FORMAÇÃO DE PREÇO DE VENDA MÓDULO 18 Índice 1. O efeito benefício final ............................................. 3 2. O efeito custo compartilhado ...................................... 3 3. O efeito justiça ........................................................ 3 4. O efeito moldura ...................................................... 4 5. Segmentação de clientes pela percepção de valor ......... 5 Referências bibliográficas .............................................. 7 2 Formação de Preço de Venda - Módulo 18 1. O EFEITO BENEFÍCIO FINAL Para Nagle e Holden, “a relação de uma compra com um benefício maior é a base do efeito benefício final, que pode ser dividido em duas partes: a demanda derivada e a proporção do preço”. A primeira parte diz respeito à relação entre o benefício final desejado e a sensibilidade a preço do comprador quanto a um dos produtos em particular, que contribui para a obtenção do benefício final. “Quanto mais sensíveis forem os compradores ao custo do benefício final, mais sensíveis eles serão ao preço dos produtos que contribuem para tal benefício”, dizem estes autores. O custo proporcional do preço, por sua vez, refere-se à porcentagem do custo total do benefício final representada pelo preço do produto ou serviço. Tome-se, por exemplo, o caso de uma empresa especializada em tecnologia do vácuo, que executa testes de estanqueidade em tanques de gás nobre. O preço deste seu serviço, altamente especializado, não se baseia no custo da mão de obra e depreciação e amortização dos equipamentos e instrumentos utilizados para isto, mas, principalmente, no benefício que a descoberta de um vazamento proporcionaria ao seu cliente. Ou, sob outra ótica, no prejuízo que um vazamento, diminuto e imperceptível a olho nu, está causando ao seu cliente e que, graças ao teste de estanqueidade, cessará após os devidos reparos. “Quanto menor for a participação da proporção, menos sensível a diferenças de preço será o consumidor”, apregoam Nagle e Holden. 2. O EFEITO CUSTO COMPARTILHADO Responda depressa: o que é mais caro, um curso de graduação ou um MBA? Se você respondeu que é o MBA, acertou. As escolas sabem que uma boa parte da anuidade será paga pelos empregadores dos executivos que frequentarão tal curso. Se o consumidor sabe que só uma parcela do preço será paga por ele, quanto menor for esta parcela, menos sensível a preço ele será. As despesas de viagem e de representação, como um jantar num restaurante fino, quando são ressarcidas pela empresa, tornam o consumidor menos sensível a preço. Anuidades escolares, consultas médicas, aluguéis de veículos e de imóveis se encaixam nesta sensibilidade a preço, quando seu custo é parcialmente ou integralmente coberto pela empresa. O efeito de reembolso parcial ou total na sensibilidade a preço é chamado de efeito custo compartilhado. 3. O EFEITO JUSTIÇA Cada consumidor imagina o que seja um preço “justo” ou “razoável” com base no contexto de sua compra. Diversos experimentos e pesquisas realizadas apontam para o fato de que as percepções de justiça são subjetivas e, por isso, mais gerenciáveis do que se poderia imaginar. Nagle e Holden citam o caso em que (...) as pessoas deviam imaginar-se deitadas em uma praia, sedentas por sua marca favorita de cerveja. Um amigo estava caminhando até um local próximo e traria cerveja se o preço não fosse alto demais. Cada pessoa foi solicitada a especificar a quantia máxima que pagaria. Metade das pessoas foi informada de que o amigo visitaria um hotel de lazer luxuoso e a outra metade, de que ele iria a uma pequena e mal 3 Formação de Preço de Venda - Módulo 18 conservada mercearia. Embora as pessoas não fossem pessoalmente ao local de compra (ou aproveitar das amenidades dele), o nível mediano de preço daqueles que esperavam que a cerveja viesse do hotel – $2,65 – foi muito maior do que o preço mediano aceitável por aqueles que esperavam que ela viesse da mercearia – $1,50. Referências ao passado do vendedor ou ao contexto da compra podem interferir neste senso de justiça. Saber que uma importante indústria do setor de cosméticos mantém programas de responsabilidade social de repercussão internacional torna o seu preço mais aceitável do que se ela anunciasse aumentos de preços com vistas à preservação de sua lucratividade em prol da valorização de suas ações negociadas em bolsa. Diversas táticas podem e devem ser desenvolvidas para tornar a sensibilidade a preço derivada do efeito justiça como uma ferramenta de alavancagem de negócios, como, por exemplo, a associação do preço a benefícios diretos e mesmo indiretos. No caso de aluguéis, a ênfase em melhorias pode contribuir para tornar o seu custo mais “justo” para o consumidor. Nagle e Holden (2003) comentam, no destaque 4.1, páginas 96-98, capítulo 4, a influência que a Internet provocará nos preços em geral, dadas as suas características no mundo dos negócios. Veja por que, lendo agora estas poucas páginas da obra recomendada. 4. O EFEITO MOLDURA Para entender este efeito, vamos buscar a explicação na teoria prospectiva, uma linha de pesquisa que oferece inúmeras implicações importantes para o gerenciamento da sensibilidade a preço. Segundo essa teoria, (...) as pessoas colocam a decisão de compra dentro de uma ‘moldura’ em suas mentes, como um pacote de ganhos e perdas. (...) O efeito moldura estabelece que os compradores são mais sensíveis a preço quando veem o preço como uma ‘perda’ em vez de um ‘ganho’ renunciado, e que eles são mais sensíveis a preço quando o preço é pago separadamente, e não como parte de um pacote. Nagle e Holden citam o exemplo de abastecimento de combustível em dois postos diferentes, que reproduzimos na íntegra: Para ilustrar esse efeito, pergunte a você mesmo em qual dos postos de gasolina descritos abaixo você estaria mais disposto a abastecer seu carro (assumindo que você considere ambas as marcas igualmente boas e pagaria pela transação do mesmo modo em qualquer dos postos): Posto A: vende gasolina a US$1,60 o galão (medida de volume que equivale a 3,78541178 litros) e dá um desconto de US$0,10 por galão se o cliente pagar em dinheiro. Posto B: vende a gasolina a US$1,50 o galão e cobra um acréscimo de US$0,10 se o cliente pagar com cartão de crédito. Claro que o custo econômico da compra de gasolina é idêntico em ambos os postos. No entanto, a maioria das pessoas considera a oferta do posto A mais atrativa do que a do posto B. Por quê? Porque o desconforto psicológico associado a comprar do posto A (com um desconto) é menor do 4 Formação de Preço de Venda - Módulo 18 que o (esforço psicológico) associado a comprar do posto B (com um acréscimo). A razão para a diferença, de acordo com a teoria prospectiva, é que quando avaliam uma transação, as pessoas atribuem mais peso às ‘perdas’ do que aos ‘ganhos’ de igual tamanho”. O gráfico 12 traz uma versão gráfica da teoria prospectiva. O ponto A sinaliza a posição do posto A, que concede desconto para pagamento a vista. Isto significa um ganho para o consumidor. Já o ponto B indica a posição do posto B, que não oferece nenhum desconto e, caso o consumidor opte por compra com cartão de crédito, deverá arcar com um sobrepreço, o que significa um ônus – ou perda – para o consumidor. Por esta e outras razões, a aplicação de uma lista de preços com descontos sob determinadas condições é sempre mais atraente do que uma lista de preços baixos com acréscimos sob outras condições. Gráfico 12 - Função de valor da teoria prospectiva Fonte: Adaptado de Nagle e Holden (2003) Para aprender como preparar uma análise gerencial de sensibilidade a preço para o seu negócio, leia o Apêndice 4 B, páginas 109-111, do livro de Nagle e Holden (2003). 5. SEGMENTAÇÃO DE CLIENTES PELA PERCEPÇÃO DE VALOR Finalizando este capítulo, que tal desenvolver uma técnica simples para segmentar seus clientes com base no que eles percebem em relação a valor e em relação àquilo que Nagle e Holden chamaram de “dor do preço”? Vamos, então, iniciar este tópico classificando os diversos efeitos aqui vistos em cada um destes dois grandes eixos, ou seja, o valor percebido das diferenças de um produto e a dor percebida do preço: Quadro 3 - Classificação dos fatores de sensibilidade a preço 5 Formação de Preço de Venda - Módulo 18 Dispondo estas duas dimensões em um gráfico, como na figura 4, observa-se que, no alto, à esquerda, situam-se os compradores de preço. Para este tipo de comprador, basta um nível mínimo de qualidade aceitável. Ele dá uma grande importância ao preço. Sua dor do preço é, portanto, alta. Mas não está de todo preocupado com o valor da diferenciação. Ele, sim, difere radicalmente dos compradores de relacionamento, situados no extremo direito inferior da figura 6. Para este tipo de consumidor, o que mais importa é o valor da diferenciação. Quanto mais diferenciado for o produto, melhor. Sua dor do preço é, coerentemente, baixa. Como também é baixa a dor do preço para os compradores de conveniência. Estes dão pouca importância à diferenciação e se sentem realizados quando podem adquirir o produto na hora que lhe convém, a qualquer preço. Aqui, também, um comportamento diametralmente oposto aos compradores de valor. Trata-se de um tipo de consumidor para quem tanto a dor do preço quanto o valor da diferenciação exercem um atrativo todo especial. Ele é, de todos os consumidores, o mais bem informado. Um verdadeiro desafio para os profissionais de marketing. Sobretudo, para os profissionais de vendas! Figura 6 - Segmentação de clientes pela percepção de valor Fonte: Adaptado de Nagle e Holden (2003) Finalizamos este capítulo com uma advertência àqueles que participam diretamente da formulação de estratégia e tática de preços em uma organização: a precificação não visa apenas a clientes satisfeitos, que comprariam toda a produção possível. A precificação estratégica visa estabelecer preços que tragam mais lucro para a organização, por meio da captura de mais valor e não necessariamente vendendo mais. Deve-se, 6 Formação de Preço de Venda - Módulo 18 portanto, administrar adequadamente o conflito potencial entre duas áreas da organização: a de marketing e vendas – que deseja maior participação de mercado – e a de finanças – que busca maximizar o retorno para o acionista. Veja, a este propósito, o Destaque 5.1, nas páginas 119-120, da obra de Nagle e Holden (2003), que retrata “o mito da participação de mercado”. Ainda no bojo destas advertências, é preciso considerar que a formação de preços de venda baseada no cliente apresenta dois problemas potenciais, conforme apontados por Nagle e Hogan (2007): o primeiro diz respeito à suposição de que os com pradores são honestos na sua disposição de pagar determinados preços pelos produtos de que necessitam e, com base nisso, são formulados tais preços, em detrimento do verdadeiro valor para o comprador que o produto oferece. Mas, é sabido que, numa negociação, as necessidades do comprador nem sempre são colocadas de forma transparente e honesta, com receio de que o vendedor se aproprie desta informação para tirar proveito, aumentando seus preços. O segundo problema diz respeito à própria atividade de vendas e marketing de uma organização. Seu trabalho “não é simplesmente processar pedidos a qualquer preço que os clientes estejam dispostos a pagar, mas, ao contrário, é aumentar a disposição dos clientes a pagar um preço que reflita melhor o verdadeiro valor do produto”. E recomendam esses autores: “Esqueça o que os clientes que nunca usaram seu produto estão inicialmente dispostos a pagar por ele! Em vez disso, entenda o valor que o produto tem para os clientes satisfeitos e comunique aos outros. Preço baixo nunca substitui um esforço adequado de marketing e vendas”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSEF, Roberto. Gerência de preços: como ferramenta de marketing. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Guia prático de formação de preços. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. BERNARDI, Luiz Antonio. Manual de formação de preços: políticas, estratégias e fundamentos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004. BRUNI, Adriano Leal; FAMÁ, Rubens. Gestão de custos e formação de preços: com aplicações na calculadora HP 1 2C e Excel. 3. ed. 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