UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDR A RELIGIOSIDADE CONTEMPORÂNEA E OS DESAFIOS SÓCIO-POLÍTICOS. Prof. Me. Edson Elias de Morais [email protected] Doutorando em Ciências Sociais – UNESP Prof. Assistente do Departamento de Ciências Sociais. Apresentar uma análise acerca da relação entre a religiosidade e sociedade na contemporaneidade, procurando perceber os graus de influência entre ambas. Estimular o debate acerca do papel da(s) religião(ões) na esfera pública no que concernem os atuais debates políticos e civis. Este minicurso tem por objetivo apresentar algumas reflexões acerca da religiosidade evangélica contemporânea a partir da Sociologia da Religião. As fontes e dados empíricos são frutos da Pesquisa e Dissertação de Mestrado defendida em setembro de 2013 no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina. Temos por objetivo, também, apresentar algumas das principais reflexões de Jürgen Habermas acerca do papel da religião no debate político da esfera pública. Habermas propõe uma reflexão acerca da legitimidade e da importância do diálogo entre crentes e não crentes (belivers and nonbelivers) para o avanço da democracia liberal, sendo esta discussão urgente na contemporaneidade, seja no âmbito local ou global, tendo em vista o avanço de formas fundamentalistas em todas as tradições religiosas. Palavras-chave: Sociologia da Religião; Espaço Público; Evangélicos. EMENTA SECULARIZAÇÃO? DESSECULARIZAÇÃO. REENCANTAMENTO. RESSACRALIZAÇÃO. PÓS-SECULARIZAÇÃO Sociedade mágica – sociedade racional – sociedade reencantada. MODERNIDADE X PÓS-MODERNIDADE ESTADO LAICO – SECULARIZADO. Prof. Dr. Lísias Nogueira Negrão (USP). “[...] não obstante a permanência do encantamento no plano das mentalidades, o Brasil é, de fato, secularizado: existe a separação entre Igreja e Estado, a administração realiza-se a partir de códigos legais e órgãos executivos seculares, sem nenhuma influência decisiva por parte de grupos religiosos. A ciência, a tecnologia e o cálculo racional presidem às atividades produtivas” (NEGRÃO, 2005, p. 35). “Creio que esta interpretação de nossa permanência num estado de semi-encantamento e secularização relativa não esteja em desacordo com a teoria weberiana. Desde logo porque desencantamento e secularização são processos que, embora busquem a racionalidade, são reversíveis. Se houve momentos históricos em que tais processos se deram de maneira plena e absoluta – vale lembrar o desenvolvimento inicial do protestantismo ascético e o mundo secularizado contemporâneo de Weber, há também casos de retrocesso, resistências e impasses” (IDEM). A Sociologia Clássica. Religião como uma esfera da realidade social. Karl Marx e Engels. (Materialismo Histórico) Émile Durkheim. (Funcionalismo) Max Weber. (Compreensivismo). Sociologia da Religião no Brasil. Sociologia brasileira (1930) compromissada com desenvolvimento nacional (sociedade moderna, produtiva e científica). Positivista : Moderno X arcaico. / ciência X catolicismo. Sociologia na década de 1950/60. Marxistas críticos da religião. Interesse pelo “exótico”: Religiões Afro-brasileiras e Pentecostalismo. Sociologia da Religião a partir de 1990. Interesse pelo pluralismo religioso e o advento e consolidação do Neopentecostalismo. Institucionalização da Teologia (Cristã e Umbandista) pelo MEC. Teologia X Ciência da Religião. A religião, do ponto de vista sociológico, não pode ser compreendida como um fenômeno monolítico e coeso, mas como um fenômeno social dinâmico e, principalmente, plural, que influencia e é também influenciado pela estrutura sociocultural. Em nosso caso, uma sociedade de classes sociais e interesses hegemônicos da classe dominante, na qual a religião não é isenta destas influências (MORAIS, 2015, p. 37). Segundo Stefano Martelli, a religião para Rudolf Otto “‘não consiste nas suas expressões racionais’, e sim na experiência do sagrado. Para Otto, a essência de qualquer religião é a experiência de uma realidade ‘outra’, que se manifesta na consciência do crente, antes mesmo (tanto em sentido ontológico como filogenético) de ser incorporada nos ritos e nos mitos, e preservada por um grupo de especialistas”. E acrescenta que Otto caracteriza o “numinoso” i.é. divindade, como “Mysterium” (Não manifesto, oculto); “tremendum” (Temor e tremor); “fascinosum” (Fascinante, admirável) (MARTELLI, 2006, p. 2-3). Para Thomas Luckmann a religião “é a capacidade de o organismo humano transcender sua natureza biológica através da construção de universos de significados objetivos, que obrigam moralmente e que tudo abarcam”, caracterizando não apenas como “o fenômeno social”, mas “o fenômeno antropológico por excelência” (BERGER, 2009, p. 183, grifo do autor). No entanto, cabe-nos buscar uma definição, sob a perspectiva sociológica, sem necessariamente nos preocuparmos com a natureza do fenômeno religioso, mas sim, com as funções políticas, isto é, “funções de inclusão e exclusão, de associação e dissociação, de integração e distinção”, como alerta Pierre Bourdieu (2004, p. 30). Para Otto MADURO a Religião é: “Uma estrutura de discursos e práticas comuns a um grupo social referentes a algumas forças (personificadas ou não, múltiplas ou unificadas) tidas pelos crentes como anteriores e superiores ao seu ambiente natural e social, frente às quais os crentes expressam certa dependência (criados, governados, protegidos, ameaçados etc.) e diante das quais se consideram obrigados a um certo comportamento em sociedade com seus “semelhantes” (1983, p. 31). [...] Uma definição sociológica da religião é uma definição da religião enquanto é parte da dinâmica social, influi sobre ela e dela recebe um impacto decisivo. Uma definição sociológica da religião é uma definição da religião como fenômeno social, fenômeno social imerso numa complexa e movimentada rede de relações sociais” (MADURO, 1983, p. 41, Grifos nossos). O Neoliberalismo. Propostas: Contra a Social Democracia. Programa de Privatização das estatais. Desmantelamento dos sindicatos. Flexibilização das leis trabalhistas. Redução dos gastos públicos com políticas sociais. Redução da ação do Estado no controle do Mercado. projeção de uma cidadania individualista (vitorias e fracassos) “A democracia neoliberal não produz cidadãos, mas consumidores, e também não produz comunidades, mas uma sociedade atomizada de pessoas sem compromissos e socialmente impotentes” (Conf. MCCHESNEY, 2010, p. 9). Neopentecostalismo e Neoliberalismo Manifestações paralelas e interdependentes. Período da Ditadura Civil Militar... Movimentos Políticos: Comunismo X Capitalismo. Movimentos Religiosos: Progressistas X Tradicionais. A partir de 1990... Queda do discurso Comunista. Queda da Teologia da Libertação. Avanço do Neoliberalismo. Avanço do Neopentecostalismo. Antônio Gouvêa de Mendonça (1990) (Origens hist. e teologia) Históricos Tradicionais Pentecostais Clássicos Cura divina Históricos Tradicionais Paul Freston (1993) (Histórico institucional) Pentecostais 1 Onda 2 Onda 3 Onda Históricos Tradicionais Pentecostais R. Mariano (1995) (Histórico institucional) Pent. Clássico Deuteropentecostalismo Neopentecostais Históricos Tradicionais José Bittencourt Filho (2003) (Famílias denominacionais) Dissertação (2013) (Religiosidade local) Protest. de Missão. Protest. de Imigração. Pentecostais Pent. Clássico Pent. Autônomo Pent. Neodenominacional Religiosidade Tradicional. Religiosidade Progressista. Religiosidade Pentecostal. Religiosidade Neopentecostal MetaInstitucional. * Neopentecostalismo – “espírito do tempo”. 1991 Brasil Londrina 9% 14% Comparação proporcional de evangélicos Brasil 35% 2000 15% 21% 30% 2010 22,16%. 30% 20% 30% 25% 22.16% 21% 15% 14% 15% 9% 10% Templos evangélicos Londrina 5% 0% 1991 2000 2010 Fonte: Projeto Brasil 2010 - Sepal 2000 - 412 2010 - 700 Proporção entre evangélicos e católicos 30% EVANGÉLICO 2010 Total população nacional – 190.755.799 Total população londrinense – 506.701 24% 22.16% Londrina 63% CATÓLICO Curitiba 62% Brasil 64% 0% 10% FONTE: IBGE – Dados 2010 20% 30% 40% 50% 60% 70% Templo Central. Fundada em 1937. Localizado à Rua Benjamim Constant, 1647. O templo comporta aproximadamente 600 pessoas. Possui cerca de 3.500 membros. CENTRO DE ADORAÇÃO. Localizado à Rua João XXIII, 401. Templo comporta cerca de 900 pessoas. Terreno de 32 mil m². Adquirido em 1998 por 800 mil Reais. Templo Central. Fundada em 1944 na cidade de Londrina. Localizada à Rua São Vicente, 168. Templo comporta 1500 pessoas. Cerca de 2 mil membros. 56 congregações, totalizando cerca de 8.500 membros. Fundada em 1963. Localizada à Rua Cuiabá, 48. Templo comporta 2400 pessoas. 3300 membros. Fundada no final da década de 1980 Localizado à Rua Benjamim Constant, 1488. Templo comporta 1400 pessoas. Em média 800 a 1000 fiéis. *Fonte das fotos: Sítios eletrônicos das próprias igrejas. 1 – Os Sermões e o status quo. Legitimidade do discurso – Reprodução ou rompimento com o status quo. Tônica: “Espiritualidade”, “Vida Cristã”. Problemas cotidianos Individuais (GENÉRICOS). Deus | Diabo Características: Padrão moral e bons costumes Esperança Individualismo Obediência Família de Deus Paternidade espiritual Pertencimento. Poder e dominação Política conservadora Combate à agenda progressista Medo e esperança Ideologia Resignação Resiliência 2 – Unidade na pluralidade sob a perspectiva neopentecostal. Trânsito Religioso e Competição Mercado de bens simbólicos Adaptação de discurso Flexibilização liturgia|doutrina Religiosidade contemplativa, individualizada, maniqueísta, utilitária. Religiosidade influenciada pelo movimento neopentecostal. Religiosidade neopentecostal meta-institucional Exaurimento das tipologias clássicas É possível observar traços, fragmentos, misturas, combinações entre o novo e o velho e entre diferentes. Uma bricolagem que se configura em nova religiosidade. Religiosidade sem fronteiras e sem barreiras Religiosidade fragmentada que permite cortes, adaptações, colagens em tradições historicamente estabelecidas. 3 – Mercado e religião. Críticas contra a IURD – Venda de bens Simbólicos. | 5 min. R$ 950,00. Sacrifício e o obediência Pastores – discurso ambivalente sobre consumo religioso > Empresas. Público evangélico altamente consumidor Organizações Globo – Som Livre|GEO Eventos. Expocristã em 2006 – R$ 50 Milhões. Comércio de bens religiosos 2012 – R$ 12 Bilhões. Os evangélicos mantêm relação com o mercado não somente pelo consumo direto, mas também pela via do discurso do ideário da livre concorrência e da ausência de críticas ao sistema econômico, político e social capitalista. Processo de interdependência entre o mercado e a religião A Igreja precisa cada vez mais da lógica, dos instrumentos, e dos recursos do mercado. O mercado precisa cada vez mais de cidadãos não contestadores, bons pagadores e de pastores que ensinam que os problemas políticos e sociais são obras de Satanás. Jürgen Habermas e a Teoria Crítica. * Paradigma do desaparecimento. * Paradigma da privatização. * Paradigma da publicização. - Conflito Razão científica X Fé e moral religiosa. - Ação comunicacional – Crentes e não-crentes. “Tão logo uma questão existencialmente relevante vá para a agenda política, os cidadãos – tanto crentes como não crentes – entram em colisão com suas convicções impregnadas de visões de mundo e, à medida que trabalham as agudas dissonâncias desse conflito público de opiniões, têm a experiência do fato chocante do pluralismo das visões de mundo. Quando aprendem a lidar pacificamente com esse fato na consciência de sua própria falibilidade – sem rasgar, portanto, o laço de uma comunidade política –, eles reconhecem o que significam, em uma sociedade pós-secular, as condições seculares da tomada de decisões, estabelecidas pela Constituição” (HABERMAS, 2013, p. 7, grifo nosso). - Esfera pública formal. - Esfera pública informal. - Fé moderna X Fé pré-moderna. - “autoconsciência” X “exclusivismo” Estas reflexões nos levam a ponderar sobre os modelos de fé que tem se manifestado frente às demandas públicas contemporâneas. Assim, podemos analisar os tipos e formas de reivindicações dos diferentes grupos religiosos na esfera pública formal e informal e seus compromissos com o saber científico, com o pluralismo de visões de mundo e com a autocrítica. Ou se estão sob um modelo de fé fundamentalista que reivindica a exclusividade da fé e que impõe uma luta implacável contra os infiéis e contra formas de visão de mundo diferentes, negando assim, a pluralidade que caracteriza as sociedades contemporâneas. Esta última forma de fé e religião é um risco para a democracia, pois sua existência pressupõe a negação de outras formas de visão de mundo, que devem ser garantidas e protegidas pelo Estado laico e secularizado. ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos. São Paulo: Paulus, 1999. ANDERSON, Perry. Balanço do neoliberalismo. In: SADER, Emir; GENTILI, Pablo (Org.) Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995, pp. 09-23. ARAUJO, Luiz Bernardo Leite. Pluralismo e justiça: estudos sobre Habermas. São Paulo: Edições Loyola, 2010. ARAUJO. Luiz Bernardo Leite. Religião e modernidade em Habermas. São Paulo: Edições Loyola, 1996. BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1998. BERGER, Peter. A dessecularização do mundo: uma visão global. Religião e sociedade. V.21, n.1, pp9-23, 2000. BITTENCOURT FILHO, José. Matriz Religiosa Brasileira: religiosidade e mudança social. Petrópolis: Vozes; Petrópolis: Koinonia, 2003. BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 7. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. Coleção Estudos, 20, 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004. DELACAMPAGNE, Christian. Filosofia Política hoje: Ideia, debates, questões. Rio de Janeiro: Zahar Ed. 2001. HABERMAS, Jürgen. Entre naturalismo e religião: estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007.HABERMAS, Jürgen. Era das transições. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. HABERMAS, Jürgen. Fé e Saber. São Paulo: Editora Unesp, 2013. HERVIEU-LÉGER, Danièle; WILLAIME, Jean-Paul. Sociologia e Religião: Abordagens Clássicas. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2009. MADURO, Otto. 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