O USO DAS CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS PARA FINS

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O USO DAS CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS PARA FINS TERAPÊUTICOS
E O ENTENDIMENTO ESPÍRITA SOBRE O RESPEITO À VIDA
Por Xerxes Pessoa de Luna
[email protected]
Em decisão por maioria simples, o Supremo Tribunal Federal brasileiro julgou
constitucional o ponto da Lei de Biossegurança aprovada na Câmara dos Deputados e no
Senado Federal, que permite a utilização de células-tronco retiradas de embriões
congelados há mais de três anos, em pesquisas com fins científicos e terapêuticos.
Células-tronco são “células primitivas, produzidas durante o desenvolvimento do
organismo e que dão origem a outros tipos de células. Elas são encontradas no cordão
umbilical, na medula óssea, na pele ou em outras partes do corpo humano e nos
embriões.1”
O princípio que rege o tratamento das enfermidades com implante de células-tronco
fundamenta-se no fato de que estudo acerca do seqüenciamento do DNA(Ácido
DesoxirriboNucleico) evidencia que a causa do surgimento de certas doenças está na
seqüência incorreta do código genético nas células do enfermo, conseqüência, a nosso
ver, segundo uma ótica espírita, das vibrações de desequilíbrio profundo no
perispírito que pede reajuste. Com um implante de uma célula tronco perfeita, que
dará origem a novas células sadias, essa seqüência será corrigida o que acarretará o
desaparecimento da enfermidade.
Diante das evidências concretas de tantos benefícios para as criaturas, o
Espiritismo gratamente se associa a tais propósitos, pois o progresso completo da
sociedade humana é a grande meta da Doutrina dos Espíritos. Entretanto, esse progresso
não pode se dissociar de dois outros, o moral e o intelectual, que devem caminhar lado a
lado. Nesse sentido a Doutrina Espírita tem muito a contribuir; inicialmente através do
novo foco interpretativo das leis morais trazidas por Nosso Senhor Jesus Cristo; e,
posteriormente, através das revelações referentes à existência do mundo espiritual e suas
relações com o mundo material, o que, sem dúvida, concorrerá para o esclarecimento de
inúmeros fenômenos incompreensíveis e considerados inadmissíveis por parte de alguns
pensadores e homens de ciência2.
Sendo assim o Espiritismo, não é contra o uso de células-tronco para fins
terapêuticos, desde que elas sejam adultas, pois sua obtenção e utilização em nada
prejudicam as pessoas doadoras nem tampouco sacrificam a vida de seres em sua fase
mais primária (embrião). Nesse sentido, pareceres publicados pela a Associação Médica
Espírita – AME do Brasil, pela Federação Espírita Brasileira - FEB e por renomados
médiuns espíritas, unanimemente apóiam essas experiências, desde que não venham a
utilizar embriões, sejam eles congelados ou não.
1 Vide explicações científicas no final deste artigo e as fontes consultadas.
2 Vide Allan Kardec em “O Livro dos Médiuns”, Cap. II – Do Maravilhoso e do Sobrenatural.
1
Tal restrição fundamenta-se no fato de que, para o Espiritismo, a vida humana
começa na concepção, no exato momento da fecundação, no instante em que ocorre a
reunião do elemento genético masculino e feminino, formando-se daí uma célula somática
composta por quarenta e seis cromossomos característicos da espécie humana. Neste
instante, um espírito se liga através de um cordão fluídico a essa célula que dará
seqüência à produção de outras células diferenciadas e reguladas segundo o modelo
organizador da forma, oriundo da expansão do perispírito do ser reencarnante. Assim, o
embrião é um ovo humano em desenvolvimento que, após atravessar a trompa de Falópio
e acomodar-se no útero materno, prosseguirá dando continuidade à formação progressiva
do novo ser em gestação. A interrupção desse ciclo corresponderá a uma prática clara de
aborto e isso a Doutrina Espírita não apóia, por ser, o Espiritismo, completamente
favorável à Vida.
As pessoas favoráveis as experiências com células-tronco embrionárias
fundamentam sua opinião numa série de argumentos. Dentre eles destacamos alguns
para nossa reflexão:
1. “Nos procedimentos de fertilização in-vitro (FIV) são formados um número
excessivo de embriões. Como nem todos são utilizados, os excedentes são
conservados por meio do congelamento, para uso posterior da mãe doadora,
se assim o desejar. Após certo tempo, caso não venham a ser utilizados, são
destruídos. Assim sendo pergunta-se: É ético deixar um paciente afetado por
uma doença letal morrer para preservar um embrião cujo destino é o lixo?”
Diante de tal argumentação formulamos a seguinte pergunta: É correto um erro
justificar outro? Sinceramente acredito que todos diremos que não. Assim, o correto é nos
unirmos para exigir das autoridades à regulamentação ética da produção de embriões nos
procedimentos da fertilização in-vitro, deixando bem definido que tal prática destina-se,
exclusivamente, a reprodução humana, que o total de embriões a serem formados nos
laboratórios para cada tentativa deve limitar-se a determinado número previamente
definido, e que todos deverão ser utilizados e se congelamento houver, que esse se limite
aos elementos gênicos, masculino e feminino, no quantitativo que se fizer necessário para
futuras tentativas. “A geração de um embrião fora do ventre materno só será válido
quando for para atender ao desejo da maternidade, à reprodução humana e não para
criar uma reserva de embriões para pesquisa”.
2. “Deus em sua infinita bondade jamais permitiria que um espírito fosse
prejudicado, vinculando-o a um embrião que no futuro seria destruído.”
Indubitavelmente a bondade divina é infinita, e para que ela alcance a todos,
indiscriminadamente, Ele cria leis perfeitas e eternas e as disponibiliza para as criaturas.
Entretanto a imperfeição humana, fruto do mau uso do livre-arbítrio e da sua falta de
sintonia com a razão e o amor, vem opondo obstáculos aos propósitos divinos de
felicidade e paz na Humanidade. Por isso tantas dores e sofrimentos entre nós. As leis de
Deus são sábias e uma delas é a que rege a concepção que, uma vez acionada,
conforme sejam as condições vibratórias e magnéticas que lhe são características, podem
receber ou não a assistência mais pormenorizada de equipes espirituais especialistas o
que em muito favorecerá o inicio da vida do ser reencarnante.
2
Nos casos em que as condições favoráveis a intervenção dos benfeitores
espirituais inexistem ficam os renascimentos praticamente à mercê da irresistível força de
atração entre os encarnados e desencarnados envolvidos e sintonizados com aquelas
forças em desalinho. Tais renascimentos podem ser contabilizados entre os não
programados. Assim, mesmo sabendo que a um embrião que será destruído poderá estar
vinculado um espírito que fez por merecer tal situação não cabe à criatura humana dar
gênese a mais um instrumento de resgate doloroso, dentre tantos por ela já criados, isto
porque a bondade divina nos permite retificar ações equivocadas através de vivências
reencarnatórias mais educativas e menos traumáticas.
Algumas pessoas argumentam que, conforme a Doutrina Espírita, a um embrião
pode não estar vinculado um espírito (bebês natimortos - Pergunta 356 de “O Livro dos
Espíritos”). A dificuldade é que, atualmente a Ciência não tem condições de discernir, de
forma segura e inequívoca, se um embrião está ligado a um espírito ou se é fruto do
automatismo biológico molecular.
Assim, diante dos fatos e dos princípios espíritas relativos ao respeito à vida
humana não podemos concordar com experiências que envolvam células-tronco
embrionárias, sob pena de estarmos legitimando outro tipo de aborto. No seu diálogo
com a Ciência, o Espiritismo nada teme, pois “caminhando de par com o progresso,
jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em
erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova
se revelar, ele a aceitará”, portanto, não abandonemos os preceitos doutrinários nem o
adaptemos à ignorância dos materialistas acerca da ciência do espírito. Elevemos sempre
nossa voz, para instruir e sensibilizar a Sociedade para atuar em defesa da vida.
Explicações Científicas acerca das Células-Tronco:
As células-tronco provenientes dos embriões têm um alto poder de “diferenciação”,
isto é, uma grande capacidade de se transformar em outras células do organismo, pois é
a partir dela que as demais células do corpo humano se formam, dando origem às células
de várias linhagens (células do fígado, do coração, dos ossos, do cérebro, etc.) que por
sua vez dão origem à células de um único tipo dentro da linhagem.
Existem vários tipos de células-tronco e segundo seu poder de “diferenciação”
podem ser classificadas em: Totipotentes - podem produzir todas as células embrionárias
e extra embrionárias (células-tronco que não pertençam ao embrião); Pluripotentes –
podem produzir todos os tipos celulares do embrião; Multipotentes - podem produzir
células de várias linhagens; Oligopotentes - podem produzir células dentro de uma única
linhagem e Unipotentes - produzem somente um único tipo celular maduro. As células
embrionárias são consideradas pluripotentes porque uma célula pode contribuir para
formação de todas as células e tecidos no organismo, exceto as células da placenta.
Célula-tronco adulta é uma célula encontrada em tecidos diferenciados do
organismo humano e pode renovar-se, porém sua capacidade de transformação em outro
tipo de célula limita-se ao tipo de célula especializada do tecido do qual se origina. Assim
a célula-tronco retirada da pele (Unipotentes) pode se transformar em célula-tronco igual
àquela que deu origem a linhagem da qual a pele faz parte (células Multipotentes).
3
Segundo o Centro de Estudos do Genoma Humano, a Ciência, no entanto, ainda
não identificou, ao todo, em que tecidos essas células-tronco são capazes de se
transformar. Pesquisas recentes comprovaram que células-tronco retiradas da medula
óssea do próprio paciente portador de problemas cardíacos ajudaram na reconstituição do
músculo do seu coração — fato que evidencia esperança concreta para o tratamento de
pessoas com problemas coronários. As células-tronco retiradas do sangue do cordão
umbilical são o melhor material para substituir a medula óssea em casos de leucemia e
que células-tronco de polpa de dentes de leite têm capacidade de originar osso, músculo,
gordura, cartilagem e neurônios, quando manipuladas em laboratório. Segundo os
cientistas, muitas enfermidades, hoje consideradas incuráveis ou mesmo fatais poderão
ser sanadas, como por exemplo, a diabetes, acidentes vasculares cerebrais, doenças
cardíacas, leucemia, Mal de Alzheimer e até mesmo a paralisia. Apesar de todas essas
possibilidades apontadas pelos cientistas, o implante de células-tronco ainda não pode
ser utilizado na cura definitiva e imediata de certas enfermidades, pois as pesquisas ainda
estão na sua fase experimental o que impossibilita afirmar com segurança se o tratamento
é eficiente ou não.
Ainda no que se refere às células-tronco adultas, recentemente foram anunciados
os resultados iniciais de duas grandes pesquisas: a primeira realizada por uma equipe
japonesa dirigida pelo cientista Shinya Yamanaka e outra americana, tendo a frente os
cientistas Junying Yu e James Thomson, que conseguiram criar, através de uma
reprogramação das células humanas adultas da pele, células que passaram a atuar como
células-tronco embrionárias. A segunda realizada por cientistas norte-americanos que
conseguiram produzir células-tronco embrionárias sem a necessidade de destruir o
embrião. Esse novo procedimento consiste em retirar uma única célula do embrião, em
seu estágio inicial, quando ele é formado por poucas células. De acordo com os
pesquisadores esse procedimento não prejudica o embrião. Se essas pesquisas e seus
resultados forem confirmados e atestados, não haverá necessidade de sacrificar o
embrião e, portanto, os questionamentos da Bioética estarão resolvidos.
Fontes consultadas:
 KARDEC, ALLAN - O Livro dos Espíritos

EMMANUEL (Espírito)/FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER – Missionários da Luz

AME - ASSOCIAÇÃO MÉDICO-ESPIRITA DO BRASIL – Artigo publicado sobre
células-tronco

Artigo sobre Célula- tronco publicado pelo Centro de Genoma Humano.

Dr. WOO-SUKI HWANG – Revista Science

KEITH L. MOORE – Embriologia Química

MOORE E PERSAUD (Embriologistas). Livro Embriologia Humana

EGGAN, K., RIDEOUT III, W.M., JAENISCH, R. - Nuclear cloning and epigenetic
reprogramming of the genome. Science, v. 293, p. 1093-98, aug./2001
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