Análise do comportamento aplicada ao esporte e à atividade física: a contribuição do behaviorismo radical CÉLIA REGINA ZAVAREZ BREDA FRANCISCO DE OLIVEIRA JÚNIOR IRACEMA BERCHIOL DA SILVA VIVIANE B. V. FRAZATTO A análise do comportamento aplicada ao esporte pode ser compreendida no âmbito do behaviorismo radical , fundamentado por B. F. Skinner (1974) que diz: o behaviorismo não é a ciência do comportamento, mas, sim, a filosofia dessa ciência. Para Keller (1950), colaborador de Skinner, a ciência do comportamento seria uma abordagem biológica, experimental e sistemática: Biológica porque os princípios básicos foram freqüentemente obtidos por meio de estudos sobre o comportamento animal, sendo aplicados os níveis evolutivos. Experimental porque esses princípios são derivados de estudos de laboratório em que os fatores relevantes são isolados e combinados de forma que se descubra sua regularidade e leis científicas. Sistemática porque a relação entre os lados experimentais é uma das maiores preocupações. Objeto de estudo:o comportamento é um fenômeno passível de mensuração, sujeito a leis na sua manifestação e que necessita de repetidas medidas para que possa ser compreendido. Até o final da década de 60 grande parte das pesquisas referentes à ciência do comportamento estava alocada em laboratórios caracterizando a análise do comportamento como uma prática experimental. Dessa época em diante, muitos estudos saíram do laboratório e os analistas do comportamento começaram a trabalhar com diversas populações humanas, utilizando técnicas, cunhadas experimentalmente. A análise do comportamento aplicada ao esporte traz sua metodologia experimental utilizando-a na mensuração dos comportamentos dos praticantes, técnicos e atletas e suas respectivas variáveis controladoras. Grande parte dos esforços de seus aplicadores visa melhorar a qualidade dos desempenhos esportivos, da interação entre os envolvidos, tornando a prática física mais atraente, mais reforçadora. Martin & Hrycaiko (1983) afirmam que analistas do comportamento tem aplicado princípios comportamentais básicos (reforçamento, extinção) para desenvolver: a) Estratégias de análise de comportamentos em pequenos componentes. Ex: lance livre (basquete) Etapas de intervenção: posicionamento dos pés; flexão dos joelhos; posicionamento dos braços e da bola, arremesso. b) Técnicas instrucionais para desenvolvimento de componentes dos comportamentos. Ex: ¨feedback¨ individual descritivo dos movimentos executados com reforçamento positivo de acertos. c) Estratégias de reforçamento para manutenção de desempenhos desejáveis. Ex: utilização do praticante como modelo de execução dos componentes para outros atletas. d) Técnicas de generalização programada para novos ambientes. Ex: técnicas de generalização de desempenho de treinos para competições. Martin (1983) propõe o treinamento comportamental efetivo referindo-se a consistentes aplicações dos princípios da psicologia comportamental para aumentar e manter comportamentos esportivos. Os programas de treinamento buscam instalar comportamentos específicos, que vão resultar na melhora de desempenho do atleta, em seu esporte. Caso se apresentem questões que fogem ao meio esportivo, o melhor é o encaminhamento para outro profissional, mesmo que estas questões interfiram no rendimento. Por exemplo, se o atleta tem problemas familiares, provavelmente terá seu rendimento esportivo comprometido, no entanto, não é objetivo do psicólogo do esporte trabalhar isto e sim, ensiná-lo a deixar estes problemas fora da quadra e, se necessário, indicar terapia. 1- Enfatiza uma medida detalhada e específica da “performance” atlética e o uso dessas medidas para avaliar a efetividade de técnicas específicas de treino. 2- Reconhece a distinção entre desenvolver um novo comportamento e manter (motivar) um comportamento existente em taxas aceitáveis, e oferece procedimentos para ambos. 3- Encoraja atletas à automonitoração de suas “performances” e a competir mais consigo próprio do que com outros. 4- Encoraja técnicos a usarem procedimentos específicos de modificação do comportamento cuja efetividade tem sido demonstrada experimentalmente em inúmeras outras áreas. 5- Foca o comportamento do técnico, assim como o comportamento do atleta, e encoraja o técnico a continuamente monitorar e avaliar o seu próprio comportamento de treinar. 6- Sugere que os próprios atletas devem aumentar seu envolvimento no estabelecimento de objetivos e na avaliação dos resultados obtidos. Em relação ao esporte, Martin afirma que os trabalhos se concentram em: Desenvolvimento de habilidades, Aumento da frequência de comportamento de práticas (treino), Diminuição de comportamentos-problema em ambientes esportivos, Habilidades de gerenciamento de avaliação e desenvolvimento de comportamento para a utilização de técnicos e preparação para competição. Martin descreve técnicas que visam desenvolver o autogerenciamento e a monitoração de comportamentos pelos próprios atletas, além de relaxamento, prática encoberta, auto-instrução, estabelecimento de objetivos, treino sob condições simuladas e o de “cheklists” acerca da “performance” esportiva. é uma estratégia que pode melhorar o rendimento. os objetivos são definidos através de uma análise de condições ambientais, na qual são estabelecidas relações de contingências. são descritos comportamentos que, se emitidos, provavelmente terão conseqüências reforçadoras. estabelecer metas permite o desenvolvimento de novas estratégias de aprendizagem. ao se fazer um planejamento é fundamental que as metas sejam de curto, médio e longo prazo. Com este processo elas serão realistas e correspondentes à capacidade do sujeito. As metas quando atingidas levam a desafios maiores, tendo como referência o desempenho do atleta e não expectativas externas, como dos pais, treinadores ou torcida. Finalmente, é necessário colocar prazos para atingi-las e novamente, prazos realistas. é uma técnica na qual o atleta treina, através da imaginação. Estudos mostram que, no momento em que se emprega a prática encoberta, há alterações cerebrais, musculares e do sistema nervoso autônomo, muito parecidas com as ocorridas ao fazer o movimento em si, o que justificaria sua utilização. Imaginar, para Skinner (1974) é: "ver algo na ausência da coisa vista, é presumivelmente uma questão de fazer aquilo que se faria quando o que se vê está presente" Nesse sentido, imaginar é um comportamento encoberto que tem a vantagem, segundo Skinner (1974), de poder anular o comportamento e tentar novamente. o sujeito dá uma instrução a si mesmo. os atletas podem, em função de sua história de vida, construir auto-falas relacionadas à tarefa, que tornam seus desempenhos mais eficientes, permitindo construções pessoais. Ex: rápido segundo Martin (1996), a auto-fala pode ser usada também para controlar emoções. Sendo a auto-fala uma regra, o atleta pode fazer uso dela também para resolver problemas e planejar, parar pensamentos negativos, adquirir habilidades esportivas. O emprego da auto-fala, assim como da prática encoberta, é também utilizada para melhorar a concentração, parte fundamental do desempenho. Permite o alívio de tensões musculares inadequadas que podem diminuir o rendimento esportivo. O relaxamento é utilizado para controlar a ativação do sistema nervoso central, eliciada por diferentes estímulos ambientais, uma vez que o corpo se prepara para a ação conforme a situação vivida. O relaxamento permite um maior controle sobre esta ativação, para que o atleta não tenha excesso ou falta de energia para atuar. através do relaxamento, o atleta aprende a discriminar as modificações que ocorrem no seu corpo e a encontrar qual a ativação adequada, a cada situação, para um bom desempenho. A relaxação progressiva de Jacobson é uma técnica bastante utilizada e é indicada para horas antes ou depois da competição. Outras técnicas como controle de respiração, e técnicas de relaxamento rápido, são mais utilizadas durante a competição. Ziegler (1994) descreve um procedimento de treino de atenção vinculado ao passe no futebol. Em uma primeira etapa, os quatro sujeitos passam por um treino de atenção e adaptação ao procedimento em laboratório e, posteriormente, realizam o treinamento em campo. A melhora de ¨performance¨ é avaliada à medida que os sujeitos executam corretamente os passes para um de três jogadores cuja escolha é realizada randomicamente e sem conhecimento prévio do sujeito A avaliação dos procedimentos aplicados é uma etapa muito importante da intervenção porque é por meio de medidas objetivas que se pode saber o quanto as técnicas podem ajudar a resolver problemas.