CONHECENDO MELHOR O SEU CÉREBRO Pode acreditar. A fé é um grande aliado da saúde. Você pode salvar este artigo no seu computador e enviar para amigos POR DR. RICARDO A. TEIXEIRA A lguns enxergam a religiosidade simplesmente como uma forma de controle social, algo maior vigiando o comportamento humano. Outra forma de entendê-la é pensar que a evolução da espécie humana favoreceu a experiência religiosa como um mecanismo que ajuda a manter comunidades unidas e também a promover um melhor auto-controle mental. A princípio, quando uma meta é encarada como sagrada, o indivíduo teria maior tendência em se esforçar para alcançá-la. Mais do que isso, o sagrado abastece a mente humana no desafio de pensar sobre a vida e a morte, e em tempos mais remotos, era fundamental para o entendimento dos sonhos e fenômenos da natureza. Marx, Freud, Weber, entre tantos outros, do neurotransmissor dopamina, os mesmos defenderam a idéia de que a modernidade circuitos que são considerados disfuncionais reduziria a influência das crenças religiosas em transtornos neuropsiquiátricos em que a na sociedade. No Brasil, nos últimos 20 anos, hiperreligiosidade faz parte do quadro clínico, houve um discreto aumento na porcentagem como é o caso da epilepsia do lobo temporal, de brasileiros que dizem não ter uma religião: esquizofrenia, mania e transtorno obsessivo- em 1991 essa cifra era de 4.75% e em 2009 compulsivo. Sistemas cerebrais da serotonina passou para 6.7%. Entretanto, é notório que também parecem estar implicados, já que a humanidade continua com altos índices de drogas que têm influência sobre eles são religiosidade. facilitadoras da experiência religiosa. Entre essas drogas podemos citar o LSD, mescalina, A religiosidade tem seu lugar no cérebro? ecstasy, e o chá de Ayahuasca utilizado pelo A neurociência tem demonstrado que a Santo Daime e União do Vegetal. experiência religiosa estimula circuitos cerebrais CONHECENDO MELHOR O SEU CÉREBRO Quando pensamos na influência da fé na pessoas socialmente integradas têm menos evolução de problemas de saúde, vale a pena chance de adoecer, e quando doentes, a rede refletir sobre o poder do efeito placebo. A origem social é uma das principais fontes de apoio. do termo é o verbo placere do latim que significa Esse pode ser um dos principais fatores que AGRADAREI. A simples expectativa positiva explicam resultados de maior longevidade entre de que um tratamento pode nos fazer bem já as pessoas com maior religiosidade. Assume- é capaz de provocar mudanças fisiológicas se também que essas pessoas têm a tendência em nosso corpo, e esse é o chamado efeito a apresentar hábitos de vida mais saudáveis. placebo. Pessoas que apresentam boa resposta ao placebo apresentam circuitos cerebrais de Entretanto, as crenças religiosas nem sempre dopamina com maiores concentrações desse estão a favor da saúde do paciente, já que neurotransmissor. Também há evidências podem em alguns casos dificultar a aderência de que as concentrações dos opióides ao tratamento com idéias do tipo: esse é o endógenos e de serotonina são influenciadas desejo de Deus; Deus me abandonou; esse é pela expectativa positiva. Isso tudo pode ter o meu destino; esse é o meu castigo; etc. Em repercussões sobre o sistema imunológico situações como essas, é bem razoável que a e favorecer a evolução de uma condição de equipe de saúde esteja minimamente preparada saúde. Se uma pílula de farinha já é capaz para abordar dimensões religiosas / espirituais de provocar esses efeitos, podemos tentar do paciente e assim aumentar a aderência e imaginar o que a prece ou um ritual religioso sucesso do tratamento. pode promover. Esse é um modelo que a ciência tem para explicar os efeitos da fé sobre a A abordagem da religiosidade de um paciente mente e o corpo. Isso não quer dizer que outros não precisa ser um bicho de sete cabeças. mecanismos ainda intangíveis não possam ser Algumas doenças podem ter um efeito descritos no futuro. devastador na vida de um paciente e suas famílias, especialmente no caso do câncer e de A religiosidade faz bem mesmo à saúde? Já doenças degenerativas e progressivas como a temos um razoável corpo de evidências que Doença de Alzheimer. Perguntas comuns nessas indivíduos com uma maior vivência religiosa situações como Por que comigo? Por que com / espiritual têm uma maior capacidade de meu filho? Por que isso tudo? dão-nos uma pista lidar com o estresse emocional, uma melhor de que, além dos cuidados físicos, cognitivos saúde mental de forma geral e, em situações e emocionais, uma janela preciosa na relação de doença, cooperam mais com o tratamento. entre a equipe de saúde e o paciente e seus Além disso, o envolvimento com uma familiares pode estar se abrindo: a dimensão comunidade religiosa está associado a uma espiritual. maior rede social, e há tempos sabemos que Confira outros artigos acessando nosso site www.icbneuro.com.br SHLS 716 - Centro Clínico Sul - Torre II - 2º Andar - Sala 207 • 61 3346-5383 — 3346-9102 CONHECENDO MELHOR O SEU CÉREBRO Estudos revelam que mais de 90% dos médicos acreditam que a religiosidade dos pacientes deve ser considerada. Entretanto, apenas 30% dos médicos acreditam que isso deve ser efetivamente abordado, e só 10% adotam essa prática, mesmo entre pacientes terminais. Por outro lado, sabemos também que são bastante ruins os indicadores que medem a satisfação de pacientes quanto ao cuidado dispensado pela equipe de saúde aos seus aspectos emocionais e espirituais. As pessoas com maior religiosidade são mais felizes? Já é bem reconhecido que a percepção do quanto nos sentimos felizes é influenciada pelo quanto exercitamos algumas dimensões de nossa experiência humana como a gratidão, gentileza, altruísmo e otimismo. Difícil discordar que a prática religiosa seja uma inestimável ferramenta para exercitar essas virtudes. Além disso, a dedicação a algo maior do que si próprio, a sensação de significado na vida e de fazer parte do todo, são condições que estão associadas à auto-percepção de felicidade e, mais uma vez, a religiosidade é uma das principais formas para se vivenciar essas experiências. Out 2011 Confira outros artigos acessando nosso site www.icbneuro.com.br SHLS 716 - Centro Clínico Sul - Torre II - 2º Andar - Sala 207 • 61 3346-5383 — 3346-9102