RESUMO EXPANDIDO PIBIC FERNANDA

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ANÁLISE DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DIANTE DE FATORES
AMBIENTAIS AVERSIVOS (RUÍDOS) EM GRUPOS DE SUJEITOS
EXPERIMENTAIS
Fernanda Costa de Oliveira¹; Pedro Vasconcelos Corrêa¹; Fátima Queiroga²; Valéria
Oliveira²; Pedro de Tárique Crispin³
¹Bolsistas UNIR/PIBIC/CNPq; ²Professoras Doutoras da Universidade Federal de
Rondônia e Orientadoras da Pesquisa; ³Professor da Universidade Federal de Rondônia,
colaborador na Estatística.
[email protected]
INTRODUÇÃO
Concomitante às transformações econômicas que uma sociedade vivencia, os
sujeitos que nela residem, deparam-se com uma série de contingências ambientais que
podem, dependendo do contexto sob a qual se manifestam ser desfavorável à plena
manutenção do bem estar do organismo e do ambiente em que este vive. Segundo Skinner
(1975), é fundamental que a ciência proporcione um olhar para o comportamento
submetido a contingências de reforços conhecidas para desvelar o que ocorre na vida
cotidiana. Fato este que desperta o interesse para eventos que anteriormente poderiam
passar despercebidos, tais como, a influência de determinados estímulos ambientais nas
aprendizagens diárias.
A poluição sonora é um dos problemas ambientais graves nos grandes centros
urbanos. É uma ameaça constante ao homem. Segundo Paixão e Freitas (2004) a poluição
amplia-se rapidamente sem que as pessoas conheçam os efeitos que em muitos casos são
irreversíveis, do som em sua saúde.
A exposição ao ruído consciente ou inconscientemente piora significativamente a
qualidade de vida, causando várias alterações no organismo humano. Segundo Gerges
(1992) são conhecidos efeitos como: aumento da pressão sanguínea, estreitamento dos
vasos sanguíneos, aceleração da pulsação. Longos períodos de exposição ao ruído podem
causar sobrecarga do coração, causando secreções anormais de hormônios e tensões
musculares.
Os
efeitos
destas
alterações
aparecem
na
forma
de
mudanças
comportamentais, tais como: frustração, fadiga mental, prejuízo no desempenho do
trabalho.
O estresse está presente em todos os momentos que sentimos determinadas
emoções. Todos os organismos estão expostos a eventos que despertam os mecanismos
internos de controle emocional e desencadeiam respostas emocionais. Assim, segundo
SELYE (1965, p. 5), “o mendigo que passa fome e o glutão que come em excesso, o
pequeno comerciante com o constante pavor de vir a falir, e o homem de grandes negócios,
lutando para ganhar mais um milhão – todos estão também sob stress”.
A pesquisa contemporânea sobre o comportamento animal enfatiza a aprendizagem
e nos leva a compreensão dessa dinâmica em nossa sociedade composta pela síntese de
diversos comportamentos. Estes, decorrentes da interação social e da aprendizagem que
desde os primórdios da civilização humana estão presente, promovendo os produtos que se
perpetuaram pelo tempo formando diversas culturas e conseqüentemente, a consolidação
de diferentes práticas sociais. A transformação do homem em sociedade reside então, no
seio da investigação da forma como este interage com o seu ambiente, e como produz
comportamentos úteis para a manutenção da vida.
De modo geral os estudiosos consideram a aprendizagem como um processo
complexo, os quais envolvem inúmeras variáveis que se combinam de diversas maneiras, e
que estão sob a influência de fatores internos e externos, individuais e sociais do individuo.
Assim, segundo NETTO (1932),
a aprendizagem, essencialmente, é um processo interno e pessoal, que
acontece dentro do aprendiz. Mas só as ações manifestas ou os
comportamentos do aprendiz – o que este faz, diz ou produz – permitem a
um observador externo concluir se houve ou não aprendizagem, na
extensão e com a proficiência desejáveis (p. 01).
Podemos então, segundo Skinner (2005), definir a aprendizagem como uma
mudança na probabilidade de ocorrência de determinadas respostas, mas devemos também
especificar as condições ambientais nas quais elas acontecem. Assim, devemos estudar a
variável independente da qual a probabilidade de resposta é uma função.
OBJETIVOS
Esta pesquisa teve como objetivo analisar o processo de aprendizagem diante de
fatores ambientais aversivos, poluição sonora, desencadeadores de estresse em grupos de
sujeitos experimentais bem como identificar a influencia dos ruídos em situação de
aprendizagem; identificar manifestações fisiológicas/ orgânicas que indiquem estados de
estresse e comparar resultados entre grupo de controle e grupo experimental e
posteriormente entre os gêneros no processo de aprendizagem.
METODOLOGIA
Como método utilizamos o Experimental, com princípios da Análise do
Comportamento (AC). Na coleta de dados utilizamos primeiramente o Registro Cursivo
onde foram anotados todos os comportamentos emitidos durante a passagem pelo labirinto
assim como o tempo levado por cada sujeito experimental e posteriormente o Registro de
Evento onde cada comportamento observado anteriormente foi mensurado de acordo com
o tempo.
Para atingir o objetivo proposto nesta subpesquisa foram realizadas as sessões
experimentais com 16 sujeitos experimentais, Rattus novergicus, da linhagem Wistar
distribuídos em quatro grupos. O grupo I composto por 4 machos e o grupo II por 4
fêmeas, que foram denominados de Grupo Controle, e o grupo III composto por 4 machos
e o grupo IV composto por 4 fêmeas, denominados de Grupo Experimental. Todos os
animais foram submetidos a um período de adaptação de uma semana no biotério do
laboratório de Psicologia Experimental - UNIR, onde permaneceram após as sessões
experimentais.
As sessões experimentais foram divididas em duas etapas:
Etapa 1 – No início e no término de cada sessão experimental foram feitas anotações dos
dados individuais referentes ao peso e observação da pelagem que pudesse indicar sinais
de estresse.
Etapa 2 – Ao iniciar esta etapa os sujeitos experimentais foram separados em grupos (I, II,
III, e IV) conforme descrito anteriormente. No labirinto foi medido o tempo que cada
sujeito (individualmente) levou para transcorrer o percurso, tendo como início o lado A, e
chegada o lado B do labirinto. No labirinto cada sujeito experimental percorreu
individualmente um caminho que foi modificado a cada quatro sessões. Os ratos dos
grupos de controle (I e II) passaram pelas sessões experimentais sem a presença da
poluição sonora (ruídos), somente tiveram o som do ambiente. Os ratos pertencentes aos
grupos (III e IV), grupo experimental, ao percorrerem o labirinto tiveram a presença da
poluição sonora (ruídos) que foram previamente selecionados e equivalentes em decibéis
aos ruídos das principais Avenidas de Porto Velho (RO) em horário de tráfego intenso. Foi
verificado assim, se existe diferença significativa em termos de aprendizagem, levando em
consideração o tempo de percurso, entre os grupos de ratos que receberam estímulos tidos
como estressores (ruídos) e os grupos que passaram por esta etapa apenas com o som
ambiente.
A presente pesquisa foi realizada no Laboratório de Psicologia Experimental, do
curso de Psicologia/Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia-UNIR, situada
no município de Porto Velho (RO).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação das reações fisiológicas que sugerem estresse, tais como peso, fezes e
pêlos pudemos constatar uma diferença entre os grupos. Mais especificamente em relação
aos pêlos a análise estatística demonstrou que houve uma oscilação na quantidade de pêlos
caídos no início das sessões e no decorrer delas (Figura 1), sendo possível associações
entre queda de pêlos e as fases do estresse, mesmo que o grupo controle não tenha sido
exposto a poluição sonora (ruídos) a influência do grupo experimental submetido aos
ruídos sobre a quantidade de pêlos deve ser levado em consideração.
Assim como nos afirma Selye (1965) no Estresse o organismo passa pelas fases de
alarme que é a resposta inicial do organismo a determinados eventos, onde o organismo
começa a mobilizar forças de defesa. Após a exposição continuada ao agente nocivo
(ruídos), segue-se um estágio de adaptação ou resistência, durante a fase de resistência, o
organismo luta para se manter, o que é representado nos picos nos tempos entre a 9ª e 14ª
sessões, onde a queda de pêlos diminuiu e manteve estável. E por fim, com exposição
prolongada ao agente, o animal entra na fase de exaustão onde mantém um comportamento
parecido com a fase de alerta, oscilando na tentativa de manter a defesa.
Figura 1. Gráfico com o número de sessões e a variação da queda de pêlos.
R1; LS Means
Current effect: F(18, 216)=1,9660, p=,01274
Effective hypothesis decomposition
Vertical bars denote 0,95 confidence intervals
4
3.5
3
2.5
DV_1
2
1.5
1
0.5
0
-0.5
-1
TEMPO 1
TEMPO 5
TEMPO 9
TEMPO 13
TEMPO 17
TEMPO 3
TEMPO 7
TEMPO 11
TEMPO 15
TEMPO 19
R1
Fonte: dados coletados na pesquisa.
Ainda em relação aos pêlos, também verificamos que houve diferença significante
entre Grupo Controle e Experimental em comparação a quantidade de pêlos caídos durante
os experimentos, mais precisamente no percurso pelo labirinto o que aponta para
considerarmos que o grupo experimental que esteve exposto à poluição sonora (ruídos) ao
longo das sessões demonstrou uma maior queda de pêlos o que pode ser verificado na
Figura 2.
Figura 2. Gráfico que compara Grupo Controle e Experimental em relação à queda de
pêlos.
GRUPO; LS Means
Current effect: F(1, 12)=13,475, p=,00320
Effective hypothesis decomposition
Vertical bars denote 0,95 confidence intervals
2.2
2
1.8
1.6
DV_1
1.4
1.2
1
0.8
0.6
0.4
0.2
Controle
Experimental
GRUPO
Fonte: dados coletados na pesquisa.
Em relação às fezes, outro dado fisiológico que nos indica situação de estresse não foi
possível fazer um tratamento estatístico devido à quantidade de número 0 (zero) no Grupo
Controle, diferentemente do Grupo Experimental que apresentou uma quantidade
suficiente de fezes indicativas de estresse nesse grupo em comparação com o controle e
demonstrado em pesquisas realizadas com ratos com ruído variando de 55 a 95 dB que
constataram alterações nos comportamentos alimentar, defecação, exploração, limpeza e
tempo de descanso (KREBS et al, 1996).
Dos critérios avaliados no que diz respeito à Aprendizagem, o que se pôde verificar em
relação aos grupos, foi que tanto o Experimental como o de Controle, emitiu alterações em
relação ao intervalo de Tempo (Figura 3) que leva pra percorrer o labirinto, verificado no
decorrer das sessões. O tempo gasto foi diminuindo ao longo das sessões por ambos os
grupos. Nos estudos com animais, os efeitos das variáveis ambientais sobre a
aprendizagem, isto é, as mudanças duráveis do comportamento decorrentes de experiências
específicas (ANISMAN et al., 1998), tem implicações diferentes sobre o comportamento, a
fisiologia e a qualidade de vida dos sujeitos. E segundo Skinner (2005), a aprendizagem é
uma mudança na probabilidade de ocorrência de determinadas respostas, devidas as
condições ambientais nas quais elas acontecem. Assim, o sujeito vai de adaptando ao meio
e criando novas respostas.
Figura 3. Gráfico com os tempos no decorrer das sessões.
R1; LS Means
Current effect: F(18, 216)=,92264, p=,55182
Effective hypothesis decomposition
Vertical bars denote 0,95 confidence intervals
550
500
450
400
350
DV_1
300
250
200
150
100
50
0
-50
TEMPO 1
TEMPO 5
TEMPO 9
TEMPO 13
TEMPO 17
TEMPO 3
TEMPO 7
TEMPO 11
TEMPO 15
TEMPO 19
R1
Fonte: dados coletados na pesquisa.
Em relação ao gênero (machos e fêmeas) foi possível constatarmos que as fêmeas
gastam mais tempo na realização da passagem pelo labirinto do que os machos (Figura 4),
o que pode ser devido ao fato de as fêmeas durante a passagem pelo labirinto se mostrarem
mais “distraídas” e farejam mais que os machos as paredes e o chão do labirinto, mesmo as
que não estavam expostas a poluição sonora (ruídos).
Figura 4. Gráfico comparando os Gêneros.
SEXO; LS Means
Current effect: F(1, 12)=11,818, p=,00491
Effective hypothesis decomposition
Vertical bars denote 0,95 confidence intervals
280
260
240
220
200
DV_1
180
160
140
120
100
80
60
40
macho
fêmea
SEXO
Fonte: dados coletados na pesquisa.
Comparando os dados obtidos do Grupo Controle e Experimental na aprendizagem
influenciada pelo estresse e este último decorrente da poluição sonora (Figura 5) observouse um aumento no intervalo de tempo gasto no percurso com os ratos expostos a poluição
sonora (ruídos), o Grupo Experimental levou mais tempo para percorrer o labirinto, em
comparação com os ratos não expostos (Grupo Controle). Dados estes que confirmam o
que nos diz Morval (2007), a poluição sonora está ligada a uma diminuição da peformance
na aprendizagem. Para Russo (1993), as manifestações provenientes dos ruídos podem
provocar diversas reações dependendo do organismo. Segundo Pimentel-Souza (2000) os
ruídos atuam sobre o organismo promovendo alterações que aparecem na forma de
mudanças comportamentais, tal como baixo desempenho em uma tarefa proposta. O que
foi verificado nesta pesquisa na qual os ruídos registrados em elevadas intensidades,
atuaram comprometendo a aprendizagem dos sujeitos.
Figura 5. Gráfico comparando Grupo Controle e Grupo Experimental em relação ao tempo
de percurso do labirinto.
GRUPO; LS Means
Current effect: F(1, 12)=6,1945, p=,02849
Effective hypothesis decomposition
Vertical bars denote 0,95 confidence intervals
280
260
240
220
DV_1
200
180
160
140
120
100
80
60
Controle
Experimental
GRUPO
Fonte: dados coletados na pesquisa.
CONCLUSÕES
A cada dia a poluição sonora vem fazendo parte da vida cotidiana dos indivíduos, e
alguns estudos vem sendo realizados em relação ao seu efeito na aprendizagem desses
organismos. De todas as características comportamentais dos organismos vivos, nenhuma
talvez seja tão notável quanto à capacidade de aprender. Este é o processo através do qual
as experiências de vida deixam sua marca em um individuo, o que permite a um animal
desenvolver novas adaptações a luz de experiências anteriores.
Nesta pesquisa observou-se que a poluição sonora (ruídos), isolado no contexto
laboratorial interfere nas reações fisiológicas demonstrativas de estresse e no
comportamento individual dos sujeitos, na sua aprendizagem. Assim como de acordo com
MORVAL (2007) a exposição prolongada pode ocasionar uma gama de efeitos negativos e
prejudicais ao organismo afetado. O que aponta então, pensar sobre a influência dessa
variável em um contexto social no qual a poluição sonora torna-se cada vez mais
freqüente, sem que as conseqüências desta sejam de conhecimento geral da população.
AGRADECIMENTOS
Pedro Tárique Crispin (Professor da Universidade Federal de Rondônia). Colaborador na
Estatística.
A UNIR/PIBIC/CNPq pela oportunidade de desenvolver a pesquisa.
REFERÊNCIAS
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PIMENTEL-SOUZA, F. Efeito do ruído no homem dormindo e acordado (revisão).
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RUSSO, I.C.P. & SANTOS, T.M.M. dos. A Prática da audiologia clínica. 4ª edição. São
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SKINNER, B. F. Contingências do Reforço. Coleção Os Pensadores. São Paulo : Ed.
Abril. Traduzido do original inglês Contingences of Reinforcement, New Jersey, Prentice
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