SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA – SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA AS IATROGENIAS NA ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Keila Cristina Félis1 Viviane Augusto2 RESUMO O cuidado ao ser humano na unidade de terapia intensiva - UTI, geralmente causam grande expectativa por parte dos profissionais assistentes, familiares e até mesmo do paciente, pela razão de exigir uma maior atenção de todos. O trabalho a ser realizado na unidade é complexo e intenso, devendo o enfermeiro estar preparado para a qualquer momento atender pacientes com alterações hemodinâmicas importantes, nas quais requer conhecimento específico e grande habilidade para tomar decisões ao desempenhá-las. O objetivo deste estudo foi identificar as iatrogenias de enfermagem na UTI e o papel do enfermeiro na prevenção dessas ocorrências. Este artigo busca trazer ao leitor uma revisão bibliográfica acerca da iatrogenia e quais as ações do enfermeiro na prevenção dessas iatrogenias com amostra composta por 13 artigos, consultados à base de dados da Biblioteca Virtual, pubmed, Scielo e lilacs, utilizando os seguintes descritores: iatrogenias, enfermagem, erros de medicação, unidade de terapia intensiva e educação em saúde. Conclui-se que o processo de prevenção das ocorrências iatrogênicas na UTI requerem esforço contínuo de todos dos membros da equipe que atuam no setor e não apenas do enfermeiro, porque todos têm a responsabilidade de lidar com o paciente, sobretudo, lutar diariamente contra a automação de seu trabalho. Palavras-chave: Iatrogenia; Enfermagem; Unidade de Terapia Intensiva. 1 FÉLIS, Keila Cristina. AS IATROGENIAS NA ENFERMAGEM EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA. Formada em enfermagem, pela Universidade de Rio Verde de Goiás - FESURV, com Pós-graduação em Enfermagem do Trabalho, pela Universidade de Rio Verde Goiás- FESURV e Saúde Pública, pela Faculdade do Noroeste de Minas de Minas Gerais - FINOM. 2 AUGUSTO, Viviane. Profª. Esp. Orientadora pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva SOBRATI. Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva. 2 ABSTRACT The care of human being in the intensive care unit - ICU, often cause great expectation on the part of professional assistants, family and even the patient's reason for demanding greater attention. The work to be performed on the unit is complex and intense, the nurse must be prepared at any time to assist patients with significant hemodynamic changes, in which requires specific knowledge and great ability to make decisions to perform them. The aim of this study was to identify iatrogenic complications in ICU nursing and nurse's role in preventing these occurrences. This article aims to provide the reader with a review of literature about iatrogenic and which actions of the nurse in the prevention of these iatrogenic with a sample of 13 articles, consulted the database of the Virtual Library, pubmed, SciELO and lilacs, using the following descriptors: iatrogenic , nursing, medication errors, ICU and health education. We conclude that the process of prevention of iatrogenic events in the ICU require continuous effort of all the team members who work in the industry and not just the nurse, because everyone has a responsibility to deal with the patient, especially daily fight against automation their work. Keywords: Iatrogeny; Nursing; Intensive Care Unit. INTRODUÇÃO Segundo Araújo et. al. (2005), A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) apresenta um número reduzido de leitos e atende a uma parcela da população que precisa de cuidados intensivos de saúde, sendo monitorados a todo o momento. Caracteriza-se por ter um espaço físico fechado e limitante, com casos de extrema gravidade que exigem um atendimento de qualidade. Araújo et. al. (2005) afirma que, para o cuidado constante dos casos graves é necessário que haja uma equipe multiprofissional, com atuação de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas entre outros profissionais, sendo competência do enfermeiro da UTI, assumir o papel de elo entre o ser cuidado e toda a equipe multiprofissional, pois o enfermeiro assume, durante todo o dia, a 3 coordenação da dinâmica da unidade, interagindo com outros profissionais, criando um consenso comum, que exige o abandono da individualidade e a prática da ação coletiva. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) se destina ao tratamento de pacientes em estado crítico, dispondo de uma infraestrutura própria, recursos materiais específicos e recursos humanos especializados que, através de uma prática assistencial segura e contínua, que buscam o restabelecimento das funções vitais do corpo. Garantir ao paciente uma assistência com máximo de qualidade e o mínimo de riscos, tem sido um dos maiores desafios ao atendimento de pacientes, apesar dos avanços técnico-científicos disponibilizados nos dias atuais, nas unidades de terapia intensiva (UTI). No entanto, apesar dos esforços de toda a equipe multidisciplinar, estes ainda poderão deparar-se com as iatrogenias. A iatrogenia é o resultado indesejável pela ação prejudicial não intencional dos profissionais de saúde, relacionado à observação, monitorização ou intervenção terapêutica, caracterizando uma falha profissional por negligência. A iatrogenia do cuidado de enfermagem está relacionada com a privação deste cuidador, a sua imposição ou a prestação insatisfatória deles, determinando transtorno e prejuízo ao bem estar do paciente, podendo ainda envolver a ótica social e humana. Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), as condições clínicas dos pacientes oscilam entre limites estreitos de normalidade, anormalidade e onde pequenas mudanças orgânicas podem levar à deterioração grave na função corporal, onde qualquer ocorrência iatrogênica passa a ser não só indesejável, como prejudicial, fazendo emergir a questão da qualidade da assistência e o contexto na qual acontece, onde se faz necessário a inevitável avaliação dos serviços de saúde. Diante pois do interesse em analisar as ocorrências dentro de um enfoque que considere as condições estruturais da UTI e seus recursos humanos e condições do paciente no momento das ocorrências iatrogênicas, julgou-se útil realizar essa pesquisa bibliográfica, com o objetivo de identificar, esclarecer estas ocorrências iatrogênicas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de forma a descrever quais as condutas específicas esperadas pelos enfermeiros diante destas ocasiões. 4 METODOLOGIA Por meio de revisão criteriosa da literatura, abordagem qualitativa e descritiva, procurou–se identificar as ocorrências iatrogênicas mais relevantes nas unidades de Terapia Intensiva (UTI) e sobre tudo as atitudes tomadas pelo profissional da enfermagem. Foram utilizados para a revisão bibliográfica uma busca de dados na bases pubmed, Scielo e lilacs, tendo sido pesquisado estudos publicados referentes as iatrogênias nas unidades de terapia intensiva (UTI) como forma de esclarecimento para a realização de um trabalho efetivo dos profissionais de enfermagem. REVISÃO DE LITERATURA A iatrogenia e suas significações A palavra iatrogenia deriva do grego e é composta por iatros, que significa “médico”, e gênese, “origem”. Esse termo tem sido utilizado para identificar algumas ações prejudiciais ao paciente. Doença iatrógena é aquela desencadeada pelo médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, farmacêuticos e responsáveis por qualquer procedimento que pode prejudicar o paciente (VARGAS, 2010), (MARINILZA, 2008) (PADILHA, 2001) Para se entender melhor os termos que fazem parte da discussão da iatrogenia, pode ser expresso, através de falha técnica, conduta e infrações éticas e legais dessas falhas. A falha técnica é aquela relacionada a erros de técnicas ou procedimentos, a os de conduta seriam aquelas falhas no comportamento, atitude e na abordagem pessoal e profissional a esse cliente, o relacionado à ética infringe as condições que resulte de alguma falha cometida pelo profissional de enfermagem que proceda em perda para o paciente ( VARGAS, 2010). As instituições de saúde tem como objetivo fornecer ao paciente serviços com mínimo de riscos e falhas. Apesar dos avanços técnico – científico disponíveis e dos esforços de toda a equipe envolvida nesse atendimento, poderão surgir as iatrogenias e as vezes suas consequências são preocupantes, pois agravam as condições de um paciente que podem acarretar injúrias temporárias, permanentes e até a morte. (TOFOLETTO, 2006), (MARINILZA, 2008) (LOPES, 2012). 5 O erro: causas e consequências para a saúde do paciente Duas abordagens explicariam os erros: a abordagem centrada na pessoa e no sistema. A abordagem centrada na pessoa focaliza nos atos inseguros, os erros e violações nos procedimentos. Os atos inseguros são vistos como processos mentais como: esquecimento, falta de atenção, falta de cuidado, negligência e descuido. Consequentemente esses erros são tratados através de métodos como medo, medidas disciplinares, culpa e humilhação. Porém, deve-se entender que geralmente está relacionada a culturas organizacionais punitivas. A premissa atual é a de que os seres humanos falham e erros são esperados, mesmo nas melhores organizações. Erros são consequências, não causas (CASSIANI, 2005) A maioria das literaturas encontradas afirmam que o erro mais comum é o de administração de medicamentos principalmente no que diz respeito sobre o desconhecimento das drogas por parte da equipe de enfermagem, devemos considerar outras causas como por exemplo estado de saúde do profissional, tempo de serviço na área, formação profissional, quantidade exacerbada de paciente para cada profissional, turno e jornada de trabalho (CAMARGO; PADILHA, 2003) (PELLICIOTTI, 2010). A atitude do profissional enfermeiro diante das ocorrências iatrogênicas devem ser tomadas com muito discernimento, pois sua conduta em relação ao profissional que a comete servirá de exemplo para os demais, e o que existe na maioria das vezes e uma subnotificação ou talvez uma não informação do ocorrido por parte dos profissionais por medo da punição que o mesmo sofrerá ao apresentar a sua falha, tornando impossível amenizar os prejuízos ao paciente. Saber assumir seus erros faz parte do crescimento do ser humano e do profissional, e ajuda no diagnóstico de falhas no sistema hospitalar (COLI, 2010). Há, também, consequências para os profissionais que cometeram o erro. Geralmente, a "culpa" recai sobre o profissional que executou a ação final do processo de administrar medicamentos, mesmo que tenha se iniciado em outros setores. Assim, a enfermagem é a responsável direta, pois está na linha final do sistema, cabendo medidas disciplinares que vão desde uma, orientação até a demissão. As intervenções adotadas pela chefia frente à ocorrência do erro, em geral, são ações punitivas e individuais de censura, advertências verbais, relatórios, transferência para outro setor e possíveis demissões da instituição. Raramente, 6 treinamentos e reciclagem necessários à prevenção de futuros erros são efetivamente realizados. Os indivíduos são penalizados conforme a gravidade e consequência do erro ao paciente (COLI, 2010)(BECCARIA, 2009) As iatrogenias na UTI e o processo de formação continuada como base para um atendimento qualificado do profissional de saúde Quando se trata destas iatrogenias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), que presta atendimento a pacientes críticos e semi-críticos, temos fatores que podem influenciar o risco, como a grande diversidade de medicações e procedimentos técnicos que são realizados, a grande quantidade de profissionais que prestam a assistência ao paciente, a utilização de equipamentos complexos e a dinâmica de trabalho da própria unidade, outro fator importante é a estrutura das instituições, a falta de recurso para prestação de serviços, as condições de trabalho dos profissionais bem como sua dupla jornada de trabalho, são fatores relevantes que podem precipitar o aparecimento das iatrogenias (NAZARENO, 2010), (CANINEU, 2006) Contudo torna-se evidente que os enfermeiros têm consciência da existência das ocorrências iatrogênicas no âmbito hospitalar e que elas fazem parte de sua atual realidade, e a grande maioria concordam que se faz necessário desenvolver estratégias para a prevenção do fato, bem como dos agravos aos pacientes acometido por uma ocorrências iatrogênicas. (CARVALHO, 2002). A educação continuada deve ser sempre enaltecida, buscada e incentivada. Através dela, o profissional estará sempre capacitado e atualizado com novas técnicas, procedimentos, e equipamentos tecno-científicos. Diante disso percebemos que se faz necessária que o enfermeiro teorize suas práticas, identifique as falhas e trabalhe a educação continuada com os seus colaboradores que elucidem o que e iatrogenia discutindo os cenários para entender as causas do problema e propor melhoria, a fim de transformar esta realidade existente e oferecer uma assistência de enfermagem livre de riscos para o paciente que estiver sob responsabilidade de sua equipe. (CARVALHO, 2002). 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Não somos infalíveis como os deuses, somos seres humanos e passíveis de falhas. Temos sim, que buscar instrumentos que nos permeiam a prevenção e nos resguarde de eventuais problemas acarretados pelas falhas, sejam elas dos mais variados gêneros. É necessário o desenvolvimento de mecanismos de resistência na profissão, que estimulem ainda mais a compreensão, a astúcia, a negociação e a solidariedade, para que a prática existente seja frutos de um atendimento qualificado ao paciente. Contudo uma possibilidade que pode enaltecer o trabalho desenvolvido pelo profissional de enfermagem, é a definição do estatuto da profissão e do incremento do desenvolvimento de conhecimentos próprios, que possa respaldar, amparar e proteger diante das ocorrências de podem ocorrer no trabalho contínuo. Sendo a UTI uma unidade complexa, de intenso dinamismo, que congrega diferentes profissionais e onde as tomadas de decisão devem ser coerentes e precisas, espera-se uma estrutura adequada como suporte para o desenvolvimento de uma assistência segura ao doente crítico, para que assim possa diminuir alguma possível incidência de iatrogenias nesta unidade. Portanto, concluí-se que as iatrogenias são uma realidade passível de acontecer com os demais profissionais de saúde, porém o enfermeiro é o profissional que tem o maior contanto com o paciente e por sua vez pode estar mais suscetível a se deparar com as iatrogenias, para tanto é preciso que este esteja preparado para enfrentar todas as ocorrências que sua profissão exija, de forma precisa, eficaz e eficiente. REFERÊNCIAS Araújo AD, Santos JO, Pereira LV. Trabalho no centro de terapia intensiva: perspectivas da equipe de enfermagem. REME - Rev Mineira Enfermagem v.9, n.1, 2005. BECCARIA, Lucia Marinilza et al. Eventos adversos na assistência de enfermagem em uma unidade de terapia intensiva. Rev. bras. ter. intensiva [online]. 2009, vol.21, n.3. ISSN 0103-507X. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-507X2009000300007. 8 CAMARGO, M.N.V.;PADILHA, K.G. Ocorrências iatrogênicas com medicação em unidade de terapia intensiva. Acta Paul enf. V16. N4. Out/dez, 2003. 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