A Escola e a Cidade: Políticas Públicas Educacionais Disciplina: Políticas Públicas Educacionais Professora: Msc. Kelly Mafra Políticas Educativas no Brasil no tempo da crise Eliza B. Ferreira e Daliva Oliveira As transformações econômicas ocorridas na sociedade capitalista no final século XX geraram rupturas estruturais na condição de ingresso e permanência dos sujeitos no contrato social da modernidade, o que trouxe um impacto significativo em relação ao valor da educação escolar como mecanismo de inserção política e produtiva. A educação escolar permanece como o espaço e o tempo nos quais uma reduzida parte de sua população cumpre com a promessa de inserção produtiva, ao passo que as classes populares convivem com a pressão subjetiva e objetiva de escolarização em um contexto no qual o desemprego atinge milhões de pessoas, e a juventude é a mais atingida. O discurso atualmente hegemônico do direito a educação, pode caracterizar, por contradição, a necessidade do capital de seleção e de disciplinamento da pobreza. A política educacional massificada atual revela essa tendência (alcance dessa escola é limitado) - o reduzido acesso à educação infantil, ao ensino médio e ao ensino superior - Por outro lado, a expansão quantitativa do número de alunos, faz a escola estampar as contradições da sociedade com a presença acentuada da pobreza, da cultura de massa, do individualismo e da própria falta de sentido e de valor da instituição. À medida que a pobreza aumenta e os conflitos sociais se afigura em sua complexidade maior, as políticas educativas buscam fortalecer a escola como instituição responsável pela manutenção da ordem social. Ao mesmo tempo em que o direito à educação no Brasil torna-se uma bandeira da sociedade civil e política, a infância e a juventude que vão para a escola não tem assegurados os laços de confiança com o poder da instituição em atender ao ideal de mobilidade social. A educação é uma prática social, e suas políticas devem se aproximar de forma inarredável das condições de vida dos sujeitos escolares e daqueles que precisam entrar ou voltar a essa etapa. O pensamento político e social dos decisores das políticas educativas no governo de Lula ainda demonstra fragmentação As políticas educativas após o governo de FHC estão pautadas: - Na opção da acomodação/escamoteamento dos conflitos; - Na insistência em repetir a lógica insustentável da teoria do capital humano e responsabilizar a escola (e o indivíduo, aqui entendido como o professor e o aluno) pela qualidade do percurso de ingresso no mercado de trabalho. As reformas educativas dos anos 1990 Governo de FHC As reformas implementada na décadas de 90 tentaram redimensionar o Estado, com novas competência e funções não como promotor do crescimento econômico, mas somente como canalizador e facilitador. As inovações tecnológicas, o fortalecimento do setor financeiro internacional e outros fatores fizeram crescer a participação do setor privado em segmentos antes considerados de exclusiva atuação do Estado. A estratégia de descentralização através de privatização de empresas, bens e investimentos públicos requereu o fortalecimento da capacidade de regulação e fiscalização do mercado e dos serviços públicos privatizados. Então, com o estabelecimento dessa nova relação entre o setor público e o privado, prevaleceu a necessidade de estabelecer novas regulações capazes de eliminar os riscos de conversão de monopólios estatais em monopólios privados, a fim de favorecer o princípio da livre concorrência. Proteger o usuário desses serviços e garantir o crescimento da oferta. Com essas medidas, a meta do Presidente Fernando Henrique era preparar o país para o século XXI As reformas educacionais empreendidas nesse governo são caracterizadas por práticas descentralizadoras, de controle e de privatização A reforma buscou consolidar a figura de um Estado gerencial, com capacidade de regulação social mediante a transferência a outros setores/instituições da responsabilidade de prestação dos serviços sociais. A gestão dos sistemas educacionais e das instituições de ensino foi reconhecida como central para a melhoria da qualidade do ensino. Para tanto, uma nova legislação, programas e projetos surgiram para consolidar a política de educação em massa, fazendo da “escola o núcleo da gestão”. A Lei nº 9.394/96 afirma responsabilidades maiores para a instituição educacional e seus profissionais, por meio de participação da comunidade, acompanhamento aos alunos e de elaboração do projeto político pedagógico, etc. Os programas e projetos implementados no contexto dessa lei fizeram da gestão administrativa, financeira e pedagógica uma competência da escola. Os programas e projetos implementados nesse período revelam a preocupação do governo em diminuir o chamado “custo Brasil”, privatizando empresas estatais e regulando os serviços sociais (ditando as regras), passando a focalizar uma parte da população em “risco social”. No caso da educação, o critério foi o cumprimento da formação básica para a população de 7 a 14 anos (entendida como o domínio da leitura, escrita e primeiros números) como necessidade para uma colocação no mercado de trabalho. Para atender essa lógica foi criado o FUNDEF (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do magistério). Fez crescer o atendimento do ensino fundamental para a taxa de quase 97% Outra meta atingida pelo governo foi a municipalização dessa etapa de ensino Consolidando, assim, a lógica de descentralização da prestação de serviços educacionais, o que fez reproduzir a desigualdade socioeconômica regional Outra modalidades de financiamento foram desenvolvidas pela União. Ex: PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola). Leva recursos para as despesas da escola e devendo ser gastos conforme as regras estabelecidas pelo Tribunal de Contas Com esses programas ganha força a ideia de autonomia da escola no sentido de assumir a responsabilidade de uma boa gestão A política de descentralização criou a necessidade de controle dos resultados, medida adotada com a institucionalização do sistema da avaliação em larga escala A educação Básica e o ensino superior passaram a conviver com o sistema de avaliação vindo de fora, que com seus mecanismos de classificação, instituiu a cultura da concorrência nas escolas públicas e privadas do país. Tendência e fortalecimento de um Estado regulador e avaliador O Estado não se retira da educação, ele adota um novo papel A privatização se deu de forma mais direta no governo do FHC – com a diminuição da oferta de curso técnicoprofissional público Já o ensino privado ganha estimulo fiscal, ao passo que as instituições públicas sofreram com a ausência de política e com a redução das despesas mediante a compressão dos salários e dos orçamentos Então, as políticas reconhecidas como neoliberais levadas a cabo na década de 1990 mostraram sua face mais perversa com a acentuada redução do emprego – “crise da sociedade salarial”. O aumento da pobreza e da violência social levou os governos nacionais a repensar as suas práticas econômicas de modo a amenizar a questão social sem, contudo, abandonar os princípios do liberalismo financeiro e de aumento da mais-valia. Governo Lula Assume em 2003 a condução do Estado brasileiro Aprofunda a adoção de política compensatória como mecanismo de ajuste dos desequilíbrios causados pelas práticas políticas do governo anterior Ampliação das bolsas de assistência social No setor educacional, diversos programas foram criados ou remodelados, a fim de atingir a meta de um equilíbrio social assentado na ideia de ajustamento das ações dos diversos atores sociais Uma nova atuação do processo de regulação é adotada no governo - a meta a ser atingida é o equilíbrio social As mudanças ocorridas a partir do relativo crescimento da economia e na geração de emprego, com a expansão do número de carteira de trabalho assinada, apresentaram um terreno de maior articulação com possibilidades de ampliação dos serviços sociais Porém, a lógica adotada continuou sendo a da focalização à população em risco social, de forma mais ampla Segundo uma pesquisa realizada em 2008 pelas Nações Unidas referente ao período 1990-2006, os organismos analisaram a precariedade do crescimento do emprego no Brasil registrado nos primeiros anos do século XXI. O relatório concluiu que o Brasil nos últimos anos do século XXI apresentou melhora nos indicadores importantes no mercado de trabalho Com destaque para o aumento dos níveis de ocupação, para a geração de empregos formais e para a reversão da trajetória de queda dos rendimentos do trabalho, acompanhando uma recuperação do crescimento econômico Mas, se entende que o País ainda convive com um mercado de trabalho estruturamente segmentado que exclui social e economicamente uma parcela expressiva de trabalhadores, em função do elevado déficit de “trabalho decente” O relatório destaca cinco eixos como fundamentais para a promoção do emprego de qualidade: a) assegurar crescimento econômico sustentado; b) respeitar os direitos fundamentais do trabalho ; c) ampliar a proteção social; d)promover igualdade e combater a discriminação; e) fortalecer o diálogo social O relatório não deixa de ressaltar o problema da defasagem de acesso à escola de grande parte da população do ensino médio e ensino superior e, assim, defende a ideia de a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da educação são essenciais para o desenvolvimento humano e o trabalho decente. Entendem que o trabalho decente é a porta de saída da pobreza e isso depende de adoção de políticas públicas consistentes. Cabe observar a natureza dessa mudança ocorridas no governo: se ela rompe com a racionalidade tecnocrática dominante no governo do FHC ou se é mantida a mesma lógica. A análise dos planos e programas educacionais realizados pelo governo Lula aponta níveis de atuação diferenciados, porém sofre dos limites das políticas anteriores porque são fragmentadas e não alcançam a educação escolar em sua totalidades Os novos processos de regulação das políticas educativas no governo Lula “Uma educação do tamanho do Brasil”, documento apresentado pelo Partido dos Trabalhadores (2002) como compromisso eleitoral de mudar o ensino do país, reconheceu a educação como direito inalienável, sendo prioridades de seu governo a expansão do sistema educacional e a elevação de seus níveis de qualidade. O documento traz um diagnóstico crítico da política educacional do governo FHC e um extenso programa de mudança. Porém, ainda no processo eleitoral foi publicada uma “Carta ao povo Brasileiro”(2002) , Lula de compromete com a manutenção da política econômica No campo da educação, o primeiro mandato de Lula foi fortemente marcado, por mudanças recorrentes nos cargos dos ministros e outras diretorias e secretarias estratégicas; por uma duplicidade de ações políticas e pedagógicas que negavam a existência de um programa de governo Também foi um período de debate com as entidades que raramente ocorreram no governo anterior, cujos resultados ficaram perdidos em anais de reuniões e na memória dos participantes Com isso, predominou a multiplicidade de projetos, com perspectivas opostas no campo da formação de professores, educação profissional, currículo, ensino superior etc. Desistência do projeto “Uma escola do tamanho do Brasil” Em 2007, sob crítica de fragmentação da políticas educacionais adotas, o governo lança o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Compreendendo mais de quarenta programas (avaliação de rendimento dos alunos - Prova Brasil (IDEB) -, capacitação dos docentes, adoção de piso salarial para professores, FUNDEB, o Planejamento de Ações Articuladas (PAR), melhoria das condições de infraestrutura das unidades de ensino, entre outros) com o objetivo de melhorar a qualidade da educação no País O objetivo era dar organicidade ao sistema nacional de educação, mobilizando toda a sociedade em prol da educação PDE – é um plano executor , constituído por programas divididos em quatro eixos: educação básica, educação superior, educação profissional e alfabetização Com perspectiva sistêmica de educação: ensino fundamental relacionado ao ensino superior, incentivo a pesquisa, transporte escolar Então o PDE se propôs a ser um plano estrutural a longo prazo, que busca a superar a tradicional fragmentação das políticas educacionais Manter a articulação entre União, estados e municípios para garantir o direito à educação no País e a execução do PDE (compartilhando competências) União passa a assumir mais compromissos com os estados, municípios e Distrito Federal É a partir do IDEB que o MEC acredita ser possível fixa metas de desenvolvimento educacional de médio a longo prazo O MEC cruza os resultados de desempenho escolar (Prova Brasil) e os resultado de rendimento escolar (apurado pelo senso escolar) em único indicador de qualidade: IDEB (elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais - INEP) A análise das políticas educativas implementadas pelo governo Lula revela a convivência, no âmbito escolar, de propostas cujas bases teóricas são diferenciadas e até mesmo antagônicas Ex: PROUNI Em 2005 foi institucionalizado o Programa Universidade para Todos (POUNI) – finalidade de conceder bolsas de estudo integrais e parciais para estudantes de baixa renda em cursos de graduação em instituições privadas. Em contrapartida, as instituições privadas de ensino superior que aderem ao programa podem deduzir alguns atributos Pode significar uma forma de conciliação com os empresários do setor, que estavam acumulando baixa taxa de lucro governo de FHC – a gestão das políticas educacionais foi fomentada por ações de descentralização em todos níveis no campo e público e no privado, transferindo para as unidades federativas (para as escolas e para os trabalhadores da educação) as responsabilidades com a oferta do serviço social. Essa tendência continuou no governo Lula A gestão das políticas educacionais define as políticas no nível central e a descentraliza na implementação e execução local No Observa-se a existência de políticas alimentadas por - - perspectivas antagônicas em relação ao projeto de sociedade democrática e popular. Seria necessário uma política de Estado com bases ideológicas coerente. E os planos, os programas e os projetos implementados não confirmam esses pressupostos Contudo, há que se reconhecer o salto quantitativo realizado pelo governo Lula como a expansão das escolas técnicas (Institutos Federais) e do ensino superior com a criação dos campi universitários criação do Programa Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) Essas mudanças foram muito significativas, mas mudanças mais amplas no quadro social foram muito limitadas - como os índices apresentados à sociedade por meio do processo de avaliação, os quais apontam o estado crítico do ensino ofertado - o alto índice de evasão escolar ( ex: PROEJA) Uma política para a educação profissional que atenda aos interesses da classe trabalhadora depende da articulação da economia do País na criação de postos de trabalho e pautada no desenvolvimento social. Uma educação nessa visão, exigiria uma nova concepção de sociedade mais democrática e com justiça social Na análise sobre a implementação das políticas educacionais ainda revela que ainda convivemos com a tradicional política de governo que busca driblar os conflitos mundiais e nacionais sob a lógica do capital. A crise da escola é protagonizarão pelos estudantes e pelos trabalhadores docentes, que se sentem insatisfeitos e desvalorizados com sua profissão. Isso se intensifica com a questão salarial não resolvida, as tensões da rotina do trabalho permeada pelas dificuldades sociais, culturais e econômicas da maioria das população estudantil. Os professores passam a conviver e a temer os fenômenos da violência, indisciplina e não aprendizagem. A crise da escola parece estar em todo o lugar da sociedade, quando não se está mais garantido o valor do saber ou da certificação, no alto número de analfabetos funcionais, na incapacidade da juventude de envolvimento com a política, que cuida da vida do coletivo, das transformações sociais e do poder de dirigir a sua vida Diante do caminho a percorrer e percorrido pela sociedade e a escola a possibilidade de superação dos problemas educacionais brasileiros se fará sob a mira de uma nova concepção de mundo , construída a partir de uma combinação de políticas públicas orientadas para a superação das desigualdades sociais e para a emancipação intelectual e técnica dos sujeitos