ORDEM DE INFUSÃO DOS AGENTES ANTINEOPLÁSICOS FARM. SANDRA MARIA ASFORA HAZIN Serv. de Quimioterapia de PE - SEQUIPE Recife 2010 Polifarmácia Esta estratégia merece atenção especial, pois medicamentos são substâncias químicas que podem interagir: Com nutrientes Com outros agentes químicos Entre si Podendo desencadear respostas prejudiciais ao tratamento medicamentoso oncológico. Interações medicamentosas O emprego de mais de um fármaco, em um mesmo paciente, implica diversas reações que chamamos de interações. Podem ser desejáveis (benéficas) ou indesejáveis. As interações farmacológicas mais importante no tratamento oncológico Ocorrem entre: • Os diversos quimioterápicos usados; • Os medicamentos não quimioterápicos usados antes, durante e após a quimioterapia; • Os quimioterápicos: – e os não quimioterápicos; – e os produtos fitoterápicos; – e os alimentos; – e o álcool; – e o tabaco. As respostas decorrentes da interação podem acarretar • Redução da eficácia; • Falta completa de atividade terapêutica; • Aparecimento de reações adversas; • Colocar em risco a vida do paciente; • Potencialização do efeito terapêutico; • Não causar nenhum um tipo de interação. Fases das interações As que devem ser consideradas em todas as interações são a farmacocinética e a farmacodinâmica. Nem sempre são visíveis mas podem causar muito prejuízo à resposta terapêutica. efeitos Interações farmacocinéticas São vistas quando: • • • • um fármaco; um alimento específico; o álcool; o cigarro. Agem de modo a aumentar ou a diminuir a concentração sanguínea de outro fármaco. Podendo propiciar o aumento ou a ausência, respectivamente, do efeito terapêutico. Avaliação farmacocinética 4 etapas: • Absorção; • Distribuição; • Biotransformação; • Excreção do fármaco. Absorção É a passagem do fármaco do meio externo para a corrente sanguínea. Esta etapa é alterada de acordo com a via de administração e a forma farmacêutica escolhida. Avaliação das interações na etapa de absorção • Formação de substâncias insolúveis; • Modificação do pH gástrico e intestinal; • Alteração da motilidade gastrointestinal. Exemplo Diminui: • Motilidade gastrointestinal . Prejudica: • Absorção de fármacos administrados por via oral. Anticolinérgicos: atropina, N-butil escopolamina, opióides, vários antidepressivos e antipisicóticos clássicos. Aumenta: • Motilidade gastrointestinal. Facilita: • Absorção de outros fármacos pela via oral. Metoclopramida e eritromicina Distribuição • É a passagem do fármaco do sangue para os órgãos. Forma livre: • Atinge o sítio de ação; • Desempenha o efeito terapêutico. Forma ligada: • Associada a uma proteína plasmática; • Forma de armazenamento ou estoque. Aspectos importantes Tempo de meia-vida: tempo necessário para que a concentração de um fármaco se reduza a 50%: Tempo de meia-vida α • A concentração sanguínea atinge a metade porque o fármaco esta sendo distribuído para os diversos órgãos. Tempo de meia-vidaβ • Quando a concentração sanguínea atinge a metade porque o fármaco estar sendo eliminado do corpo. Aspectos importantes • Glicoproteína P: proteína conhecida como bomba de extrusão. – Seu papel consiste fundamentalmente em expelir o fármaco que entra na célula; – Alguns antineoplásicos são afetados por esta bomba; – Alguns fármacos inibem o seu trabalho. Biotransformação Essa fase é definida com a alteração da estrutura química do fármaco por alterações enzimáticas. Reações de fase 1 - Compõe principalmente o citocromo P450 (podem ser induzidas ou inibidas por vários não sintéticas ou fármacos, alimentos álcool e pelo tabaco). analíticas: Diazepam Nordazepam Oxazepam (+50 hs) Reações de fase 2 - Destacam-se as reações com as sintéticas ou de glicuroniltransferase, sulfotransferases, glutationa conjugação: S-transferases e N-acetiltransferases. Fármaco original Mais hidrossolúvel Facilita sua excreção Tarceva + Tabaco • O cigarro é um indutor do CYP1A1 e CYP1A2 (enzimas do citocromo P450) e mostrou reduzir a exposição ao erlotinibe em 50 a 60%. • CPNPC: dose diária 150 mg. • Em fumantes a dose máxima tolerada é de 300 mg. Excreção e eliminação • Excreção: – É a saída do fármaco em sua forma original. • Eliminação: – é a saída do fármaco quimicamente modificado sob a forma de metabólitos. – Condições necessárias: hidrossolubilidade, estar na forma livre e a cinética do paciente. Interações farmacodinâmicas • Estuda os mecanismo de ação do fármaco, é vista quando um fármaco, um alimento específico, o álcool, o cigarro alteram a ação farmacológica de outro fármaco sem alterar a sua concentração. • O receptor é o local onde os fármacos atuam. • O fármaco pode ser classificado como agonista ou antagonista. Tipos de interações farmacodinâmicas Sinergismo por adição: Sinergismo por somação: • Quando o fármaco apresenta o mesmo mecanismo do outro com efeito semelhante. • Quando os mecanismos são diferentes mais os efeitos são os mesmos. Potencialização: • Quando a soma dos efeitos do dois fármacos é maior do que quando são usados isoladamente. O que fazer quando não há registro de interação? • Indica-se que sejam analisadas as características físicoquímicas das soluções para a sequência da ordem de infusão. Potencial hidrogeniônico pH Índice que indica a acidez, a neutralidade ou alcalinidade de um meio qualquer FLEBITES Fatores envolvidos: IMPORTÂNCIA - pH baixo - alta velocidade de fluxo Contribuem para o desenvolvimento de flebite química • Medicações ou soluções irritantes; • Medicações diluídas ou misturadas inapropriadamente; • Infusão muito rápida; • Presença de pequenas partículas na solução. Quanto mais ácida a solução Maior risco de flebite química Controle de concentração A concentração do medicamento pode ser controlada: ou com a pela velocidade pelo volume de associação de infusão diluição desses dois procedimentos Alguns fármacos antineoplásicos Originam soluções De características ácidas Hiper ou hipo-osmolares Causando grande desconforto durante o processo de infusão endovenosa. Navelbine (pH 3,5) x Gemzar (pH 2,7 – 3,3) 1 Navelbine 2 Gemzar Vinorelbina caracterizada por dor no trajeto venoso e flebite química em aproximadamente 1/3 dos pacientes. 1 Gemzar 2 Navelbine Gencitabina por suas características de pH tem capacidade de irritação do leito venoso. Há estudos que falam... Fármacos que não se unem ao DNA Causam dano tecidual imediato São rapidamente inativados ou metabolizados O que permite um processo de cicatrização normal Fármacos que se fixam ao DNA Produzindo lesão celular imediata Permanecendo ativos nos tecidos Ocasionando danos a longo prazo, dificultando o processo de cicatrização normal Fármacos que se fixam ao DNA • Dactinomicina; • Daunorrubicina; • Doxorrubicina; • Idarrubicina; • Mitomicina; • Epirrubicina. Cinética do ciclo celular • Muitos agentes citotóxicos efetivos atuam ao lesar o DNA. mais • Esses agentes mostram-se ativos contra as células que se encontram na fase mais vulnerável do ciclo celular. • As neoplasias humanas que atualmente são mais sensíveis ao tratamento quimioterápico são aquelas que exibem uma elevada porcentagem de células em processo de divisão. Por isso... • É necessário quimioterápicos que atuem em diferentes fases do ciclo celular. • Por outro lado, os tumores de crescimento lento, frequentemente apresentam respostas menores aos agentes específicos do ciclo. PROTOCOLOS Ácido folínico + 5-fluorouracil • Células malignas do cólon apresentam menor quantidade de 5-10 metilenotetraidrofolato. 1. • Ácido folínico (EV) • Reposição de folato por infusão EV de 5formiltetraidrofolato • Aumento da formação do complexo TS-FdUMP e também das respostas ao 5-FU. 2. • 5-fluorouracil (EV) • Melhor perfil de redução tumoral e menor índice de resistência celular às ações citotóxicas do 5-FU. Metotrexato (MTX) + 5-fluorouracil 1 MTX MTX inibe a síntese de purinas 2 5-fluorouracil Aumentando o reservatório celular de 5fosforribosil-1-pirofosfato (PRPP) Aumentando a ativação do 5-FU e sua atividade antitumoral. MTX e Folinato de cálcio (resgate) 1 MTX (doses altas e intermediárias) Ácido fólico 2 Ácido folínico Folinato de cálcio Síntese de ácidos nucléicos Antagonismo dos efeitos tóxicos do MTX sobre as células normais, especialmente de medula óssea e mucosas. FOLFOX = Leucovorin + 5-FU + Oxaliplatina A oxaliplatina é comumente utilizada com 5-FU e leucovorina no tratamento do câncer de cólon e reto metastático. 1. • Leucovorina 2. • 5-FU - bolus 3. • Oxaliplatina 4. • 5-FU de infusão contínua Isso pode ser por... Efeito sinérgico: - Por inibição da DPD Oxaliplatina pode inibir o catabolismo do 5-FU - Também por inibir a expressão de TS Folfiri = Irinotecano + Leucovorin + 5-FU 1. • Irinotecano 2. • Leucovorin 3. • 5-FU (bolus) 4. • 5-FU de infusão contínua Metabólito superativo Irinotecano (pró-fármaco) Precursor hidrossolúvel Metabólito lipofílico SN-38 Inibidor Topoisomerase I Inibidor pelo menos mil vezes mais potente Estudos para este protocolo indicam... • AUC do SN-38, é cerca de 40% menor e também a toxicidade atribuída ao protocolo apresenta-se reduzida. • A farmacocinética do irinotecano em relação a associação com 5FU ainda não está clara: – o ponto-chave para a explicação de modificações na área sob a curva parece ser a infusão em bolus do antimetabólito. Obs: A combinação dos dois farmácos está clinicamente bem estabelecida; A recomendação da infusão de irinotecano antes do 5FU/Leucovorin é bem documentada e farmacológicamente mais vantajosa para o paciente. Irox = Irinotecano + Oxaliplatina 1 Irinotecano 2 Oxaliplatina Interação farmacodinâmica Irinotecano Potencializado pela oxaliplatina Inibição da acetilcolinesterase Hipersalivação e dor abdominal (síndrome colinérgica sinérgica) Vepesid + Carboplatina 1 Vepesid 2 Carboplatina • A dose e a sequência de administração podem ser fatores determinantes quando se usa o protocolo acima. • Em estudo a AUC do etoposídeo aumenta em 8% quando a carboplatina é administrada antes. Vepesid + Cisplatina 1 Vepesid 2 Cisplatina • Cisplatina bem mais nefrotóxica. • Em estudo a AUC do etoposídeo mostrou-se 28% maior em pacientes que infundiram primeiro a cisplatina. TIP = Paclitaxel + Ifosfamida + Cisplatina 1 Paclitaxel • Citoxicidade aditivada administrado primeiro. 2 Ifosfamida ou sinérgica 3 quando Cisplatina o paclitaxel foi • Antagonismo quando a ifosfamida ativa foi administrada primeiro. • Essa ordem pode ser importante por afetar a eficácia terapêutica do protocolo. • Utiliza-se com pouca freqüência a excreção retardada dos metabólitos do paclitaxel e ifosfamida evitando toxicidade hospedeira aumentada . ACT = Adriblastina + Ciclofosfamida + Paclitaxel 1 Adriblastina 2 Ciclofosfamida 3 Paclitaxel • Estudos demonstram que a trombocitopenia é mais grave quando o paclitaxel precede a infusão da ciclofosfamida. • Mucosite e neutropenia maior quando o paclitaxel é administrado antes da doxorrubicina. • Estudos em animais evidenciaram ainda que tanto o paclitaxel quanto o seu veículo o cremophor pode modificar a distribuição e o metabolismo da Doxorrubicina potencializando a cardiotoxicidade. Docetaxel + Gencitabina 1 Docetaxel 2 Gencitabina • A toxicidade farmacológica e farmacocinética não se alteram. • Perfis farmacocinéticos do docetaxel permanecem inalterados independente da ordem de infusão. • Por precaução segue-se essa ordem. Paclitaxel + Gencitabina 1 Paclitaxel 2 Gencitabina • Em estudos: – O paclitaxel incrementou as concentrações de trifosfato de Gencitabina e melhorou significativamente sua eficácia. – Não foram observadas alterações importantes no perfil farmacocinético dos dois fármacos. Anticorpos Monoclonais Antes de Quimioterápicos Convencionais Rituximabe - CHOP 2 • Rituximabe •Doxorrubicina 4 • Ciclofosfamida 1 D1 ao D5 3 • Predinisona VO - 100 mg/dia •Vincristina O que sugere Os efeitos sinérgicos do Rituximabe e da Quimioterapia convencional tornaram-se cada vez mais evidentes. Rituximabe: Atua diretamente sobre as células tumorais; Sensibiliza as células de linfomas; Maior indução à apoptose por ação citotóxica dos quimioterápicos antineoplásicos convencionais. CHOP Ciclofosfamida Ocorre •É um pró-fármaco •Tem necessidade do sistema microssomal hepático para ser metabolizado e ativado • Sobrecarga quando a ciclofosfamida é administrada antes da doxorrubicina Consequências: aumentando as possibilidades de cardiotoxicidade, leucopenia e mucosite para os pacientes. Prednisona • Ideal para esquema em dias alternados já que a vida média é mais curta que a dexametasona. • Fármaco de escolha por apresentar boa absorção e não apresentar alguns efeitos adversos como o aumento do apetite ou quadros semelhantes a dermatomiosite. • Tomada de D1 a D5 deve-se ter cuidado especial com o paciente em relação a toxicidade aumentada da ciclofosfamida. Trastuzumabe + Paclitaxel 1 Trastuzumabe 2 Paclitaxel • A adição do Trastuzumabe à quimioterapia para o câncer metastático aumentou a taxa de resposta, a sobrevida geral, o tempo para a progressão da doença e a qualidade de vida em pacientes com HER 2 – positivo. • Essa taxa de resposta pode ser melhorada caso o anticorpo monoclonal seja administrado antes do quimioterápico convencional. • O Trastuzumabe também tem ação sinérgica com outros agentes citotóxicos sempre com hiperexpressão de HER 2. • Em qualquer esquema, o anticorpo monoclonal deve ser infundido primeiro. Avastin - Bevacizumabe • Na primeira infusão sempre após os antineoplásicos convencionais. • A partir da segunda infusão pode ser antes ou depois dos antineoplásicos. Erbitux - Cetuximab • Em qualquer esquema o anticorpo monoclonal deve ser infundido primeiro. Concluindo... As interações e a ordem de infusão são de extrema importância no sucesso do tratamento oncológico. Portanto é um tema relevante para a equipe multidisciplinar principalmente farmacêuticos, médicos, enfermeiros e nutricionistas. Bibliografia • BONASSA, Edva Moreno Aguilar; SANTANA, Tatiana Rocha. Enfermagem em terapêutica oncológica. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. • CASCIATO, Denis A. Manual de oncologia clínica. São Paulo: Tecmedd, 2008. • FONSECA, Almir L. Interações medicamentosas. 4. ed. São Paulo: Epub, 2008. • LÜLLMANN, Heinz; HEIN, Klaus Mohr Lutz; BIEGER, Detlef. Farmacologia: Texto e atlas. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. • MATHEUS, Eline. Interações medicamentosas: Agentes antineoplásicos. São Paulo Segmento Farma, 2010 • MOTA, Maria Lurdemilar Sabóia. Dados farmacocinéticos e farmacodinámicos: Para planejamento e otimização de resposta terapêutica em quimioterapia antineoplásica. São Paulo: Segmento Farma, 2009. • Tarceva (Bula de medicamento). Farm. Resp. Guilherme N. Ferreira. Rio de Janeiro: Roche Químicos e Farmacêuticos. • TRISSEL, Lawrence A. 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