1 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA MESTRADO

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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA
MESTRADO PROFISSIONAL EM TERAPIA INTENSIVA
MARCELA FERNANDES DA SILVA
HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO NA UTI NEONATAL
BOA VISTA
2013
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MARCELA FERNANDES DA SILVA
HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO NA UTI NEONATAL
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Instituto Brasileiro de
Terapia Intensiva - IBRATI como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre
em Unidade de Terapia Intensiva.
Orientador: M.Sc Rosana Coeli Vieira
Marques Carneiro
BOA VISTA
2013
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HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO NA UTI NEONATAL
Marcela Fernandes da Silva1
RESUMO
O presente estudo teve como finalidade abordar a importância do cuidado
humanizado ao paciente na UTI neonatal. A humanização estende-se a todos que
estão envolvidos no processo saúde-doença, englobando, assim, a família, a equipe
multiprofissional e o ambiente. O delineamento do estudo voltou-se para uma
pesquisa bibliográfica, com a forma de abordagem qualitativa do tipo descritiva.
Nesta perspectiva, o presente estudo tem como objetivo aprofundar o conhecimento
em humanização na UTI neonatal, conscientizar os profissionais da área sobre a
importância do cuidado humanizado, compreender a visão dos pais e dar suporte no
que for necessário para inseri-los no processo de humanização. Concluímos com o
estudo que o cuidar humanizado está inteiramente ligado com o profissional que
executa. Portanto deve ser proporcionada uma melhoria no que diz respeito à
remuneração, jornadas de trabalho e na estrutura física do hospital, a fim de que
esse profissional transfira a família e ao recém-nascido o cuidado e a atenção mais
digna e merecida possível.
Palavras-chave: Humanização. Cuidado. Recém-nascido
ABSTRACT
The present study aimed to address the importance of humane care to patients in the
NICU. Humanization extends to all who are involved in the disease process so
encompassing family, multidisciplinary team and the environment. The design of the
study turned to a literature search with the form of descriptive qualitative approach.
This perspective, the present study aims to deepen the knowledge on humanization
in the NICU, educate professionals about the importance of humanized care,
understanding the view of parents and support where needed to insert them they in
the process of humanization. We conclude with a study that human care is fully
linked with the professional running. So should be provided an improvement with
respect to remuneration, hours of work and the physical structure of the hospital. In
order to download this professional family and newborn care and attention most
worthy and deserved possible.
Keywords: Humanization. Care. Newborn.
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Fisioterapeuta, graduada pela Faculdade Integrada do Ceará (2006), especialista em
Cardiopneumofuncional, atua na UTI neonatal do Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de
Nazareth em Roraima. Mestranda na SOBRATI – Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva.
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INTRODUÇÃO
Nos dias atuais surge a necessidade de se falar de humanização no
atendimento em saúde quando se constata que a evolução científica e técnica dos
serviços de saúde não têm sido acompanhadas por um avanço correspondente à
qualidade do contato humano.
Muitas dificuldades enfrentadas pelos usuários da saúde poderiam ser
evitadas quando se ouve, compreende, acolhe, considera e respeita suas opiniões,
queixas e necessidades, ao contrário do que tem sido feito em alguns serviços de
saúde, nos quais os usuários são impedidos de se manifestar e de participar dos
procedimentos necessários.
Humanizar é alcançar benefícios para a saúde e qualidade de vida dos
usuários, dos profissionais e da comunidade. É também investir em melhorias nas
condições de trabalho dos profissionais da área.
Essa pesquisa é de fundamental relevância por trazer à discussão a
necessária aplicação do cuidado humanizado em nosso cotidiano e a compreensão
dos valores e princípios éticos que o sustentam, pois são coadjuvantes de nossa
prática social que considera todos os sujeitos cidadãos.
MÉTODO
No período de fevereiro a junho de 2013 foi realizado levantamento
bibliográfico qualitativo junto aos bancos de dados Medical Literature Analysis and
Retrieval System online (Medline), e Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde (Lilacs), Bireme e busca ativa nas listas de referências dos
artigos e revisões selecionadas. Como estratégias para identificação dos estudos,
foram utilizados os termos de pesquisa relevantes para esta revisão voltado à
humanização dos cuidados nos pacientes que se encontravam na UTI neonatal.
OBJETIVO
Aprofundar o conhecimento em humanização na UTI neonatal, incentivar os
profissionais da área sobre a importância da humanização na assistência, entender
a visão dos familiares e dar suporte para que os pais participem do processo de
humanização dentro da UTI neonatal.
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DISCUSSÃO
A palavra humanização pode ser entendida como a maneira de ver e
considerar o ser humano a partir de uma visão global, buscando superar a
fragmentação da assistência. Um dos aspectos que envolvem uma prática dessa
natureza está relacionado ao modo como se lida com o outro.
Humanizar significa tornar humano, dar condições humana, agir com bondade
natural. Tornar benévolo, afável, fazer adquirir hábitos sociais polidos, civilizar
(FERREIRA, 2007).
Humanização é o aumento do grau de co-responsabilidade na produção de
saúde e de sujeitos. Diz respeito à mudança na cultura da atenção dos usuários e da
gestão dos processos de trabalho (BRASIL, 2004).
Segundo Faria e Junior (2004), humanizar a UTI significa cuidar do paciente
como um todo, englobando o contexto familiar e social. É um conjunto de medidas
que engloba o ambiente físico, o cuidado com os pacientes e seus familiares e as
relações entre a equipe de saúde.
Os profissionais da saúde têm como desafio integrar a tecnologia ao cuidado,
dominando os princípios científicos e ao mesmo tempo suprindo as necessidades
terapêuticas dos pacientes.
Segundo Naganuma et al. (1995), humanizar a assistência neonatal é atender
de maneira individualizada, as necessidades do recém-nascido e de sua família,
visando à ótima qualidade de assistência. Independente do resultado, a sobrevida
ou a morte do recém–nascido, a assistência humanizada deve ser capaz de
transmitir aos pais o sentimento de solidariedade e de respeito a sua dor.
Humanizar não é uma técnica ou artifício, é um processo vivencial que
permeia toda a atividade das pessoas que assistem o paciente, procurando realizar
e oferecer o tratamento que ele merece como pessoa humana, dentro das
circunstâncias que encontramos em cada momento no hospital (LIMA, 2004).
A humanização representa uma série de iniciativas que tem como principal
intuito a produção de cuidados em saúde capaz de unir a melhor tecnologia
disponível, promovendo o acolhimento e respeito ético e cultural ao paciente, de
área de trabalho favoráveis com relação à boa efetividade técnica, assim como a
satisfação dos profissionais de saúde e usuários (DESLANDES, 2004).
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Ao abordar a humanização hospitalar, Mezomo (2002) comenta que o hospital
humanizado é aquele que, em sua estrutura física, tecnológica, humana e
administrativa, valoriza e respeita a pessoa, colocando-se a serviço dela, garantindolhe um atendimento de alta qualidade e personalizado, possibilitando que as
expectativas e necessidades do paciente sejam atendidas e precedidas pela
consulta aos seus interesses.
Lamengo (2005) relata que a humanização representa um conjunto de
iniciativas que visa à produção de cuidados em saúde capaz de conciliar a melhor
tecnologia disponível com promoção de acolhimento e respeito ético e cultural ao
paciente, de espaços de trabalho favoráveis ao bom exercício de saúde e usuários.
Na humanização do cuidado Neonatal, o Ministério da Saúde prioriza várias
ações, as quais estão voltadas para o respeito às individualidades, à garantia da
tecnologia que permita a segurança do recém-nato e o acolhimento ao bebê e sua
família, enfatizando o cuidado voltado para o desenvolvimento e psiquismo,
buscando facilitar o vínculo pais-bebê durante sua permanência no hospital e após a
alta.
O Ministério da Saúde implementou a Política Nacional de Humanização
(PNH) com o objetivo de priorizar o atendimento com qualidade e a participação
integrada dos gestores, trabalhadores e usuários na consolidação do Sistema Único
de Saúde (SUS). Assim, a humanização é vista não só como programa, mas como
política que atravessa as diferentes ações e instâncias gestoras do SUS.
Segundo a Política Nacional de Saúde (PNS) os princípios da universalidade,
integridade, equidade e da participação social do usuário ajudam na criação de
espaços de trabalho que valorizem a dignidade do trabalhador e do usuário
(BRASIL, 2004).
A Política de Humanização em Assistência Hospitalar (PNHAH) propõe a
humanização, em um ambiente hospitalar, através do comprometimento e
envolvimento por parte de todos os profissionais da equipe. Essa transformação
para ser realizada precisa de uma sensibilização dos trabalhadores quanto às
atitudes e os comportamentos que envolvem o ser e o fazer profissional. O seu
objetivo fundamental constitui em aprimorar as relações entre profissionais,
usuários/profissionais, hospitalar e comunidade, visando à melhoria da qualidade e à
eficácia dos serviços prestados por estas instituições.
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A Lei 8080 (de 19/09/1990) que criou Sistema Único de Saúde (SUS)
estabeleceu diretrizes para instituições públicas ou privadas segundo três princípios
básicos: universalidade, equidade e integridade, objetivando a proteção e a
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos respectivos serviços.
Os ambientes de atendimento devem respeitar o direito dos pacientes a um “meio
ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida”.
O hospital humanizado é aquele que em sua estrutura física, tecnológica,
humana e administrativa, a valorização e o respeito à dignidade do ser humano é
contemplado, seja ele paciente, familiar ou o próprio profissional que nele trabalha,
garantindo condições para um atendimento de qualidade (ROLIN; GADELHAE;
SOARES, 2010).
A presença da família junto à criança hospitalizada, além de minimizar o
sofrimento psíquico e fortalecer a capacidade de reação ao tratamento, facilita a
recuperação da saúde da criança e promove uma forma de controle social da
qualidade do atendimento (BRASIL, 2004).
A humanização hospitalar é voltada para as intervenções estruturais que
possibilitem fazer da hospitalização um momento mais confortável ao paciente. Ele
passa a ser tratado como pessoa e não como doente. Esta visa também à dignidade
do ser humano e o respeito por seus direitos, dando a importância não só de curar a
doença, mas sim de cuidar do doente (MOTA et al., 2006).
Humanizar é muito mais do que um artifício, uma técnica ou uma intervenção,
significa estreitar relações interprofissionais, que possibilitem aos trabalhadores
reconhecerem a interdependência e a complementaridade de suas ações,
permitindo que o coração junto com a razão manifeste-se nas relações de trabalho
do dia-a-dia (ROLIN; GADELHA; SOARES, 2010).
De acordo com Lamengo et al. (2007), a humanização representa um
conjunto de iniciativas que visam produzir cuidados em saúde que sejam, ao mesmo
tempo, capazes de conciliar as tecnologias disponíveis com a promoção de
acolhimento e respeito ético ao paciente. Podendo resgatar a importância dos
aspectos emocionais, indissociáveis dos aspectos humanos na intervenção em
saúde.
Faz saber Knobel (1999) que a humanização é um antigo conceito que
renasce para valorizar as características do gênero humano. Para que seja
verdadeiramente recuperado, é necessária uma equipe consciente dos desafios a
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serem enfrentados e dos próprios limites a serem transpostos. Relata ainda, que as
especificidades de uma UTI fazem com que os trabalhadores desse serviço atuem
de maneira impessoal, o que carece de atenção.
O cuidado humanizado é “uma atitude ética em que seres humanos percebem
e reconhecem os direitos uns dos outros. No cuidado humano há um compromisso
com o outro, uma responsabilidade em estar no mundo” (WALDOW, 2001, p. 35).
Segundo Oliveira (2001), humanizar caracteriza-se em colocar a cabeça e o
coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de maneira sincera e leal ao outro
e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios.
Barbosa e Silva (2007) consideram que cuidar de maneira humanizada é uma
necessidade atual; é antes de tudo, perceber que o ser que vive as técnicas de
assistência é um agente biopsicossocial.
Quando se fala de humanizar estamos nos referindo a uma dignidade ética a
algo. Fazendo com que o sofrimento humano, a dor ou o prazer sejam reconhecidos
pelo outro. É ainda “amenizar” a convivência hospitalar colocando-se no lugar do
outro (OLIVEIRA et al., 2006).
As alternativas baseadas em valores pessoais e humanos melhoram a
assistência ao paciente e atingi a totalidade do cuidado. Cuidar é mais que um ato; é
uma atitude. Abrange mais que um momento de atenção, de zelo e de desvelo.
Representa, portanto, uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização
e de envolvimento afetivo com o outro (BOFF, 1999).
Através do dialogo se procura maior conhecimento das reais necessidades
expressas pelo usuário e dos instrumentos para atendimento, buscando as razões
do sofrimento e procurando ir além da lógica biomecanicista.
Humanizar os cuidados significa respeitar a individualidade do ser humano. O
profissional da saúde deve respeitar o paciente procurando entender as suas
necessidades específicas, sociais, biológicas e espirituais (BARBOSA; SILVA,
2007).
Dizem Fraquinello et al (2007) que o cuidar humanizado implica que o
cuidador tenha compreensão e valorização da pessoa humana como sujeito
histórico e social que é. Portanto, cuidar é um ato complexo que deve ser realizado
levando sempre em conta que aquele a quem se presta este cuidado é digno de
recebê-lo de maneira respeitosa.
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Vila e Rossi (2002) dizem que o cuidar envolve uma ação interativa baseada
em valores e no conhecimento do ser que cuida para com o ser que é cuidado. O
cuidado desperta sentimento de compaixão, solidariedade e ajuda ao próximo. Na
saúde pode-se observar que o cuidado humanizado visa ao bem-estar do paciente,
sua integridade moral e sua dignidade como pessoa.
Segundo Waldow (2001), o cuidado humano envolve ética, princípios e
valores. Este é sentido, vivido e exercitado. Cuidar, então, é uma ação e um
comportamento de assistir, administrar e ensinar com zelo, mantendo o bem-estar.
A prática do cuidado humanizado deve ser cultivada para que o ambiente se
torne satisfatório, agradável e não-ameaçador, promovendo um crescimento tanto
em nível pessoal como profissional.
Para Knobel, Novaes e Bork (1999), a humanização da UTIN deve ser
resgatada através da preocupação com três diferentes aspectos: no cuidado do
paciente e seus familiares, na atenção ao profissional da equipe de saúde e no
ambiente físico.
Os profissionais devem ter aproximação com a mãe, acreditando que a sua
participação é fundamental na recuperação do bebê. Procurar valorizar as angústias
e sentimentos expressos pela mãe no sentido de compreender o ser em conflito, que
a mãe vive por ter um filho tão frágil e dependente de aparelhos para sobrevivência.
Os cuidados da equipe diferem dos cuidados dos pais, visto que esses
envolvem afeto, carinho, proteção intensa: estar junto transfere calor e amor. A
comunicação efetiva entre a equipe de saúde e a mãe e/ou a família do recémnascido é imprescindível dentro da UTIN.
Knobel, Novaes e Bork (1999) afirmam que se deve valorizar o aspecto
humano dos próprios profissionais que estão cuidando da vida de pessoas.
O dia-a-dia dos profissionais que atuam em UTIN envolve momentos de
intensa pressão, lidam com a vida e a morte de perto, com seres frágeis e indefesos
que apresentam um quadro de saúde grave (COSTA, 2008).
O trabalho do profissional dentro da UTIN exige vigilância, habilidade e
sensibilidade. O paciente atendido não fala, encontra-se vulnerável e bastante
dependente da equipe que o atende (BESSANI; LIMA; FLEITER, 2007).
É preciso, portanto, que a equipe desenvolva ações para humanizar o
cuidado. Procurando compreender o recém-nascido como ser que pensa, sente,
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chora, mas não sabe se expressar com o poder da fala. A família necessita de
acolhimento e amparo que diminua o seu sofrimento. (OLIVEIRA et al., 2006)
A equipe de saúde responsável pelos cuidados com os bebês deve integrar
os pais na prestação dos devidos cuidados e permitir o estabelecimento da
vinculação afetiva entre pais e filhos.
A equipe da UTIN deve ser: organizada e dinâmica, atuando de forma
interdisciplinar. A humanização ao recém-nascido deve revestir-se de atenção,
solidariedade e respeito. Costa (2008) relata que a humanização da assistência ao
neonato de alto risco busca atualmente envolver a família cada vez mais na
prestação dos cuidados. Proporcionar ao recém-nascido o melhor do seu
conhecimento técnico-científico, suavizando o sofrimento, facilitando um melhor
viver ou morrer com dignidade.
Dessa forma, é necessário investir na formação e sensibilização dos
profissionais, promovendo não somente a capacitação técnica, mas também a
sensibilização para que planejam uma assistência voltada para a humanização e a
integralidade do cuidado. Proporcionando ao bebê e sua família uma ambiente
tranquilo e acolhedor apesar da situação de hospitalização vivenciada.
A rotina dos profissionais da UTIN é bastante estressante. O ritmo de trabalho
é intenso e exaustivo. Há uma exigência enorme quanto à eficiência e agilidade no
atendimento, segurança na execução de técnicas e manipulação de máquinas e
equipamentos complexos.
Os baixos salários predispõem os profissionais a buscar mais escalas e
outros vínculos empregatícios. Isto é desgastante e atinge sua própria saúde,
levando o profissional e o usuário à insatisfação.
Deve ser proporcionado aos profissionais condições dignas e justas de
trabalho. Reconhecê-los como sujeitos que precisam de condições favoráveis em
termos de qualidade de vida para colocar em prática os princípios do SUS, de todos
e para todos, conforme prevê a Constituição Brasileira.
Uma das variáveis importantes é o fato da superlotação, capacidade de
admissão de pacientes encontra-se além da oferta oficial, exigindo assim dos
profissionais um número excessivo de atendimentos dentro do serviço.
O repouso dos profissionais, na maioria das vezes, encontra-se em situação
precária. Espaço pequeno para muitos funcionários descansarem e em situações
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subumanas. Dificultando por sua vez o descanso necessário na jornada de trabalho
dos mesmos.
O trabalho na saúde é um trabalho coletivo, mas nem sempre finda como um
trabalho em equipe. Uma equipe multiprofissional não se trata de um agrupamento
de profissionais de áreas distintas atuando de forma coletiva. É necessário que se
tenha articulação entre profissionais, conexões entre saberes e intervenções
distintas.
A construção do trabalho em equipe requer flexibilidade das regras,
negociações e acordos entre os profissionais a fim de compartilhar decisões e
responsabilidades.
Ao falar de recém-nascido de alto risco, Costa (2008) diz que para esse tipo
de paciente tudo acontece antes da hora. As interferências ambientais, embora
necessárias, são violentas e precisam ser compensadas com estabilidade e atenção
delicada.
A hospitalização em UTIN, segundo Reicherte, Lins e Collet (2007), introduz o
bebê em um ambiente inóspito, onde há exposição intensa a estímulos nociceptívos,
como o estresse e a dor que são frequentes. Ruídos, luz intensa e contínua, bem
como procedimentos clínicos invasivos e dolorosos são constantes nessa rotina.
É inquestionável que a evolução da tecnologia modificou o prognóstico e a
sobrevida dos bebês de alto risco. Portanto a fragilidade da pele, bem como a
presença de tubos e sondas são causas de sofrimento, considerando que antes
viviam em um ambiente protegido pelo líquido amniótico, ouviam os batimentos
cardíaco da sua mãe, e o som da voz dela e agora convivem com estímulos que são
estranhos e assustadores (REICHERTE; LINS; COLLET, 2007).
O ambiente físico do recém-nascido é um fator importante na humanização. É
necessário observar a localização de berços e incubadoras que deverão estar em
pontos bem tranquilos, longe de ruídos fortes, de fonte de luz ou área de muita
atividade (DAZZI; COELHO DOS SANTOS, 2001).
O cuidado humanizado com as manipulações na criança, postura, som, luz,
amenizando o estresse e a dor, trarão tranquilidade e bem-estar tanto ao paciente
quanto ao profissional de saúde. A rotina de avaliações de sinais vitais, alimentação
por sonda, higiene e administração de medicamentos terá o mesmo roteiro, mas
certamente não será a mesma, pois em complemento as técnicas estará um ser
humano capacitado no processo do cuidar. Uma questão também importante é o
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uso de analgesia para realização de procedimentos dolorosos, tais como: punção
venosa, monitoramento da glicemia, coleta de gasometria, teste do pezinho, punção
lombar, troca de curativo, aspiração endotraqueal e rotinas laboratoriais (BRASIL,
2002).
O atendimento deverá ser integral, restaurador, dinâmico e ágil, respeitando a
individualidade da criança, bem como satisfazendo as suas necessidades básicas.
Um
ambiente
com
pouca
luminosidade,
sem
ruídos,
analgesia
para
os
procedimentos dolorosos, diminuição de manipulações sequenciais prolongadas e
não planejadas é de fundamental importância para a recuperação do recém-nascido.
(ROLIM; GADELHA; SOARES, 2010).
Após a manipulação ou término dos procedimentos é necessário permanecer
alguns minutos ao lado do recém-nascido; acalmando-o, confortando-o e
promovendo suas organização o que é de grande valia para reduzir o estresse da
criança (COSTA et al., 2009).
A UTIN para os pais é um ambiente de medo e esperança. Medo por saber
dos riscos inerentes aos pacientes que vão para tal ambiente, e, ainda, sentimentos
de frustração, por não estarem, em geral, preparados para esta separação.
Esperança por saber que este é um local preparado para atender melhor o seu filho
e aumentar as chances de sobrevida (REICHERT; LINS; COLLET, 2007).
Os pais, ao se separarem do seu bebê após o nascimento, passam a sofrer
uma série de conflitos, gerando alterações no seu cotidiano, carregando sentimentos
de angústias, dúvidas, medo do prognóstico e uma dificuldade de aceitar a
separação e a nova condição do filho.
O ambiente da UTIN pode causar um mal-estar aos pais em sua primeira
visita, devido ao fato de seu filho estar confinado em incubadora, ligado a diversos
fios para monitorização, sonda endoteral acoplada ao respirador e com infusão
venosa.
O ambiente da UTIN para os pais é percebido como assustador, eles têm
dificuldade de reconhecer o bebê como seu. Durante a gravidez os pais sonham
com um bebê imaginário saudável, perfeito e lindo. Quando nasce existe um
contraste muito grande entre a criança imaginaria e aquela que eles visualizam
(FERRAZ, 1996).
A família não é valorizada no cenário hospitalar, poucos são os profissionais
de saúde que conseguem compartilhar seus espaços com ela e vê-la como um
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cliente. Na maioria das vezes é vista como alguém que está ali para atrapalhar,
fiscalizar, reclamar, um intruso que está impedindo de o profissional realiza o seu
trabalho (BARBOSA; RODRIGUES, 2004).
Vale ressaltar que os membros da família quando bem preparados ajudam no
processo de recuperação, além de beneficiá-los, diminui o sentimento de desamparo
(PINTO, 2004).
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), com base nos benefícios da
presença materna constantemente junto ao neonato internado, assegura no artigo
12, o direito da criança permanecer em tempo integral juntamente a seus pais ou ao
responsável, enquanto hospitalizada. A presença familiar deve ser valorizada uma
vez que auxilia nas manutenções dos laços afetivos e na recuperação da saúde do
recém-nascido.
A vivência entre pais e filho contribui não apenas para o fortalecimento de
laços afetivos, mas também para compreensão, amor e cuidado. O bebê se
mostrará indiscutivelmente mais calmo, confortável e sentindo-se mais seguro e
acalentado. Os fatores emocionais e psicológicos poderão influenciar positivamente
na situação hemodinâmica do recém-nascido, reduzindo o tempo de internação.
A participação ativa da mãe pode não só trazer benefícios além da
estabilidade fisiológica e psíquica para o bebê, mas também acalma e dá segurança
e conforto a mãe que pode participar ativamente do tratamento de seu filho,
afastando um pouco a insegurança e a angústia.
O método Mãe-Canguru tem como efeitos positivos: diminuição do risco de
infecção cruzada e hospitalar; redução do número de abandono de bebês; redução
do estresse do bebê e da mãe, situação que diminui o tempo de hospitalização;
fortalecimento de laços afetivos; estímulos à amamentação precoce e exclusiva;
ajuda no desenvolvimento emocional e físico do bebê; redução do estresse e do
choro; estabiliza os parâmetros fisiológicos do bebê; possibilita lembrar o som do
coração e da voz materna, o que transmite calma e serenidade; desenvolvendo no
bebê, sentimentos de segurança e tranquilidade (NEVES, 2006).
Os pais necessitam de apoio de toda equipe e uma orientação sobre o
prognóstico do seu filho para que possa compreender melhor a patologia da criança
e o motivo de toda aparelhagem recebida nos cuidados.
As informações sobre a situação de saúde do filho, muitas vezes, é
incompleta, conflitiva ou de difícil compreensão, gerando um estresse nos pais. Um
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relacionamento positivo com um profissional no hospital, seu nível de ansiedade
diminui e sua percepção da situação torna-se mais acurada (FERRAZ, 1996).
Portanto, a família deve ser vista como um cliente em potencial, como um
parcipante ativo no processo de cuidar do seu filho, mas que, muitas vezes,
necessita ser cuidado para que possa contribuir na recuperação do mesmo.
(BARBOSA; RODRIGUES, 2004)
O desafio para a equipe de saúde que deve adaptar-se e integrar-se a esta
família, respondendo a tantas perguntas, recebendo às vezes da família cobranças
das suas limitações. Mas tanto a equipe como a família tem um único objetivo: a
recuperação e o bem-estar do recém-nascido (ROLIM; GADELHA; SOARES, 2010).
Humanizar a assistência à família e ao bebê implica oferecer um cuidado
integral e singular a ambos, dando ênfase às suas crenças, valores, individualidade
e personalidade, uma vez que cada ser é único, porém, envolvido em um contexto
familiar, que possui uma história de vida, e, por isso, deve ser respeitado para que
se possa manter a dignidade desse grupo durante a hospitalização.
CONCLUSÃO
Através dos resultados deste trabalho, foi possível evidenciar que a produção
de cuidado humanizado na UTI neonatal ainda é um desafio, sendo numerosas as
dificuldades e os obstáculos encontrados pelos profissionais em seu trabalho.
A humanização do cuidado aparece relacionada a atitudes de dar atenção, ter
responsabilidade, cuidar bem, respeitando as particularidades de cada um,
promovendo uma assistência integral ao bebê e a família.
O cuidado com a manipulação, postura, som, luz, estresse e dor, não podem
deixar de ser considerados pela equipe. Somente vendo, escutando e sentindo o
recém-nascido e a família como um todo, estar-se-á atendendo e compreendendo a
essência do cuidar humano.
O cuidar humanizado está inteiramente ligado com o profissional que o
executa: seu estado psicológico, físico e mental. Portanto não se pode esquecer de
proporcionar uma melhoria no que diz respeito à remuneração, jornadas de trabalho
e na estrutura física do hospital. Para que esses profissionais possam proporcionar a
família e ao recém-nascido o cuidado e a atenção mais digna possível.
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