ORIENTADOR: Prof. Dr. Douglas Ferrari

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SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI
INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA – IBRATI
MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA
RICARDO CARDOSO SOARES
Humanização em Unidade de Terapia Intensiva
Brasília - DF
2016
1
RICARDO CARDOSO SOARES
Humanização em Unidade de Terapia Intensiva
Dissertação de Mestrado apresentado à
Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva
– SOBRATI, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em Terapia
Intensiva.
ORIENTADOR: Prof. Dr. Douglas Ferrari
Brasília - DF
2016
2
RESUMO
A Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente onde se presencia cotidianamente a
dor e o sofrimento, já que a mesma atende a pacientes em situação crítica, e muitos
deles em fase terminal. É um ambiente onde tanto paciente quanto familiares
necessitam de um atendimento que além de adotar medidas técnicas, necessitam
de atenção e afeto, e nesse contexto, a humanização deve ser uma realidade nas
UTIs. Este trabalho foi norteado pela seguinte problematização: as UTIs têm
realmente sido um ambiente devidamente humanizado? Com o intuito de responder
a esse questionamento, esse trabalho de revisão de literatura teve como objetivo de
estabelecer discussões sobre as perspectivas e problemas que envolvem a
humanização no aspecto global intra-hospitalar com ênfase no paciente e nas
relações com a família e equipe. Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica
sistemática, qualitativa e descritiva. Foram realizadas buscas nas bases de dados
eletrônicas Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific
Electronic Library Online (Scielo) e manuais técnicos do Ministério da Saúde no
período de agosto a dezembro do ano de 2015. Foram incluídos artigos publicados a
partir de 2011, os quais abordassem a temática do presente estudo, publicações em
língua portuguesa e texto completo, sendo que foram selecionados 16 artigos para o
desenvolvimento deste trabalho. Foram excluídos, artigos repetidos nas bases de
dados, artigos que não abordassem com clareza e objetividade o tema em estudo, e
artigos publicados anteriormente ao de 2011. Por meio do estudo literário foi
possível constatar que o tema humanização tem sido amplamente discutido na
atualidade, e tem sido a meta de muitos dos profissionais da saúde. Porém a
humanização pode ficar comprometida caso não haja o devido conhecimento com
relação à mesma por parte do profissional, e a falta de interesse dos gestores em
proporcionar um ambiente acolhedor tanto para paciente, quanto para familiares e
equipe multiprofissional da UTI. Verificou-se que a humanização pode ficar
comprometida caso o profissional não vivencie um ambiente humanizado, que
forneça subsídios capazes de facilitar o atendimento ao paciente, valorizando-o e
motivando-o a prestar um trabalho de qualidade.
Palavras-chave: Unidade de Terapia Intensiva, Atendimento e Humanização.
3
ABSTRACT
The Intensive Care Unit is an environment where every day witnesses the pain and
suffering, since it caters to patients in critical condition, and many terminally ill. It is an
environment where both patient and family need a service that in addition to adopting
technical measures, need attention and affection, and in this context, humanization
must be a reality in the ICU. This work was guided by the following questioning: ICUs
have really been a fully humanized environment? In order to answer this question,
the literature review work aimed to discuss the need of humanization in the ICU,
whether in relation to the patient and family, or in relation to health professionals
hired by the institution and involved in the process patient recovery. This is a
literature review of research of the descriptive type. searches of electronic databases
were performed Latin American Literature in Health Sciences (LILACS), Scientific
Electronic Library Online (SciELO), technical manuals of the Ministry of Health and
legislation in the period from August to December of 2015. Included articles
published in 2011, which addressed the theme of this study, publications in English
and full text, of which we selected 16 articles to the development of this work. Were
excluded, repeated articles in databases, articles that did not cover clearly and
objectively the subject under study, and previously published articles to 2011.
Through the literary study it was found that the subject humanization has been widely
discussed today, and it has been the goal of many health professionals. But the
humanization may be compromised if there is no proper knowledge regarding the
same by the professional, and the lack of interest of managers to provide a
welcoming environment for both patient and to family and multidisciplinary ICU team.
It was found that the humanization may be compromised if the trader fails to
experience a humane environment, which provides grants able to facilitate customer
service / patient, valuing them and motivating them to deliver quality work.
Importantly, it is necessary for government leaders to invest more in health in the
country, with the aim that the population has better health and greater dignity.
Keywords: Intensive Care Unit - ICU, Attendance the Humanization.
4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................
05
METODOLOGIA................................................................................................
07
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................... 08
2.1HUMANIZAÇÃO: .........................................................................................
08
2.2 HUMANIZAÇÃO NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: direito do
paciente e dever do profissional de saúde.................................................... 10
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 13
REFERÊNCIAS.................................................................................................. 15
5
INTRODUÇÃO
Desde que se tem registro, a humanidade sofre com as moléstias. São
inúmeras as doenças que colocam em confronto o conhecimento do homem, bem
como suas ações diante de situações adversas. A cada ano que se passa são
incontáveis o número de mortos em decorrências dessas doenças. Mesmo com todo
o aparato tecnológico, nem sempre é possível reverter a situação e salvar a vida do
indivíduo, mesmo sendo atendido em uma unidade hospitalar totalmente equipada.
São diversos os casos dos pacientes que dão entrada nas Unidades de
Terapia Intensiva – UTI, sendo que muitos desses acabam por vir a óbito, causando
imensa dor aos familiares. Outros, após receberem todo o atendimento devido,
conseguem se recuperar, porém, durante esse período vivenciam momentos de
angústia. Há pacientes que passam a se preocupar com o sofrimento do outro e
consequentemente sente-se ainda mais fragilizado e sensível. Neste contexto os
pacientes encaminhados para uma Unidade de Terapia Intensiva, vivenciam uma
angústia intensa, originada por presenciar o sofrimento, dor, angústia de outros
pacientes e familiares, além é claro de estar preocupado com o seu próprio estado
de saúde. É nesse momento, que muitas vezes, surge a insegurança do paciente
com relação à equipe de profissionais da UTI, dúvidas quanto ao medicamento
prescrito pelo médico, ou quanto ao procedimento correto no atendimento oferecido
ao paciente, dentre outras preocupações.
Visando amenizar essas angústias, e favorecer a recuperação do paciente
com maior rapidez, é necessário que o profissional de saúde esteja atento e ofereça
um atendimento qualificado, priorizando o bem estar do paciente. Assim, é
importante que a equipe de profissionais esteja apta a desenvolver um atendimento
diferenciado e que possa promover ao paciente maior tranquilidade e satisfação, que
consequentemente contribuirá com a recuperação do mesmo. Tal atendimento
diferenciado recebe o título de “humanização do atendimento” amplamente discutido
na atualidade. A humanização baseia-se em prestar um atendimento com maior
interesse pelo ser humano, focando também o atendimento na pessoa, do paciente
e não apenas à patologia apresentada pelo mesmo.
Porém, é importante ressaltar que a humanização tende a ficar comprometida
com o acelerado processo de desenvolvimento tecnológico na área da saúde; a
intensa jornada de trabalho; e, a sobrecarga dos profissionais que atuam nas
6
unidades hospitalares, os quais muitas vezes realizam o procedimento padrão em
tempo reduzido na ânsia de atender a outros pacientes que dependem do
profissional para sobreviverem.
Essa sobrecarga do profissional, e a consequente pressa na realização de
procedimentos podem deixar os pacientes com dúvidas com relação ao atendimento
prestado. Emoções, crenças e valores do paciente ficam em segundo plano e, por
consequência, as ações se tornam cada vez mais fragmentadas, além da triste
realidade vivenciada pela grande maioria dos profissionais onde não há um
investimento por parte de gestores em ações que visem o ambiente de trabalho
humanizado de maneira que isso se reflita no atendimento oferecido pelo
profissional ao paciente.
Nessa ótica, surge o seguinte questionamento: as UTIs têm realmente sido
um ambiente devidamente humanizado? Com o propósito de responder a esse
questionamento, esse trabalho de revisão de literatura tem como objetivo
estabelecer discussões sobre as perspectivas e problemas que envolvem a
humanização no aspecto global intra-hospitalar com ênfase no paciente e nas
relações com a família e equipe.
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1 METODOLOGIA
Revisão bibliográfica sistemática, qualitativa e descritiva no período de
agosto a dezembro do ano de 2015, nas bases de dados eletrônicos Literatura
Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library
Online (Scielo) e manuais técnicos do Ministério da Saúde.
O critério de inclusão adotado foi utilizar obras publicadas a partir de 2011,
visando apresentar dados recentes e uma discussão que atenda a necessidade de
compreensão da temática para os dias atuais, e principalmente, que abordasse a
temática humanização no atendimento prestado a pacientes em UTIs, artigos de
língua portuguesa e texto completo. Assim foram selecionados 39 artigos, sendo que
para o desenvolvimento do trabalho, selecionou-se e fez-se a inclusão de 16 artigos.
O critério de exclusão do estudo foi artigos repetidos nas bases de dados, artigos
que não abordassem com clareza e objetividade o tema em estudo e artigos
publicados anteriormente ao ano de 2011.
Após leitura minuciosa do material selecionado, e a fim de responder ao
objetivo proposto na presente pesquisa, realizou-se a organização e construção do
texto, discutindo o tema tendo como base as obras selecionadas.
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2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1 HUMANIZAÇÃO: VISÃO AMPLA
Diante de um mundo que corre cada vez mais em busca de melhorias, é
importante que na área de saúde também haja esse interesse, e o mesmo deve
perpassar a barreira tecnológica e alcançar o público/paciente que dirige-se à uma
unidade hospitalar, e nesse contexto, a humanização deve ser pauta diária nas
discussões dos profissionais de saúde, e prática constante na vida dos mesmos.
Para que a humanização ocorra, é necessário que haja empenho e uma visão ampla
a cerca dos princípios profissionais, além de desenvolver um tratamento digno,
solidário e acolhedor, adotando uma nova postura ética em todas as atividades
(OLIVEIRA et al., 2011).
Humanização tratasse de um conjunto de medidas e intenções que visam
proporcionar o atendimento de enfermos de forma à amenizar sinais e sintomas
psicossomáticos inerentes a internação hospitalar, levando-se em consideração a
condição de autonomia e aspectos bioéticos desenvolvidos pela equipe (FERRARI,
2016).
A assistência humanizada deve ser desenvolvida com base numa visão
holística, com solidariedade e benevolência dedicadas ao paciente, as quais são
indispensáveis para a devida valorização do ser humano, estabelecendo uma
relação de ajuda e empatia, promovendo a humanização no atendimento como a
base no atendimento e dessa forma ocorre o envolvimento entre o cuidador e o ser
cuidado. Assim, pode-se afirmar que a enfermagem tem buscado constituir-se em
uma profissão que prima pela humanização, onde o ser humano é o foco da atenção
e cuidado (LIMA, 2013).
A humanização não deve ocorrer somente na recepção ou consulta, mas em
todo o momento para que exista uma relação entre o usuário/paciente e o prestador
de serviço. Ela deve focar o sujeito, a sociedade e território vinculados aos métodos
relacionais, técnicos e científicos na recepção em saúde, buscando atender as
singularidades de cada paciente (MACEDO, TEIXEIRA E DAHER, 2011).
Para que ocorra a humanização é necessário que haja a reorganização do
processo de trabalho de maneira a atender todos os pacientes dentro de uma
9
unidade de saúde, fortalecendo assim o princípio da universalidade e a busca da
integralidade e da equidade (BRASIL, 2011).
Nesse contexto, é possível criar um vínculo onde se possa desenvolver o
diálogo, e consequentemente aumentar assim a visibilidade não somente do
trabalho do médico, mas também de toda a equipe de profissionais através de uma
atenção humanizada (ROCHA; SPAGNUOLO, 2015).
A humanização nos serviços de saúde é fundamentada na ética e na
cidadania, usando de novas tecnologias que facilitem o encontro entre o profissional
e o paciente, construindo redes e processos de produção de saúde. A humanização
propõe que as relações se baseiam na ética e solidariedade reconhecendo o
paciente como participante ativo no processo obtenção à saúde (PELISOLI, 2012).
Ou
seja,
a
tecnologia
é
extremamente
importante,
porém
a
relação
paciente/profissional de saúde e família deve ser fortalecida com o intuito de
humanizar o atendimento recebido pelo paciente.
A humanização também pode acontecer por meio de uma escuta, da
identificação de problemas, resolução e enfrentamentos, como uma resposta as
necessidades da demanda do paciente (MONTEIRO et al., 2012); e não apenas do
paciente, mas também da família do mesmo, a qual comumente está abalada com o
estado clínico do paciente e precisa de uma assistência que favoreça o
fortalecimento da confiança na equipe de profissionais envolvidos no processo de
recuperação do seu ente.
A humanização também tem como prioridade envolver os sujeitos para a
produção de saúde com qualidade. Ela também ocorre por intermédio do
acolhimento, e no caso dos familiares, o acolhimento pode favorecer uma relação de
confiança que reflita ao paciente o interesse da equipe em cuidar humanamente
tanto do paciente, quanto da sua família. Segundo (GARUZI et al., 2014), o
acolhimento é notado como uma ferramenta que é apta a gerar o vínculo entre
profissionais e usuários, possibilitando ao usuário a incitação ao autocuidado,
levando-o a compreensão da sua realidade patológica e a sua corresponsabilidade
no tratamento em que o mesmo se encontra exposto e auxilia ainda em uma
universalização do acesso, que qualifica a assistência fortalecendo assim o trabalho
da equipe multiprofissional.
A humanização pode dar-se por meio do ato de ouvir, conversar e se
relacionar com pacientes e familiares. Essa relação entre profissionais, pacientes e
10
familiares deve ser bem estabelecida, pois a mesma contribuirá para um
atendimento
mais
humano,
proporcionando
segurança
e
conforto
e
consequentemente reduzindo a ansiedade e o medo do desconhecido (OLIVEIRA et
al, 2013).
Como observado, a humanização é bastante abrangente, e ao mesmo
tempo, simples. Deve acontecer no atendimento oferecido por toda a equipe
multidisciplinar, de maneira que seja uma realidade do paciente e dos familiares,
objetivando amenizar o sentimento de angústia e sofrimento enfrentado tanto pelo
paciente quanto pelos familiares.
2.2 HUMANIZAÇÃO NAS UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA
A Unidade de Terapia Intensiva - UTI é uma unidade de internação que
conta com tecnologia, equipamentos diferenciados e presta atendimento altamente
especializado, estruturada com vistas a atender pacientes graves ou potencialmente
graves, além de contar com profissionais capacitados para atender aos pacientes
em estado crítico.
A UTI nasceu da necessidade de oferecer suporte avançado de vida a
pacientes que possuam instabilidade clínica, potencial de gravidade e chances de
sobreviver, destinada à prestação de uma assistência especializada direcionada a
atender pacientes em estado grave, e por esse motivo exige domínio de técnicas e
protocolos rígidos, com o propósito de prestar assistência contínua intensiva dos
parâmetros vitais do paciente (SANTOS, BARROS E ANDRADE, 2014).
Pelo fato de atender a uma clientela com estados clínicos grave, é
necessário que haja um atendimento de forma a possibilitar sua recuperação de
maneira mais eficaz, além de dar suporte à família que juntamente com o paciente
passa por momentos de dor e fragilidade, e nesse contexto destaca-se o
atendimento humanizado como um método que pode proporcionar tanto ao paciente
quanto à família, o devido atendimento.
Dentre as vantagens do atendimento humanizado, (FARIAS, et al., 2013, p.
636), afirma que:
“O cuidado humanizado contribui de maneira significativa para a
recuperação do paciente grave, maximizando suas chances de viver mais e
com uma assistência de qualidade”.
11
O atendimento humanizado promove o devido estímulo ao paciente e
colabora com a aceitação ao tratamento, resultando na melhora do quadro clínico,
favorecendo a redução do tempo do mesmo na UTI (FARIAS, et al., 2013)
Segundo Vieira e Maia, (2013, p. 18), prestar um atendimento humanizado
em uma Unidade de Terapia intensiva (UTI):
“significa cuidar do paciente de maneira holística, englobando o contexto
familiar e social. Esta prática deve incorporar os valores, as esperanças, os
aspectos culturais e as preocupações de cada um”.
Ou seja, a equipe deve estar atenta às necessidades do paciente e dos
familiares com o propósito de promover um ambiente acolhedor aos mesmos,
valorizando as peculiaridades de cada indivíduo envolvido no processo.
A presença da família é de extrema importância para que haja o
desenvolvimento da humanização no atendimento do paciente, pois, sentimentos
como o medo, a dor, e a preocupação, estão diretamente relacionados com a
melhora ou piora do paciente em internação na UTI (SANTANA et al, 2012). A
presença da família confere conforto e segurança ao paciente, favorecendo o
processo de recuperação do mesmo.
Santos, Barros e Andrade, (2014), afirmam que condições consideradas
positivas para o paciente, como a presença de familiares, facilita tolerância do
paciente as adversidades da internação em terapia intensiva, e faz-se ainda mais
necessário quando se trata de pacientes em fase terminal.
Santana et al, (2012), consideram que para que a relação profissional/família
seja favorável, a mesma deve ser alicerçada no respeito, diálogo, confiança,
comprometimento, responsabilidade profissional e ética. Portanto, o profissional que
presta atendimento em uma UTI deve ter percepção das prioridades e das condutas
humanizadas no atendimento tanto do paciente quanto do familiar do mesmo.
Outro fator determinante para que haja a humanização no atendimento em
uma UTI é a relação de respeito entre os colegas de trabalho. Estudos apontam que
a desumanização entre os profissionais pode interferir diretamente no atendimento
oferecido aos pacientes e familiares. Os profissionais devem respeitar-se de maneira
a não comprometer o coleguismo e não interferir na qualidade do atendimento
oferecido ao paciente, já que o mesmo tem direito a um atendimento integral e
humanizado (SANTOS, BARROS E ANDRADE, 2014).
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É pertinente ressaltar também que para que haja a humanização no
atendimento oferecido, é necessário que a instituição esteja atenta e comprometida
com o profissional de saúde. Quando não há o comprometimento da instituição para
com o profissional, o mesmo tem dificuldade em promover um atendimento
humanizado, pois nem ele mesmo é respeitado e tratado humanamente pela
instituição de saúde, consequentemente sua situação é refletida no atendimento que
ele oferece aos pacientes (FARIAS et al., 2013).
É importante que a humanização seja priori também entre os profissionais e
a equipe multidisciplinar, de maneira que não ocorra diferenças entre as categorias.
Um não poderá ficar aquém do outro profissional, no que diz respeito à autonomia e
ao conhecimento científico.
Camponogara, (2011), constatou em uma pesquisa que, a rotina de trabalho
dos colaboradores apontou indícios de ser insatisfatória e até frustrante. Verificou
ainda uma lacuna em decorrência de papéis mal definidos entre a equipe de
enfermagem, deixando a desejar às potencialidades dos profissionais, além de
verificar jornada de trabalho desgastante.
Outra pesquisa desenvolvida por Farias et al., (2013), também constatou
insatisfação com relação à carga horária, além de descontentamento com o salário
recebido, não havendo incentivo ao desenvolvimento de um trabalho satisfatório.
Tratando-se de uma UTI, é imprescindível que se tenha uma equipe de
profissionais devidamente treinada, e em número suficiente, com o objetivo de se
estabelecer um atendimento humanizado e tratamento adequado aos pacientes
(VIEIRA e MAIA, 2013).
Silva et al, (2011, p. 07), afirmam que “Apesar das discussões e posições
teóricas sobre a humanização em UTI, ainda hoje temos o triste flagrante de
violação dos direitos e da dignidade dos usuários desses serviços”. Tal violação
ocorre, dentre outras coisas, quando não há materiais suficientes para a realização
dos procedimentos.
Colaborando com a discussão, Vieira e Maia, (2013), enfatizam que há
situações onde o ambiente hospitalar conta com máquinas de última geração, porém
não conta com o básico para o atendimento, como por exemplo: luvas, seringas e
agulhas, e até mesmo local para higienização das mãos a cada procedimento
realizado, interferindo no controle de infecções.
13
Silva, Chernicharo e Ferreira, (2011), ainda reforçam a discussão afirmando
que as condições de oferta de materiais nas instituições hospitalares interferem
diretamente no trabalho, além de mexer com os sentimentos dos profissionais,
dificultando a operacionalização de ações, comprometendo consequentemente a
humanização da assistência prestada ao paciente.
Deve-se ainda abordar a necessidade de os profissionais da saúde estarem
se especializando constantemente com o objetivo de ter conhecimento para
operacionalização das novas tecnologias nas UTIs. Assim exige-se maior
qualificação de todos os profissionais para operá-las com precisão, segurança e
eficácia, sem no entanto, deixar de primar pelos valores éticos e humanísticos que
norteiam a profissão (VIEIRA e MAIA, 2013).
Silveira e Contim, (2015), ponderam que o profissional deve desenvolver a
interação com a tecnologia, dominando o conhecimento técnico e científico
necessários à sua utilização, e ao mesmo tempo, deve suprir as necessidades
terapêuticas dos pacientes nas UTIs, favorecendo a humanização do atendimento
prestado na instituição de saúde.
Nesse contexto, nota-se que para que haja a humanização nas UTIs, é
necessário que toda a equipe esteja envolvida, de maneira que todos os gestores
tenham a mesma meta, e trabalhem a cada dia com o objetivo de promover o
atendimento digno tanto a pacientes quanto a familiares, visando garantir um dos
princípios básicos de cada cidadão, que é dignidade e qualidade de vida com saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Unidade de Terapia Intensiva – UTI é um local que desencadeia na equipe
multiprofissional o estresse decorrente da realidade vivida pela mesma, onde o
profissional convive com situações em que a preocupação e angústia de familiares
com relação ao estado clínico de seu ente é observada diariamente.
Há ainda outros fatores desencadeadores de estresse, como opor exemplo,
a escassez de recursos materiais, seja de leitos ou de equipamentos, ou ainda, de
recursos humanos; dificuldade com relação à aceitação da morte; possíveis conflitos
entre colegas de trabalho; e longa jornada e condições insalubres de trabalho;
aumento na demanda tecnológica, ocasionando insegurança e insatisfação do
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profissional. Tais fatores podem interferir diretamente no atendimento oferecido ao
paciente e aos familiares do mesmo, consequentemente a humanização pode ficar
para segundo plano.
Para que a humanização seja efetiva é necessário que os profissionais
detenham o conhecimento com relação às necessidades dos pacientes, e hajam de
forma a promover uma estada com o menor desconforto e descontentamento
possível.
Humanizar o atendimento envolve pacientes que tem direito ao atendimento
digno; os familiares que precisam de um suporte da equipe de maneira que sintamse seguros quanto aos procedimentos e estado real do paciente; os profissionais
que têm a responsabilidade de promover um atendimento humanizado e profissional
tanto ao paciente quanto aos familiares; e gestores que precisam estar atentos às
necessidades do paciente, do familiar, da equipe de profissionais e da estrutura
física da unidade, implementando ações que garantam a humanização dentro da
UTI.
A humanização na UTI requer da equipe e gestores, amor à profissão e ao
ser humano, tratando-o como um ser que precisa de atenção tanto quanto do
medicamento prescrito, ou seja, tanto um quanto outro são importantes no processo
de recuperação do paciente, e cabe ao profissional agir de maneira a promover uma
recuperação satisfatória progressiva do mesmo.
Para que a humanização nas UTIs aconteça, é importante que os
profissionais desenvolvam consciência de aprimoramento profissional, de maneira a
atender a crescente demanda tecnológica e sua aplicabilidade em cada situação, já
que por se tratar de casos críticos, a necessidade de procedimentos técnicos são
indispensável para manter o paciente com vida, e promover sua recuperação. No
entanto, aliados ao uso da tecnologia, o profissional deve atentar à importância da
escuta ao paciente, do diálogo, da solidariedade e da gentiliza a cada contato com o
paciente, com o intuito de despertar no mesmo a segurança com relação aos
procedimentos, a aceitação ao tratamento, o que favorecerá uma recuperação mais
rápida e eficaz.
Também é importante ressaltar que o profissional deve ser valorizado pelos
gestores da UTI, os quais devem apoiar a equipe de profissionais fornecendo
subsídios para que essa equipe motivada possa atender de forma humanizada e
acolhedora aos pacientes e familiares que recorrerem à unidade. Os gestores
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também devem atentar para a contratação de profissionais em número suficiente
para atender a demanda, adquirir novos equipamentos e realizar a manutenção da
estrutura física da unidade, além de investir em salários que motivem os
profissionais realizarem de um trabalho de excelente qualidade, humanizando cada
ação realizada dentro da UTI.
Observou-se que a humanização é um direito de todo cidadão, e que as
UTIs devem estar preparadas para oferecer esse atendimento ao paciente e
familiares, entretanto, ficou evidente que ainda há muito a ser feito para que a
humanização seja uma realidade em todas as unidades de saúde, especialmente
nas UTIs, que atendem pacientes em estado crítico, e em muitos casos em fase
terminal.
Assim, conclui-se que, mesmo a humanização sendo a temática
amplamente discutida na atualidade, ainda caminha-se a passos lentos, e que há
muito a ser feito, não apenas pelos profissionais envolvidos dentro da unidade de
saúde, mas principalmente pelas autoridades governamentais que devem atentar
para a necessidade de se investir mais na saúde dos brasileiros, pois uma
população saudável gasta menos com problemas de saúde, produz mais e
consequentemente colabora com o crescimento do país.
16
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