aplicação de vni em pacientes pediatricos com diagnóstico

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Avaliação da efetifidade e custo da assistência ventilátoria não invasiva pediatrica na
emergência do hospital público pediatrico de Boa Vista-RR
Thiago César Reis Pereira1
1 Graduado em bacharel em fisioterapia pela Faculdades Cathedral de Ensino
Superior, Boa Vista – RR; Especialista em terapia intensiva pela SOBRATI; Especialista em
acupuntura pela Biocursos; Mestrando em terapia intensiva pela SOBRATI.
Resumo: A insuficiência respiratória aguda (IRpA) é definida como a ineficiência dos
pulmões em realizar sua função, resultando na diminuição da pressão parcial de oxigênio no
sangue e aumento da pressão parcial de dióxido de carbono no sangue, aparecendo de forma
súbita, e levando a alterações na ventilação e nas trocas gasosas. A ventilação mecânica não
invasiva tem como objetivo ventilar o paciente sem utilização de via aérea artificial,
prevenindo complicações relacionadas ao tubo endotraqueal ou a traqueostomia e preservando
os mecanismos de defesa das vias aéreas, linguagem e deglutição. Como benefícios da
ventilação mecânica não invasiva são citados a facilitação das trocas gasosas, redução no
trabalho respiratório e fadiga muscular e aumento da capacidade residual funcional,
ventilação alveolar e complacência pulmonar. A presente pesquisa verificou a relevância da
aplicação de VNI em crianças com quadro agudo de insuficiência respiratória na emergência,
e comparou com o índice de internações na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital da
Criança Santo Antonio pelo diagnóstico clínico acima citado nos dois anos anteriores.
Palavras-chaves: Insuficiência respiratória aguda, ventilação mecânica não invasiva,
Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica.
Abstract: Acute respiratory failure (ARF) is defined as the inefficiency of the lungs to
perform their function, resulting in a dangerous drop in blood oxygenation and rise in arterial
carbon dioxide levels, appearing suddenly it changes ventilation and gas exchanges. The
noninvasive mechanical ventilation aims to ventilate the patient without using an artificial
airway, preventing complications related to endotracheal or tracheostomy and preserving the
defense mechanisms of the airways, language and swallowing. The benefits of noninvasive
ventilation are: to facilitate gas exchanges, reduction in respiratory work and muscle fatigue,
increasing functional residual capacity, alveolar ventilation and lung compliance. This study
supports the relevance of applying NIV in children with acute respiratory failure in
emergency and compared with the rates of hospitalization in the Intensive Care Unit at
Children’s Hospital Santo Antonio by clinical diagnosis in the above mentioned respiratory
failure in the previous two years.
Keywords: Acute respiratory failure, noninvasive ventilation, Pediatric Intensive Care Unit
Introdução
A insuficiência respiratória aguda (IRpA), segundo Sarmento18, é um evento muito
freqüente em pediatria e corresponde a aproximadamente 50% das internações em Unidade de
Terapia Intensiva pediátrica (UTI-P). Para Nakanishi10, a criança é particularmente suscetível
a desenvolver insuficiência respiratória devido à singularidades na anatomia e fisiologia do
sistema respiratório, além do sistema imunológico. Piva15 cita a função muscular intercostal e
diafragmática menos maduras favorecendo a exaustão; os canais de Lampert e poros de Kohn
pouco desenvolvidos favorecendo a formação de atelectasias; a caixa torácica mais
complacente; a incoordenação toraco-abdominal durante o sono que prejudica a higiene
brônquica; os pulmões com menos elastina diminuindo a propriedade de recolhimento elástico
justificando a complacência pulmonar diminuída; o sistema imunológico em desenvolvimento
favorecendo as infecções.
Para Souza24, A insuficiência respiratória aguda (IRpA) caracteriza-se pelo déficit
ventilatório ou de oxigenação, devido à incapacidade do sistema respiratório de manter suas
funções adequadamente.
De acordo com Scalan22, um estudo foi feito com 1.400 pacientes diagnosticados
com IRpA e destes, 44% tiveram a necessidade de internação em UTI e morreram no hospital.
Considerando os fatores acima, condutas conservadoras como a fisioterapia
respiratória e a ventilação mecânica não invasiva (VNI), são importantes para o tratamento da
IRpA, uma vez que privam os pacientes de maiores riscos.
Referencial Teórico
Fisiologia Respiratória
Segundo Tarantino25, a principal função do sistema respiratório é a hematose, isto é,
proporcionar adequada quantidade de sangue arterializado para os tecidos do corpo, e ao
mesmo tempo eliminar o dióxido de carbono resultante do metabolismo celular. Para manter
sua função, o sistema respiratório é provido de duas unidades: a de troca gasosa, constituída
pelos pulmões e pelas vias aéreas, e a unidade de bomba, constituída pelos músculos
respiratórios, sob controle do sistema nervoso central e suas vias de conexões
neuromusculares.
Presto e Damázio17, divide a respiração em três fases: a ventilação, a difusão e a
perfusão. A ventilação é a passagem do ar pelas vias aéreas, a difusão ou troca gasosa se da na
passagem de um gás do meio mais concentrado para o menos concentrado e a perfusão é a
passagem do sangue pelos vasos sanguíneos.
A ventilação pulmonar é cíclica e possui duas fases: o ar entra pelas vias aéreas
durante a inspiração pela ação dos músculos respiratórios, principalmente o diafragma e é
expelido em seguida pelos pulmões passivamente pela expiração. Durante as mesmas, um
volume de gás é movido para dentro e fora dos pulmões, este é denominado volume corrente,
que é de aproximadamente 500ml. Durante a inspiração e expiração forçadas, podem existir
variações de volume. As variações de volume são três: volume de reserva inspiratório (3000
ml), volume de reserva expiratório (1100 ml), e volume residual (1200 ml), combinados
resultam nas capacidades pulmonares: “Capacidade pulmonar total (CPT): VC + VRI + VRE
+ VR; Capacidade vital (CV): VC + VRI + VRE; Capacidade inspiratória (CI): VC + VRI;
Capacidade residual funcional (CRF): VR + VRE”. Presto e Damázio17, Scanlan22.
A difusão ocorre em uma área denominada ácino (bronquíolos respiratórios e
alvéolos), e atravessa uma barreira constituída por membrana alveolar, endotélio capilar, o
plasma sanguíneo, a parede das hemácias e fluido intracelular, esse conjunto é chamado de
membrana alvéolo-capilar. Durante a respiração, a concentração de oxigênio inspirada é
maior do que a presente nos vasos sanguíneos, fazendo com que o O2 migre para os vasos.
Com o dióxido de carbono ocorre o mecanismo contrário. Esse processo é denominado
hematose. Tarantino25, Presto e Damázio17.
A perfusão é a passagem do sangue pelo capilar pulmonar, que leva o oxigênio para
nutrir os tecidos, e elimina o gás carbônico resultante do ciclo tecidual. Os capilares
pulmonares fornecem uma grande área de superfície para a troca de oxigênio e gás carbônico
com os alvéolos. Então, o sangue arterializado deixa os alvéolos através das vênulas
pulmonares, sendo liberado na circulação sistêmica. Tarantino25, Machado6, Guyton4.
Para Tarantino25, a ventilação, perfusão e difusão, tem o objetivo de manter as
pressões normais de oxigênio e gás carbônico nos alvéolos e capilares pulmonares.
A unidade de bomba é formada pelos músculos respiratórios, que são considerados
músculos esqueléticos com maior resistência a fadiga, fluxo sanguíneo aumentado, maior
capacidade oxidativa e densidade capilar mais elevada, comparados aos músculos
esqueléticos periféricos. Eles têm a função de deslocar a parede do tórax para possibilitar a
ventilação pulmonar. Machado6. Durante a inspiração em repouso, ocorre a contração apenas
do diafragma, intercostais externos e recentemente foi descoberto que há atividade elétrica
dos escalenos. Na inspiração forçada há adição dos músculos esternocleidomastóideo, fibras
superiores do trapézio, e a maioria dos músculos que possuem inserção na caixa torácica com
pontos fixos em outros ossos, como o músculo peitoral maior. Não há contração muscular na
expiração em repouso, já na expiração forçada, verifica-se a contração dos músculos
intercostais internos, reto abdominal, oblíquos interno e externo e transverso do abdômen.
Presto e Damázio17, Machado6.
Regulação da Respiração
Segundo Guyton4, o centro respiratório é composto por diversos grupos de
neurônios, localizados bilateralmente no bulbo e na ponte, e é dividido em três grupos
principais, o grupo respiratório dorsal, grupo respiratório ventral, e centro pneumotáxico,
além destes, existe o centro apneustico.
Insuficiência Respiratória Aguda
A insuficiência respiratória é a incapacidade dos pulmões de realizar as trocas
gasosas ou eliminar gás carbônico. Ocorre a redução da pressão parcial de oxigênio no
sangue, com valores menores que 60 mmHg, ou aumento da pressão parcial de dióxido de
carbono, para valores acima de 45 mmHg. Presto e Damázio17, Sarmento18, Scanlan22,
Kliegman5, Marcondes7.
“Na insuficiência respiratória aguda, os sinais e sintomas surgem de forma abrupta e
avassaladora”. Podendo haver alterações de ordem ventilatória ou de trocas gasosas
(hipoxemia e/ou hipercapnia). Presto e Damázio17.
A IRpA de origem pulmonar geralmente se apresenta como tipo I, e tem como
causas freqüentes patologias como atelectasias, pneumonias e síndrome do desconforto
respiratório agudo, etc.. Moreira9. De acordo com Machado6, a obstrução interna (secreção,
obstrução por corpo estranho, aspiração de conteúdo gástrico), ou perda da sustentação de
suas paredes por disfunção da própria parede (traqueomalacea), perda ou isolamento de sua
sustentação pelo parênquima pulmonar (DPOC) e asma, podem acarretar IRpA por disfunção
de vias aéreas. “O tromboembolismo pulmonar é a causa mais comum de IRpA por disfunção
da circulação pulmonar” Machado6.
A IRpA de origem extrapulmonar pode ser causada por doenças do sistema nervoso
central, doenças neuromusculares, trauma torácico, pneumotórax, derrame pleural, cirurgia de
tórax e abdome superior, paralisia diafragmática e disfunção cardíaca. Machado6.
A IRpA pode se apresentar de duas formas. Na IRpA tipo I ou hipoxemica ocorre
deficiência das trocas gasosas com conseqüente redução da PaO2 (hipoxemia). Alterações na
permeabilidade das barreiras alvéolo-capilares com diminuição da capacidade de difusão,
aumento do espaço morto ou efeito shunt estão presentes. Presto e Damázio17, Piva15. Pode
ser causada por doenças como fibrose pulmonar, edema agudo de pulmão cardiogenico,
Sindrome do desconforto respiratório agudo, pneumonias e tromboembolismo pulmonar.
Presto e Damázio17.
Na IRpA tipo II ou hipercapnica ocorre uma diminuição da PaO2, com PaCO2
elevada, criando uma acidose respiratória descompensada em virtude da deficiência da
ventilação alveolar e, consequentemente, das trocas gasosas. As causas podem ser por
exacerbação da DPOC, doenças neuromusculares, depressão do centro respiratório, alterações
da parede torácica e asma descompensada. Presto e Damázio17.
Ventilação Mecânica não Invasiva
A ventilação não invasiva (VNI) foi instituída na década de 1930, e com a
repercussão da descoberta de seus benefícios por estudos que comprovavam sua eficácia, foi
introduzida na pediatria em 1970. Sarmento20.
É um método onde se ventila o paciente sem uso de via aérea artificial, como tubo
endotraqueal ou traqueostomia, com as vantagens de evitar as complicações associadas com o
tubo endotraqueal, melhorar o conforto do paciente, preservar os mecanismos de defesa das
vias aéreas e preservar a linguagem e a deglutição. É indicado em qualquer caso de IRpA,
principalmente quando há fraqueza muscular respiratória, hipercapnia e hipoventilação,
desmame da ventilação mecânica invasiva, prevenção de intubação endotraqueal e trauma
torácico sem pneumotórax. As principais contra indicações são cirurgias, queimaduras,
trauma ou deformidade facial, obstrução total das vias aéreas superiores, ausência de reflexo
de proteção de via aérea, hipersecreção pulmonar, náusea e vômitos, hemorragia digestiva
alta, pneumotórax não drenado, hemoptise, coma grave, arritmia cardíaca e instabilidade
hemodinâmica, agitação, confusão, ansiedade e intolerância ao tratamento por parte do
paciente. Souza24 e Sarmento20.
Dentro das modalidades de VNI, o CPAP é a oferta constante de pressão positiva às
vias aéreas durante o ciclo respiratório. No Bilevel ou BIPAP existem dois níveis de pressão,
um na inspiração (IPAP) e outro na expiração (EPAP). Souza24. O uso da pressão positiva
expiratória final (PEEP) é um dos fatores mais importantes para a validação das técnicas de
VNI. Silva23, Presto e Damázio16.
“A VNI pode ser realizada com geradores de fluxo, aparelhos de ventilação invasiva
adaptados ou aparelhos projetados especificamente para VNI.” Nápolis11.
Respiração com Pressão Positiva Intermitente (RPPI)
Consiste na aplicação de pressão supra-atmosférica durante a fase inspiratória, é
utilizada para promover ventilação com pressão positiva intermitente, por curtos períodos de
tempo, e com o objetivo de expandir os pulmões ou ofertar aerossolterapia. É utilizada para
aumentar o volume corrente, evitar o colapso das vias aéreas e tratar complicações
pulmonares pós-cirurgicas. Os riscos de complicações são pequenos, a distensão gástrica é um
dos principais, uma vez que a RPPI é ofertada por meio bucal, possibilitando a passagem de
ar diretamente para o interior do esôfago. Seu uso para expansão pulmonar deve ser
considerado para pacientes conscientes e cooperativos que sejam incapazes de realizar
respirações profundas espontaneamente. Sarmento19.
Dentre os aparelhos de RPPI podemos citar o reanimador de Müller (RM), que é
descrito por Almeida e Damasceno1 como um aparelho pneumático, “composto por uma
válvula reguladora (manômetro de pressão), um dispositivo manual que administra gases para
dentro dos pulmões (botão de válvula), um micronebulizador e um injetor.”
O micronebulizador e o injetor são abastecidos por um fluxo de O2 assim que o botão
da válvula é acionado. O micronebulizador gera uma névoa que é aspirada pelo injetor e
transformada em pressão controlada e enviada para o paciente. O RM deve ser acoplado a
uma interface e ao fluxo de O2. Almeida e Damasceno1.
Ainda segundo Almeida e Damasceno1, as principais indicações do RM são:
aumento do trabalho ventilatório, alterações de distensibilidade dos pulmões e da caixa
torácica, aumento da resistência das vias aéreas (acumulo de secreções), níveis gasométricos
fora dos parâmetros de normalidade, necessidade de incrementar a eficiência respiratória,
complementação da ventilação pulmonar deficiente, prevenção da fadiga muscular
respiratória, manutenção do equilíbrio geométrico dos alveolos e potencialização dos
mecanismos de tosse.
Máscaras
Segundo Souza24 a escolha da interface entre a máscara nasal, oronasal, facial total
ou do tipo capacete irá depender do nível de consciência do paciente, já Sarmento 20 ressalta
que não há consenso sobre qual é o tipo ideal de mascara para o paciente, e que a escolha e
ajuste adequados podem contribuir para o sucesso da terapia e evitar efeitos adversos da má
adaptação e insucesso da VNI como: vazamentos ao redor da mascara que podem gerar
ventilação inadequada, pressão de ar excessiva na face, claustrofobia, reinalação de CO2,
lesões na pele, dor facial e ressecamento oronasal.
Segundo Souza24 e Sarmento20, a máscara facial ou oronasal é a mais usada na
prática e no estudo da IRpA com utilização da VNI. Nesse tipo há menor possibilidade de
escape aéreo por recobrir nariz e boca, porém não permite que o paciente expectore, alimentese, comunique-se, além de gerar um efeito claustrofóbico em alguns pacientes. Existem dois
tipos desta máscara: full face e total face. A máscara nasal é utilizada nas disfunções
ventilatórias crônicas, permite a comunicação, a alimentação e a expectoração, porém há
maiores chances de escape de ar.
Ventilação Mecânica não Invasiva na Insuficiência Respiratória
O diagnóstico de IRpA exige medidas terapêuticas imediatas para restaurar a
oxigenação, o uso da ventilação mecânica nos casos mais graves é a principal medida a ser
instituída, administrando oxigênio umidificado e aquecido. A oferta de oxigênio deve ser feita
de forma confortável para o paciente utilizando cateter nasal, mascara facial ou CPAP nasal.
Presto e Damázio16, Souza24, Machado6, Silva23.
O CPAP é utilizado para tratar IRpA caracterizada por diminuição da CRF, colapso
alveolar, fechamento precoce das vias aéreas e diminuição da complacência, Nesses casos,
pode ser feito o recrutamento alveolar utilizando altos níveis de CPAP, elevando a PEEP para
40 cmH2O mantidos por 40 segundos. Estudos consideraram que após esta manobra os
pacientes apresentavam aumento de 50% no índice de oxigenação. Outro método utilizando a
CPAP é o de incrementar 5cmH2O na PEEP até 40 cmH2O a cada 45 segundos. Machado6.
O BILEVEL é mais utilizado nos casos de insuficiência respiratória hipoxemica, pois
permite uma pressão inspiratória, auxiliando no aumento do índice de oxigenação dos
pacientes. Machado6 relata um estudo em que participaram oito pacientes com índice de
oxigenação menor que 200 e foram submetidos à aplicação de BILEVEL, com IPAP e EPAP
de 20cmH2O, mantidos por dois minutos. Após a realização da manobra houve um aumento
de 31% no índice de oxigenação dos pacientes.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa documental e de campo exploratória, realizada no Hospital
da Criança Santo Antonio, em Boa Vista, Roraima, onde foram realizadas manobras de
higiene brônquica (vibrocompressão, shaking, aceleração do fluxo expiratório e tosse dirigida
ou TIC traqueal) seguidos de ventilação mecânica não invasiva em nove crianças de um mês a
cinco anos de idade, que chegaram à emergência do Hospital supracitado, com diagnóstico
clinico de insuficiência respiratória aguda no período de 28 de junho a 30 de julho de 2011. O
equipamento utilizado para a pesquisa foi o reanimador de Muller ajustado com 02 a 15 litros
por minuto de fluxo de O2, de acordo com o paciente, e administrado durante vinte minutos,
com interface adequada de acordo com o tamanho do paciente. Posteriormente, foi feita uma
análise no banco de dados do Hospital, onde foi verificado o número de crianças que
chegaram à emergência com insuficiência respiratória aguda e foram internados na UTI-P,
durante o mesmo período dos anos de 2009 e 2010.
Resultados
No período de 28 de junho e 30 de julho de 2011, foram atendidas na emergência do
Hospital da Criança Santo Antonio, nove crianças de um mês a cinco anos de idade, com
quadro de insuficiência respiratória aguda. Após a administração de VNI, verificou-se que
apenas uma criança foi encaminhada à internação na UTI-P, as oito restantes foram
encaminhadas à internação nos blocos ou tiveram alta hospitalar.
2011
Número de pacientes atendidos na emergência com IRpA
9
Número de pacientes encaminhados à UTI-P
1
Número de pacientes encaminhados ao bloco/ alta hospitalar 8
FONTE: Dados originais conforme pesquisa de campo.
No mesmo período do ano de 2009, foi verificado, que das seis crianças que foram
admitidas no Hospital com quadro de IRpA, as mesmas seis foram internadas na UTI-P.
2009
Número de pacientes com IRpA
6
Número de pacientes encaminhados à UTI-P
6
Número de pacientes encaminhados ao bloco/ alta hospitalar 0
FONTE: Dados obtidos dos prontuários pesquisados pelos autores.
No ano de 2010, dez crianças se apresentaram com IRpA, seis foram internadas na
UTI-P e quatro na Unidade de Cuidados Intermediários (UCI), nenhuma criança foi
encaminhada para os blocos ou teve alta hospitalar. O numero de pacientes que foram
internados na UTI-P não alterou do ano de 2009 para o de 2010 devido à implantação da UCI
no presente Hospital.
2010
Número de pacientes com IRpA
10
Número de pacientes encaminhados à UTI-P
6
Número de pacientes encaminhados à UCI
4
Número de pacientes encaminhados ao bloco/ alta hospitalar 0
FONTE: Dados obtidos dos prontuários pesquisados pelos autores.
No comparativo dos anos de 2011 com 2009, foi verificado que em 2011, com a
utilização de VNI na emergência, apenas 11,11% dos pacientes foram internados na UTI-P e
88,89% foram encaminhados aos blocos ou tiveram alta hospitalar, em contrapartida, no ano
de 2009 os pacientes que foram internados na UTI-P representaram 100%.
Já no comparativo do ano de 2011 com o ano de 2010, a porcentagem de pacientes
que foram internados na UTI-P no ultimo ano foi de 60%, os 40% restantes foram internados
em UCI, e os que em 2011 representaram 88,89% que tiveram alta hospitalar ou foram
encaminhados aos blocos, no ano de 2010 não tiveram representação.
Embora o número de pacientes internados na UTI-P nos anos de 2010 e 2009 tenha
sido o mesmo, a porcentagem em 2010 foi menor, devido à implantação da UCI.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
UTI-P
BLOCO/CASA
UCI
2011
2009
2010
FONTE: Dados originais conforme pesquisa de campo e dados obtidos dos
prontuários pesquisados pelos autores.
No comparativo da quantidade total de dias de internação hospitalar (DIH) em UTIP, verificou-se que do ano de 2009 para o de 2011, diminuiu de 47 DIH para 16 DIH,
representando uma queda de 69,96%. Já na comparação dos anos de 2010 e 2011, verificou-se
diferença de apenas 20 DIH, sendo 36 DIH de 2010 contra 16 DIH de 2011, representando
queda de 55,56%. É importante salientar que no ano de 2010 a queda no numero total de DIH
em UTI-P pode ter ocorrido devido à implantação da UCI, já que o conhecimento de que os
pacientes que em 2009 eram encaminhados todos a UTI-P, em 2010 foram divididos de
acordo com a gravidade da IRpA, sendo encaminhados tanto à UTI-P, quanto à UCI.
50
40
30
2011
2009
20
2010
10
0
DIH em UTI-P
FONTE: Dados originais conforme pesquisa de campo e dados obtidos
dos prontuários pesquisados pelos autores.
Segundo a portaria nº 3.126, de 26 de dezembro de 2008, do Ministério da Saúde, a
diária de internação em UTI-P no Brasil equivale a R$ 508,63. De acordo com a quantidade
de dias de internação encontrada em um mês nos anos de 2009, 2010 e 2011, foi feita
simulação de gastos em um ano, e encontrada diferença de R$ 286.867,32 do ano de 2009,
contra R$ 219.728,16 de 2010 e R$ 97.656,96 de 2011. Em porcentagem, encontra-se uma
diminuição de 65,60% nos gastos de internação em UTI-P do ano de 2009 para o ano de
2011, e 55,55% do ano de 2010 para o ano de 2011. A diminuição dos custos na comparação
dos anos 2010 e 2011, foi menor do que a de 2011 e 2009, pois foi implantada a UCI no ano
2010, e os gastos com diárias de internação não foram somente com UTI-P.
300.000,00
250.000,00
200.000,00
150.000,00
100.000,00
50.000,00
0,00
2011/2009
2011/2010
FONTE: dados obtidos dos prontuários pesquisados pelos autores e
bibliografia pesquisada pelos autores.
Discussão
A bibliografia consultada sobre a IRpA, ressalta a importância da ventilação
mecânica não invasiva para prevenção dos efeitos deletérios da intubação orotraqueal ou
traqueostomia. Segundo Sarmento21 e Guimarães2, A pressão positiva oferece uma grande
ajuda aos músculos respiratórios gerando pressão suficiente para vencer os componentes
resistivos e elásticos do sistema respiratório, tem o propósito de aumentar a expansão
pulmonar, melhorar a administração de aerossolterapia ou assistir temporariamente a
ventilação, reduzindo ou revertendo a causa do desequilíbrio das trocas gasosas.
Guimarães3, verificou a ação da ventilação não invasiva com pressão positiva em
pacientes com insuficiência respiratória instalada após a extubação em 81 pacientes, que
foram divididos em dois grupos, o primeiro fez VNI com pressão positiva e o segundo
recebeu apenas oxigenoterapia, o estudo não demonstrou benefícios da VNI como freqüência
de reintubação e mortalidade hospitalar. Em um segundo estudo, foi verificado que a
aplicação da VNI com pressão positiva como recurso de resgate em 221 pacientes com IRpA
previamente instalada, esteve associada ao aumento da mortalidade na UTI.
Scalan22 afirma que em seu estudo, dos 1400 pacientes diagnosticados com IRpA,
44% teve a necessidade de internação em UTI ou morreram no hospital, contradizendo os
resultados da presente pesquisa, que comprovou que a utilização da VNI na emergência,
previne a internação em UTI, que representa apenas 11,11%.
Machado6 ressalta a utilização de CPAP e BILEVEL nos dois tipos de insuficiência
respiratória, descrevendo métodos que aumentaram o índice de oxigenação dos pacientes,
porém o uso do RPPI (RM) não foi encontrado associado ao tratamento da IRpA.
Sarmento19 cita como complicação do uso de RPPI a distensão gástrica, que não foi
encontrada na presente pesquisa.
Segundo Souza24 a escolha da interface deve ser feita de acordo com o nível de
consciência do paciente, porém a presente pesquisa realizou a escolha de acordo com o
tamanho adequado para o rosto do paciente.
Em nenhum dos estudos consultados na presente pesquisa foi encontrada a atuação
do fisioterapeuta na emergência do hospital como meio de prevenção de internação em UTIP.
Conclusão
Analisando os resultados da presente pesquisa foi possível evidenciar que a aplicação
de VNI na emergência do Hospital da criança Santo Antonio, preveniu a internação dos
pacientes com IRpA na UTI-P. A comparação com o mesmo período dos dois anos anteriores
comprovou a diminuição significativa nas internações em UTI-P dos pacientes com a
patologia supracitada. Deve ser exaltada a relevância do papel da fisioterapia no ambiente
emergencial para fins de prevenção.
De acordo com a simulação de gastos em um ano que foi feita no presente trabalho, a
economia com internações em UTI-P, incluindo gastos com o aparelho de RPPI e
fisioterapeuta em período integral na emergência, equivaleu a R$ 165.430,36 de 2009 para
2011 e R$ 98.291,20 de 2010 para 2011.
Valendo ressaltar ainda que o único paciente que foi para unidade de terapia
intensiva no periodo em que foi realizado a pesquisa, tinha como diagnostico ICC,
nessecitando de transplante de coração, justificando assim sua longa permanencia na UTI-P, e
o insucesso com a utilização do RPPI na emergência do Hospital da Criança Santo Antonio.
Uma vez que não foi encontrada bibliografia semelhante ao tema da presente
pesquisa, sugere-se que seja dada continuidade, com maior tempo de duração e maior
amostra, e que seja analisada mais profundamente a diminuição de custos para os hospitais
com a diminuição de internações em UTI.
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Thiago César Reis Pereira
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