo ou em ações voltadas para esse objetivo. 2 – Estratégia de diferenciação: atingir a diferenciação por meio da atuação em um alvo estratégico, buscando vantagem estratégica na unidade observada pelo cliente ou em ações voltadas para esse objetivo. 3 – Estratégia de enfoque: enfocar determinado grupo comprador, um segmento da linha de produtos ou um mercado geográfico. Baseia-se no pressuposto de que a organização é capaz de atender seu alvo estratégico de forma mais eficaz que os concorrentes que estão competindo de forma mais ampla, tanto na liderança no custo total quanto na diferenciação. Estas três estratégias genéricas são métodos criados para enfrentar as forças competitivas vistas anteriormente. No caso do Cirque du Soleil fica evidenciado que sua estratégia sempre esteve pautada na busca pela diferenciação. Desde o princípio a empresa procurou se diferenciar do tradicional, oferecendo ao público algo nunca antes visto, alicerçado sempre pela arte de rua. Todos os elementos que compõem os espetáculos são cuidadosamente planejados, desde o tema, que deve ser único, até a trilha sonora que deve estar totalmente conectada com a história que será contada sem narrativa, passando pelo elenco, a cenografia, o figurino e a estrutura dos espetáculos móveis. Esta diferenciação se dá em virtude do constante processo de inovação que faz parte da cultura da organização e é incentivado a todos que dela fazem parte. Isto faz com que o Cirque du Soleil se distancie de seus concorrentes, conseguindo um posicionamento único perante seus consumidores e entregando a eles um produto totalmente distinto e inovador. Quando a empresa atinge este estágio de diferenciação, a oportunidade de obter retornos acima da média do setor são altíssimas, pois ela possibilita a criação de uma posição defensável para enfrentar as cinco forças competitivas, defesas estas que podem ocorrer diante da rivalidade dos concorrentes, pois permite muitas variações de produtos e serviços com características distintas; diante dos compradores mais fortes, pois oferece a eles algo diferente dos concorrentes, aumentando a margem por meio da prática dos preços-prêmio; diante dos fornecedores poderosos, pois estes tendem a atuar como parceiros na criação de valor para os compradores; diante dos possíveis entrantes, pois a inovação trabalhada na estratégia de diferenciação pode proporcionar uma barreira de entrada; diante da ameaça de substituição, pois com a percepção de valor superior, os produtos ou serviços com características singulares e ênfase em melhoria constante formam barreiras com relação à propensão à mudança. 3 Cadeia de Valor A vantagem competitiva pode ser obtida por meio da análise sistemática das inúmeras atividades de uma empresa e de que forma elas se interagem. De acordo com o modelo estabelecido por Porter, durante o desenvolvimento do conceito de “Administração Estratégica” nos anos 80, estas atividades formam a cadeia de valor da organização. Segundo Porter, estas atividades podem ser divididas em primárias ou atividades-fim e de suporte ou atividades-meio. As atividade primárias se caracterizam por estarem diretamente envolvidas no fluxo de produtos até o cliente, enquanto as atividades de suporte existem para apoiar as atividades primárias. A cadeia de valores detalha todas as atividades importantes de uma organização para que se possam compreender o comportamento de seus custos e suas fontes de diferenciação. O sistema de cadeia de valor proporciona substância à estratégia e possibilita a adoção de uma estratégia competitiva calcada no posicionamento. Isto é possível quando este conjunto de atividades são realizadas de maneira única, conferindo vantagens competitivas sustentáveis para as empresas que conseguem montar um modelo à prova de imitações. O Cirque du Soleil é um exemplo claro da integração de suas atividades primárias e de suporte para criar um posicionamento único no mercado. A forma inovadora que utiliza para gerir as diversas áreas da empresa se notabiliza pela capacidade inovativa e criativa de todos que fazem parte da organização, independentemente da área em que atuam. Desde o processo criativo de um novo espetáculo, que acontece na sede artística do Cirque na cidade de Montreal, e que reúne diretores artísticos, criadores de cenário e figurino, além de coreógrafos, até a definição do elenco, que é a parte mais importante de todos os espetáculos, e que é formado com a ajuda de agentes e olheiros que vasculham cidades e lugares remotos à procura de novos talentos, a execução das atividades é feita com muito planejamento e integração entre as áreas. Todos os artistas devem fazer treinamento ou aulas de formação em teatro ou artes circenses antes de participar dos espetáculos, além de aprimorar as técnicas de ginástica artística. O departamento de cenografia desenvolve o palco e os equipamentos para cada espetáculo, onde duas considerações são fundamentais, a estética e a segurança. Para isto utilizam-se de uma área de pesquisa e desenvolvimento na sede em Montreal. A maquiagem e o figurino são elaborados por uma equipe de 300 artesãos e 80 criadores, e devem representar fielmente os personagens do tema escolhido. Os espetáculos itinerantes necessitam de quase 300 pessoas para montar, desmontar e administrar as instalações do Grand Chapiteau (A Grande Tenda). Além disto, há uma equipe de chefs de cozinha e assistentes que servem mais de 300 refeições por dia na área de refeição do Grand Chapiteau. Por último, mas não menos importante, foi criada pela área de TI a “Memória do Cirque”, uma base de dados online que contribui para a evolução do Cirque como uma organização estruturada, porém criativa. Nesta base é possível administrar vários elementos, tais como: elenco com mais de 20 mil artistas, figurino, maquiagem, etc. e com isso tornar a administração do Cirque muito mais eficiente, evitando custos desnecessários. 4 Conclusão Podemos perceber no exemplo do Cirque du Soleil que a adoção de estratégias para promover a inovação pode ser extremamente exitosa, e trazer para a empresa a segurança de um crescimento sustentável e duradouro. O Cirque du Soleil conseguiu criar um ambiente favorável para si, pois estabeleceu defesas consistentes para combater as cinco forças competitivas da administração estratégica. Com isto, criou uma vantagem competitiva real perante seus concorrentes e de difícil imitação. O processo de constante transformação e a estratégia de diferenciação do Cirque du Soleil o destingue no mercado como sendo único, permitindo gerar um alto valor agregado no produto oferecido e consequentemente gerar ganhos extraordinários. A integração de todas as atividades, que compõem a cadeia de valor de uma organização, fez com que o Cirque du Soleil se tornasse um modelo de gestão a ser seguido, e que o credenciou a estabelecer um posicionamento totalmente distinto de seus concorrentes. A seguir segue a transcrição de um parágrafo do texto de Elizabeth Nixon, que resume bem a estratégia de inovação e diferenciação do Cirque e a previsão dos resultados futuros desta organização – “O Cirque du Soleil evoluiu muito desde quando foi criado por um grupo de artistas de rua em Montreal. Por 20 anos, foram feitos espetáculos de tão surpreendente beleza e talento que o Cirque está destinado a continuar redefinindo o entretenimento ao vivo e ser um grande sucesso de bilheteria em todo o mundo.” Referências bibliográficas DRUCKER, Peter Ferdinand. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. São Paulo: Pioneira, 1987. FOSTER, Richard N. Inovação: a vantagem do atacante. São Paulo: Best Seller, 1988. LOBATO, David Menezes et alii. Estratégia de empresas – Série Gestão Empresarial. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias e práticas. São Paulo: Atlas, 1991. PORTER, Michael E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1989. FERRARI, Renato. O CRM e as cinco forças cometitivas. CANDELORO, Raúl. Como ter sucesso no lançamento? HSM MANAGEMENT. O estágio da inovação no Brasil. NIXON, Elizabeth. Como funciona o Cirque du Soleil – traduzido por HowStuffWorks Brasil 5