manejo_das_situacoes_de_crise_relacionadas_ao_uso_2

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Manejo das Crises em
Usuários de Substâncias
Psicoativas
Dr. John C. Zoschke Jr.
Médico Psiquiatra
Sumário
1. Avaliação
2. Álcool
A. Intoxicação
a. Clínica
b. Avaliação
c. Tratamento
B. Síndrome de Abstinência
a. Clínica
b. Avaliação
c. Tratamento
C. Delirium Tremens
a. Clínica
b. Avaliação
c. Tratamento
D. Síndrome de Wernicke Korsakoff
a. Clínica
b. Tratamento
3. Cocaína e Crack
A. Intoxicação
a. Clínica
b. Avaliação
c. Tratamento
B. Abstinência
a. Clínica
b. Tratamento
Avaliação
Avaliação
• Frequentemente os pacientes não relatam espontaneamente
o uso de substâncias psicoativas
• Muitas vezes os pacientes são trazidos nas circunstâncias de
brigas, acidentes, perda de consciência, alterações
comportamentais, etc.
• Necessárias informações de “colaterais” - amigos, familiares,
polícia, bombeiros, quem quer que tenha prestado assistência
• Muitas vezes, as únicas informações são as coletadas através
da avaliação clínica e do exame físico
Avaliação
• Informações sobre a substância utilizada
•
•
•
•
•
Quais substâncias
Uso de múltiplas drogas
Estimativa de quantidade
Frequência de uso
Tempo decorrente do último consumo
• Inferir a tolerabilidade a dose ingerida - Frequência e
quantidade de uso
• Avaliar o tempo para o surgimento dos sintomas iniciais de
abstinência - Tempo decorrente do último consumo
Avaliação
• AMPLA
•
•
•
•
•
Alergias
Medicamentos em uso
Patologias prévias
Líquidos e alimentos ingeridos
Ambiente em que foi encontrado
• Uso crônico de medicações pode interferir no metabolismo
das drogas - Facilitando a intoxicação
• Se forem utilizados medicamentos, ter a cesso às
embalagens, recipientes e bulas
Avaliação
•
•
Pacientes apresentando comorbidades psiquiátricas podem
utilizar substâncias psicoativas como uma tentativa de
“automedicação”
Avaliar histórico detalhado de:
•
•
•
Risco e intencionalidade suicida
Problemas legais e sociais
Complicações clínicas
•
•
•
•
Decorrentes do uso de substâncias
Comorbidades médicas
Complicações em abstinências anteriores
O screening toxicológico possibilita esclarecimento
diagnóstico, mas não causa alterações do manejo clínico
Álcool
Álcool - Intoxicação
Alcoolemia (mg/100ml)
Sintomas
20-99
Euforia e excitação
Alterações leves da atenção
Alterações leves da Coordenação
100-199
Ataxia
Labilidade emocional
Lentificação do pensamento
Prejuízo do raciocínio e do julgamento
Prejuízo da memória
Romberg positivo
Álcool - Intoxicação
Alcoolemia (mg/100ml)
Sintomas
200-299
Fala arrastada
Náuseas e Vômitos
300-399
Hipotermia
Disartria
Amnésia
Anestesia
Acima de 400
Coma Alcoólico
600-800
Fatal
Álcool - Intoxicação
Sinais de Coma Alcoólico
Inconsciência
Hipotermia
Depressão respiratória
Reflexos diminuídos ou ausentes
Palidez cutânea
Retenção ou incontinência urinária
Álcool - Intoxicação
• Avaliação
• Realizar um exame físico
cuidadoso
• Aspiração Brônquica
• Crises hipertensivas
• TCE
• Avaliar a glicemia
• Avaliar condições de
cronicidade e complicações
• Hepatomegalia
• Desnutrição
• Infecções
Álcool - Intoxicação
Tratamento
A intoxicação aguda é autolimitada
Assegurar a interrupção da ingestão do álcool
Proporcionar um ambiente seguro e livre de estímulos
Manter o paciente em decúbito lateral para evitar aspiração de
vômito
• Diálogos objetivos e esclarecedores - ajudar o paciente a se situar
e a se acalmar
• Em caso de agitação psicomotora ou comportamento agressivo,
administrar 10mg Diazepam VO ou Haloperidol 5mg IM
•
•
•
•
•
Álcool - Intoxicação
Tratamento
Manter a hidratação
Reposição de glicose somente se houver necessidade
Tiamina 100mg cerca de 30 minutos antes da administração da
glicose - a não ser que os níveis glicêmicos sejam ameaçadores a
vida do paciente
• As células nervosas utilizam a Tiamina na metabolização da
glicose
• A ausência da vitamina em usuários crônicos pode desencadear a
encefalopatia de Wernicke
• Indivíduos com história nutricional adequada e uso isolado de
álcool não necessitam de administração prévia de timina
•
•
•
•
Álcool - Síndrome de Abstinência
• Clínica
• Os sinais e sintomas da privação do álcool aparecem após
algumas horas do último consumo - pico entre 24-36 horas
• Complicações graves podem ocorrer em até 14 dias
• A síndrome de abstinência alcoólica pode ser dividida em três
grupos de sintomas.
Álcool - Síndrome de Abstinência
Excitação do SNC
Hiperatividade
Adrenérgica
Delirium por Abstinência
Alcoólica
Ansiedade
Calafrios
Déficit de atenção
Disforia
Diaforese
Desorientação
Aumento da sensibilidade a
estímulos sensoriais
Febre
Hipervigilância
Insônia
Aumento da necessidade de
fluidos e nutrientes
Prejuízo da memória
Labilidade emocional
Hipertensão
Agitação psicomotora
Alucinações visuais, auditivas
e táteis
Álcool - Síndrome de Abstinência
Excitação do SNC
Hiperatividade Adrenérgica
Hiperatividade motora
Tremores musculares
Inquietação
Midríase
Náuseas e Vômitos
Palpitações
Piloereção
Taquicardia
Álcool - Síndrome de Abstinência
• Avaliação
• Obter dados para a história
clínica
• Último uso
• Uso de outras substâncias
sedativas
• Complicações clínicas e
psiquiátricas
• Complicações em abstinências
anteriores
• Avaliação cuidadosa do
exame físico
•
•
•
•
Anemia
Desidratação
Desnutrição
Aparelho cardiovascular
• Medição da PA e FC
• Aparelho respiratório
• Pneumonias aspirativas
• Aparelho gastrointestinal
• Hepatopatias
• Pancreatopatias
• Exame neurológico
Álcool - Síndrome de Abstinência
Preditores de Gravidade na Abstinência Alcoólica
História prévia de abstinência grave
Altos níveis e álcool sérico e poucos sintomas de intoxicação
Presença de sintomas de abstinência com alcoolemia elevada
Idade avançada
Uso concomitante de hipnóticos e sedativos
Problemas clínicos prévios
Álcool - Síndrome de Abstinência
• Tratamento
• Pacientes que devem receber tratamento ambulatorial:
•
•
•
•
Quadro leve a moderado
Sem complicações clínicas
Sem antecedentes de complicações
Sem histórico de convulsão ou delirium
• Monitorar funções vitais e estado de consciência
• Muitos paciente necessitam somente de medicadas de suporte
geral
• Hidratação
• Restrição a estímulos visuais e auditivos
• Monitoração periódica dos sinais vitais
Álcool - Síndrome de Abstinência
• Tratamento - Excitação do SNC
• Diazepam 10mg de hora em hora até o abatimento dos sintomas
ou
• Diazepam 20mg VO
• A dose deve ser reduzida pela metade se o paciente estiver alcoolizado
• Não deve ser realizado em uma alcoolemia grave
• Dar preferência por Administração VO - administração IM errática
• Lorazepam 2mg de hora em hora até o abatimento dos sintomas
ou
• Lorazepam 4mg
• Nos casos de hepatopatia grave
• Em idosos
Álcool - Síndrome de Abstinência
• Tratamento - Excitação do SNC
• Carbamazepina 100mg de hora em hora até dose de 300mg
• Nos casos de intoxicação e alterações comportamentais produzidas
por BZD
• Evitar em hepatopatas e idosos
• Contra-indicado na gestação e leucopenia
• Ácido Valpróico 125mg de duas em duas horas até dose de
375mg
• Em situações que a carbamazepina não pode ser utilizada
Álcool - Síndrome de Abstinência
• Tratamento - Hiperatividade Adrenérgica
• Beta-bloqueadores
•
•
•
•
•
Quando os sintomas são graves e necessitam de controle imediato
ECG - Excluir bloqueio de ramo
Observar a presença de broncoespasmo
Atenolol 25mg
Propranolol 40mg
• Fármaco de escolha se a PAS entre 160-200mmhg e a PAD entre 100120mmHg
Álcool - Síndrome de Abstinência
• Tratamento - Convulsões
• 90% ocorrem entre 7-48hs depois da última dose
• Implica em maior gravidade à síndrome - Um terço destes
evoluem para delirium tremens
• Baixos níveis glicêmicos facilitam a convulsão
• Instituir prontamente BZD
• No ato da convulsão, aplicar Diazepam 10mg EV
• Fenitoína 300mg/dia em casos de mais de um episódio por
dia
Álcool - Delirium Tremens
• Clínica
• Quadro confusional agudo de curso
flutuante a autolimitado
• Ocorre de 72-96hs em 5% dos
pacientes
• Ocorre piora dos sintomas durante a
noite
• Complicação de maior risco à vida
• Mortalidade de até 20% em paciente
não tratados - por colapso cardíaco,
infecção ou desidratação
Álcool - Delirium Tremens
Sinais e Sintomas Físicos de Delirium Tremens
Tremores
Letargia
Taquicardia
Hipertensão
Febre
Midríase
Sudorese intensa
Álcool - Delirium Tremens
Sinais e Sintomas Psiquiátricos de
Delirium Tremens
Confusão
Desorientação
Prejuízo da memória de fixação
Agitação psicomotora e insônia
Alucinações vívidas
Visuais - Insetos e pequenos animais
Auditivas - Ruídos, vozes ameaçadoras
Táteis - Insetos e animais caminhando pelo
corpo
Ilusões
Labilidade afetiva
Álcool - Delirium Tremens
Fatores de risco para Delirium Tremens
Doenças metabólicas
Hepatopatia
Idade avançada
Ataxia
Polineuropatia
Álcool - Delirium Tremens
• Tratamento
• Todo o paciente deve ser hospitalizado
• Deve permanecer em ambiente desprovido de estímulos e
iluminado - piora em ambientes escuros (sundowning)
• Em caso de agitação extrema, pode ser necessária a
contenção mecânica
Álcool - Delirium Tremens
• Tratamento
• Haloperidol 5mg IM
• Diminui o limiar convulsivo, portanto, deve ser administrado após
pelo menos 20mg de Diazepam
• Anticolinérgicos (Prometazina) e antidepressivos com ação
sedativa (Amitriptilina) tendem a piorar os sintomas, e estão
proscritos
• Antipsicóticos de baixa potência que reduzem o limiar
convulsivo (Clorpromazina e Levomepromazina) estão
proscritos
Álcool - Wernicke Korsakoff
• Clínica
• Atinge 5% dos pacientes e está relacionada com a deficiência de
Tiamina
• Pode evoluir para quadro demencial irreversível
Tríade Clássica da Síndrome de
Wernicke
Sinais e Sintomas da Síndrome de
Korsakoff
Nistagmo
Amnésia anterógrada e retrógrada
Ataxia
Confabulações
Disartria
Apatia e inércia
• A síndrome de Wernicke é aguda e tratável, enquanto a síndrome
de Korsakoff é crônica e irreversível
Álcool - Wernicke Korsakoff
• Tratamento
• Tiamina 100mg IV até o desaparecimento da oftalmoplegia cerca de 300mg IV ao dia
Cocaína e Crack
Cocaína e Crack - Intoxicação
Sinais Para Avaliação de Intoxicação por Estimulantes
Pupilas dilatadas
Boca seca
Hipertermia
Sudorese
Hiper-reflexia
Aumento da frequência cardíaca
Alterações comportamentais
Cocaína e Crack - Intoxicação
Síndrome de Baixa
Gravidade
Síndrome de Média
Gravidade
Síndrome de Alta
Gravidade
Euforia
Edema pulmonar
Síndrome Cerebral Orgânica
Hiperfigilância
Falência respiratória
Desorientação
Aumento da atividade motora
Arritmias
Rinorréia
Impulsividade
Convulsões
Alucinações
Agressividade
Rabdomiólise
Paranóia
Cefaléia
Insuficiência renal aguda
Comportamento esteriotipado
Bruxismo
Piloereção
Aumento da FR
Palidez
Tremor
Náuseas e Vômitos
Cocaína e Crack - Intoxicação
Sinais e Sintomas Psiquiátricos de Intoxicação por Estimulantes
Ansiedade
Crises de pânico
Desconfiança
Hipervigilância
Delírios paranoides
Idéias de referência
Isolamento
Alucinações táteis (cocaine bugs)
Alucinações auditivas e visuais
Condutas agressivas (principalmente no crack)
Cocaína e Crack - Intoxicação
SNC
Pulmonar
Cardiocirculatório
Gastrointestinal
AVC
Vasoconstrição
arterial
IAM (3%)
Isquemia mesentérica
Convulsões
Hemorragia
Arritmias
Ulceração
Acatisia
Pneumotórax
Crises hipertensivas
Perfuração
Discinesia
Embolia pulmonar
Tromboses
Aneurismas (EV)
Perfuração de septo
Flebite e endocardite
(EV)
Cocaína e Crack - Intoxicação
Sinais de Gravidade após a Intoxicação
Depressão do SNC
Paralisia
Arreflexia
Estupor
Coma
Cocaína e Crack - Intoxicação
• Tratamento
• Manejo não farmacológico
• Explicar que os efeitos irão
desaparecer em poucas horas
• Manter o ambiente tranquilo, sem
estímulos
• Obtenção rápida da glicemia e da
temperatura
• Dor precordial (IAM em 3% dos
casos) - ECG (PS)
• Sintomas ansiosos
• Diazepam 10-30mg VO
• Diazepam 10mg IM
Cocaína e Crack - Intoxicação
• Tratamento
• Sintomas psicóticos, agitação e agressividade
• Deve-se optar por uso de BZD - antipsicóticos podem piorar os
sintomas cardiovasculares
• São reservados somente nos casos em que os BZD forem
insuficientes
• Haloperidol 5mg IM
• Paciente em surto deve ser hospitalizado
• Evitar contenção mecânica - aumenta o risco de hipertermia,
rabdomiólise e IRA
Cocaína e Crack - Intoxicação
• Tratamento
• Hipertermia
• Deve ser tratada logo, inclusive com medidas de resfriamento
externo
• Convulsões
• Diazepam 5mg IV
• Hipertensão
• Propranolol pode ser útil para controle da FC e complicações
respiratórias
• Lavagem gástrica nos casos de ingestão VO
Cocaína e Crack - Abstinência
Sinais e Sintomas de Abstinência de Estimulantes
Depressão
Anedonia
Craving
Aumento do apetite
Hipersonolência
Aumento do sono REM
Dores inespecíficas e cefaleia
Tremores e calafrios
Movimentos ivoluntários
Cocaína e Crack - Abstinência
• Tratamento
• Maioria dos sintomas são auto-limitados e necessitam
somente de medicadas suportivas
• Dar prioridade ao uso de BZD de curta duração
• Neurolépticos estão contra-indicados por aumentar o craving
e sintomas disforicos
• Não há abordagem farmacológica capaz de por si só suprimir
os sintomas de abstinência
Obrigado
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