INTRODUÇÃO A FILOSOFIA Aula 02 Professora Edna Ferraresi 1 HELENISMO • A partir do ano 350 a.C., uma nova civilização começou a ascender politicamente e militarmente no Mundo Antigo. A Macedônia, sob o domínio do rei Felipe II, iniciou um processo de expansão territorial que rompeu com a hegemonia do mundo grego. • Sendo educado pelo filósofo grego Aristóteles, Alexandre entrou em contato com o conjunto de valores da cultura grega. Além disso, suas incursões pelo Oriente também o colocou em contato com outras culturas. Simpático ao conhecimento dessas diferentes culturas, o imperador Alexandre agiu de forma a mesclar valores ocidentais e orientais. É desse intercâmbio que temos definida a cultura helenística O helenismo foi marcado pelo rompimento de fronteiras entre países e culturas. Quanto à religião houve uma espécie de sincretismo; na ciência, a mistura de diferentes experiências culturais; e a filosofia dos pré-socráticos e de Sócrates, Platão e Aristóteles serviu como fonte de inspiração para diferentes correntes filosóficas as quais veremos algumas agora. PERÍODO HELENISTA Século IV a.C. ascensão de Alexandre. Império Macedônico Fim definitivo da Polis (Fim da política). 1. Fim da Esfera Pública 2. Fim da Democracia (Estado de Direito e Soberania Popular) 3. Tirania Absoluta Consequências na Esfera Intelectual .Fim das grandes especulações teóricas Fim da polis como referência; Filosofia como auto-ajuda e consolação; Acaba a política e a esfera pública e assim o combustível da filosofia, que era os debates em praça publica, e assim a filosofia deixa de construir grandes especulações teóricas. A Filosofia se volta para a ética da arte de viver. O Cosmopolitismo Helênico O ideal da Pólis é substituído pelo ideal cosmopolita (o mundo inteiro é uma pólis), e o homem-citadino é substituído pelo homem-indivíduo; a contraposição grego e bárbaro em larga medida é superada pela concepção homem em uma dimensão de igualitarismo universal. Compreendemos porque todas as filosofias então elaboradas, com exceção da socrática, arriscaram tornar-se desatualizadas e superadas pelos tempos. Surgiu assim a exigências de novas filosofias mais eficazes do ponto de vista prático que ajudassem a enfrentar os novos acontecimentos e a inversão dos antigos valores aos quais estavam estreitamente ligadas. De tal modo, que cultura helênica, difundiu-se em vários lugares, tornou-se cultura helenística, e o centro da cultura passou de Atenas para Alexandria. Como expressões das novas exigências impuseramse as filosofias Cínica, Epicurista, Estóica e Cética, enquanto o platonismo e o aristotelismo caíram em grande medida em esquecimento. A Cultura Helenística A cultura helenística resultou da fusão da cultura grega com a cultura oriental, promovida pela expansão do império Macedônico com Alexandre Magno. A Grécia não era mais o centro cultural do mundo. Os principais centros da cultura helenística foram Alexandria, no Egito, Antioquia, na Turquia, e Pérgamo, na Ásia Menor. As principais contribuições para a formação do mundo ocidental ocorreram: Artes: se a arte grega caracteriza-se pelo equilíbrio, pela leveza e pelo humanismo, as artes helenísticas perderam aquelas características e passaram a ser dominadas pelo realismo exagerado e pelo sensacionalismo. Os artistas helenísticos não se preocupavam com o belo, mas sim com o grandioso e luxuoso. Farol de Alexandria Grande Altar de Zeus Vênus de Milo Vitória de Samotrácia Ciências Os conhecimentos científicos alcançaram tal nível de desenvolvimento, principalmente no campo da astronomia e da matemática, que fizeram com que as ciências helenísticas fossem as mais desenvolvidas da História, durante várias séculos. Os grandes nomes deste período foram: – Euclides: que desenvolveu de maneira extraordinária os conhecimentos de geometria; – Arquimedes: descobridor da lei da alavanca e da hidrostática. Inventou o parafuso tubular para bombear água, a hélice, as lentes convexas e criou um planetário. Para defender sua cidade, cercada pelos romanos, construiu máquinas poderosas como catapultas, que atiravam pedras enormes sobre os inimigos; com um sistema de espelhos, que concentrava os raios solares, conseguiu incendiar vários navios romanos; Após a morte de Alexandre, aos 33 anos, o império foi dividido em 3 grandes reinos: O da Síria ou Ásia Ocidental, que abrangia a Síria, a Ásia Menor e a Mesopotâmia; O reino do Egito, que compreendia além do Egito, a Arábia e parte da Palestina; O reino da Macedônia, que englobava a Grécia. Entre os séculos II e I a.C, todos esses grandes reinos e outros menores foram conquistados pelos romanos. Os Cínicos A filosofia cínica foi fundada em Atenas por Antístenes (discípulo de Sócrates) por volta de 400 a.C. Os cínicos diziam que a felicidade podia ser alcançada por todos, pois ela não consistia em luxúria, poder político ou boa saúde e sim em se libertar disto tudo. Achavam que as pessoas não deviam se preocupar com o sofrimento (próprio ou alheio) nem com a morte. O principal representante desta corrente filosófica foi Diógenes (discípulo de Antístenes). Antístenes Conta-se que, um dia, Sócrates parou diante de uma tenda do mercado em que estavam expostas diversas mercadorias. Depois de algum tempo, ele exclamou: “Vejam quantas coisas o ateniense precisa para viver!”. Naturalmente ele queria dizer com isto que ele próprio não precisava de nada daquilo. Esta postura de Sócrates foi o ponto de partida para a filosofia cínica, fundada em Atenas por Antístenes – um discípulo de Sócrates -, por volta de 400 a.C. Os cínicos diziam que a verdadeira felicidade não depende de fatores externos como o luxo, o poder político e a boa saúde. Para eles, a verdadeira felicidade consistia em se libertar dessas coisas casuais e efêmeras. E justamente porque a felicidade não estava nessas coisas ela podia ser alcançada por todos. E, uma vez alcançada, não podia mais ser perdida. O cínico mais importante foi Diógenes. Conta-se que ele vivia dentro de um barril e não possuía mais do que uma túnica, um cajado e um embornal de pão. Um dia, quando estava sentado ao sol junto ao seu barril, recebeu a visita de Alexandre Magno. Alexandre aproximou-se do sábio, perguntou-lhe se ele tinha algum desejo e disse-lhe que, caso tivesse, seu desejo seria imediatamente satisfeito. Ao que Diógenes respondeu: “Sim, desejo que te afastes da frente do meu sol”. Com isto Diógenes mostrou que era mais rico e mais feliz que o grande conquistador. Ele tinha tudo o que desejava. Os cínicos achavam que as pessoas não precisavam se preocupar com a saúde, nem mesmo com o sofrimento e com a morte. E elas também não deveriam se atormentar com o sofrimento dos outros. Hoje em dia, quando empregamos as palavras “cínico” e “cinismo” estamos nos referindo, na maioria das vezes, a apenas este aspecto: o da impudência, da insensibilidade ao sentir e ao sofrer$ do outro. Diógenes EPICURISMO O Epicurismo surge nos arredores de Atenas. Era uma escola conhecida por seus lindos jardins, nos quais Epicuro ministrava suas aulas, por isso ficou conhecida como “Filosofia do Jardim”. O Epicurismo se baseia em cinco pontos principais: A realidade é plenamente penetrável e compreensível pela inteligência do homem. Nas diversas situações o homem pode construir sua felicidade. A felicidade significa a ausência de dores no corpo e perturbação na alma. Para atingir esta paz e felicidade, o homem só precisa de si mesmo. A felicidade não depende da nobreza, da riqueza, dos deuses, ou das conquistas exteriores, pois o homem só é feliz quando é autônomo e independente de condicionamentos exteriores. No epicurismo a lógica e a física eram rudimentares, mas ambas estavam subordinadas à ética da arte de viver. A LÓGICA DO EPICURISMO: A lógica elabora o caminho para a verdade, nela os sentimentos são mensageiros da verdade. Toda sensação é objetiva, é produzida por alguma coisa, sendo, portanto, verdadeira. A sensação colhe o ser essencial de modo infalível e não confunde a alma, como pensa Platão. Sobre as idéias e as representações mentais, Epicuro afirma que elas são memória daquilo que vem do exterior, isto é, a experiência deixa na mente uma impressão das sensações passadas, e essa impressão permite conhecer as coisas. É esta lógica que vai fundamentar a ética epicurista em termos opostos aos de Platão. A ÉTICA DO EPICURISMO Com base na lógica apresentada, os sentimentos de prazer e dor permitem distinguir o bem e o mal. O bem é tudo aquilo que proporciona prazer e o mal é tudo aquilo que proporciona dor. Não se trata porém de uma filosofia hedonista, na medida em que a busca do prazer deve obedecer ao comando da razão e do bom senso. Sobre o prazer, Epicuro dirá que este é a ausência de dores no corpo e a falta de perturbação na alma. Não se trata, porém, de dissipação e torpeza, trata-se do prazer segundo o sóbrio raciocinar, é o prazer escolhido com sabedoria. Epicuro analisa três tipos de prazer Prazeres Naturais e Necessários: Como é o caso de comer quando se tem fome e repousar quando se esta cansado. Não inclui os prazeres do amor e do desejo, pois estes causam a perturbação da alma e não são nem naturais nem necessários. Prazeres Naturais e Não Necessários: Como é o caso de comer bem e vestir-se com apuro. Prazeres Não Naturais e Não Necessários: São prazeres vazios, baseados em opiniões falsas, dentro os quais, o desejo de riqueza, poder e honras. Estes prazeres produzem a perturbação da alma e não aliviam a dor do corpo. A AMIZADE, A POLÍTICA E A MORTE SEGUNDO O EPICURISMO Esta filosofia enxerga o homem, não mais como cidadão, mas como homem privado. A AMIZADE para Epicuro: “De todas as coisas que a sabedoria busca, em vista de uma vida feliz, ao maior bem é a conquista da amizade”. “A Amizade anda pela terra, anunciando a todos que devemos acordar para dar alegria uns aos outros”. “A riqueza, segundo a natureza, esta inteira no pão, na água e no abrigo qualquer para o corpo,, a riqueza supérflua multiplica os desejos e perturba a alma. O maior dos prazeres é a amizade, tratase do laço verdadeiro entre os indivíduos, é ver um outro como eu”. A política A POLÍTICA para Epicuro é a busca do poder, da fama e da riqueza. Ela é enganosa miragem, tão vazia quanto as coisas que busca. Neste sentido, a vida pública não enriquece o homem, mas o dispersa e dissipa. A vida política não é natural, causa perturbações na alma e dores no corpo, comprometendo a felicidade. “Retira-te para dentro de ti mesmo, porque a coroa da serenidade é superior à coroa dos grandes imperadores”. OS QUATRO REMEDIOS PARA EVITAR O SOFRIMENTO Vazios são os temores com relação aos deuses e ao além. A morte não é nada, e deve ser encarada sem pavor. O prazer bem entendido pode dar felicidade a todos. O mal dura pouco e é suportável. A MORTE quando chega, nada sentimos e enquanto não chega não é real. Portanto é um mal para que nutre falsas opiniões sobre ela ESTOICISMO Surge 25 anos depois do Epicurismo, por volta do ano 312 a.C., seu maior filosofo e fundador da escola era Zenão. Estoicismo antigo: entre séc. IV e VI a.C. Estoicismo médio: séc. II e I a.C. Novo Estoicismo: Época do Império Romano, na qual assume tons religiosos e de meditação moral. Possui uma lógica, uma ética e uma física. Neste sentido, afirmavam que a filosofia é uma arvore cujas raízes estão na lógica; o tronco, na física; e a ética nos frutos. A lógica, como no Epicurismo, fornece os critérios de verdade. A LÓGICA DO ESTOICISMO A base do conhecimento é a sensação, aquilo que afeta os sentidos. Nestes termos, a sensação é uma impressão provocada pelos objetos sobre os nossos órgãos sensoriais, e que se transmite à alma, nela se imprimindo e gerando a representação. É preciso, porém, um consentir, um aprovar do logos, que está em nossa alma, ou seja, o logos atua sobre nossas impressões. Temos, então, a representação compreensiva. A FÍSICA DO ESTOICISMO A física estóica se baseia em três pontos: 1. O ser é o que tem a capacidade de agir e sofrer, nestes termos, o ser é corpo. 2. Ser e corpo são idênticos, portanto temos um Materialismo monista. 3. Deus penetra toda a realidade. Deus é inteligência, mas também é natureza. Trata-se de um Deus Physis e Logos, Natureza e Razão. Deus hora é sopro, hora é fogo, e nisto consiste toda a matéria. Em suma, Deus esta em tudo. Assim, não há o dualismo metafísico de Platão. A ÉTICA DO ESTOICISMO A ética estóica consiste na busca da felicidade, que se alcança vivendo segundo a natureza. Existem três princípios para esta vida Conservar-se a si mesmo. Apropriar-se do próprio ser e de tudo que é necessário para a sua conservação. Conciliar-se consigo mesmo, saber o que você é, possuir auto critica. Conciliar-se com as coisas que são conforme sua essência. São esses princípios que nos trazem a noção do bem segundo a ética estóica. Como o homem é um ser racional, o bem é o que conserva e incrementa a razão; o mal é o que danifica a razão. Assim, a sabedoria e a virtude tornam o homem livre e feliz. Sabedoria e virtude significam erradicar e eliminar todas as paixões, tornar-se sereno e indiferente aos sofrimentos impostos pelo destino. Trata-se da apatia estóica. Por ela, elimina-se toda a piedade, compaixão e misericórdia, pois estes são defeitos e vícios da alma. O sábio não se comove em favor de quem quer que seja; não é próprio do homem forte deixar-se vencer pela piedade e afastar-se da justa severidade. Um estóico legítimo, a bem dizer, seria aquele que faz da vida uma constante busca da felicidade, mas que a felicidade encontra-se numa forma de viver “segundo a natureza”.