o brasil pós-lula - Corecon

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O BRASIL PÓS-LULA:
AINDA HÁ MUITO A SER RESOLVIDO
Antonio Carlos Roxo (*)
Marcus Eduardo de Oliveira (**)
Em que pese o bom desempenho econômico e social do
governo Lula, avalizado pela taxa de aprovação popular que supera
80% nos quesitos ótimo ou bom em relação a seu governo,
inequivocamente a Era Lula (2003-2010) ainda deixa muito por fazer
num país em constante construção.
Exemplos a título meramente ilustrativo: a participação do País
no Produto Interno Bruto (PIB) mundial, ao final de 2002, com o
término do governo FHC, era de 2,81%; ao final de 2009, um ano antes
de terminar o governo Lula, essa participação foi de 2,79%. A taxa
média de crescimento real do PIB do governo tucano foi de 2,3%,
enquanto no petista até 2009, foi de 3,6%. Hoje, 15 anos depois da
chegada de FHC ao poder, a economia está pujante, mas não poderosa
e o país está muito distante de ser considerado socialmente justo. Os
instrumentos de mobilidade e ascensão social ainda são capengas.
Nesse caso específico, o sistema educacional, elemento fundamental
de ascensão, tem se mostrado ao longo desse período incapaz de
promover mudanças. A taxa média de tempo de estudo por aqui não
passa os 4,6 anos. Não por acaso, das 150 melhores universidades do
mundo, nenhuma brasileira está entre essas. Isso somente permite
aprofundar o fosso da desigualdade social. Essa estúpida marca social
tem sido ajudada pela não menos estúpida carga tributária que coloca
nos ombros de todos os brasileiros, em especial dos mais pobres, uma
pedra de 36 quilos. Metaforicamente, é esse o tamanho da carga
tributária brasileira. Na esteira desse comentário, cálculos do IPEA
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontam que os mais ricos
disponibilizam 106 dias de trabalho por ano para o pagamento de
impostos, enquanto os mais pobres dedicam 197 dias para quitar
impostos. Para ser socialmente mais justa, a tributação tem que ser
progressiva e, não como hoje, regressiva, isto é, quem tem mais paga
relativamente menos, quem tem menos paga mais. Os impostos mais
expressivos em arrecadação no país, IPI, ICMS, indiretos, contribuem
para isto, ao tratar os desiguais, igualmente.
No Brasil de hoje, ainda morrem, anualmente, 41 crianças
menores de 1 ano de idade a cada 1000. No México, apenas para servir
de base comparativa, essa taxa é de 18 por 1000, ao passo que em
Singapura essa taxa cai para 2,3.
A economia brasileira, em que pese os avanços dos governos FHC
e Lula nessa área sombria e tempestuosa, ainda continua controlando a
taxa de inflação com alta taxa de juros, o que é sabiamente notório
ser contraproducente. Isso nada mais é que um muro elevado que se
ergue na frente dos investimentos impedindo-os de seguirem seu
curso normal. É fraca também a participação do país em relação aos
registros de patente (inovações).
Ainda na seara do assistencialismo social, continua-se a
mensurar desenvolvimento pela quantidade de dinheiro dado às
famílias por meio do “Bolsa Família”. Passou da hora, em nosso
entendimento, de dar um passo efetivo a frente, e trocar esse
programa de assistência por um programa de geração de empregos.
Dignidade tem nome e sobrenome: chama-se emprego e salário dignos;
ocupação e poder de compra compatíveis com as necessidades
peculiares de cada um. O que significa também encarar, sem
subterfúgios, a necessidade premente de uma reforma agrária.
Desafios esses que se mostram mais presentes pela situação
que se avizinha de grande estresse nas contas do país, fruto da
valorização do real e da política que se perpetua de juros reais na
estratosfera, que, se tem resultados positivos imediatos no combate à
inflação, por outro lado, solapa diuturnamente a estrutura econômica
do país. A valorização do real extremamente danosa é erva daninha
que solapa os alicerces da estrutura econômica, e que mais cedo ou
mais tarde cobrará seu preço. Erro este que Lula, embora com algum
atenuante, copiou de FHC.
Questão adicional que o processo eleitoral carimbou, felizmente,
na agenda do país é o desenvolvimento ambientalmente sustentável.
Em pleno século XXI, o país tem obrigação e as condições plenas para
contribuir, com compromissos firmes e claros pelo equilíbrio do
crescimento com a preservação da natureza, garantia de continuidade
da vida na terra.
(*) Antonio Carlos Roxo é economista brasileiro, com doutorado pela USP (Universidade de São Paulo).
Professor do UNIFIEO e coordenador do curso de Comércio Exterior da mesma instituição. Fundador e
membro do GECEU – Grupo de Comércio Exterior do UNIFIEO.
(**) Marcus Eduardo de Oliveira é economista brasileiro e professor de economia da FAC-FITO e do
UNIFIEO. Mestre pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do GECEU – Grupo de Estudos de
Comércio Exterior (UNIFIEO).
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