TRANSTORNOS DO HUMOR MAIORES CAUSAS DE INCAPACITAÇÃO NO MUNDO (OMS 1990 Murray e cols. 1996) AVI = anos vividos com uma incapacitação: Uma variável que considera: Prevalência da doença Idade média de início da doença Gravidade da doença Conseqüências da doença, tratada ou não % de pessoas que permaneceram sem tratamento Tempo de incapacitação da pessoa ao longo da vida 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Depressão Unipolar Anemia Ferropriva Quedas Alcoolismo DPOC Transtorno Bipolar do Humor Anomalias Congênitas Osteoartrose Esquizofrenia TOC 10,7% 4,7% 4,6% 3,3% 3,1% 3,0% 2,9% 2,8% 2,6% 2,2% Classificação Existem diferentes classificações para os distúrbios depressivos, baseados nos seguintes parâmetros: 1. Pela causa: diferenciando a depressão em Reativa – aparecendo como uma reação ao estresse externo, como a desolação, separação ou perda de ocupação Endógena – quando os sintomas independem de causas externas Primária – a depressão por si só é o problema fundamental, ao invés de resultante de uma condição pré-existente Secundária – causada por outra doença psiquiátrica ou física ou por abuso de medicação ou drogas 2. Pelos sintomas Neurótica – geralmente decorrente acontecimento aflitivo. Alucinações ou estão raramente presentes. de um delírios Psicótica – um distúrbio recorrente acompanhado por severas alterações do humor, incluindo alucinações e delírios e frequentemente complicada por uma forte tendência ao suicídio 3. Pelo curso – descrita como Bipolar – episódios alternados ou simultânea de mania e depressão Unipolar – quando a depressão ocorre isoladamente, sem episódios associados de mania A severidade da depressão pode ser definida como leve, moderada ou severa; depressão maior ou menor também são termos usados para descrever a severidade. Estes termos podem ser aplicados a qualquer das classificações acima. QUADRO I – Transtornos do humor pelo CID-10 (Códigos F30-39) F30 Episódio Maníaco F31 Transtorno Afetivo Bipolar F32 Episódio Depressivo F33 Transtorno Depressivo Recorrente F34 Transtornos Persistentes do Humor F38 Outros Transtornos do Humor F39 Transtorno do Humor Não Especificado Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Episódios Depressivos (F32) Os episódios depressivos típicos, nos três níveis de gravidade (leve, moderado e grave), caracterizam-se pelos seguintes sintomas: - humor deprimido; - perda de interesse e prazer; - energia reduzida levando a uma fatigabilidade aumentada; - atividade diminuída, - visões desoladas e pessimistas do futuro; - idéias de culpa e inutilidade; - sono perturbado; - apetite diminuído. Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Mania (F30) O humor está desproporcionalmente elevado em relação às circunstâncias do individuo e pode variar de uma jovialidade despreocupada a uma excitação quase incontrolável. Há aumento de energia, com hiperatividade, logorréia e diminuição da necessidade de sono. Inibições sociais normais são perdidas. A atenção não pode ser mantida. A auto-estima está inflada e grandiosidade ou idéias superotimistas são livremente expressas. Podem ocorrer sintomas psicóticos Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Distimia (F34.1) Depressão do humor muito duradoura. Começa no início da vida adulta e dura vários vezes indefinidamente. Os sintomas não são tão graves como depressivo. em anos, às episódio Os pacientes se preocupam e se queixam, dormem mal e sentem-se inadequados, mas são capazes de lidar com as exigências básicas do dia-a-dia. Diretrizes Diagnósticas da CID-10 para Ciclotimia (F34.0) Instabilidade persistente do humor, envolvendo numerosos períodos de depressão e elação leves. Podem ocorrer períodos intercalados de humor normal e estável. Começa no início da vida adulta e segue um curso crônico. As oscilações do humor são usualmente percebidas pelo indivíduo como não relacionadas aos eventos de vida. Transtornos do humor pelo DSM-IV Transtornos Depressivos -Transtorno Depressivo Maior Episódio Único Recorrente - Transtorno Distímico - Transtorno Depressivo SOE Transtornos Bipolares - Transtorno Bipolar I Episódio único Maníaco Episódio mais recente Hipomaníaco Episódio mais recente Misto Episódio mais recente Depressivo Episódio mais recente SOE - Transtorno Bipolar II Episódio Atual ou mais recente HipomaníacoDepressivo - Transtorno Ciclotímico - Transtorno Bipolar SOE Outros Transtornos do Humor - TH Devido a uma Condição Médica Geral - TH Induzido por Substâncias - TH SOE Critérios para o Diagnóstico de Transtorno Depressivo Maior (DSM IV) Critérios obrigatórios Critérios opcionais (pelo menos 3) Humor deprimido Alteração do apetite/peso Perda de Interesse ou prazer Insônia ou hipersonia Agitação ou retardo psicomotor Fadiga; perda de energia Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada Dificuldade de concentração Ideação suicida REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA DEPRESSÃO UNIPOLAR E BIPOLAR Bipolar Estado Mental Maníaco “Normal” Depressivo Tempo Unipolar “Normal” Neurotransmissores e Depressão Sintomas com maior componente serotoninérgico . Agitação Sintomas com componentes serotoninérgico e noradrenérgico Humor deprimido Sintomas com maior componente noradrenérgico Redução da concentração Alteração do apetite Anedonia Retardo psicomotor Redução da libido Insônia ou hipersonia Perda de energia Ideação suicida Sentimento de culpa ou inutilidade Lassidão Irritabilidade Ansiedade Fadiga Diagnóstico diferencial da depressão 1. Luto 2. Condições médicas e medicamentos (sem síndrome depressiva) 3. Transtornos do Humor T. Depressivos (depressão maior, distimia e depressão sem outra especificação) T. Bipolares (Bipolar I, Bipolar II, ciclotimia, bipolar sem outra especificação) Outros transtornos do Humor - Decorrente da condição médica geral - Decorrente do uso de substâncias 4. Outros Transtornos Mentais - Delirium - Demência - Relacionados ao álcool - Transtorno esquizoafetivo - Esquizofrenia - Transtornos de ansiedade - Transtornos somatoformes - Transtornos alimentares - Transtornos de ajustamento Doenças e Medicamentos que podem Causar Depressão Doenças Neurológicas Doença cerebrovascular Tumores frontais Epilepsia (principalmente de lobo temporal) Doença de Huntington Doença de Parkinson Doença de Alzheimer Paralisia Supranuclear Progressiva Hemorragia Subaracnóide Endocrinopatias Hiper e Hipotireoidismo Síndrome de Cushing Diabetes Mellitus Doença de Addison Hiperparatireoidismo Hipopituitarismo Neoplasias Carcinoma de pâncreas Carcinoma de pulmão Carcinoma de útero Tumores do SNC Doenças Infecciosas AIDS Encefalite Gripe Hepatite Mononucleose Pneumonia viral Sífilis terciária Outras Doenças Alcoolismo Anemia Dor Crônica Infarto Agudo do miocárdio Insuficiência renal crônica Intoxicação por metais pesados Lúpus erimatoso sistêmico Medicamentos Anti-hipertensivos (reserpina, metildopa, diuréticos) Antiinflamatórios não-esteróides Benzodiazepinas Betabloqueadores (especialmente propanolol) Cimetidina Contraceptivos orais Corticosteróides Desequilíbrio eletrolítico Levodopa Doenças e Medicamentos que podem Causar Mania Doenças Neurológicas Epilepsia (especialmente do lobo temporal esquerdo) Traumatismo craniano Esclerose múltipla AVC (especialmente hemisfério direito e tálamo) Endocrinopatias Hipertireoidismo Síndrome de Cushing Doença de Addison Neoplasias Gliomas Meningiomas Metástases talâmicas Doenças Infecciosas Criptococose Encefalite Gripe Sífilis terciária Outras Doenças Alcoolismo Anemia Hemodiálise Encefalopatia hepática, fase inicial Doença de Wilson Medicamentos Álcool Alprazolam Anfetaminas Captopril Corticosteróides Alucinógenos Isoniazida Levodopa Simpaticomiméticos GRUPOS DE ANTIDEPRESSIVOS DISPONIVEIS NO MERCADO BRASILEIRO, FORMAS DE APRESENTAÇÃO (VIA ORAL) E FAIXAS DE DOSES TERAPÊUTICAS Nomes Genérico Apresentação (mg) Faixa de doses Terapêuticas (mg/dia) Comercial Tricíclicos Imipramina Amitriptilina Clorimipramina Nortriptilina Tofranil 10:25 Tofranil Palmoato 75:150 Tryptanol 25 Anafranil 10:25 (A) Anafranil SR 75 Pamelor 10:25:50:75 75-300 75-300 75-300 75-300 75-300 50-150 Nomes Genérico Apresentação (mg) Comercial Faixa de doses Terapêuticas (mg) Inibidores de Recaptação Fluoxetina Paroxetina Sertralina Prozac Aropax Zoloft 20 20 50 20-80 20-50 50-200 10 100:150 20-80 300-600 Inibidores da MAO Tranilcipromina Moclobemida Parnate Aurorix Sais de Lítio Carbonato de lítio Carbolitium Carbolim 300/450 300 -* -* LITEMIA IDEAL mEq/l Fase aguda ...................................... 0,8 – 1,4 Fase profilática................................ 0,6 – 1,0 Faixa ideal de litemia com amostra de sangue colhida 12 horas após a última tomada, a partir do 10º dia de tratamento. LITEMIA (mEq/l) Quadro Clínico – Toxicidade 1,5 a 2,5 mEq/l 2,5 a 3,5 mEq/l > 3,0 mEq/l Sintomas de náusea, tremores finos e diarréia. Anorexia, vômito, diarréia, reação distônica. sedação excessiva, ataxia, polidipsia, poliúria. Intoxicação grave, coma e morte. Níveis elevados de litemia, acima de 1,5 mEq/l podem conduzir a quadros de intolerância e intoxicação desde leve a grave. ANTICONVULSIVANTES UTILIZADOS COMO ESTABILIZADORES DO HUMOR NOME DOSE Carbamazepina 300-1600mg/dia Oxacarbamazepina 900-2.400mg/dia Clonazepan 4-84mg/dia Lamotrigina 150-250mg/dia Gabapentina Valproato 900-1.800mg/dia 700-3.000mg/dia Topiramato 50-600mg/dia PRINCIPAIS EFEITOS COLATERAIS Tonturas, sonolência, ataxia, visão borrada, diplopia, cefaléia, tremores, boca seca, náuseas, constipação, febre e parestesias. Cansaço, cefaléia, sonolência e vertigens. Dose dependente: ataxia, tontura, sonolência, fadiga, sialorréia. Ataxia,cefaléia, diplopia, distúrbios gastrointestinais, rash cutâneo (macopapular), sonolência, tontura. Ataxia, fadiga, sedação, tontura. Desconforto do TGI, náuseas, ganho ou perda de peso, elevação das transaminases, distúrbios menstruais e agranulocitose. Ataxia, déficit cognitivo, sonolência, tontura, diarréia, parestesias, náuseas e emagrecimento. CRITÉRIOS PARA INDCAÇÃO DE ECT COMO TRATAMENTO DE PRIMEIRA ESCOLHA Quando: 1. Há necessidade de uma melhora rápida e consistente, seja por complicações clínicas ou psiquiátricas. 2. Os riscos de outros tratamentos são maiores do que os riscos da ECT. 3. Existe uma história prévia de resposta pobre à drogas o ou boa resposta à ECT em episódios anteriores à doença. 4. O paciente prefere esse tipo de tratamento. CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO DE ECT COMO TRATAMENTO DE SEGUNDA ESCOLHA Quando, na vigência do uso adequado de psicofármacos quanto à dose e ao tempo de duração, ocorrer: 1. 2. 3. Ausência de resposta terapêutica adequada. Efeitos colaterais graves inevitáveis ou maiores do que aqueles que podem ser provocados pela ECT. Deterioração do quadro clínicopsiquiátrico. CONDIÇÕES PARA AS QUAIS A ECT É EFETIVA 1. Transtorno depressivo maior: especialmente em quadros com extrema lentificação do pensamento e da ação, acompanhado de queixas físicas, alucinações e delírios (melancolia), elevado risco de suicídio e refratariedade ao tratamento farmacológico. 2. Episódios maníacos: pacientes com resposta pobre aos psicofármacos (comumente os cicladores rápidos), quando há riscos de suicídio, de homicídio ou de morte do paciente por exaustão física. 3. Transtorno esquizofrênicos: principalmente na catatonia (excitação ou estupor), em episódios com sintomas afetivos proeminentes e nos primeiros surtos agudos de quadros esquizofrênicos paranóides. 4. Psicose atípicas e reativas: em psicose puerperais em quadros reativos prolongados e resistentes a tratamentos convencionais. Algoritmo de tratamento da depressão bipolar LEVE OU MODERADA Estabilizador do Humor (EH) Isoladamente EH + Antidepressivo GRAVE EH + Antidepressivo Eletroconvulsoterapia (ECT) PSICÓTICA EH+ Antidepressivo + Antipsicótico ECT Efeitos colaterais dos antidepressivos Droga tricíclicos ISRS* venlafaxina nefazodone mirtazapina bupropiona Efeitos colaterais mais freqüentes boca seca, obstipação, tontura, tremores, náusea, sedação, sudorese, retenção urinária, visão turva, ganho de peso náusea, diarréia, agitação, cefaléia, insônia, anorexia, disfunção sexual náusea, sonolência, tontura, boca seca, sudorese sonolência, náusea, tontura, boca seca sonolência, fadiga, boca seca, obstipação, tremor, visão turva, diminuição do apetite agitação, convulsões com doses elevadas *ISRS = inibidores seletivos de recaptação da serotonina. Curso esquemático de um episódio de depressão maior. Seis resultados são possíveis: resposta, remissão, recidiva, recuperação, recorrência e refratariedade? Progressão da doença Remissão Recuperação Recidiva Resposta Recorrência Normalidade Depressão Refratariedade Aguda Continuação Fases do tratamento Manutenção Fatores que dificultam o diagnóstico do transtorno depressivo no contexto médico Tendência a tratar sintomas depressivos como reações normais à condição médica Presença de sintomas físicos do transtorno depressivo que são tratados como sintomas das condições médicas: diminuição do apetite emagrecimento dores falta de energia cansaço alterações do sono presença de irritabilidade e não de tristeza lentidão psicomotora Sintomas que fortalecem o diagnóstico de depressão Piora matinal Humor não-reativo Humor qualitativamente diferente Incapacidade de sentir prazer Despertar precoce Perda de interesse por pessoas Culpa excessiva Ideação suicida Tratamento do episódio agudo Tipo de tratamento Antidepressivos Eficácia Ensaios clínicos mostram que vários antidepressivos são eficazes. Comentários É importante tratar com dose adequada e por tempo suficiente. A resposta pode levar de 6 a 12 semanas (mais tempo que em jovens). Efeitos colaterais podem limitar o uso dos medicamentos. Tratamento do episódio agudo Tipo de tratamento Eficácia Psicoestimulantes Eficazes a curto prazo; agem mais rapidamente. Há poucos estudos controlados. Respondedores passam para antidepressivos a longo prazo. Comentários Utilizados particularmente em pacientes com complicações médicas nos quais o risco de uso de outros antidepressivos seja grande, ou quando é preciso uma resposta rápida. Tratamento do episódio agudo Tipo de tratamento Eficácia Combinação Mais eficaz em antidepressivos + quadros de antipsicóticos depressão com delírio ou agitação grave. ECT é mais eficaz! Comentários Tratamento do episódio agudo Tipo de tratamento Aumento antidepressivos + Li, + T3/4, Eficácia Para pacientes não-respondedores ao tratamento padrão. Eficácia é baseada em descrições de caso. Comentários Útil para paciente que não responderam ou responderam parcialmente aos antidepressivos-padrão carbamazepina. Tratamento do episódio agudo Tipo de tratamento ECT Eficácia Eficaz para casos graves, depressão melancólica ou com delírios. Às vezes, é utilizado em combinação com antidepressivos. Comentários Em pacientes resistentes à medicação. Resposta aguda é de aproximadamente 50%. A taxa de recaída é elevada e é preciso manutenção com antidepressivos. Efeito favorável com envelhecimento. Tratamento do episódio agudo Tipo de tratamento Psicoterapia Eficácia Mais eficaz do que lista de espera/placebo. Em alguns estudos consta eficácia equivalente às medicações. Terapia de linha cognitivocomportamental parecem eficazes. Comentários Estudos realizados com pacientes idosos ambulatoriais e com depressão não muito intensa. Não há evidência de que a psicoterapia seja eficaz em casos graves. Tratamento do episódio agudo Tipo de tratamento Combinação antidepressivos + psicoterapia Eficácia Eficaz em pacientes ambulatoriais. Baseada em Schneider & Olint, 1995. Comentários Não foi adequadamente avaliada em idosos.