DIZER O FAZER: PALAVRA E AÇÃO Ruth Rieth Leonhardt Palavras-chave: Filosofia da linguagem; Paul Ricoeur; filosofia. Resumo: A pesquisa sobre a Filosofia da Linguagem de Paul Ricoeur se especifica na relação existente entre falar e agir, tem como objetivo investigar o sentido ontológico do discurso, identificando as relações entre as duas capacidades destacadas pelo autor. Os estudos da linguagem não são um alvo em si mesmo mas são análises do modo como se efetiva a construção ontológica. Introduz na filosofia da linguagem o componente ontológico quando considera que, no discurso, o homem se auto-compreende e manifesta-se. Introdução: As abordagens da Ricoeur sobre a filosofia da linguagem representam um dos pontos altos dos seus estudos. detendo-se nessas análises, destaca que a linguagem instala-se no mesmo plano da ação. Como sistema de regras é atemporal e não subentende um locutor. Ela só atinge o status de meio de comunicação quando é manifestada no discurso. A semântica analisa e descreve o discurso por meio do qual o homem diz; a pragmática teoriza a linguagem nos contextos da interlocução. Nesse sentido, falar é executar atos. O discurso é um ato que compreende um locutor, que faz referência a algo e um interlocutor. É sempre o locutor que refere, que relaciona a linguagem com a realidade e enuncia a própria experiência e visão de mundo. Nesse processo, há uma realidade compartilhada entre os interlocutores. Mas o discurso só se dá como evento, não se fixa e vige o tempo que é pronunciado e, portanto, é fugidio. Para que não desapareça no tempo fugaz do dizer, é preciso fixá-lo pela escrita. Porém a escrita torna o texto autônomo com relação à intenção do autor, perde a condição dialogal e a referência fica alterada. Mudando a relação entre falar e ouvir, o ato de mostrar se torna impossível. O que é, então, interpretado num texto é uma proposição de mundo. Método: É pesquisa bibliográfica, com base nas obras de Paul Ricoeur e de comentadores. Desenvolve-se por um processo de leitura crítica que compreende análise e reflexão sobre o sentido doutrinal das obras e a dimensão do diálogo na discussão com o autor. Discussão: A linguagem é um sistema de signos que permite que seja exercitada compreensivamente entre os indivíduos. Ricoeur entende, aproximando-se de lingüistas como Austin e Searle, entre outros, que o fato de falar implica ação na medida em que, nos atos performativos, dizer é fazer. Denomina, então, o dizer a abertura, a manifestação da linguagem. O ato de falar enuncia o pensar e o sujeito pensante, gera a obra da fala e produz efeitos. A palavra falada é sempre circunstanciada. Manifesta a pessoa que fala – um eu – e sua intenção, pela ênfase com que expõe o pensamento. Pelo conteúdo, mostra o mundo e o faz para o outro. É ela o elo de ligação entre um homem e os outros homens, entre o que fala e o que ouve. Porém desaparece tão logo cessa de ser pronunciada. No discurso imbricam-se a mediação pelos signos, os componentes do processo de interlocução e a relação com o mundo. O que consolida o discurso é a escrita que não fixa o que é fortuito mas o que se perpetua, o significado. Assim, o texto escrito se sobrepõe à palavra pronunciada porque, desaparecendo o destaque da entonação, o sentido se liberta e adquire universalidade. O escrito erige, por si só, o fenômeno do distanciamento porque rompe a ligação entre falar e ouvir, rompe o elo dialogal e a referência se altera porque aquilo que ela mostrava se torna impossível. O texto, submetido aos padrões da língua, a códigos e normas configura-se em modelos estilísticos e estéticos. No estilo, então se faz presente o autor individuando a obra. A reação do interlocutor (o que no ato da fala é representado pelo ato perlocucionário) está no texto como estímulo, como desafio, permite diferentes leituras e passa a ser a manifestação do sujeito que se compreende como ser-no-mundo. Num texto, o que há para ser compreendido é o mundo que ele revela. O desaparecimento da referência direta e o enquadramento do texto num tipo de literatura que suprime a referência à realidade memetizando-a, atinge o leitor, oportuniza o aparecimento de uma interpretação que se volta para a compreensão de si que o sujeito pode extrair do mundo do texto. Conclusões: A fixação na filosofia da linguagem é explicada, por Ricoeur, como um momento pontual entre as diferentes fases de sua reflexão, cunhada nas vertentes da filosofia analítica americana. Nela dá-se a confluência de dois universos: o da palavra e o da ação. Ao considerar que a linguagem não se constitui um todo em si mesma, mas um referencial que serve de elemento argumentativo para sustentar os desdobramentos que dela seguem, entende-se, assim, seu papel mediador entre homem e mundo. A filosofia da linguagem que desenvolve apresenta interessante associação entre dizer e fazer, considerando o dizer um ato ao qual inere o fazer. Esta apreciação da filosofia da linguagem se mostra como um instrumento essencial para a compreensão da fundamental abertura do homem para a descoberta e compreensão de si. O que primeiro há é o ser no mundo, um sujeito circunstanciado que é dotado de experiências, envolvido por condicionantes e que interpreta o mundo designado pela linguagem, apreende o significado para, pela compreensão constituir-se ontologicamente existente. Referências: DARTIGUES, A. Paul Ricoeur et la question de l’identité narrative Revista Reflexão, Campinas, nº 69, p.19-34, setembro/dezembro, 1997. DOSSE, F. 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